Voo sem instrumentos #ouro
Nunca vivi um momento em que a inflação estivesse subindo em tantos países; é raro encontrar algum que mantenha os padrões anteriores à pandemia. O problema que ocorreu nas cadeias produtivas certamente tem um peso importante, mas também já se nota a difusão desse fenômeno nas outras categorias. É fato que o impacto não é linear, ou seja, de forma uniforme, como se pode observar no gráfico comparativo entre a Europa e os EUA a seguir.
No último gráfico acima, onde são excluídos os itens mais voláteis — alimentos e energia — notem o impacto no índice dos itens afetados pelas cadeia produtivas (em amarelo). Extraindo esse percentual, chega-se a 2% a.a. no restante. Na verdade, não gosto muito de fazer esse tipo de raciocínio de exclusão, pois se tirar todos os itens a inflação é 0%!
Como podemos
saber se a inflação vai estragar a festa? No passado, uma boa leitura do mercado
de bonds americanos fornecia indicações confiáveis, mas hoje em dia não sei se
poderia confiar tanto nela, já que a compra compulsória desses títulos por
parte dos bancos centrais distorceu essa conclusões.
Em todo caso,
não deixa de ser um indicador. Um artigo de Liz McCormik na Bloomberg relata
que esse mercado está enviando uma mensagem preocupante sobre a economia.
Com quedas
vertiginosas em algumas ações de tecnologia líderes e oscilações selvagens no
S&P 500, as ações proporcionaram muito drama este ano. Mas para obter
pistas sobre os rumos da economia dos EUA, observe o mercado do Tesouro dos EUA
de US$ 23 trilhões. Agora, esse mercado está dizendo que a inflação e o
potencial de uma desaceleração do crescimento são ambos ameaças.
As pessoas que
compram títulos do Tesouro não se preocupam em receber seu dinheiro de volta —
o governo dos EUA sempre paga suas contas. Mas se preocupam com a inflação, que
corrói o valor dos pagamentos futuros. Eles também se preocupam se o Federal
Reserve dos EUA pretende elevar as taxas de juros de curto prazo que controla.
Quando os investidores esperam uma inflação mais alta — e aumentos de taxas do
Fed para combatê-la — exigem rendimentos mais altos como compensação, então empurram
os preços dos títulos para baixo (os rendimentos sobem quando os preços caem).
E hoje em dia é o que eles estão fazendo.
A maior repercussão desse mercado foi o aumento nos rendimentos do título de dois anos, que mais do que dobraram este ano, de 0,7% para pouco mais de 1,5%. As taxas de longo prazo também estão subindo, mas muito menos dramaticamente, com o rendimento do Tesouro de 10 anos subindo acima de 2% este mês pela primeira vez desde bem antes dos bloqueios do Covid-19.
A pandemia levou o Fed e o Congresso a bombear enormes quantidades de dinheiro para a economia a fim de apoiar famílias e empresas, transformando o que poderia ter sido uma crise devastadora na mais curta recessão dos EUA já registrada. Mas com os EUA e outros países ricos, em transição adequada para fora do modo de emergência, as cadeias de suprimentos têm se esforçado para atender à demanda dos consumidores, os mercados de trabalho estão apertado e as baixas taxas de juros desencadearam um boom imobiliário que elevou os preços das casas e os aluguéis.
O Banco
Central observa os mercados financeiros com cuidado, e o aumento dos
rendimentos sugere que os participantes do mercado veem a inflação como um
problema sério. (Ou eles veem o Fed enxergando isso como um problema — os dois
lados estão constantemente tentando antecipar os movimentos do outro.) A
inflação também se tornou uma responsabilidade política para o presidente Joe
Biden. Isso o levou a dizer que é um trabalho crítico do Fed domar a inflação.
Agora o Fed disse que está pronto para reverter o curso aumentando as taxas. Já está reduzindo
suas compras de títulos, outra de suas ferramentas políticas.
Os preços dos
títulos e as negociações de derivativos relacionados mostram que o mercado
prevê que o Fed irá elevar a taxa de fundos federais pelo menos 1,5 pontos
percentuais este ano. Muitos dos homólogos globais do Fed estão apontando na
mesma direção.
