O culpado de plantão #usdbrl
O Mosca dobrou sua aposta ao usar como Tema para 2022
a inflação, renovando o Tema do ano anterior. Agora que o assunto está alastrado
acredito que todos os investidores do planeta estão com receio desse indicador.
Qualquer ameaça que ocorre hoje em dia a culpa (ou vai piorar) é da inflação.
Poderia enumerar acontecimentos recentes como: guerra da Rússia, desemprego
muito baixo nos EUA, problemas na cadeia produtiva, riscos de recessão por
conta da inversão da curva de juros etc.
Será que existe uma forma de se proteger? Ben Carlson em seu
blog A Wealth of Common Sense relata que não existe hedge para tudo.
Na década de 1970, o S&P 500 retornou 5,9% ao ano. O
problema é que a inflação era de 7,1% ao ano, então o retorno real foi
negativo.
Isso significa que a inflação deve ser ruim para o mercado
de ações, certo?
Bem, na década de 1980, a inflação média era de 5,5% ao
ano, mas o mercado de ações subiu 17,3% em uma base anualizada, quase 12% maior
que alta após o ajuste pela inflação.
E com a inflação baixa?
Na década de 2010 a inflação teve uma média de apenas 1,8%
e as ações retornaram 13,4% a.a.
No entanto, a inflação foi de 2,6% ao ano nos anos 2000,
mas o S&P 500 experimentou uma década perdida, caindo 1% ao ano
nominalmente.
O mercado de ações é um maravilhoso hedge de longo prazo contra a inflação, mas às vezes não funciona tão bem no curto prazo:
Títulos do Tesouro são um grande hedge contra quedas do mercado de ações. Abaixo todos os anos que houve queda na bolsa dos EUA desde 1928, juntamente com os retornos correspondentes para os títulos de 10 anos do tesouro:
A perda média em um ano de baixa para o mercado de ações é de -13,3%. O retorno médio dos títulos nesses mesmos anos é de +5,1%, bom o suficiente para um desempenho médio de quase 19%.
Infelizmente, os títulos não são um grande hedge contra a
alta inflação no longo prazo.
A inflação foi de 4,3% ao ano entre 1950 e 1981. Os
retornos anuais nominais dos treasuries de 10 anos durante esse trecho foram de
+2,8%. Assim, depois de contabilizar a inflação, os investidores de títulos
perderam mais de 37% de seus investimentos em uma base real.
O ouro foi um grande hedge contra a inflação na década de
1970, subindo mais de 1.300% ou 31% ao ano. Mesmo após a inflação anual de 7%,
o ouro subiu mais de 23% ao ano.
Então o ouro deve ser um maravilhoso hedge inflacionário,
certo?
Desde o início de 2020 tivemos a maior taxa de inflação em
quatro décadas e o ouro está estável.
Um dólar em 1980 valeria 44 centavos em 1999 por causa da inflação. O ouro caiu 43% neste período de duas décadas. Na verdade, o ouro ainda está abaixo das altas de 1980 quando ajustado pela inflação:
O S&P 500 subiu mais de 3500% mesmo após contabilizar a inflação desde 1980.
Então o ouro não consegue acompanhar o mercado de ações?
Na verdade, desde que o ETF de ouro (GLD) foi lançado no
final de 2004, ele fez um bom trabalho mais ou menos acompanhando o mercado de
ações. Estes são os retornos anuais desde o início do GLD:
- S&P
500 +9,9%
- GLD
+8,5%
Nada mau.
Algumas pessoas acham que o bitcoin é o mais novo dos
hedges da inflação. Atualmente, está no meio de uma queda de 40% das altas de
todos os tempos, apesar da inflação de 7,5% na última leitura.
Agora você poderia discutir com algumas das estatísticas
aqui. Você pode ganhar qualquer argumento que quiser sobre os mercados
simplesmente mudando as datas de início e término.
E os mercados devem olhar o futuro, afinal.
A questão aqui é que não há ativos perfeitos. Nada te
protege contra todos os riscos o tempo todo.
Investir envolve incerteza.
Você não pode prever como certos investimentos vão reagir a
cada situação.
Investir envolve risco.
Você não pode proteger seu portfólio de todos os riscos.
Investir também envolve trade-offs.
Você não pode ter tudo.
Não há hedge que funcione para a inflação, deflação,
mercados em alta, mercados em baixa, taxas crescentes, taxas em queda, paz,
guerra, recessões, expansões e tudo mais.
A boa notícia é que quando você percebe que não há ativos
perfeitos, você pode começar a criar uma carteira que leve em conta o fato de
que nada funciona sempre e para sempre nos mercados.
Quando era jovem pensava que um portfolio tinha que
ser extremado, a inflação vai subir coloque tudo em investimentos de curto
prazo, sem perceber que pelo menos parte já estava embutido nos preços (se não
tudo). Hoje em dia penso diferente, você deve elaborar seu portfolio com a
diversificação que melhor se adequa a seu perfil e flutuar os percentuais de
cada classe de ativo de acordo com sua convicções sem com tudo chegar a zero
por único motivo, pode não acontecer.
O percentual mais desafiador é o 50/50, nessa situação você
tenderá a pensar que errou na parte que não performou, ao invés de raciocinar
que as chances dos dois cenários eram equiprováveis e qualquer aposta 100%
seria muito arriscada.
O gráfico abaixo, embora em inglês, traduz a probabilidade em numeros de acordo com as percepção usada.
