Procure a HP-12C #Ibovespa

 

Nos anos 80 quando eu trabalhava no BFB fui fazer um estágio no Credit Lyonnais em Nova York. Durante o voo fiquei apreensivo no que eu iria encontrar afinal nessa época o que era importado era muito superior. Quando meu estágio foi progredindo notei que estávamos muito à frente na área de renda fixa, com inflação no patamar de 100% a.a. era uma questão de sobrevivência. Fiz uma boa relação com a tesoureira que acabou me convidando para participar de um seminário no final de semana.

Na apresentação da área contábil notei que tinha uma conta “provisória” muito elevada. Perguntei o que era contabilizado nessa rubrica. Um pouco constrangido, o apresentador disse que era a diferença entre o custo de captação e o desembolso. Continuei a pergunta indagando se usava juros simples ou compostos. Deu um branco, ele respondeu: juro composto não é necessário pois captamos a 8% a.a. e emprestamos a 8,5% a.a. Aí veio a pergunta mortal: qual era o prazo? Sua resposta foi que a captação era feita na maior parte em 30 dias e o empréstimo em 2 anos. Peguei minha HP e com uma conta simples cheguei à conclusão de que as taxas efetivas eram 8,30% na captação e 8,17% no empréstimo, sendo assim, ao invés de ganhar 0,50% a.a. estavam perdendo 0,13% a.a.

Foi um choque! A tesoureira assistindo a esse debate notou que eu usava uma máquina de calcular diferente e percebeu que a resposta para ter lucro, ela, a HP, era o caminho. Me perguntou: Onde você comprou essa máquina? Americano as vezes é muito ingênuo. Resolvi ser um pouco sarcástico, mas com carinho! Hahaha ... respondi ai embaixo na esquina! Resumindo fiz uma tabela com as taxas de juros nominais transformadas em efetiva de acordo com o prazo – não tinha Excel na época.

Os mercados estão horríveis: ações, renda fixa e tudo que não seja caixa está caindo, mas fico surpreso como a imprensa noticia a queda da renda fixa, que neste ano está superando a das ações, fato que raramente ocorre. A tão famosa carteira 60% de ações com 40% de bonds está no prejuízo, e grande, afinal, este ano não funciona o amortizador da renda fixa para a queda da bolsa. E tinha que ser assim, mas por quê?

Porque nunca na história financeira os juros estiveram tão baixos. Tão baixos que até ficaram negativo, algo que jamais imaginaria ver na minha vida. Coloque a isso a absurda injeção de recursos durante a última década – está com saudades dos helicópteros? Hahaha ... – e agora estão retirando este estímulo praticamente todos na mesma hora. Vejam como se encontra essa redução.

John Authers comenta na Bloomberg o que está ocorrendo no mercado de renda fixa.

No meio de movimentos de mercado assustadoramente rápidos, é fácil perder a perspectiva. Então, aqui vem uma perspectiva extremamente de longo prazo, na última Pesquisa de Ativos de Longo Prazo publicada por Jim Reid e sua equipe no Deutsche Bank AG em Londres. Seus dados remontam a um longo caminho e têm algumas implicações desconfortáveis.

Primeiro, o que está acontecendo nos mercados de títulos é realmente terrível. Considerando os títulos do governo global como um todo, o Deutsche avalia que todos os ganhos dos últimos 10 anos foram eliminados (e os últimos dias pioram as perdas). Em um conjunto de dados que remonta a 1750, os únicos períodos de 10 anos de retorno negativo ocorreram na sequência de guerras, desde a Guerra da Independência dos EUA, passando pela Guerra Franco-Prussiana, até as duas guerras mundiais do século XX. Um colapso como esse sem a destruição de uma guerra para impulsioná-lo realmente é sem precedentes:

O lado positivo é que, mesmo que isso prove ser um das piores quedas da história, a experiência passada indica que a maior parte já aconteceu.

Mas outro dos exercícios de Reid sugere que os ativos financeiros têm muito mais a cair. A equipe do Deutsche coletou dados para avaliações de títulos e ações de 15 países desenvolvidos diferentes desde 1860. A pandemia ajudou a estimular as duas classes de ativos a sua avaliação composta mais rica desde o início da Guerra Civil dos EUA. A queda do ano passado começou a ter impacto, mas o exercício tende a reforçar a teoria de que estamos entrando em uma nova era financeira, na qual podemos esperar que as valorizações de ações e títulos caiam de forma constante (o que parece razoável depois de quatro décadas em que ambos se tornaram cada vez mais caros):

Com base nisso, os títulos começam muito mais caros do que as ações, que não parecem dramaticamente supervalorizadas. Tomar uma média de 15 países ajuda a corrigir a “centralidade nos EUA”, já que as avaliações só parecem particularmente extremas para ações dos EUA. Os títulos, no entanto, parecem ter espaço para cair muito mais:

Naturalmente os bonds estão mais caros que as ações, se houve uma bolha nos mercados financeiros essa foi nos juros. Não faz muito tempo a Áustria emitiu um bond perpetuo com taxa de juros de 1% a.a. em euros. Naquele momento, os investidores institucionais estavam desesperados pois o investimento em títulos em euros tinha valor negativo, ou seja, você investia e recebia no final de 10 anos menos que investiu sem considerar que estava correndo o risco do papel. Esse cenário acabou e acabou rápido, e tinha que ser dessa forma, pois estava totalmente distorcido.

Para quem está supresso com a queda dos títulos de renda fixa sugiro pegar sua HP-12C – ou comprar no Mercado Livre nem precisa descer na esquina. É surpreendente que essa máquina ultrapassou toda a evolução tecnológica intacta custando os mesmos U$ 100 dos anos 80. Agora, faça a conta quanto que um bond tem que cair a cada alta de 1% a.a. nos juros. Eu fiz um cálculo da queda de preço de um bond de 10 anos com coupon 0%. Fui até 6% a.a. será que vai chegar ou ultrapassar?

No post all-in, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ... “Prefiro não fazer nenhuma antecipação de nível para a continuidade da alta, com tanta indecisão neste momento. Como venho comentando, o gráfico do Ibovespa tem sido um desafio constante” ...

Não houve muita alteração em relação a indefinição da bolsa, embora a oscilação mais recente pareça com uma correção ao de uma queda expressiva. Porém não se pode esquecer que a queda no mercado internacional ainda não terminou segundo meu cenário em vigor.

Vou expressar 2 hipóteses: a primeira contempla uma queda estaria próxima de terminar entre 107,8 mil/106,3 conforme destacado no retângulo para em seguida subir até 117, 2 mil. O caminho está traçado na linha amarela.


No segundo, a queda seria mais profunda e demorada já próxima do final do ano. Incialmente o nível mais provável seria em 102,1 mil/99,0 mil. Em seguida um movimento de alta levaria até 121 mil.

Os problemas no meu computador aumentaram de forma significativa (ninguém teve problemas com a atualização mais recente do Windows 11?). Como podem notar o gráfico é  uma captura da minha tela. A empresa que cuida do meu IT passa a maior parte do tempo buscando resolver e não está conseguindo, partimos para uma solução mais radical de reinstalar todos os programas e voltar a versão anterior.

Nessas condições e dado a volatilidade dos mercados resolvi zerar as posições que tinha no euro e nasdaq100 pela manhã. Até que seja resolvido não vou sugerir novos trades.

O SP500 fechou a 3.719, com alta de 1,97%; o USDBRL a R$ 5,3628, com queda de 0,35%; o EURUSD a € 0,9735, com alta de 1,50%; e o ouro a U$ 1.658, com alta de 1,91%.

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