Dívida infinita #eurusd




Hoje o assunto é solvência. De imediato, surgem dois países ou regiões onde essa situação é mais séria: Japão e Europa. O primeiro terá um teste brevemente, já que, o governo japonês optou por deixar seu câmbio desvalorizar e manter a política de juros 0%; não sei se nesse cenário atual isso afetara a credibilidade de seus títulos e, por que não, de sua moeda. Um risco que pode se tornar iminente nessa situação é o fato de 90% da dívida ser financiada por investidores locais, o que foi muito bom até agora, mas que pode mudar de curso face ao diferencial de juros entre os títulos japoneses e os estrangeiros.

A Europa não está muito diferente, embora os níveis de endividamento não tenham chegado ao patamar do Japão, porém, estão em níveis preocupantes nesse novo mundo de inflação – por sinal, o termo “New Normal1ficou obsoleto. 

1 Esse foi um termo usado por Bill Gross em 2009 quando ainda era o diretor principal da Pimco, indicando que nessa nova era os retornos dos títulos seriam baixos em função de crescimento menor do PIB, ao redor de 3%, substancialmente inferiores ao caráter capitalista do modelo americano.

O editorial da Bloomberg de 15 de novembro indica que a dívida soberana da Europa não pode continuar crescendo para sempre.

Repetidas vezes, os líderes da Europa prometeram enfrentar uma ameaça iminente à sua união: a dívida governamental excessiva. No entanto, repetidas vezes, os eventos - primeiro a pandemia, agora um choque de energia relacionado à guerra - minaram seus planos, tornando o problema maior.

Isso não pode durar para sempre. Em algum momento, um grande governo provavelmente acabará insolvente. A União Europeia precisa de estar muito mais bem preparada do que está.

Quando economias divergentes compartilham uma moeda sem compartilhar os cofres, os desequilíbrios invariavelmente surgem. As exportações e poupanças alemãs, por exemplo, dão origem a dívidas noutros países. Há uma década, tais desequilíbrios – juntamente com a má gestão oficial – resultaram num desastre financeiro grego que quase destruiu a zona euro e impôs sofrimento a milhões de pessoas. Mas, em vez de abordar a raiz do problema formando uma união fiscal, os líderes da Europa reiteraram uma antiga promessa: com o tempo, eles procurariam reduzir as dívidas do governo a um nível mais seguro.

Não deu muito certo. Em meio a gastos emergenciais para aliviar a pandemia e atenuar os efeitos dos preços voláteis da energia, os encargos da dívida foram principalmente na direção oposta. Em 2021, a dívida bruta combinada dos governos da área do euro situou-se em 95% do produto interno bruto, acima dos 86% em 2010 e muito acima do objetivo acordado de 60%.



Então, outra crise está chegando? Isso dependerá se os investidores acharem que os governos europeus podem controlar os seus quocientes dívida/PIB. Até certo ponto, o aumento da inflação deste ano ajudará, aumentando o denominador. Mas o aumento das taxas de juros tornará difícil impedir que o numerador corra à frente.

Considere a Itália, com uma proporção de 151%. As projeções oficiais mostram que o peso da dívida diminuiu significativamente na próxima década. Mas isso está pressupondo custos de empréstimos de apenas cerca de 2%. Se, em vez disso, a dívida da Itália rolar a taxas de juros atuais de cerca de 4%, sua perspectiva será mais precária. Apenas para manter a proporção da dívida estável, o governo teria de se envolver em austeridade permanente, mantendo um excedente orçamental primário médio (excluindo os pagamentos da dívida) de quase 1,5% do PIB – algo que, embora não seja sem precedentes, arriscaria a agitação popular e prejudicaria o investimento público. Reduzir a dívida para 60% do PIB, mesmo ao longo de duas décadas, exigiria superávits primários sustentados maiores do que qualquer país já alcançou.

Se, em algum momento, os mercados decidirem que a dívida da Itália é insustentável, as autoridades terão apenas duas opções: amortizar a dívida às custas dos investidores privados ou resgatar a Itália às custas dos contribuintes da UE. Nas condições atuais, o primeiro provavelmente desencadearia uma crise financeira, porque os bancos italianos estão entre os maiores detentores da dívida de seu governo. O segundo é um não-arranque político, particularmente em países relativamente ricos, como a Alemanha.

