Risco ao quadrado #SP500

 

Se você é um empresário com participação expressiva em seu negócio, tem que levar esse fato em consideração quando estiver fazendo a alocação de seus investimentos. Para os executivos que normalmente têm um programa de stock options, vale também as ideias que vou colocar. Quem tem uma startup, nem cogite comprar criptomoedas ou NFTs.

Um dia estava em minha casa analisando as projeções de resultado da Linear, empresa da qual eu era sócio com uma participação importante. O negócio estava indo muito bem, mas nessa hora me veio um pensamento. E se os fundos não performarem, no que isso pode me impactar? Os fundos que administrávamos em sua maioria eram de elevado grau de risco. Foi nesse momento que decidi que meus investimentos pessoais tinham que ser os mais conservadores possíveis, pois já estava correndo risco no meu negócio.

A Linear era uma empresa completa, com mais de 30 fundos administrados, e oferecia a sua rede de clientes a possibilidade de diversificar conforme seu desejo. Chegamos à marca de U$ 1,0 bilhão em ativos sob gestão e tínhamos parceiros de nome como o Banco Itaú, a Hedging Griffo, entre outros.

Mas a crise da Ásia em 1997 pegou em cheio nossa empresa. As quedas substanciais nos mercados acionários e de juros, gerou perdas importantes nos fundos. Não tivesse eu tomado a decisão de não arriscar com meu capital, meu prejuízo teria sido ainda maior do que foi, uma vez que, a maior perda ocorreu no valor da empresa.

No segmento de criptomoedas existe a figura do minerador, acredito que vocês já devem ter ouvido falar dela. A mineração de criptomoedas é o processo responsável por validar os dados na blockchain. Nele, vários mineradores tentam achar a solução de equações complexas com seus computadores ao mesmo tempo, na base da tentativa e erro. Para fazer esse trabalho, são recompensados com fração da criptomoeda emitida para esse fim – essa remuneração tem prazo determinado para acabar e seu valor também decresce no tempo, no caso da bitcoin.

Esse negócio tem um custo de processamento significativo pois depende muito de energia, além de um elevado investimento em computadores, pois para serem bem-sucedidos têm que chegar na frente das outras mineradoras que competem para resolverem equações matemáticas complexas. Quem desvendar a resposta primeiro recebe a recompensa: mais criptomoedas. Desta forma, essas empresas dependem da evolução de preços das criptomoedas e, como relata Caitlin Ostroff e outro no Wall Street Journal, o ano não está sendo nada bom.

O ano passado foi a época da colheita para os mineradores de criptomoedas. Agora, eles estão sendo atingidos por todos os lados.

Os preços das criptomoedas estão caindo. As contas de eletricidade dos mineradores estão aumentando. Praticamente ninguém quer comprar seus equipamentos.

É uma reviravolta acentuada em relação a 2021, quando os preços das criptomoedas estavam subindo e muitas empresas de mineração passaram a comprar máquinas de mineração, principalmente financiadas por dívidas. Mas este ano, os preços das criptomoedas caíram e grandes projetos e empresas de criptomoedas foram eliminados. Isso reduziu os lucros que os mineradores podem obter com a coleta de moedas digitais – e com a venda de seus equipamentos na hora do aperto.

Enquanto isso, os preços da eletricidade – necessária para manter os poderosos computadores dos mineradores funcionando – estão subindo. A guerra da Rússia com a Ucrânia prejudicou o fornecimento global de energia, enquanto uma onda de calor extrema aumentou a demanda de energia de famílias que precisam resfriar suas casas.

As ações das mineradoras de criptomoedas Marathon Digital Holdings Inc., Riot Blockchain Inc. e Core Scientific Inc. caíram 55% ou mais este ano..

“Acho que ainda não chegamos ao pior na mineração”, disse Amanda Fabiano, chefe de mineração da Galaxy Digital.

Os mineradores de Bitcoin configuram e executam os poderosos computadores que processam transações de bitcoin. Esses computadores geram números aleatórios na esperança de encontrar a combinação certa para desbloquear fórmulas; os primeiros a fazê-lo são recompensados ​​com bitcoins recém-criados.

Isso torna mais lucrativo minerar bitcoin quando o valor da criptomoeda está aumentando. Perto do pico do bitcoin em 2021, os mineradores ganhavam mais de US$ 60 milhões por dia, de acordo com dados da Blockchain.com. Agora, esse número é de cerca de US $ 19 milhões por dia.

No ano passado, o valor do bitcoin subiu para quase US$ 70.000. Este ano, o Federal Reserve começou a aumentar as taxas de juros, afastando muitos investidores de ativos como criptomoedas. Na semana passada, o bitcoin foi negociado em torno de US$ 19.000. Além disso, muitos outrora efusivos financiadores de criptomoedas pularam fora deixando as empresas de mineração com poucas opções para financiamento.

Entusiastas de criptomoedas costumavam minerar bitcoins rotineiramente com uma máquina em casa. Agora, as empresas de mineração de bitcoin administram torres de computadores de alta potência – e barulhentos – para fazer o trabalho.

