Garrincha era feliz e não sabia

Comentei diversas vezes aqui, a situação onde numa concentração da Seleção Brasileira, o então técnico Vicente Feola, explica em detalhes, uma jogada a ser implementada  num jogo contra a Rússia. Era algo que envolvia vários jogadores que passavam a bola, um para o outro, até que Mané Garrincha, driblava 2 adversários, centrava a bola, para Vavá marcar o gol. Foi quando Garrincha, com sua simplicidade que lhe era peculiar pergunta: Você já combinou com os Russos?

Tenho usado está passagem para ironizar situações difíceis, onde o seu sucesso depende da reação de um grupo grande de investidores. Acontece que o mundo está complexo, depois das várias crises em que passamos nos últimos anos, a bolha da internet; a bolha imobiliária, diversos BC implementaram uma política monetária baseada em hipóteses, ainda não testadas na prática, que tinha como objetivo evitar uma catástrofe maior. O resultado por enquanto depende da forma que é analisado, passado mais de 5 anos, as perdas para os investidores foram limitadas, as custas do aumento da dívida pública dos países desenvolvidos. Este é um ponto positivo, porém para que esta situação não se perpetue, as economias destes países têm que crescer, de tal forma, que a divida possa migrar para o setor privado.

Mas isto não vem acontecendo de forma consistente, surgiu apenas alguma esperança de uma melhora, que por enquanto é insuficiente. Agora se existe algo que colocaria um balde de água gelada, seria uma deflação. Para que vocês entendam este risco, imaginem que o índice de preços fique negativo, por exemplo - 2% a.a., os consumidores tenderam a postergar suas compras, afinal porque comprar hoje se amanhã será mais barato, os empréstimos, mesmo à estas taxas baixas, terão juros reais positivos e por último, os BC não têm ferramentas para combater nesta situação.

Um documento publicado pela Gavekal elenca alguns pontos que poderiam estar influenciando neste fenômeno:
  1. A política de juros zero praticada pelo FED é deflacionária, porque promove a engenharia financeira ao invés de incentivar investimentos em produtividade, ocasionando um crescimento esperado menor, e uma taxa de juros reais maior, uma vez que a inflação cai mais rápido que os juros de longo prazo.
  2. Esta mesma política, faz com que o dólar não suba, assim isto evitou que o crescimento dos USA tivessem um colapso, mas ocasionou um crescimento global menor.
  3. A habilidade de substituir trabalho por software ou máquinas, é em sua essência deflacionário. Sobre este assunto, foi publicado hoje uma matéria no Valor, do colunista Martin Wolf tecnologias-inteligentes.
  4. Os enormes investimentos realizados nas últimas décadas na produção de commodities, asseguram que o preço para materiais e energia não subam como no passado.
  5. A internacionalização do renminbi permitiu que países em desenvolvimento pudessem se industrializar com recursos baratos, assim fábricas mais produtivas no Vietnam, mais sapatos produzidos em Bangladesh... mais e mais produtos produzidos por ainda menores custos, e menos mão de obra.
 Isso poderia ser a causa da queda, observadas recentemente, nos juros dos títulos americanos, conforme publicado no post de ontem cautela-sim-contagio-não. Quanto a inflação, encontra-se em níveis ainda baixos, conforme pode-se ver no gráfico abaixo.

Na Europa a situação está ainda pior, os últimos índices publicados de inflação tem se aproximado perigosamente de zero, vide gráfico abaixo. Com o nível de desemprego extremamente elevado em alguns países europeus, uma nova tendencia tem acontecido, como por exemplo, uma empresa espanhola de construção está "exportando" seus empregados para executar obras no sul da França, utilizando-se das regras, que permitem livre movimento de negócios e trabalhadores dentro da união Europeia.


Amanhã o ECB vai anunciar a decisão de sua reunião mensal, e já é esperado uma redução dos juros que estão em meros 0,25% a.a. Mas reduzir para quanto, zero? Ualll.... agora vai resolver! Hahhaha...

E por último, como será que ficará a situação no Japão que surfou na onda de helicópteros locais anunciados no início de 2013, pegou uma carona no discurso do FED que iria retirar seus helicópteros, o que fez com que a diferença de juros, entre os títulos americanos e japoneses subissem significativamente impulsionando a desvalorização do Yen, mas e agora parte desta vantagem dos juros desapareceu?


Feliz era o Garrincha que, embora tivesse uma missão dificilíssima de executar,  bastava o Feola combinar somente com os Russos. Agora investir nos dias de hoje, para se ter algum sucesso, depende de combinar com o FED, ECB, BOJ, BOE, BCB e etc... Ah quase me esqueci, os Corintianos, Humm... acho melhor deixá-los fora no momento, a situação lá, não está muito boa! Hahahah....

O SP500 fechou a 1.751, com queda de 0,21%; o USDBRL a R$ 2,3981, com queda de 0,30%; o EURUSD a 1,3532, com alta de 0,13%; e o ouro a US$ 1.257, com alta de 0,24%.
Fique ligado!

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