Corrida cripto digital #usdbrl
Provavelmente poucos leitores passaram por uma corrida bancária. Eu passei por uma que foi muito estressante. Embora não tenha comentado, tive uma breve experiência profissional numa pequena instituição financeira: o banco BMC, egresso do BFB. Lá era muito diferente, enquanto no último eu escolhia qual a taxa que pretendia pagar nos depósitos remunerados, no primeiro a taxa era detalhe, o importante era a liquidez.
Em 1985, o BCB decretou intervenção em três bancos grandes
da época, o trio ABC — Auxiliar, Bamerindus e Comind — todos de uma vez. Como o
boato se espalhava por algum tempo, entrei nesse cenário com muita liquidez —me
recordo que era 35% do total de empréstimos. Os clientes começaram a solicitar a
recompra antecipada dos depósitos. Nos primeiros dias, estabeleci uma taxa
pouco punitiva, que foi fluindo para medianamente punitiva, muito punitiva e
absurdamente punitiva. Mas de nada adiantou, a liquidez foi se exaurindo.
O ambiente no banco começou a ficar tenso, e de certa forma
fui pressionado pelos donos a “fazer alguma coisa”, como se tivesse o poder de
convencer os clientes a não sacar. Foi quando consegui encontrar um banco que
se dispôs a comprar parte da carteira de crédito – uma das primeiras operações desse
tipo na época – e foi o suficiente para tranquilizar a situação. Em seguida,
pedi demissão.
Corrida bancária é um sufoco: você sabe como começa, mas não
sabe como termina. Estamos vivendo atualmente uma corrida sui generis e
totalmente ao contrário do que se dizia ou imaginava, a “corrida cripto digital”,
onde por todo lado que se vê os investidores querem sair de suas posições em
criptomoedas.
Um dos argumentos difundidos é que os recursos detidos
nesses instrumentos eram seguros pois não tinha interferência governamental. Atualmente
que a credibilidade é colocada em xeque, a falta de regulamentação criou um
pânico de saída desde o estouro da FTX. Agora começa a pipocar por todo lado. Algumas
colocações feitas pela mídia mostram como era administrada essa empresa e
outras do grupo, que chega valer a valer mais U$ 30 bilhões, dinheiro para ninguém
colocar defeito. Vou fazer uma coletânea do que foi reportado no Wall Street
Journal por Hannah Miao e outro, Caitlin McCabe, e David Benoit.
A Alameda e a corretora cripto FTX foram uma criação do amigo de Caroline
Ellison, o Sr. Bankman-Fried, e ele a escolheu para ajudar a liderar a Alameda
no ano anterior. Por um tempo, eles surfaram a onda cripto juntos, com a FTX
eventualmente registrando uma avaliação de sucesso de US $ 32 bilhões. Este
mês, tudo desmoronou em questão de dias.
Antes da quebra, Bankman-Fried subiu no palco, promovendo a
cripto e fazendo lobby por seus interesses em Washington, enquanto Ellison
permaneceu na retaguarda. A Alameda, uma corretora de propriedade quase
inteiramente de Bankman-Fried, tinha um propósito principal: ganhar dinheiro. A
Sra. Ellison foi encarregada de mantê-lo funcionando.
Em um punhado de podcasts e outras aparições públicas,
Ellison foi rápida em resumir sua rápida ascensão como quase acidental. Ela entrou
na Wall Street logo após se formar na Universidade de Stanford em 2016, embora
a mudança tenha sido menos por vocação do que uma resposta à pergunta que ela
se viu fazendo na faculdade: o que os estudantes de matemática devem fazer com
suas vidas, afinal?
Foi em seu primeiro emprego, na Jane Street Capital, que
conheceu outro trader de 20 e poucos anos, o Sr. Bankman-Fried. Como ela, ele
havia sido criado por dois professores. Como ela, ele falou muito bem de um
movimento chamado "altruísmo efetivo", ou a ideia de ganhar muito
dinheiro para doar.
Houve épocas em que Ellison e Bankman-Fried estiveram romanticamente envolvidos, informou anteriormente
o The Wall Street Journal.
Quando a Sra. Ellison chegou à Alameda, ela ficou surpresa
com a forma, como isso fez com que até mesmo a acelerada Jane Street parecesse
lenta. "Foi como, uau, o processo para fazer as coisas é apenas alguém
sugerir algo e, em seguida, alguém codificá-lo e liberá-lo", disse ela no
podcast FTX. "Uma hora depois e já aconteceu."
O uso de estimulantes era comum na diretoria, informou o
Journal anteriormente.
"Nada como o uso regular de anfetaminas para fazer você
apreciar o quanto é estúpida muita
experiência humana normal e não medicada", tuitou Ellison no ano passado.
Com o tempo, as estratégias agressivas de negociação da
Alameda dependiam mais da intuição e de indicadores como as postagens de Elon
Musk nas mídias sociais, de acordo com tweets em 2021de Sam Trabucco, então outra estrela em
ascensão na Alameda.
No início de 2022, as
moedas digitais estavam em queda livre. Muitas das maiores empresas de
investimento e empréstimos do setor começaram a ceder e em seguida fazer água.
À medida que o pânico varria o mundo das criptomoedas, Bankman-Fried procurou
aparecer como um salvador, comprando algumas empresas problemáticas e
estendendo o crédito a outras para ajudar a estabilizar o mercado.
Nos bastidores, porém, a Alameda estava longe de estar imune
ao abalo. A alardeada empresa de negociação de Bankman-Fried também estava recebendo chamadas de margem.
