Distorções da inflação #SP500

 

Estamos vivendo tempos desafiadores. Por que isso ocorre? Vamos inicialmente constatar o principal axioma do mercado: o investidor odeia indefinição. Por mais certo que o futuro seja incerto, ficam todos mais incertos ainda em situações em que os tempos passam por uma mudança estrutural. O mundo passa de um cenário deflacionário morno para inflacionário aquecido.

Outro dia saiu a seguinte estatística: 90% dos traders que estão hoje no mercado nunca viram um ciclo de alta de juros nem níveis de inflação de dois dígitos – nem os traders brasileiros! Nesse novo cenário, observar os dados de maneira nominal cria uma serie de distorções, — algo que parece pode não ser.

O consultor Gary Shilling, que tem uma visão mais negativa sobre o futuro, publicou um artigo que menciona esse efeito.

Wall Street está em negação sobre a economia. Todos, de CEOs corporativos a investidores, estão muito focados nos dados nominais ainda decentes quando os números ajustados pela inflação contam uma história mais terrível.

Sabemos que a economia dos EUA está anêmica atualmente realmente fraca, e o compromisso do Federal Reserve de precipitar uma recessão para conter a alta inflação tornará essa realidade óbvia para investidores aparentemente alheios.

O produto interno bruto real caiu por dois trimestres consecutivos e, embora o National Bureau of Economic Research ainda não tenha declarado que uma recessão está em andamento, aqueles que se concentram em números nominais, não corrigidos pela alta inflação, ainda esperam que uma desaceleração dos negócios possa ser evitada. Eles falam sobre o aumento dos salários em um mercado de trabalho apertado, com baixo desemprego e vagas de emprego que superam o número de desempregados. O pagamento por hora em termos nominais aumentou 8,8% desde maio de 2021.

Mas corrigidos pela inflação, os salários reais caíram todos os meses desde então, levando a queda acumulada para 3,2%. Até o crescimento nominal dos salários está caindo, com a taxa de crescimento anual de 5,6% em março desacelerando para 5,2% em julho. Quando outras fontes de renda pessoal são incluídas – benefícios de funcionários, renda do proprietário, aluguéis, juros, dividendos e benefícios governamentais – e impostos de renda são subtraídos, a renda pessoal disponível aumentou 6,8% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, mas caiu 0,6% quando ajustada para a inflação.

Aqueles que acreditam que os gastos do consumidor são robustos estão confundindo as camadas de inflação com a economia real. Desde março de 2021, as vendas nominais no varejo aumentaram 6,9%, mas caíram 4,1% em termos reais.

A negação dos estragos da inflação também foi generalizada no final dos anos 1960 e 1970, quando enormes gastos federais na Guerra do Vietnã e nos programas da Grande Sociedade empurraram a economia para uma inflação de dois dígitos. Apesar da crença do governo Johnson, a economia não tinha oferta de mão de obra nem capacidade industrial para produzir ao mesmo tempo arsenais de armas (despesas militares) e manteiga (produtos civis).

Os custos corporativos disparavam à medida que os CEOs se sentiram obrigados a manter os funcionários pelo menos acompanhando os preços crescentes. Assim, não apenas os salários nominais cresceram, mas também os salários reais. Ao mesmo tempo, a depreciação das instalações e equipamentos, com base nos custos históricos, ficou muito aquém dos fundos necessários para a reposição. Além disso, a inflação criou lucros de estoque tributáveis. O valor em dólar dos estoques saltou, embora o tamanho físico dos estoques não tivesse mudado.

Para quem não sabe esses problemas eram corriqueiros aqui no Brasil nos anos 80, os ativos fixos das empresas ficavam desatualizados muito rapidamente além de haver tributação nos lucros que não eram lucro real mas sim inflacionário. Para solucionar, criou se uma conta de correção monetária que abatia os resultados e inflavam os ativos fixos. Podem imaginar como tudo ficava distorcido.

Eu implorei aos nossos clientes corporativos na época que analisassem os resultados de suas empresas em termos reais para ver quanto dano a inflação infligia. A resposta universal foi que Wall Street não se importava com resultados reais, então por que deveriam? E enquanto o Dow Jones Industrial Average, em termos nominais, oscilou em torno do nível de 1.000 entre o final dos anos 1960 e o final dos anos 1970, em termos reais caiu 73,1% de janeiro de 1966 a julho de 1982.

Apesar da alta inflação de hoje, alguns acionistas também estão em estado de negação. Em 16 de agosto, o Walmart Inc., maior varejista do país em volume, registrou crescimento de receita de 8,4% no trimestre encerrado em 31 de julho em relação ao ano anterior, menos do que o aumento de 8,5% no índice de preços ao consumidor. O volume de vendas de mantimentos no varejista caiu durante o trimestre e o lucro operacional caiu 6,8% em meio a descontos mais altos e à venda de itens de mantimentos com margens menores. Ainda assim, os investidores alimentaram a alta das ações do Walmart em 5,1% no dia desse anúncio.

