A teoria e a prática #nasdaq100

 

Durante minha vida profissional, vivi diversas ocasiões em que os economistas erraram feio. Deveríamos em função disso classificá-los como incompetentes ou descartar suas previsões? De jeito nenhum, nem um nem outro. Mas devemos sim, levar em consideração que essa matéria não é exata como o cálculo de uma estaca ou do juro de um investimento, por um único motivo: depende da reação das pessoas, e essas nem sempre agem racionalmente ou como o esperado.

Esse pensamento me leva à questão mais importante do momento: a economia americana está rumando para uma recessão, como está previsto no livro texto? O principal motivo desse tipo de projeção é uma política monetária mais restritiva, anunciada pelo Fed e recentemente reforçada ad nauseam por todos os seus membros. Tenho a impressão de que essa atitude teria mais um caráter retorico, mostrando que não ficariam na defensiva como muitos analistas desconfiavam. Muito diferente de seus pares na Europa, que apesar da inflação têm se mostrado imobilizados e de certa forma divididos quanto e como se deveriam portar.

O livro texto diz, observando os casos históricos, que o aperto da política monetária acaba sendo maior que o “necessário” – e o que é necessário já sugere um grande questionamento – gerando uma recessão num prazo entre 12 e 18 meses. Mas será possível traçar um past copy e mergulhar nessa hipótese? Não sei e ninguém sabe. Talvez o leitor ache que estou sendo incoerente, pois minha ferramenta de análise técnica se baseia na sua maior parte em probabilidades. Pode ser que eu tenha um viés, todo ser humano tem, mas destacaria dois pontos: primeiro, a análise técnica se baseia em milhares de eventos que se repetem, enquanto no caso acima são apenas dezenas de situações; e segundo, na análise técnica existe sempre outro cenário menos provável caso o principal não funcione.

Minha sugestão é observar os resultados e comparar com as previsões —sempre sem supor  que irão necessariamente permanecer no futuro.

Os dados que trago hoje não mostram o menor sinal de fraqueza da economia, ao contrário. Sabemos que 70% do PIB americano é função do consumo. O mês passado foi levado por um sentimento mundial de perigo ocasionado pela invasão da Rússia, e seria natural esperar uma retração dos consumidores; mas não é o que ocorreu, veja a seguir o volume de crédito concedido pelos bancos.



Os dados de emprego estão muito apertados, as empresas estão com dificuldade de encontrar funcionários para preencherem suas vagas. O próximo gráfico mostra que o grande problema de falta de componentes da cadeia produtiva não representa tanta importância como os pedidos em atraso por problemas internos — onde a falta de mão de obra é a principal razão.


Os dados do mercado de trabalho que foi publicado no início deste mês mostram que está em pleno emprego, e mesmo os resultados semanais de seguro-desemprego e solicitação de benefícios, como mostra a figura abaixo, não deixam dúvidas do aperto neste segmento. Por outro lado, essa informação corrobora os fortes números de consumo.


E como está o lucro das empresas? Uma resposta de imediato, com tantos problemas apontados recentemente: seria de esperar uma queda nos resultados projetados pelos analistas. Porém, como mostra artigo de John Authers na Bloomberg, não parece ser o caso.

‎Chegou aquela hora de novo. Depois de um começo de ano brutal que abalou  profundamente o chão debaixo das empresas, na próxima semana começaremos a ouvir de CEOs e CFOs sobre como o primeiro  trimestre foi para eles. Quase não precisa dizer que a guerra na Ucrânia, com todas as suas repercussões, se juntou a mais gargalos de oferta provocados pelo Covid e um aumento chocantemente rápido das taxas de juros para piorar as perspectivas para os lucros das empresas em 2022.‎

‎Só que não. A estimativa de ganhos "BEst" da Bloomberg para o S&P 500 para todo este ano aumentou desde 1º de janeiro. Isso não acontece muitas vezes. Nos últimos 10 anos, as estimativas para os 12 meses completos caíram sete vezes nesta fase. Os dois anos de aumentos antes deste poderiam ser atribuídos a circunstâncias excepcionais — a recuperação surpreendentemente rápida em relação à pandemia no ano passado, e o impacto da reforma tributária de Trump, promulgada nos últimos dias de 2017, em 2018:‎

Este pareceria um ano pior do que a média, mas não é o caso. Talvez mais surpreendente ainda, as estimativas de lucro para o FTSE EuroFirst 300, cobrindo as empresas sediadas em um continente onde uma guerra eclodiu, aumentaram ainda mais. Eles aumentaram de forma quase tão impressionante quanto no ano passado. Em cada um dos oito anos anteriores, as estimativas de ganhos caíram neste ponto:‎

‎Pode ser um alívio que pelo menos as estimativas para o primeiro trimestre tenham caído - mesmo que incluamos ações de energia, cujas previsões de lucro subiram em um terço. Essas estimativas setoriais da FactSet Research Systems Inc. mostram que as avaliações dos corretores para os lucros caíram 0,7% nos três meses: ‎

