Cautela sim, contágio não

Ontem foi mais um dia sangrento para os ativos de risco, principalmente nos mercados emergentes. Muito se têm falado e escrito sobre o assunto, e ninguém vai conseguir responder uma pergunta simples:

A retirada dos estímulos monetários iniciada pelo FED, vai desembocar num contágio de todos os ativos de risco, ou estes ajustes são provenientes de uma re-precificação?

O que fazer nesta situação? Sem ter a pretensão de ter uma resposta, eu acredito que as respostas de duas perguntas passam a ser fundamentail:

  • A China vai continuar com um crescimento ao redor de 7% a 7,5%?
  • A inflação nos USA não vai entrar numa escalada ascendente?

Se alguém me garantir que estas duas situações serão mantidas, acredito que existe uma boa chance de que o que estamos passando ser mais uma correção, do que um contágio, mas quem pode me dar esta garantia? Ninguém! Assim, o que resta é acompanhar atentamente o que acontece. O gráfico a seguir é um resumo dos efeitos nas moedas de todos os países emergentes desde o início do ano.


Eu marquei a repercussão em nossa moeda o Real, negativo em 17,9% e no Renminbi  Chinês, positivo em 2,6%, olhando-se somente por aí não parece haver muita preocupação por parte do mercado com este último país. O que denominei como " Bad Boys", são os países escolhidos pelo mercado como as vítimas mais lógicas com a diminuição dos helicópteros, ou seja, países com balança de pagamentos muito negativas. 

Até aí tudo parece seguir a lógica, se alguém precisa de recursos para se financiar e estes ficarão mais escassos, é natural que haja um ajuste, CQD! Ah, antes que eu me esqueça, vou deletar o que acontece na Argentina por dois (ou três?) motivos, primeiro porque têm uma Presidenta maluca, e o que está acontecendo por lá, aconteceria independente deste movimento global, segundo porque é um país com impacto muito pequeno no resto do mundo e por último, vocês já sabem! Hahahahah.....

No post a-realidade-se-impõe, fiz uma análise mais profunda sobre nossas contas cambiais e de lá, pode-se concluir que precisamos de muitos dólares para nos financiar. Contamos nos últimos anos com um bom volume de investimentos diretos, da ordem de US$ 60 bilhões e até 2012 com um saldo positivo na balança comercial, agora só nos resta o primeiro. Também entradas para investimentos em portfólio e títulos de renda fixa, ajudaram a construir um volume considerável de reservas de US$ 370 bilhões.

Segundo as projeções da Rosenberg & Associados deveríamos terminar 2014 com uma leve queda em nossas reservas, inferior a US$ 10 bilhões, não apresentando a menor ameaça em termos cambiais. Agora a grande dúvida é se estas projeções que levam em consideração uma hipótese de calmaria, não se efetivar. O BC têm sempre a opção de usar suas reservas numa situação que considere temporária, afinal para que servem está montanha de dólares! Mas, mais importante, é verificar se as duas premissas que elenquei acima estão sob controle. Façam suas apostas, porque as do mosca seguirá os gráficos.

No post swap-sem-risco eu publiquei um gráfico onde um analista acompanhava a evolução das taxas de juros de 10 anos dos títulos americanos, e a performance das moedas dos países emergentes.

Eu nem preciso atualizar este gráfico, pois sobre as moedas basta ver o gráfico publicado acima e os juros, vejam a seguir.

O que deu errado? Acontece que as moedas estavam se desvalorizando antes por causa da expectativa de melhora dos USA, o que faria o FED continuar em seu processo de normalização da política monetária, mas em seguida um movimento de aversão a risco começou a tomar conta do mercado fazendo as taxas caírem sem que houvesse uma desvalorização do dólar, ao contrário. O raciocínio deste analista não funciona no cenário atual! 

Tudo isso nos remete a uma avaliação do USDBRL, no post mapa-do-tesouro eu fiz o seguinte comentário... Enquanto não ultrapassar definitivamente os R$ 2,4550, este movimento pode ser ainda uma correção.... Naquele dia o dólar teve um movimento forte e se aproximou do nível acima, vejamos o que ocorreu de lá para cá.

O Real ficou no que denominei de "zona de tensão", sem ultrapassar aquele nível, nem recuar a um nível mais baixo. Não tenho muito a acrescentar, somente abaixo de R$ 2,37 e principalmente R$ 2,34 a possibilidade de uma correção maior aumenta, caso contrário o nível de R$ 2,455 poderá ser testado novamente, o que posso garantir é que não vai ficar onde está por muito tempo. 

Acredito que neste momento estamos dependente do que vai acontecer com os Bad Boys, se houver uma tranquilidade, acredito que um movimento de queda do dólar é possível, uma vez que os últimos dados vindos dos USA decepcionaram um pouco, vamos ver sexta-feira, com os dados do emprego.

Como diria um amigo de mercado: It´s not mole não! Hahahahah....

O SP500 fechou a 1.755, com alta de 0,76%; o USDBRL a R$ 2,4053, com queda de 1,41%; o EURUSD a 1,3515, sem variação e o ouro a US$ 1.254, com queda de 0,27%.
Fique ligado!

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