BCB esqueceu do breque #eurusd
Quando eu era criança, andava de carrinho de rolimã. Para os leitores mais jovens que não tiveram esse privilégio, o bólido era um pedação de madeira com quatro eixos e rodas de rolamentos já usados. Fui buscar no Google, e qual não foi minha surpresa ao ver diversos à venda. A foto abaixo é de um antigo bastante incrementado.
O sonho era encontrar uma rua em descida e largar do começo. O percurso era tranquilo, mas a dificuldade surgia na hora de parar. Quantas não foram as vezes em que se estraçalhava numa parede.
O BCB entrou num ciclo de elevação de juros que começou com 50 pontos e no caminho acelerou para 150 pontos, elevando a taxa de 2% a.a. para 10,75% a.a. na reunião de ontem — e avisou que ainda não vai parar.
O comunicado fornece uma pista do movimento que deve se seguir: "O Comitê prevê como adequada, neste momento, uma redução no ritmo de ajuste da taxa de juros. Essa indicação reflete o estágio do ciclo de aperto, pois seus efeitos cumulativos se manifestarão sobre o horizonte relevante."
Nesse
sentido, a Bloomberg, por meio de sua economista para América Latina Adriana
Dupita, comentou: "O Banco Central do
Brasil apresentou um aumento de taxa amplamente esperado e disse que prevê
um movimento menor na próxima reunião — embora esteja preparado para ajustar
esse plano caso as condições exijam. Apesar do aviso “hawkish”, a declaração
pós-reunião trouxe alguns sinais relevantes “dovish”. Isso reforça nosso apelo
de que o ciclo terminará em breve. Projetamos uma alta final de 75 pontos-base
em março."
Os
preços ao consumidor terminarão
2022 em alta de 5,4%, acima do teto da meta deste ano, informou o Banco Central
no comunicado. Em seguida, eles vão aliviar para 3,2% no final do próximo
ano, ligeiramente abaixo da meta atual de 2023 de 3,25%. O banco também disse
que seu horizonte relevante para a política monetária inclui 2022 e, em maior
grau, 2023.
Mesmo antes de considerar o aumento das infecções, já há sinais de que os aumentos acentuados das taxas estão prejudicando a demanda doméstica. As vendas no varejo, motor do crescimento do Brasil no passado, caíram em três dos últimos seis meses, enquanto a produção industrial teve um pequeno aumento em dezembro pela primeira vez desde maio.
A curva de juros, se pode ter uma ideia do que o mercado espera para o futuro. Hoje se encontra invertida; isso significa que é esperado uma queda de juros mais à frente depois de atingir a máxima de 12% a.a., segundo o gráfico abaixo.
É importante frisar que o aperto monetário está em curso há vários meses, pois para empréstimos e aplicações os juros já estão em dois dígitos, seguindo a curva de juros.
O mapa a seguir aponta o Brasil no topo dos países com os juros mais elevados. Ao estudar essa tabela, notei que não estão contidas a Argentina e Turquia, que provavelmente estariam na dianteira, embora não saberia que herói se disporia a comprar um papel de 10 anos em pesos argentinos com juros pré-fixados. Naturalmente a comparação não pode ser absoluta, pois cada país teve um desempenho depois da Covid de forma distinta — mas estamos no topo.
Com a taxa de desemprego em dois dígitos a 11,6% em novembro, e com melhoras não suficientes para diminuir esse indicador de forma expressiva, além do crescimento do PIB esperado esse ano ao redor de 0%, aumentar os juros não parece ser a melhor forma de combater a inflação — ou, em outras palavras, agindo dessa forma está se contratando uma recessão em breve.
Não
tenho acompanhado em detalhes a composição da inflação, mas seguramente a alta
do preço das commodities tem um peso importante. Em termos de energia elétrica,
São Pedro resolveu dar uma mão e a possibilidade de racionamento foi
descartada.
Em
termo de juros reais, estamos no topo do mundo, pois a grande maioria está com
taxas negativas. Mesmo que os bancos centrais dos países desenvolvidos subam os
juros, a inflação tem se mostrado superior. Considerando as projeções do BCB
que estimam em 5,4% para esse ano, já com a taxa atual da Selic o juro real é
de 5% a.a., com 12% a.a. esse indicador vai para 6,2% a.a. Me parece além da
conta.
Figurativamente
é como o BCB estar em seu carrinho de rolimã, ouvindo a torcida (mercado) que
quer mais velocidade, olvidando que vai ter que parar em algum momento.
Esqueceu do breque!
No post acordo-perigoso, fiz os seguintes comentários sobre o euro: ...” Por enquanto nada feito, a alta que chegou a € 1,1480 nada mais foi que um soluço para em seguida retornar ao canal composto pelas duas linhas paralelas” ...
Desde a mínima na semana passada de € 1,1119 o euro ameaça uma mudança de rumo que foi impulsionada hoje pelas declarações de Christine Lagarde, presidente do ECB, que deu sinal verde para o mercado precificar mais altas nos mercados. Não que ela tenha se comprometido a elevar os juros esse ano, mas tanto o mercado como as pressões internas estão crescendo, indicando que a era de juros negativo está com os dias contados. Desde o início de 2021, o estoque de títulos nessas condições passou de U$ 18,0 trilhões para U$ 8,0 trilhões.
Conforme apontado no gráfico, vou aguardar o término dessa sequência de alta e observar uma retração em 3 ondas; em isso se confirmando, aí sim vou sugerir o trade.
O
SP500 fechou a 4.477, com queda de 2,44%; o USDBRL a R$ 5,2839, com alta de
0,42%; o EURUSD a € 1,1439, com alta de 1,20%; e o ouro
a U$ 1.804, sem variação.
Fique
ligado!
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