Em 23 de agosto, a Macy’s Inc., a maior rede de lojas de departamentos dos Estados Unidos, cortou suas previsões para este ano devido à desaceleração econômica, à queda nos gastos do consumidor e às remarcações e promoções para se livrar do excesso de estoques. As vendas nas lojas que estavam abertas, há pelo menos um ano, caíram 1,5% no segundo trimestre em relação ao ano anterior. Ainda assim, as ações da Macy’s fecharam 3,8% mais altas naquele dia.

A alta inflação de hoje está claramente corroendo os resultados corporativos. Do segundo trimestre de 2021 até o segundo trimestre deste ano, o valor agregado bruto dos negócios corporativos (com efeito, vendas corporativas) aumentou 12,7% nominalmente, mas apenas 5,1% em termos reais. Os lucros corporativos após impostos tiveram pior desempenho, subindo 7,4%, mas apenas 0,1% quando corrigidos pela inflação.

A inflação pode ter atingido seu pico, mas sem dúvida recuará lentamente. Assim, o aumento de 5% nos lucros do S&P 500 que os analistas de Wall Street preveem para 2022, conforme relatado pela S&P Global, representará um declínio real. Os investidores, sem dúvida, perfurarão o véu da inflação e mudarão sua ênfase para a crescente fraqueza nas receitas e lucros corporativos reais. Isso, em parte, pode estar por trás da recente venda renovada de ações. Minha previsão anterior de uma queda total de 40% no S&P 500 em relação ao pico do início de janeiro ainda é relevante.

Hoje foram publicados os dados do mercado de trabalho com a criação de 315 mil novos postos, um pouco acima do consenso, mas uma desaceleração em relação à média de três meses de +402 mil (após -107 mil de revisões acumuladas). A pesquisa domiciliar foi forte, com o emprego aumentando em 442 mil. Embora a taxa de desemprego tenha subido para 3,7%, isso refletiu um forte aumento da taxa de participação que mais do que compensou o aumento do emprego. O crescimento médio dos ganhos por hora desacelerou sequencialmente, subindo 0,3% mês a mês em comparação com 0,5% em julho e consenso de 0,4%.

O que se pode inferir é que não existe nenhuma indicação de desaceleração nesses dados, é verdade, foram mais contidos e positivos do ponto de vista do Fed, porém não indicam que devam fazer alguma mudança de rumo. Por enquanto o mercado está apostando que na próxima reunião que será realizada esse mês, está dívida entre 0,50% e 0,75% com uma leve preferência por essa última.


Dias difíceis à frente até os investidores se adaptarem a esse novo cenário; muita volatilidade é esperada nos mercados.

Hoje vou modificar um pouco a sequência de publicações. Na sexta-feira normalmente comento sobre a nasdaq100. Porém, como temos posição no SP500 e esse índice parece oferecer melhores indicações, vamos a ele.

Nessa semana inicie uma posição vendida no SP500 a 4.040. A bolsa chegou a cair até 3.900 e a partir de ontem praticamente recuperou toda a queda. No post quando-resta-torcida, fiz os seguintes comentários: ... “resolvi me antecipar antes da confirmação do nível de 3.945 em função de 2 motivos: a queda da última sexta-feira tem caraterísticas de uma onda 3, e rompeu a área denominada de “região de atenção”, embora saiba que não estou obedecendo as regras” ...



Quem acompanha os mercados externos notou que o nível de 3.945 foi rompido. Porém, um pequeno detalhe ocorreu, o fechamento foi acima, o que acaba não confirmando. Bem, o que pode ocorrer daqui em diante? Se o SP500 ficar contido nos níveis que se encontra agora pela manhã, o cenário de queda pode ser preservado como apontado abaixo.


E o que pode acontecer se ultrapassar? A hipótese de alta entra em cena novamente. Nesse caso a bolsa estaria formando uma configuração muito raro denominada de “diagonal expandida” com as ondas: w5>w3>w1 e w4>w2. Complicado? Veja a seguir no gráfico as linhas verdes.


Caso o mercado caminhe para a hipótese acima, vamos mudar de ponta e sugerir compra no momento adequado. Estou mudando o stop loss para o nível de entrada a 4.040.

- David, que confusão, você está deixando a gente tonto!

Você está acompanhando o Mosca e notou que tenho proposto poucos trades. Além disso, basta acompanhar os mercados para notar as mudanças repentinas que vêm ocorrendo. Como atuar nessas situações? Eu acredito que o mais importante é não ter uma posição fechada—por exemplo, nem que a inflação vai ser domada pelo Fed (BCB e todos outros), nem que vai explodir, nem ter uma posição fixa sobre os mercados (de alta ou de baixa). Dada essa premissa, as posições têm que ser liquidas e com baixo risco.

Um dia parece uma eternidade, de manhã bolsa para cima à tarde para baixo. Mantemos a posição e o cenário de queda por enquanto.

O SP500 fechou a 3.924, com queda de 1,07%; o USDBRL a R$ 5,1756, com queda de 1,25%; o EURUSD a € ,9957, com alta de 0,13%; e o ouro a U$ 1.709, com alta de 0,82%.

Fique ligado!

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