O FED vai recuar?

Na sexta-feira foram publicados os dados do PIB, relativos ao 4º trimestre da economia americana, fechando o ano de 2014 em 2,4% a.a. Mesmo sendo o melhor desde os 2,5% de 2010, não se vê mais as taxas de 4% a.a., como no passado. Algumas análises apontam como o responsável por estes resultados mais baixos, o fato da força de trabalho estar em queda. A razão é o inexplicável motivo pelo qual o participation rate diminuiu tanto nos últimos anos. O gráfico a seguir, sugere que o crescimento que deve se esperar por causa deste efeito, já não são mais os 4% e sim 2%.

Em termo de setores que contribuíram no PIB, destaca-se do lado positivo o consumo, e do lado negativo o saldo da balança comercial.


E o FED ficou feliz com estes dados? Vai manter seu otimismo na economia americana? Com uma visão relativa, acredito que sim, pois os outros países, mal e mal, conseguem registrar algum crescimento. Já com uma visão absoluta, devem ter considerado suficiente, e provavelmente confiantes, que os próximos serão melhores.

O economista Joachim Fels, do Banco Morgan Stanley, publicou uma análise interessante sobre este assunto. Comentou que a linguagem usada no último relatório do FED dá algumas pistas de como eles estão encarando a situação dos USA, vis-à-vis a dos outros países. Citou que uma nova palavra " desenvolvimentos internacionais", foi usada na lista de fatores que o FED está acompanhando para decidir sobre o curso das taxas de juros.

Na sua visão, existe uma diferença entre: internacional e global. Primeiro que, implica numa visão que o mundo econômico é uma coleção de nações que são predominantemente dirigidas por fatores domésticos, mas também influenciado por alguns fatores secundários vindos de fora. Segundo, na língua inglesa, internacional é comumente usado como um eufemismo de estrangeiro, o que sugere uma clara distinção entre os "americanos" e os "outros". Em contraste, "global" entende-se como "nós e eles", ou melhor, "nós".

Qual é, o seu ponto? Mais que nunca, nos vivemos numa verdadeira economia global e opera-se verdadeiramente em mercados globais". Este conceito é disseminado em todas as áreas de negócio: As de pesquisas e desenvolvimento são globalmente integradas; consumidores estão agindo de forma uniforme, e etc ...As tendências de inflação são majoritariamente dominadas por fatores globais ao invés de fatores locais, e mercados financeiros são globais, como cada um de vocês pode atestar. Com este raciocínio, ele acredita que o FED está subestimando o impacto da tendência de grandes forças globais, na economia americana e na inflação.

Uma dessas tendências é o excesso de poupança. Por uma série de razões: Demografia, desigualdade, tecnologia, e etc ..."A Poupança desejada excede os investimentos desejados no mundo", esta é a razão que se tem observado taxas de juros nominais no território negativo. Outro fator relacionado é a baixa inflação. Não é uma nova tendência, mas foi agravada nos meses recentes pela queda dos preços do petróleo. Pressão de queda nos preços na Ásia e Europa, cada vez mais, afeta a tendência de preços nos USA, parte pela queda dos produtos importados, mas também, pelo comportamento das firmas multinacionais, que operam no território americano. O Morgan Stanley projeta que a inflação atingirá 1,1% a.a. no 4º trimestre deste ano. Como consequência, esperam que Janet Yellen começará a rever seus objetivos de elevar os juros no 2º semestre deste ano, já no final do mês de fevereiro.

Uma terceira força global impactando os USA é a batalha dos BC's contra a baixa inflação, que se intensificou nas últimas semanas, e nada menos que dez Bancos Centrais alteraram suas políticas monetárias de diversas formas. O exemplo mais significativo, foi do Banco Central da Suíça. "Logicamente o USA não é a Suíça, mas o FED vai pensar duas vezes antes de embarcar no sentido de subir os juros, num momento que o resto do mundo está tentando combater a deflação".

Acho que são argumentos bastante convincentes, e por esta razão, eles esperam que o ciclo de alta de juros, comece somente, daqui um ano, em março de 2016.

Amanhã eu vou comentar o relatório dr um outro Banco, o Deutsche Bank, que tem uma visão oposta a esta, aguardem.

Hoje vou comentar sobre os juros de 10 anos americano, mas posso adiantar que o dólar está muito forte, de uma maneira geral. Em relação ao real, aumentaram bastante as chances de uma nova alta acima de R$ 2,75, mas ainda não vou me envolver com nenhuma operação.

É muito importante acompanhar o desenrolar dos juros nos USA, pois caso o estudo acima mostrar-se correto e o FED recuar em sua intenção, isso deverá impactar os outros mercados e principalmente o dólar. No post De-mode, fiz os seguintes comentários: ...Ainda não dá para descartar a alta que eu esperava, nem  novas mínimas. Assim, vou manter minha previsão anterior, de alta dos juros, desde que, eles não caiam abaixo de 1,60% a.a. Não faço nenhuma aposta por enquanto...Porém, os juros continuam em movimento descendente, encontrando-se muito próximo ao nível comentado acima.
- David, abaixo de 1,60% a.a. é para apostar que vai cair mais?
Em análise técnica trabalha-se com probabilidades, e o nível de 1,60% indica que é pouco provável que os juros voltem a subir. Mas pode acontecer, assim, somente abaixo do nível que apontei no gráfico de 1,38% a.a, é que uma aposta de queda justifica. 

Mas nesta situação, com níveis tão baixos, será que vale a pena? Para quanto poderia ir esta taxa? Se me fizessem esta pergunta há 10 anos diria que "nem a pau" faria esta aposta! Mas hoje em dia é um pouco diferente, ao presenciar juros de 30 anos da Alemanha abaixo de 1% a.a., tudo é possível. Não vale a pena ficar elucubrando o que fazer se isso acontecer, deixa acontecer e aí veremos! 

O SP500 fechou a 2.020, com alta de 1,3%;o USDBRL a R$ 2,7261, com alta de 1,67%; o EURUSD a 1,1342, com alta de 0,50%; e o ouro a US$ 1.274, com baixa de 0,63%.
Fique ligado!

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