O Fed panicou? #SP500
Não
é incomum os diretores de um banco central se sentirem pressionados pelos dados
e pelo mercado quando suas premissas não se verificam. No ano passado,
assistimos a uma situação como essa, quando o banco central brasileiro, ao assistir
aumentos de preços, que começaram em alguns itens e foram se generalizando, considerou
seus argumentos de transitoriedade perderem sustentação.
Tudo
começou com um erro no nível adotado logo depois da pandemia, quando o BC derrubou
a taxa Selic para 2% a.a. Não que essa medida fosse errada naquele momento, em
que a economia mundial estancou repentinamente e colocou em risco milhares de
empresas e empregos; o erro foi demorar a sair dessa situação quando as coisas
começaram a melhorar.
Me
parece que algo semelhante pode estar ocorrendo com o Fed. Na semana passada,
quando foi realizada a reunião de política monetária, e na sessão de perguntas
e respostas que a sucedeu, o presidente Powell demonstrou nitidamente sua
preocupação com as condições financeiras atuais vis-à-vis a robusta
recuperação da economia. Disse claramente que vai subir os juros o quanto
precisar, e começar a diminuir a posição de títulos que a autoridade monetária
detém — e rápido, embora não tenha indicado exatamente o valor de retirada
mensal nem quando vai começar.
Esta
situação me pareceu a de um trader que está vendido num determinado ativo e vê o
mercado subir de forma abrupta, imprimindo uma perda muito maior que estava
disposto a perder. O mais provável é que esse trader vai panicar e zerar a
posição rápido. Essa postura gerou um desconforto grande no mercado, e como
consequência fez as bolsas caírem.
Um
artigo de John Authers na Bloomberg afirma que Powell está deixando o mercado
atordoado e confuso.
Nova
ordem: Confusão
Se há uma palavra para descrever as condições nos mercados mundiais, pode ser "confusas". De alguma forma, o índice Nasdaq terminou na semana passada exatamente onde havia terminado na sexta-feira anterior, mas somente após alguns desvios dramáticos:
Toda essa emoção aconteceu durante uma temporada de ganhos que contou com mais um resultado excepcional da Apple Inc. e um conjunto de projeções da Netflix Inc. que caíram como uma pedra de chumbo. Mas essa confusão sobre como precificar ações tem sido gerada pela crescente certeza dos investidores (amplificada por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve), de que as taxas de curto prazo estão prestes a subir, e subir rapidamente. Semana após semana neste jovem ano, a função Bloomberg WIRP (World Interest Rate Probabilites) tem verificado um incremento constante no número de aumentos de taxas implícitos no mercado futuro de fed funds e na velocidade que eles devem fazer efeito:
Na virada do ano, o mercado estava preparado para uma elevação da taxa na reunião de maio. Agora, o mercado prevê dois aumentos, que segundo muitos virão na forma de um aumento de 50 pontos-base na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto em março. Em 12 meses, cinco aumentos são agora precificados como uma certeza. Essa é uma mudança radical nas expectativas, e uma reação razoável à mudança da retórica do Fed e aos dados sobre a inflação e o mercado de trabalho.
É
compreensível que o mercado tenha demorado um pouco para se adaptar a uma nova
realidade de aumento na taxa. Mas no final da semana, muitos estavam reclamando
que a turbulência não foi impulsionada pela nova determinação do Fed de
aumentar as taxas rapidamente, mas pela incerteza que o banco central, e Powell
em particular, está prevendo. Ele falou repetidamente da necessidade de ser
"ágil" — uma boa maneira de dizer que o Fed pode ter que mudar de
ideia e direção e resolver as coisas no meio do caminho.
Um
dos meus correspondentes favoritos fez essa análise devastadora:
Oi
John, na minha opinião o mercado vendeu porque parece que o Powell está fazendo
as coisas na base do improviso. Ele não tem plano nenhum e tem pouca
compreensão da oferta monetária, do potencial de inflação e da defasagem. Ele
tem cometido erros por causa de sua impaciência em ambas as direções. Fique bem
Outros
destrincharam o quanto as palavras de Powell tinham sido indecisas em sua
conferência de imprensa na quarta-feira. Ele claramente queria passar a
mensagem de que o mercado de trabalho não era agora nenhum impedimento para
aumentar as taxas e deixar abertas todas as opções mais rígidas. Fora isso, o
que ele mais comunicou foi sua indecisão. O veterano estrategista de mercado Ed
Yardeni ofereceu esta avaliação
no LinkedIn:
Powell
mencionou a palavra "decisão" 15 vezes, com 14
delas no contexto de "nenhuma decisão foi tomada". A única
decisão que foi tomada foi
reiterar a decisão da reunião de 14 a 15 de dezembro do FOMC de parar de
comprar títulos após março.
Ele
acrescentou: "O mercado de trabalho é forte. A inflação
é
um problema. Podemos continuar com o que precisa ser feito, por favor?"
Eu
acho que este é um sentimento amplamente mantido, e
explica a extrema instabilidade nos mercados de ações (e também em títulos mais
longos). Powell e seus colegas só estão sendo razoáveis em reservar o direito
de mudar de ideia à medida que novos dados entram. Muitas mentes econômicas
finas estão em conflito sobre exatamente o quanto a pandemia a e as medidas
monetárias e fiscais para lidar com isso se provarão inflacionárias. A variante
ômicron, que é muito menos mortal do que as antecessoras, mas parece ter uma
capacidade tão grande de bagunçar as cadeias de suprimentos emanando da China,
aumenta a incerteza. Depois de dois anos, a maioria de nós está
desconfortavelmente ciente de quão pouco nós, ou qualquer outra pessoa,
entendemos de epidemiologia.