‎Portanto, isso só pode ser conciliado se Wall Street de alguma forma se tornou muito mais otimista para os últimos três trimestres de 2022, apesar dos horrores que começaram o ano. A FactSet mostra que isso é realmente o que aconteceu. As estimativas do quarto trimestre ganharam quase 4% desde a virada do ano:‎

O que está acontecendo? Nicholas Colas, da DataTrek Research LLC, um ex-analista de ações de sell-side, tem uma explicação plausível. Os números do ano inteiro, os números mais completos que uma empresa pública anualmente, tendem a ser insumos muito importantes para modelos de ganhos. Eles só podem ser conectados em planilhas uma vez que estejam disponíveis em algum momento do primeiro trimestre. Isso explica o aumento das estimativas do ano inteiro. Depois há uma boa gestão de lucros à moda antiga, o processo pelo qual os corretores sempre produzem estimativas que as empresas que eles seguem podem bater, para aproveitar o aumento no preço das ações quando isso ocorre.

‎O cinismo sobre o processo de gestão de lucros é geralmente justificado. No entanto, o resultado continua sendo que muitos analistas de baixo para cima revisaram novos dados e perceberam que eles estavam muito pessimistas sobre 2022 — e eles fizeram isso apesar das manchetes do primeiro trimestre. É aconselhável não ficar muito animado sobre se os ganhos foram melhores ou piores do que o esperado. Mas os analistas estão bem conectados e bem-informados, e suas previsões tendem a ser direccionalmente  precisas. Eles veem mais potencial de ganhos pela frente.‎

Quanto aos detalhes do que aprenderemos quando os executivos começarem a se abrir para questionamentos na próxima semana, a chave será suas opiniões sobre o tema do momento: a inflação. Os salários estão subindo; quanto devemos esperar que eles continuem subindo? E quanto desses salários podem ser repassados aos clientes a preços mais altos? A resposta a essas perguntas irá longe para determinar o quão durável se mostra a inflação, e quão efetivamente as empresas e seus ganhos podem agir como um hedge contra o aumento dos preços.‎

‎O big data torna mais fácil medir essas coisas do que costumava ser. Uma vez que os relatórios de ganhos estejam disponíveis, os computadores extrairão deles seus mais profundos segredos. Como mostram estes gráficos do Morgan Stanley, aumentaram no ano passado as menções nos relatórios corporativos ao aumento dos salários, aos custos trabalhistas e particularmente à escassez de mão-de-obra:‎

A probabilidade é que essas palavras vão aparecer ainda mais durante esta temporada de lucros. Seria muito positivo se não o fizessem - e explicassem o otimismo duradouro para o ano inteiro. E podemos estar confiantes de que muitos computadores contarão as palavras para nós.‎

Confusos? Não se sintam sós — boa parte dos investidores e analistas também está. A reação da economia depois da pandemia fez com que os modelos econométricos fossem encarados com cuidado. O Mosca adota uma política de não assumir nenhuma postura definitiva e observar os dados conforme suas publicações. A realidade vai contar mais que as previsões, isso sugere tempos difíceis a frente.

No post mudando métrica, fiz os seguintes comentários sobre a nasdaq100: ... “ Notem que a nasdaq100 tocou na zona de perigo e em seguida iniciou um movimento que por enquanto denomino de correção – o gráfico acima é com janela de 30 minutos. Em tudo funcionando como o esperado, imagino que a bolsa deveria retroceder até algum nível anotado no retângulo 14.358/14092/13.832” ...



Desde a semana passada, o índice atingiu o primeiro nível apontado anteriormente sem que possamoss fazer qualquer previsão tanto de final da correção, bem como do cenário mais preocupante comentado no post acima. A região destacada sob o círculo pode indicar o final da correção caso um movimento de alta no curto prazo sugira isso.


Para que os leitores possam ter uma dimensão da dificuldade de se operar nesses últimos meses, a seguir está o gráfico com janela semana, do qual destaco:


Depois da Covid em março de 2020, a bolsa subiu de forma expressiva até outubro do mesmo ano, quando a primeira correção ocorreu (1) que durou 10 semanas com queda máxima de 14,16%, logo em seguida em abril de 2021, um novo período de indecisão (2) que durou 14 semanas com queda de 12,04% e agora iniciou em janeiro de 2022 (3) que está durando 18 semanas e com queda de 21,5%. Notem também que a extensão e dimensão desta última queda apresenta maiores cuidados. Todos esse fatores têm ocasionado uma inação por parte do Mosca. Assim são a vida e os mercados, nem sempre os caminhos são evidentes.

O SP500 fechou a 4.488, com queda de 0,26%; o USDBRL a R$ 4,6960, com queda de 0,97%; o EURUSD a € 1,0876, sem variação; e o ouro a U$ 1.945, com alta de 0,71%.

Fique ligado!

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