O ser humano se acostuma #ibovespa
Jamais poderia imaginar que o tema inflação adotado pelo Mosca
se tornaria novamente um assunto mundial neste ano. Em acompanhamento de
informações diárias, cuja abrangência é grande, só existe um país onde esse
indicador não está subindo de forma pujante: a China.
Quem tem mais tempo de janela viveu níveis de inflação mais
elevados que os ocorridos nos últimos 30 anos— lógico, estou falando de países
desenvolvidos. Os motivos desse período desinflacionário são vários, mas talvez
o mais importante tenha sido a inclusão da China no cenário mundial como um
país crescendo a níveis robustos usando a ideia de terceirização da sua mão de
obra abundante, que por sua vez pressionava os preços para baixo.
Tudo indica que estamos entrando numa nova fase, em que esse
benefício não é tão marcante, além de uma tendência de desglobalização oriunda
das questões políticas ocorridas nos últimos anos. Em função desse pano de
fundo, será que não é razoável supor que vamos conviver com uma inflação mais
alta? Allison Schrager escreve um artigo na Bloomberg levantando essa hipótese.
Agora que a inflação voltou, não vai embora tão cedo. O
Federal Reserve espera que ela caia abaixo de 3% no próximo ano e
eventualmente volte para 2%. Mas há razões para pensar que isso seja muito
otimista. Estamos vivendo em um novo mundo. Mesmo depois que as coisas voltarem
ao normal, isso pode significar médias de inflação de 4% ou até 5% para o
futuro previsível.
(É interessante que algumas projeções indicam que a inflação voltaria para os níveis desejados pelo Fed ao redor de 2% dentro de 1 a 2 anos. O Mosca tem suas ressalvas, pois esses resultados são obtidos através de modelos — sofisticados, é verdade— que devem ser encarados com cuidado hoje em dia.)
Mas agora a inflação é de até 8,5% e, entre os bloqueios na China e a guerra na Ucrânia, pode aumentar ainda mais este ano. Em algum momento, esperamos que o mundo se abra totalmente e parte da pressão diminua. Mas esses tempos podem deixar cicatrizes duradouras na economia e podemos ter visto a última inflação de 2% por um tempo. Os americanos viviam em um mundo onde a inflação de 4% ou 5% era a norma, e isso poderia ser onde vai permanecer no futuro.
Há muitas razões pelas quais a inflação se tornou tão baixa e estável nos últimos 30 anos. Uma explicação popular é que depois de anos de erros, o Fed finalmente descobriu o que funcionava. Durante a última crise séria de aumentos de preços na década de 1970, o presidente do Fed, Paul Volker, elevou as taxas de juros o suficiente para causar uma recessão. Isso criou confiança de que o Fed faria o que fosse preciso para manter a inflação sob controle e essa credibilidade ajudou a manter a inflação baixa, porque a economia atual é em grande parte impulsionada pelas expectativas sobre qual será a inflação futura.
Havia outras forças econômicas que impediam que os preços
subissem. O comércio global cresceu, compramos mais mercadorias de países com
custos de mão-de-obra mais baixos, e as empresas aprenderam a manter estoques
mais apertados, aproveitando ao máximo a cadeia de suprimentos global e
tornando a produção mais enxuta e eficiente. A internet também capacitou os
consumidores a fazer mais compras de comparação, o que manteve os preços mais baixos.
A inflação voltou após a pandemia porque os efeitos em
cascata da Covid interromperam as cadeias de fornecimento globais e criaram
escassez de mercadorias. As pessoas receberam dinheiro extra do governo enquanto
se isolavam em casa, e gastavam em bens em vez de serviços, no momento em que o
fornecimento diminuiu. A política do governo jogou gasolina na fogueira
enviando ainda mais cheques, enquanto o Fed continuou a manter as taxas em zero
e continuou comprando ativos de longo prazo, todas ações projetadas para aumentar
ainda mais a demanda de modo a evitar uma recessão e reduzir o desemprego.
Em suma, os preços subiram porque havia menos oferta e
muito mais demanda. E mesmo depois que o governo frear a emissão de cheques, os
efeitos permanecerão por muitos meses. As pessoas economizaram parte desse
dinheiro e ainda estão gastando. A política monetária ainda é expansionista, e
seus impactos também serão sentidos por muitos meses.
Estas são algumas das razões para acreditar que, mesmo
depois que a poeira assentar sobre a pandemia, e espero que na guerra na
Ucrânia também, ainda possamos estar em um mundo de inflação mais alta. Até
agora, o Fed não indicou que merece ou manterá sua credibilidade para manter a
inflação sob controle. Demorou a reconhecer que os aumentos de preços eram um
problema sério e persistente, e ainda planeja apenas aumentar as taxas lentamente
para um nível que pode estar abaixo da inflação. Muitos economistas não acham que será suficiente.