O retorno das
taxas de juros mais altas ressoaria em todo o sistema financeiro — afetando
todos os tipos de mutuários, empresas e seus trabalhadores. E aqui o mercado de
títulos também tem uma mensagem mais sutil para os investidores. Em sua
resposta à inflação, o Fed está pisando em uma linha tênue — seu objetivo é
controlar o aumento dos preços sem colocar um amortecedor no crescimento
econômico.
O mercado de
títulos não tem certeza de que o Fed pode
fazê-lo. O padrão que
estamos vendo agora de rendimentos de curto prazo subindo acentuadamente,
enquanto os rendimentos de longo prazo permanecem bastante baixos — uma curva
de rendimento achatada, em linguagem de títulos — sugere uma economia de
arrefecimento nos próximos anos. Se a tendência continuasse e as taxas de curto
prazo subissem acima das de longo prazo, criando o que é conhecido como curva
de rendimento invertida, isso seria um forte sinal de uma recessão iminente.
Ainda não
chegamos lá. Mas, de repente, os investidores de títulos profissionais estão
falando de um mundo diferente, com novos tipos de riscos. Anne Walsh, diretora
de investimentos em renda fixa em Parceiros
Guggenheim, viu os baixos
rendimentos de títulos criando riscos para os investidores em meados de 2019, à
medida que se acumulavam em ativos mais arriscados em busca de retornos
decentes. Agora ela vê a inflação e A resposta do Fed a ele como problema nº 1. "Para ver
esse tipo de inflação repentina com demografia disruptiva e interrupções na
cadeia de suprimentos — você tem que voltar para o pós-Segunda Guerra
Mundial", diz ela. "Temos muitos desses mesmos elementos agora. Este
é um momento muito complicado e desafiador para ser um gestor de ativos, particularmente
do lado da renda fixa, mas também para os gestores de ações." O risco para
as ações é que taxas mais altas reduzam o valor dos fluxos de lucro futuros das
empresas, enquanto uma queda na atividade econômica pode prejudicar a receita
corporativa.
Para os investidores
de títulos, a mudança já está custando dinheiro. As Treasuries estão no
vermelho até agora em 2022, criando um risco para as primeiras perdas anuais
consecutivas desde pelo menos o início da década de 1970, de acordo com o
índice do Tesouro dos EUA da Bloomberg. E pode haver mais perdas pela frente.
No último ciclo de aperto, o Fed elevou sua taxa-chave para 2,5% antes de
chamá-la de desistência. Alguns gerentes de títulos acham que isso pode não ser
alto o suficiente desta vez.
"Há uma
visão de que os bancos centrais podem controlar a inflação sem taxas muito
altas", diz Dan Ivascyn, diretor global de investimentos da Pacific Investment Management Co. "Indiscutivelmente, há
complacência no mercado em torno do Fed ser capaz de alcançar um resultado
positivo."
Alguns
estrategistas de Wall Street acham que a inflação está tão embutida na economia
que o Fed terá problemas para atingir seu objetivo sem causar uma grave dor. O
Fed "pode não ter a opção de ser medido em seu aperto", diz Bob
Miller, chefe de renda fixa fundamental das Américas na BlackRock
Inc. "A pergunta
que estamos fazendo é: eles podem executar um pouso suave e estender o ciclo? A
preocupação é que estão suficientemente atrasados no aperto e deveriam ter
começado há seis meses."
Claro, houve
muitos alarmes falsos sobre rendimentos mais altos nos últimos anos, com os
principais investidores de títulos apostando em mercados de queda que não se
concretizaram. Veterano de fundos hedge Paul Tudor Jones, ex-gestor de fundos
de títulos Bill Gross, e Ray
Dalio de Bridgewater
Associates Inc. são
apenas alguns dos grandes nomes que no início de 2018 previu que taxas muito mais
altas estavam garantidas.
Os investidores em Treasuries acabaram quase quebrando durante 2018 e ganharam
quase 7% em 2019 e 8% em 2020, de acordo com o índice Bloomberg. A inflação é
em parte um jogo de expectativas, e as mensagens do presidente do Fed Jay
Powell de que ele está pronto para agir podem ajudar a acalmar os aumentos de
preços.
