Os economistas não surpreendem #ibovespa

 

Quem é leitor antigo do Mosca conhece a frase que eu uso para descrever os economistas. Para quem é novo, a frase é: os economistas trocam de opinião como eu troco de camisa (talvez deva substituir por camiseta, dada a pandemia). Me recordo bem, quando do início da abertura da economia após os lockdowns, os economistas da Goldman Sachs projetavam uma inflação muito comportada, e em consequência os juros só deveriam começar a subir de forma lenta em 2023 atingindo 2,5% em 2025.

Pouco a pouco foram refazendo suas estimativas, prevendo altas de juros cada vez mais próximas. Bem, até aí o fato de a inflação ter se mostrado mais resiliente os ajustes seriam aceitáveis. Porém recebi um relatório hoje, que compartilho a seguir, onde enfatizam diversos riscos não previstos anteriormente.

Dois terços da cesta principal do CPI tiveram inflação anualizada de 4% desde julho passado (contra apenas 19% da cesta em 2019), e 16% dos preços subiram a um ritmo de dois dígitos (contra 2% em 2019). Independentemente do limiar exato escolhido, a amplitude da alta inflação voltou aos níveis vistos pela última vez na década de 1980. E, ao contrário de outros episódios recentes de aperto no mercado de trabalho, o pico da distribuição da inflação em si está subindo: os preços do núcleo da cesta básica de inflação estão aumentando a um ritmo anualizado de 5-6% em comparação com um ritmo de 2,5-3,5% nos mercados de trabalho normais ou apertados.

Estatisticamente a alta inflação dos últimos seis meses prevê a força contínua do núcleo da inflação nesta primavera. E essa estimativa não leva em conta a pressão adicional para cima da passagem do preço dos salários ou das restrições contínuas da cadeia de suprimentos.

As implicações a médio prazo são menos claras. Embora a alta e crescente amplitude da inflação no final da década de 1970 tenha coincidido com a redução das expectativas de inflação, as altas em 2000 e 2006 não. De forma positiva, notamos que o Fed respondeu a ambos os últimos episódios apertando a política monetária.

Como o leitor pode perceber, esse último relatório tem um tom bastante diferente dos anteriores, deixando até um grau de preocupação maior por parte dos economistas da GS. Em nenhum momento passado aceitavam uma comparação com o período inflacionário da década de 70, o que não é o caso agora. Como fica aquele investidor que comprou títulos no ano passado? Por esse relatório recente, a decisão mais acertada é ficar investido no curto prazo.

Tenho enfatizado que o Mosca está agnóstico em relação a inflação. Do ponto de vista técnico, no gráfico de longo prazo sobre os juros de 10 anos, eles estão testando a reta de longo prazo que, se rompida, pode levar aos juros enfatizados no retângulo. Tomem com cautela essa informação, pois primeiro precisa romper e, em segundo lugar, esse processo demoraria um bom tempo para se materializar. Mas que algum dia vai romper é uma afirmação com um certo grau de certeza, pois caso contrário os juros caminhariam para níveis negativos, o que parece ser coisa do passado.

No post correlação-um-conceito-perigoso, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “ A complementação da onda III em laranja deveria nos dar a oportunidade de entrar na bolsa na correção que se sucederá. Mas tudo ficará condicionado à maneira como isso poderá ocorrer” ...


A bolsa brasileira está seguindo o script de forma muito satisfatória, e cálculo que um ponto de entrada entre 110.5 mil/ 110 mil ofereça uma oportunidade, embora não exista a complementação de 5 ondas (em azul), finalizada, conforme é visível no gráfico a seguir. Caso haja a decisão de entrar, o stop loss poderia ser colocado a 109 mil. Mas não é mandatório, pois só estaria eliminada tecnicamente abaixo de 100 mil, uma distância desconfortável do nível de entrada. O objetivo inicial seria ao redor de 121 mil.


- David, está ficando sem coragem! Quer dizer que você só se sente “seguro” se a bolsa for a 120 mil? Já pensou que vai perder uma alta de 20%!

Pensei sim, e fiz um mea culpa. Concluí que, não sendo a configuração do Ibovespa direcional, tenho que ser mais cauteloso. Se você se recorda, no primeiro semestre de 2021 eu estava bem construtivo com nossa bolsa, porém a queda que começou em junho desse ano nos tirou da posição que detínhamos, e pior, me fez modificar a expectativa de alta de mais longo prazo.

Naquele momento, supondo esse novo cenário, e com as bolsas internacionais mostrando perspectivas mais sólidas, resolvi deixar o Ibovespa em segundo plano.

Eu venho repetindo que para entrar na bolsa brasileira quero que ela me mostre as 5 ondas, enquanto não mostrar é “expectativa” e não confirmação. Isso não vai me engessar em possíveis trades antes disso, mas enfatizo ser uma posição arriscada, não de perder muito porque vou colocar um stop loss curto, mas pelo fato de poder ser estopado e o mercado seguir subindo um pouco depois, frustrando as expectativas.

Nem sempre a análise técnica fornece elementos de trade, principalmente quando num prazo mais longo está dentro de uma correção. Nessas situações, você estabelece uma configuração que pode não corresponder à realidade, originando muitas entradas falsas. Eu aprendi a duras penas que a ansiedade, mais o “achismo” gráfico, pode te levar a prejuízos. Mesmo assim, a vantagem é que Elliot Wave, se seguido de forma correta, te dá os limites da sua aventura e não te deixa quebrar!

O SP500 fechou a 4.225, com queda de 1,84%; o USDBRL a R$ 5,0097, com queda de 0,91%; o EURUSD a 1,1309, com queda de 0,19%; e o ouro a U$ 1.908, com alta de 0,47%.

Fique ligado!






Comentários