Roleta russa #nasdaq100
Alguns
movimentos ocorridos no mercado acionário americano nos últimos dias me
deixaram preocupado. Existe um compromisso das empresas de capital aberto de publicarem
seus resultados trimestrais no mês seguinte ao final de cada trimestre. Esses
resultados são anunciados antes da abertura do mercado ou depois de seu
fechamento.
Nos
últimos anos, tenho acompanhado mais de perto esses momentos. É razoável supor
que movimentações maiores aconteçam em empresas menores ou mais jovens, pois
seus resultados estão sujeitos a variações maiores em relação ao esperado. Mas,
em especial neste trimestre, estamos assistindo a variações consideradas gigantes
em empresas gigantes.
No início desta semana, a Google anunciou lucros e perspectivas futuras superiores ao projetado, imprimindo uma alta no after market de 11%; na quarta-feira, o Facebook teve uma queda de 25%, e ontem a Amazon subiu 15%. Motivos existem para essas oscilações. Poderia completar com inúmeras outras que tiveram movimentos positivos ou negativos de magnitude semelhante.
É sabido que empresas de tecnologia são precificadas com múltiplos superiores a empresas mais tradicionais com P/L na casa dos 30 enquanto as últimas na casa dos 20, sem contar as que nem lucro têm. Dessa forma, qualquer alteração nas premissas adotadas nas empresas de tecnologia tem um efeito amplificado nos seus preços.
O
que eu me pergunto é como um investidor vai reagir se uma das empresas de seu
portfólio pode cair 25% num dia. Se é uma carteira especulativa, isso faz parte
do jogo, mas de empresas cujo valor de mercado gira na casa dos trilhões é
esperada uma certa estabilidade de receitas e lucros. No caso específico do
Facebook a razão foi mercadológica — o Tik Tok está roubando seu market share.
Mas me pergunto, os analistas só descobriram isso agora?
Independentemente de como os investidores podem reagir com esses acontecimentos, uma certeza existe, a de que o resultado de uma carteira está mais sujeito à sua performance durante a noite que quando o mercado está aberto. Essa evidência me leva a um artigo publicado por Barry Ritholtz em seu blog The Big Picture.
Eu trabalhava em uma mesa de operações. Foi durante a década de 1990, no meio de um incrível boom tecnológico. Eu tinha duas linhas de negócios, um limite de negociação diário, e o capital que eu poderia manter investido durante a noite (ou mais). O P&L da noite para o dia invariavelmente superava o diário, e é por isso que a empresa tolerava que eu bloqueasse esses recursos. Mas o resultado inversamente correlacionado da atividade maior contrariava a crença histórica da mesa de investimentos. Esse sucesso no desempenho me levou ao poço sem fundo das finanças comportamentais; também explica minha preferência por indexação e principalmente por carteiras passivas.
A
pergunta ganho no dia vs ganhos de um dia para o outro voltou a aparecer
recentemente. Bruce Knuteson, um ex-físico
de partículas e professor do MIT que trabalhava com
modelos quantitativos na gestora DE Shaw, tem
proposto a teoria de que os fundos de
hedge quantitativos estão
manipulando preços nos mercados pouco negociados após
o expediente para fazer o desempenho de seu fundo parecer melhor do que
realmente é.
Pode
ser, mas provavelmente
não. Uma coluna FT detalhada de Robin
Wigglesworth explica bem os contra-argumentos; Michael e Ben se divertem discutindo
sobre isso em seu Animal Spirits esta semana. Vou animar
essa discussão.
Wigglesworth
(MiB aqui) relata a pesquisa
persuasiva que desmascarou a natureza conspiratória disso: acho duas dessas
explicações convincentes: 1) os mercados ficam quatro vezes mais fechados que
abertos (+ finais de semana + feriados), então naturalmente ao longo do tempo
esse subconjunto maior deve ter muitas vezes os ganhos do subconjunto menor
(horas de mercado). Observe também que os relatórios de ganhos e outras
notícias que movimentam o mercado são divulgados antes ou depois do mercado, e
então os ajustes ocorrem quando o mercado está fechado. Dada a arte da gestão
de lucros e o alto percentual de relatórios melhores que o esperado, isso
também não é surpresa.
Mas
há
outro fator que pode estar sendo negligenciado neste debate: o horário
de mercado é quando os profissionais
executam suas tarefas. As posições
são compensadas, o dinheiro vai de um lugar para outro, as operações conjuntas
são
executadas, os erros de negociação são corrigidos, as carteiras são
reequilibradas, as operações no mercado secundário, os IPOs e os SPACs são
oferecidos, as ofertas de títulos são vendidas. Tudo isso
acontece durante o horário de mercado. As instituições são compradoras e
vendedores durante o dia. Elas têm profundo conhecimento, uma enorme quantidade
de capital, um fluxo de informações confiável e profissionalizaram o negócio de
operar ações, títulos, opções, etc.