Quando o valor do bitcoin disparou no ano passado, as máquinas de mineração de bitcoin se tornaram uma mercadoria quente. A corrida para acumular plataformas de mineração era semelhante à “compra de pás no meio da corrida do ouro”, disse Andy Long, executivo-chefe da mineradora de bitcoin White Rock Management.

Os preços para o nível mais eficiente de mineradores de bitcoin são agora um terço de seu custo em dezembro, de acordo com a Luxor Technology Corp., uma empresa de análise de dados de mineração de bitcoin.

O declínio acentuado tem repercussões especialmente graves para os mineradores que tomaram fundos emprestados para financiar suas compras de equipamentos no ano passado. À medida que o preço do bitcoin caiu, esses mineradores foram forçados a vender algumas de suas plataformas de mineração e participações em bitcoin para evitar ficar sem dinheiro. Mas poucas pessoas querem comprar as máquinas no mercado secundário, reduzindo ainda mais o preço das máquinas de mineração.

Alguns analistas temem que mais vendas forçadas de bitcoin possam estar à frente, principalmente porque as mineradoras também enfrentam choques nos preços da energia.

Os preços médios de energia para os maiores usuários do Texas subiram para 7,52 centavos de dólar por quilowatt-hora em junho, um aumento de 41% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados do governo. Seu equivalente alemão foi de € 525 por megawatt-hora este mês, aproximadamente equivalente ao mesmo número em dólares e quase 140% acima de dezembro passado. Um relatório da Casa Branca na semana passada alertou que os mineradores de criptomoedas podem sobrecarregar a rede elétrica do Texas.

Duas instalações da Geórgia usadas pela empresa de mineração de bitcoin Compass Mining LLC recentemente tiveram que fechar depois que seus fornecedores locais de serviços públicos aumentaram os preços da eletricidade em 50%. A Northern Data, uma empresa de mineração com sede em Frankfurt, e outros mineradores de bitcoin disseram que estavam operando máquinas de mineração apenas nas horas em que as redes elétricas têm menos demanda.

Acredito que nem eu nem os leitores estamos interessado em entrar nesse negócio, mas vejam o seu risco: o “valor de venda” de seus serviços é fixo e declinante — e pior, variável —, pois depende da cotação da criptomoeda, seus custos são em outra moeda – dólares, libras etc: equipamentos, pessoal e principalmente energia, além de depender de modelos matemáticos eficientes para que cheguem em primeiro lugar em cada partida de mineração.

Não sei como o pessoal faz a gestão dessas empesas, mas suspeito que nem se preocupam em fazer algum tipo de hedge de moeda – vender a criptomoeda e comprar dólar. Na pessoa física duvido ainda mais, dada a característica desses empreendedores. Espero que eles não passem pelos momentos que eu passei, pois se o bitcoin entrar em colapso, por exemplo, eles poderão não ter mais condição de sobreviver, fazendo com que esse mercado volte aos mineradores de varejo.

No post distorções-da-inflação, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “Quem acompanha os mercados externos notou que o nível de 3.945 foi rompido. Porém, um pequeno detalhe ocorreu, o fechamento foi acima, o que acaba não confirmando. Bem, o que pode ocorrer daqui em diante? Se o SP500 ficar contido nos níveis que se encontra agora pela manhã, o cenário de queda pode ser preservado como apontado abaixo” ...



O nível foi ultrapassado e fomos estopados no nível de entrada. No post acima elenquei uma possibilidade de alta caso isso ocorresse, porém não me envolvi em nenhum trade pois acredito ser mais provável a queda. Hoje pela manhã, com a publicação dos dados de inflação que vierem piores que o projetado – o mercado já dava como certo a queda da inflação, um movimento de queda mais forte acontece.

Fiz algumas mudanças na contagem de ondas em função da alta desta semana e a seguir se pode observar minha ideia. Se a queda ganhar tração o objetivo deveria atingir entre 3.566/3.469. Esses níveis deverão ser ajustados conforme evolução.


- David, pena que você foi stopado.

Não precisa se lamentar, poderia entrar no mercado de volta, no mesmo nível que saímos (decidi reentrar na posição colocando o stop loss a 4.050). Por outro lado, evitamos stops mais altos que teriam levado a prejuízo além de sofrimento. Nada a reclamar.

Ontem relatei sobre a disparidade entre o movimento dos investidores (saindo da bolsa) e os preços de mercado (em alta). Hoje posso complementar ainda alguns pontos. O Bank of America publicou o resultado de sua pesquisa com os gestores no quesito apetite ao risco —o gráfico dispensa comentários.


Eu estava intrigado: quem poderia estar comprando as ações? Por onde olhei, o resultado era a venda. Porém, hoje surgiu o possível candidato. Segundo o Wall Street Journal, os Fundos Quant compraram U$ 31 bilhões em derivativos na semana passada.

Vou relatar uma política que adotei durante toda minha vida: se o “mundo” vende e existe somente um comprador, pode vender também! No caso não é o mundo nem um só comprador, mas vale esse conselho também.

O SP500 fechou a 3.932, com queda de 4,32%; o USDBRL a R$ 5,1925, com alta de 1,98%; o EURUSD a 0,9965, com queda de 1,49%; e o ouro a U$ 1.701, com queda de 1,30%.

Fique ligado!

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