Sobre o assunto de hoje tudo indica que o Fed bobeou a não subir o juro antes – mais fácil falar depois de ocorrido – agora se vai sair do controle ou se a política do Fed vai gerar inflação indesejada. Para quem acredita nisso deveria informar quais são as chances e não deixar implícito que o cenário é certo acontecer.
A inflação é hoje o culpado de plantão e talvez algum
são-paulino também ache que essa foi a culpa por perder o Campeonato Paulista!
Morgan Housel elaborou uma lista de 17 itens de como as
pessoas pensam. Achei todos bem interessantes, porém não vou publicar de uma
vez. Pretendo incluir nos próximos blogs conforme a situação se encaixe em um
deles.
3. A previsão é
sobre probabilidade e colocar as chances de sucesso a seu favor. Mas os
observadores julgam-no em termos binários, certo ou errado.
Há uma cena no filme Zero Dark Thirty onde o
diretor da CIA questiona uma equipe de analistas que afirma ter localizado
Osama Bin Laden.
"Estou prestes a olhar o presidente nos olhos",
diz ele. "E o que eu gostaria de saber, sem besteiras, muito simplesmente,
ele está lá, ou ele não está lá?"
O líder da equipe diz que há 60% a 80% de chance de Bin
Laden estar no complexo.
"Isso é um sim ou um não?", pergunta o diretor.
Um jovem analista salta.
Todos estão atordoados.
"Ok, tudo bem, 95%, porque eu sei que a certeza
assusta vocês. Mas é 100%."
É um bom exemplo de quão desconfortável a probabilidade
pode ser.
A ideia de que algo pode ser provável e não acontecer, ou improvável e ainda acontecer, é um dos truques mais
importantes do mundo.
A maioria das pessoas entende que a certeza é rara, e o
melhor que você pode fazer é tomar decisões onde as chances estão a seu favor.
Eles entendem que você pode ser inteligente e acabar errado, ou burro e acabar
certo, porque é assim que a
sorte e o risco funcionam.
Mas quase ninguém realmente usa a probabilidade no mundo
real, especialmente quando julga o sucesso dos outros.
A maioria das pessoas se importa é: "Você estava certo
ou errado?"
Probabilidade é sobre nuance e gradação. Mas no mundo real
as pessoas prestam atenção em preto e branco.
Se você dissesse que algo vai acontecer, e acontecer, você
estava certo. Se você disse que vai acontecer e não acontece, você está errado.
É assim que as pessoas pensam, porque requer o menor esforço. É difícil
convencer os outros – ou a si mesmo – de que poderia ter havido um resultado
alternativo quando há um resultado do mundo real sentado na sua frente.
O cerne aqui é que as pessoas pensam que querem uma visão
precisa do futuro, mas o que elas realmente anseiam é certeza.
É normal querer se livrar da dolorosa realidade de não
saber o que vai acontecer a seguir. Alguém que lhe diz que há 60% de chance de
uma recessão acontecer não faz muito para apagar essa dor. Eles podem estar
adicionando a ele. Mas alguém que diz: "Vai haver uma recessão este ano",
oferece algo para agarrar com as duas mãos que parece assumir o controle do seu
futuro.
Após o ataque de Bin Laden, o presidente Obama disse mais tarde que as chances colocadas sobre se Bin
Laden estava realmente na casa-alvo eram 50/50. Alguns anos atrás ouvi um dos
envolvidos na missão falar em uma conferência. Ele disse que, independentemente
de Bin Laden estar na casa, a equipe sentiu que as chances de todos serem
mortos na missão também eram 50/50. Então aqui temos 75% de chance de que o
ataque teria terminado em decepção ou catástrofe.
Não aconteceu – mas esse resultado alternativo não é um
mundo que muitos prestam muita atenção.
Essa questão é extremante útil na análise técnica. Vocês são
testemunhas de como tento mesurar a chance de um determinado nível ocorrer ou
não. Mas também entendo que quando não acontece o mais provável o leitor encare
como um erro sem se a perceber que se eu tivesse adotado o caminho menos
provável teria acertado mais por sorte do que por competência.
No post tudo-tem-limite, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Oficialmente o Mosca mudou de objetivo para um prazo mais longo, ao invés de alta do dólar, agora trabalho com baixa do dólar como cenário mais provável” ... ... “Sob esse novo enfoque, aguardaria uma correção do movimento entre R$ 5,75 e R$ 4,73, se é que esse último indica o final dessa queda, o que ainda tenho dúvidas” ...
Hoje você exagerou. Já tenho a intimidade para dizer: não
enche a paciência! Vou responder sua pergunta, se não parar aí, o próximo nível
abrira 2 possibilidades: primeira de que o nível vai caminhar para atingir R$
4,15; e mais importante, o cenário de queda mais ampla de longo prazo começa a ficar
equilibrado com o atual em termos de probabilidade ...” Observando de hoje a segunda
opção parece muito mais plausível que a primeira e é com ela que vou trabalhar
até que algo diferente ocorra (uma queda mais acentuada no movimento que se
observa), o que faria minha tendencia pender ao primeiro cenário” ...
Também comentei que é imperativo que o BCB entre no mercado
para diminuir sua posição vendida em dólar. Achei que já podia ser no exercício
da semana passada, mas não foi. Só espero que não vire torcedor acreditando que
um cambio mais baixo é a solução para os problemas de inflação.
O SP500 fechou a 4.582, com alta de 0,81%; o USDBRL a R$
4,6060, com queda de 1,11%; o EURUSD a € 1,0970, com queda de 0,75%; e o ouro
a U$ 1.931, com alta de 0,39%.
Fique ligado!
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