Isso
leva ao sentimento real de que investir agora é sobre sorte mais do que
qualquer outra coisa. Este comentário vem de Ian Harnett e David Bowers da
Absolute Strategy Research em Londres:
Você
tem que se perguntar apenas uma pergunta: "Eu me sinto com sorte?"
Esta não é apenas a famosa pergunta que Clint Eastwood faz no filme "Dirty
Harry", é também a questão enfrentada pelos investidores, pois eles
procuram prever o número, e o tempo, dos movimentos da taxa do Fed em 2022, à
luz da incerteza gerada pelo recente pivô central do Fed. Adicione a incerteza
sobre quando a inflação atingirá o pico, a omicron, juntamente com se a Rússia
pode invadir a Ucrânia, e prever com sucesso os mercados parece cada vez mais
comprar um bilhete de loteria.
Esta
é uma admissão e tanto de pessoas que ganham a vida ajudando os clientes a
prever o mercado. Mas tem um tom de honestidade. O humor febril nos mercados é
exacerbado pelo sentimento generalizado de que o Fed admitiu efetivamente que
cometeu um erro ao deixar a inflação escapar da garrafa no ano passado. A
lógica de Powell implicava que o Fed já deveria ter começado a apertar e estava
atrás da curva, despertando irritação de que não havia até agora tomado a
decisão e terminado a flexibilização quantitativa ou elevado taxas — ambas as
opções que haviam sido amplamente discutidas no início deste mês. Ethan Harris,
economista-chefe do Bank of America Corp., fez uma avaliação esmagadora:
O
impressionante sobre a conferência de imprensa do
presidente Powell esta semana foi que ele, de fato, deu um argumento
convincente de que o Fed já deveria ter aumentado as taxas no segundo semestre
do ano passado:
- Ele descreveu
repetidamente um mercado de trabalho que provavelmente vai esquentar
quando os casos de omicron esfriarem.
- Ele reconheceu que
as previsões de inflação
do Fed são muito baixas e
continuou a se distanciar do argumento "transitório".
- Ele confirmou que o
"Powell Put" não está
à vista, pois as
amplas condições financeiras
permanecem muito favoráveis ao
crescimento.
- Talvez sua declaração
mais marcante tenha sido que "há um pouco de espaço
para aumentar as taxas sem amortecer o emprego".
A
única coisa que faltava
na narrativa era: "E assim, estamos atrás
da curva e vamos começar a aumentar os juros hoje." Dito isso, os mercados
estão fazendo o trabalho do Fed de apertar as condições financeiras sem uma
real elevação nos juros.
Pelas
narrativas dos investidores e economistas, podemos ter ideia do grau de
irritação e insegurança que a fala do Fed gerou. Mas aqui talvez valesse o
ensinamento que tive da minha saudosa analista: dizia que em 90% das vezes que
você fica com raiva de alguém, você tem raiva de você mesmo, pois imaginava que
essa pessoa iria agir de forma diferente — o que não acontece. Powell está tão
em dúvida do que deve ser feito como nós simples mortais. A situação atual é
tão incerta e sem precedentes que é impossível traçar um plano sem que ele
esteja recheado de hipóteses sujeitas a grandes alterações.
Vamos
viver um período difícil para o planejamento; sendo assim, sugiro posições com
liquidez e bastante flexibilidade de ação.
O mercado acabou não “obedecendo” o Mosca na esperada retração até 4.100 e recuperou parte da queda sofrida em janeiro. Neste momento a chance de a correção ter tomado novo rumo aumentou. Em todo caso, só é possível descartar a configuração que eu tinha projetado se o SP500 ultrapassar 4.581.
A situação está resumida no gráfico acima:
1) Terra de ninguém – nesse
intervalo [4.540 – 4.680] tudo é possível, ou seja, os preços podem adentrar
nesse intervalo e em seguida voltar a cair até um nível que precisaria ser
calculado.
2) Esperança – Se as
cotações ultrapassarem o nível acima entrariam num novo intervalo [4.680 –
4.818] onde as chances de novas altas aumentam sensivelmente, mas só acima de 4.818
podemos ter confiança que a alta está em andamento.
-
Beleza David, esse seu esquema mais parece uma batalha naval! Hahaha ... O que
nós fazemos nesse meio tempo?
Pode
ficar atento aí, uma sugestão de trade poderá surgir a qualquer momento, pois
embora esses patamares estejam delimitados, dependendo de como o movimento se
desenrolar, posso querer assumir uma posição antes que o SP500 ultrapasse 4.818.
A
boa notícia é que, se por acaso uma nova queda ocorrer, e que leve o índice
abaixo da mínima atingida em janeiro - 4.222, a correção que eu estava
esperando no meio do ano pode ser em andamento.
Let
the market speak!
O
SP500 fechou a 4.546, com alta de 0,69%; o USDBRL a R$ 5,2660, com queda de
0,72%; o EURUSD a € 1,1270, com alta de 0,33%; e o ouro
a U$ 1.801, com alta de 0,26%.
Fique
ligado!
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