Muito
do que acontece entre 9h30 e 16h é sobre o "negócio
das ações" e não necessariamente sobre
o negócio de investir. A negociação
diurna é quando todo esse “ataque e defesa” ocorre — avaliações
ou desempenho de longo prazo não são muito relevantes para essas execuções.
Você
e eu compramos ações durante o dia porque a) é
quando os mercados estão abertos, e 2) esperamos que os preços
subam ao longo de anos e décadas; não compramos porque
esperamos uma cotação mais alta até as 16:00.
Há
outras questões aqui também: geralmente sou cético
sobre teorias conspiratórias porque as pessoas são
muito ruins para manter segredos. Manipularam
a Libor, e nós descobrimos; Falsificaram
os livros da Enron, e nós descobrimos; o golpe na negociação de fundos mútuos
foi descoberto muito rapidamente. Veja o quanto publicaram sobre o 6 de janeiro
— as informações continuam surgindo, e de pessoas com conhecimento e motivos
para mantê-las escondidas. Ryan Holiday (MiB aqui) explica em seu livro Conspiração como mesmo duas pessoas
não
conseguiram manter um segredo sobre algo tão modesto como financiar o litígio
de Hulk Hogan contra a mídia Gawker.
Eu
nunca descarto a possibilidade de fraude ou manipulação,
isso acontece o tempo todo em Wall Street. Agora, décadas de melhor desempenho pós mercado graças a operações combinadas depois do mercado? Isso é tempo demais
para não se detectar essa atividade flagrantemente ilegal. Até vermos algumas
provas concretas, tenho que descartá-la como uma teoria fraca contraditada por
explicações muito melhores.
Não fiz nenhuma análise ou pesquisa sobre esse
assunto e compro a ideia de que a manipulação não perduraria por tanto tempo. O
que podemos constatar é que o resultado durante a noite foi muitas vezes
superior ao realizado durante o dia, e o gráfico não é de uma ação, mas sim,
imagino, do índice (não está especificado no gráfico).
Aceitando esse fato e considerando as oscilações
que ocorrem depois do mercado fechado, a probabilidade de que esse seja o
motivo é alta só acho estranho que ainda não tenha sido feito nenhum trabalho
acadêmico para buscar a comprovação — vou sugerir ao pessoal da FEA.
De todo modo, ficar investido durante o período de
divulgação de resultados virou uma roleta russa!
No post estabilidade-traz-instabilidade, fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: ...” a nasdaq 100 teria ainda uma nova queda que deveria se situar no intervalo marcado no retângulo entre 13.300 – 13.200, para só então começar o movimento de alta. Uma outra hipótese é de que a queda terminou, neste caso é necessário que o nível de 15.165 seja ultrapassado” ...
Desde novembro do ano passado, operar nos mercados acionários tem sido desafiador, com movimentos nos dois sentidos em magnitude maior do que havia ocorrido — deve ter causado prejuízos a quem busca resultados no curto prazo. O Mosca tem ficado fora e passado esse tempo não tenho do que me arrepender, seguramente teria sido stopado, e não que não tivesse tido vontade, mas me segurei, fiquei plantado nos princípios.
Hoje vou apresentar uma possibilidade de alta para o nasdaq100, embora ainda não vá sugerir um trade. No gráfico abaixo de janela de 1 hora, podemos notar a formação de 5 ondas. Essa visão tem uma suposição que poderá inviabilizar essa ideia, a observação da quinta onda como truncada — marcada no gráfico.
De uma forma tentativa, entre 14.5111 e 14.354 há uma área interessante nesse sentido, o nível mais provável onde poderá acontecer uma reversão. O stoploss deveria ser colocado em 13.858 o que pode representar uma perda aproximada de 4%.
O
que poderia ir contra essa opção: primeiro, a suposição da onda truncada, pois
se esse não for o caso, uma queda abaixo de 13.858 pode acontecer; segundo, o
fato dessa estratégia ser baseada num gráfico de 1 hora — vocês sabem a
restrição que tenho contra isso.
Por
enquanto, ficamos de observadores antes de uma incursão.
Não
existe posições em aberto
O
SP500 fechou a 4.500, com alta de 0,52%; o USDBRL a R$ 5,3254, com alta de 0,78%;
e o ouro a U$ 1.807, com alta de 0,17%.
Fique
ligado!
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