Em última análise, só uma verdadeira união de partilha de riscos – em que as transferências orçamentais equilibram choques assimétricos – pode garantir a viabilidade a mais longo prazo do euro. Entretanto, a Europa deve, pelo menos, criar as condições para reestruturações da dívida soberana relativamente ordenadas. Para esse fim, os formuladores de políticas devem acelerar a diversificação das participações dos bancos longe das dívidas de seus governos de origem, exigir mais capital que absorva perdas e concluir as reformas do setor bancário – como a harmonização do seguro de depósitos e a racionalização da autoridade de supervisão – necessárias para garantir que as falhas possam ser tratadas com o mínimo de danos colaterais.

Além disso, a Europa precisa de um mecanismo de falência soberana. O objetivo deve ser garantir que, quando um governo se mostra incapaz de pagar suas dívidas, as perdas sejam impostas aos credores privados o mais rápida e equitativamente possível – minimizando assim o envolvimento dos contribuintes e evitando o tipo de resgates em série que causaram tantos danos na Grécia.

Como o economista Herbert Stein apropriadamente colocou: "Se algo não pode continuar para sempre, ele vai parar". É melhor que a Europa esteja pronta.

Os leitores do Mosca são testemunhas do meu ceticismo com o euro, não consigo imaginar como essas disparidades possam acabar bem. Eu antevejo um rompimento por parte de algum membro — que, dependendo da sua importância, colocaria em xeque sua sobrevivência — ou a manutenção do status quo, onde basicamente a Alemanha subsidia a Itália. Mas, como podem no notar no gráfico acima, os outros países, e principalmente a França, estão trilhando o mesmo caminho, e aí o jogo fica mais pesado: não existe a menor chance de a Alemanha subsidiar a França sem que todos sucumbam de uma vez.

Enquanto der para empurrar com a barriga, acredito que não haverá muita mudança, somente uma crise maior colocaria os investidores em dúvida sobre a solvência desses países mais frágeis — afinal, nenhum país pode ter uma dívida infinita!

No post preço-não-leva-desaforo fiz os seguintes comentários sobre o euro: ... “  a opção que venho trabalhando está no limite pois caso ultrapasse € 1,0197 vou ter que usar minha criatividade para encontrar um outro caminho. Vale lembrar que a moeda única se encontra dentro de uma correção de longo prazo e segundo esse modelo é esperada uma recuperação que pode ser vista no gráfico a seguir” ...



O que eu temia acabou acontecendo e o euro ultrapassou o limite de € 1,0197, abortando o objetivo que tinha anteriormente, pelo menos no curto prazo. Desta forma, o movimento de alta que havia mencionado acima acredito que está na opção de recuperação. Ao atingir € 1,0480 na máxima recente, adentrou na área que deve oferecer razoável resistência. Uma análise dos próximos movimentos coloca dois cenários distintos, que delimito no gráfico a seguir.




A opção traçada em laranja contempla um primeiro movimento, que considera uma correção inicial, mas que deveria rumar acima mais à frente. Esse cenário seria eliminado caso o euro voltasse a cair abaixo € 0,9534. Uma outra opção está apresentada em verde, onde a moeda única completaria cinco ondas. O primeiro me parece mais factível pela extensão da onda b em laranja – se fosse a onda II em verde não deveria ter sido tão longa.

Não sei de ficou claro aos leitores essas duas opções, pois tive que usar os princípios de Elliot Wave que não são de conhecimento de todos. Para quem não entendeu, meu resumo é que não dá para propor nada no curto prazo.

Operar o euro parece ser tão difícil como resolver seu problema, e não é para menos que ele acaba tendo movimentos se sucedendo em correções – ou seja sem um movimento direcional, já que uma hora puxa mais para condições “Alemãs” e outra hora para condições “Italianas”, e como o Mosca não está aqui para resolver nenhum desses problemas, ficamos na maior parte do tempo como espectadores.

O SP500 fechou a 3.946, com queda de o,31%; o USDBRL a R$ 5,4012, sem alteração; o EURUSD a 1,0367, com queda de 0,22%; e o ouro a U$ 1.761, com queda de 0,74%.

Fique ligado!

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