Até agora, a maioria dos indicadores de expectativas de
inflação, rendimentos de títulos e pesquisas, ainda são bastante baixos. Mas
quanto mais tempo a inflação estiver por aí, mais difícil vai ser livrar-se dela. A inflação não estava no radar
de ninguém por muito tempo. Agora está. Isso significa que pode ser embutida em
aumentos salariais, as empresas se acostumarão a elevar seus preços e a inflação
pode ficar firme mesmo quando diminuírem as pressões de oferta e demanda.
Enquanto isso, algumas forças deflacionárias podem em breve
reverter. O economista Charles Goodhart espera que um envelhecimento
populacional, especialmente na China, provoque o fim da mão-de-obra barata que
produziu bens de baixo preço. A eficiência pode sofrer a longo prazo com as
interrupções da cadeia de suprimentos se as empresas mantiverem estoques
maiores como um amortecedor contra as futuras faltas de mercadorias. A Casa
Branca está estimulando mais produção doméstica e incentivando menos comércio,
o que tornará as mercadorias mais caras. Democratas e republicanos são
favoráveis a essas políticas; é provável que eles continuem não importa quem
esteja no cargo.
Pelo lado bom, a inflação mais alta não precisa ser ruim
para a economia. A incerteza cria os maiores problemas. Se as pessoas não sabem
se a inflação será de 2% ou 5% ano a ano, isso pode representar muitos custos.
As empresas não sabem o quanto podem aumentar os preços sem que isso afete a
demanda por seus bens e serviços, e os trabalhadores não sabem quanto de aumento
precisam para manter seu poder de compra. As decisões de poupança, gastos e
investimentos tornam-se muito mais difíceis. Toda essa incerteza pode fazer com
que as pessoas recuem na atividade econômica, o que prejudica a economia.
A estabilidade pode se tornar mais importante do que o
nível real de inflação. Se for maior, mas permanecer em um faixa estreita, não
causará muitos danos à economia. Quando a taxa média de inflação foi de 4% ou
5% por muitos anos, a economia ainda cresceu. Antes dos últimos acontecimentos, vários economistas até argumentaram que
o Fed deveria apontar para uma taxa de inflação de 4% porque
daria mais espaço para conduzir a política monetária.
Em última análise, o Fed pode não ter muito controle sobre onde
a inflação se estabelece. Ela é em grande parte impulsionada pelas forças
macroeconômicas em nossa economia sobre as quais o Fed tem influência limitada.
Mas se o Fed seguir políticas responsáveis, consistentes e transparentes, pode
promover a estabilidade dos preços. Isso significa que podemos estar vivendo em
um mundo estável de inflação de 4%, e isso pode ser o melhor que podemos
esperar.
Qual seria o problema se a inflação ficasse nesse nível de 4%
a.a.? Nenhuma no meu entender, com esse patamar as pessoas se acostumam a
viver. Pelo contrário, pode até ser mais saudável tanto para os rentistas como
para os devedores, ou alguém acha que juro negativo em títulos é tudo bem? O
mundo estava numa situação muito delicada, com os bancos centrais sem nenhum
poderio para enfrentar um cenário deflacionário ou qualquer outra situação de
desaceleração da economia.
Por outro lado, a grande ameaça seria uma alta de inflação a
níveis mais elevados onde, aí sim, as transferências de renda normalmente
prejudicam os mais pobres — mas um pouco de inflação não faz mal a ninguém.
No post o-medo-prevalece, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “ Como apresentado acima, o intervalo se encontra entre 112,8 mil/110,3 mil/107,8 mi, cada qual com uma coloração indicando o mais provável. Na parte inferior existe uma outra escala que aponta para a possível duração desse movimento, também com coloração apontando para início de maio até junho” ...
Já vivi momentos dramáticos durante minha vida profissional com
surpreendentes quedas nos ativos; o momento atual, porém, me parece distinto:
impera muito mais a dúvida que alguma certeza. Minha experiência também mostra
que esses momentos passam e os mercados passam a atuar de forma mais direcional,
com mais convicção.
Por outro lado, não pretendo sugerir trades com o que “eu
acho” ao invés do que os gráficos me sugerem. Let the market speak!
O SP500 fechou a 4.446, com alta de 1,12%; o USDBRL a R$
4,6867, com alta de 0,26%; o EURUSD a € 1,0885, com alta de 0,55%; e o ouro a
U$ 1.976, com alta de 0,52%.
Fique ligado!
Sigo cético com o IBOV! Metade dos lucros, que justificam o baixo PL, são de Vale e Petrobras, que estão com lucros históricos. A economia não apresenta sinais de melhora de curto prazo. A verdade é que não há um plano claro para a economia e crescer consistentemente exige planejamento de longo prazo. O governo atual, personalista e centralizador pelo Guedes, parece se interessar apenas em reduzir os custos das empresas e aumentar os impostos às PF de baixa renda. Me parece uma agenda destinada ao fracasso que aumentará a desigualdade sem trazer crescimento.
ResponderExcluirEsse seu cenário mais fundamentalista se encaixa na visão técnica dos gráficos. Se você acompanha minhas publicações sabe que tenho muitas restrições sobre a bolsa brasileira. Mas mesmo assim, não deixa de apresentar algumas posições oportunísticas como eu penso deve ocorrer em breve. Estamos alinhados!
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