A redução da
diferença de rendimento entre os Treasuries convencionais e aqueles que
oferecem proteção contra a inflação — conhecido como TIPS — sugere que os
investidores veem a inflação caindo nos próximos 5 a 10 anos. Essas medidas do
mercado de títulos sobre as expectativas de inflação, mostram aumentos de
preços ao consumidor em média cerca de 3% — bem abaixo do ritmo atual, mas acima
do nível abaixo de 2%, visto na década anterior. Embora isso sugira alguma
confiança de que o Fed evitará uma espiral de inflação descontrolada, outra
interpretação é que ele sinaliza perspectivas modestas de crescimento a longo
prazo para a economia dos EUA.
Os
investidores podem ter uma corrida turbulenta enquanto as avaliações do mercado
se ajustam a um mundo onde a inflação é um problema irritante e o Fed continua
travando o crescimento. Ivascyn, da Pimco, diz que "não seria
surpreendente ver um ano de folga em renda fixa e ações", e "os
investidores provavelmente precisam se acostumar com alguns anos de retornos
mais baixos, dado o alto ponto de partida dos preços dos ativos".
O Mosca tem
uma visão diferente das contidas nesse artigo. Primeiro sobre a taxa de 2 anos
ter dobrado não significa muita coisa pois estava a 0,7% a.a. um nível muito
baixo, qualquer análise nesse sentido deve se levar em conta o juro nominal e nessa
métrica 1,5% a.a. ainda é baixo para uma economia em condições normais. O que
sim pode estar parcialmente distorcida é a taxa de 10 anos ao redor de 2% a.a.,
o que cria a impressão que o mercado está apostando que a economia vai
desacelerar – o que o jornalista citou como a diferença entre o juros de 10
anos e o de 2 anos estar se aproximando de virar negativa, indicador clássico que
antevê uma recessão no futuro.
O mercado está
fortemente apostando que a taxa de 10 anos vai subir, essa conclusão se pode
verificar no volume de contratos vendidos nesse ativo, ao contrário do que faz
parecer o relato acima. Acontece que existem várias forças que puxam para baixo
essa taxa das quais citaria: compras feitas pelo Fed, compras feitas pelos
estrangeiros em virtude dos títulos europeus e japoneses estarem com taxas
negativas – agora não mais.
No post de
ontem correlação-um-conceito-perigoso enfatizei o risco de usar correlações
passadas para inferir situações no presente e acredito que o mercado de bonds
se encontra nessa situação pelos motivos citados no parágrafo anterior. Me
parece que vamos ter que acompanhar sem ter algum instrumento que possa indicar
o rumo da inflação bem como da economia. Um voo sem instrumentos.
No post o-mosca-no-metaverso fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ...” No gráfico acima, existem alguns pontos de observação: primeiro, muito próximo do nível atual seria o rompimento da linha branca avançando sobre a área demarcada do triângulo; segundo, mais definidamente, a região entre U$ 1.855 – U$ 1.878” ...
Como eu estava desconfiado, o ouro acabou rompendo o nível acima elevando consideravelmente o cenário de alta. Existe tecnicamente o nível de U$ 1.916 a ser vencido, mas somente um false break me faria mudar de opinião.
- David, finalmente vai propor um trade!
Ainda não,
deixa eu te dizer o que pretendo. Primeiro vou esperar o término das 5 ondas
dentro da elipse laranja – as 5 ondas são melhor visíveis numa janela menor. Em
seguida vou estabelecer os possíveis pontos para a correção que deverá se
suceder e aí sim sugerir um trade.
Quero aproveitar para mostrar a eficiência da análise técnica. O gráfico a seguir com janela mensal, ou seja, de longo prazo, mostra como o ouro tentou romper a linha pontilhada em laranja diversas vezes e foi rejeitado. Outra linha branca também deu sustentação nesse longo caminho do triangulo formado desde julho de 2020. O objetivo calculado nesse momento seria de U$ 2.684.
O SP500 fechou a 4.380, com queda de 2,12%; o USDBRL a R$ 5,1726, com alta de 0,71%; o EURUSD a € 1,1359, com queda de 0,13%; e o ouro a U$ 1.897, com alta de 1,58%.
Fique ligado!
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