Em última análise, os laços estreitos entre a Alameda e a
FTX foram a sua ruína. A FTX usou o dinheiro dos clientes para emprestar
bilhões de dólares à Alameda para negócios e investimentos arriscados, de
acordo com reportagens anteriores do Journal. Nas finanças
tradicionais, os reguladores exigem que as corretoras separem os fundos dos
clientes de qualquer capital que usem para negociação (destaque meu).
A FTX deve a seus 50 maiores credores cerca de US $ 3,1
bilhões, disse a falida corretora de criptomoedas em um pedido de falência no
sábado. O documento não nomeou os credores, mas os listou como clientes. Dois
credores têm a receber, cada um, mais de US$ 200 milhões.
Os advogados da FTX disseram que, ao todo, poderia haver
mais de um milhão de credores nas várias entidades da FTX.
Mas a contaminação não parou por aí. Vejam, por exemplo, o Bank Silvergate, um banco especializado em criptomoedas – nem sabia que existia um banco desses —, cujas ações chegaram a valer mais de U$ 200 e agora estão cotadas a U$ 10!
Na sexta-feira, a plataforma de negociação de criptomoedas FalconX disse a seus clientes que não estava mais usando o Silvergate. A FalconX disse que o risco elevado no mercado de criptomoedas exigia cautela extra e disse aos clientes que sua decisão era "consistente com outros participantes do mercado"."Agora você tem uma situação em que a Silvergate está
sendo vista como vulnerável por causa do papel central que desempenha dentro do
sistema", disse Mark Palmer, analista da BTIG. As ações da Silvergate
estão agora sendo negociadas em níveis que implicam "um cenário muito ruim",
disse ele.
O Silvergate é conhecido como uma porta de entrada para trocas de criptomoedas. Ela ajuda
os investidores institucionais a movimentar dólares para dentro e para fora das
plataformas de negociação de criptomoedas por meio de sua Silvergate Exchange
Network, que vincula as contas bancárias de investidores e outras corretoras.
Uma década atrás, era um financiador imobiliário comercial
com um punhado de filiais na área de San Diego. Hoje, cerca de 90% de seus
depósitos totais estão vinculados a clientes de criptomoedas. Fechou agências e
encolheu sua carteira de empréstimos. Ela não detém criptomoedas, apenas
dólares.
Com a implosão da FTX, os
investidores venderam as ações do banco, preocupados com a evasão de depósitos.
Mesmo que os depósitos da FTX saiam
todos, o banco diz que está estruturado para se proteger de enormes saídas. Ela
detém quase todos os seus ativos em títulos de alta liquidez, como os do
Tesouro, que diz poderem ser rapidamente vendidos ou usados como lastro para
empréstimos.
"Nenhum banco no mundo pode honrar cada depósito
mantido em seu balanço com dinheiro, embora o Silvergate possa ser o mais
próximo, em nossa opinião", escreveu Michael Perito, analista da KBW.
Um banco pode quebrar por problemas de solvência ou liquidez.
No segundo caso, é fácil de entender que os depósitos são obrigações praticamente
à vista,1 enquanto seus empréstimos têm uma maturação distribuída no
tempo. Esse conceito foi o primeiro que aprendi no setor financeiro — o que se
denomina de mismatch [descasamento].
Quando uma instituição perde credibilidade, como ocorreu no caso que citei no
início, se não conseguir uma fonte de liquidez para seus ativos, ela termina
sofrendo intervenção da autoridade monetária, o que no jargão de mercado é
“pedir penico para o BC”.
1 praticamente,
porque se os depósitos a prazo não encontram liquidez, e nesses casos, somente
quem está na linha de fogo pode dar, o boato se intensifica ainda mais.
No caso das criptomoedas existem dois problemas cruciais: a
total falta de transparência sobre onde se encontram os recursos dos clientes;
e a volatilidade desses ativos, que tendem a se desvalorizar mais rápido numa
corrida.
Pois é, quem diria que as criptomoedas estariam sofrendo de falta
de credibilidade. Para os leitores do Mosca, enfatizei que são apenas bytes. Agora se mostra passível
de perda por má-fé de alguns participantes que, como sempre acontece, avançam
nos recursos dos clientes para solucionar um problema de curto prazo, na expectativa
de que algum dia irão resolvê-lo, o que nunca acontece.
No post nuvens-negras-no-horizonte fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “O cenário de curto prazo ficou bastante incerto” ... ...” Em algum momento deverá ocorrer um rompimento ou para cima conforme mostra o símbolo em amarelo o que levaria a cotação de R$ 5,93 ou ao contrário destacada em verde uma queda com objetivo entre R$ 4,92/R$ 4,97” ...
Neste final de semana, busquei opções para o movimento do dólar, com um uma visão de mais longo prazo. Depois de um bom tempo buscando encaixar em opções segundo Elliot Wave, não cheguei a nenhuma conclusão inclusive com cenários catastróficos que prefiro não revelar, já que tenho pouquíssima convicção. Quando isso ocorre, o que se sugere é ficar com opção de mais curto prazo, e foi o que fiz.
Nesse momento, meu cenário é de alta para o dólar de forma “tortuosa” dentro de uma onda 5 através do que se denomina de ending diagonal. Dentro dessas premissas, como podem notar a seguir, se a onda B em verde terminou na semana passada, o dólar deveria rumar para uma queda no curto prazo ao redor de R$ 5,02/R$4,91, para em seguida voltar a subir.
- David, não vale uma venda nos níveis atuais?
Aparentemente sim, mas tenho tão pouca convicção que não sei
se é uma boa ideia se envolver no dólar agora.
O SP500 fechou a 3.949, com queda de 0,39%; o USDBRL a R$
5,3080, com queda de 1,39%; o EURUSD a € 1,02380, com queda de 0,83%; e o ouro
a U$ 1.738, com queda de 0,65%.
Fique ligado!
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