Game Over! #eurusd

 

Situações como a vivida atualmente são raras. Quando você faz algum investimento em título soberano num país decente, imagina que não vai perder 100% do seu valor— na pior das hipóteses, terá um corte em seu valor, como no caso da Argentina, que é especialista em “dar o totó”. Às vezes você tem esse receio e acaba comprando ações de empresas — afinal, “um país não quebra” é o pensamento por trás dessa atitude.

Mas a situação russa criou algo que merece se considerar. Do dia para a noite, todas as suas reservas (ou quase todas) foram bloqueadas, limitando a capacidade desse país de efetuar qualquer pagamento internacional (ou sua grande maioria), ou seja, não foi ocasionado por problemas em sua economia, mas por ações externas.

Tyler Durden, do site ZeroHedge, relata o histórico recente da Rússia no campo financeiro e projeta que esse país entrará em default nas próximas horas.

Mais de duas décadas atrás, em 17 de agosto de 1998, a Rússia descumpriu sua dívida e desvalorizou o rublo, desencadeando uma crise política que culminou com Vladimir Putin substituindo Boris Yeltsin e também acabou resultando na implosão espetacular de um então pouco conhecido fundo de hedge chamado Long Term Capital Management (composto por brilhantes ganhadores do prêmio Nobel) que, depois de receber um resgate de Wall Street liderado pelo Fed, inaugurou a era do “grande demais para fracassar”.‎

‎Nós trazemos isso à tona porque, em apenas algumas horas, a Rússia estará em outro default técnico.‎

‎Em meio à enxurrada de controles de capital impostos por Moscou, o banco central russo ‎‎proibiu pagamentos de cupons a proprietários estrangeiros de títulos de rublo conhecidos como OFZs no que disse ser um passo temporário para fortalecer os mercados na esteira de sanções internacionais.‎‎ O que realmente é, é uma inadimplência técnica sobre os próximos pagamentos de juros e vencimento, com um gatilho previsto logo para amanhã.‎

‎O Banco da Rússia ‎‎emitiu a instrução aos depositários ‎‎e registros como parte de uma série de medidas anunciadas esta semana, que incluíram um congelamento nas vendas de títulos locais por estrangeiros. Isso poderia deixar os investidores estrangeiros, que detinham quase 3 trilhões de rublos (US$ 29 bilhões) em dívida no início de fevereiro, incapazes de receber rendimentos de suas participações, cuja venda já está bloqueada por restrições.‎

‎"Os emissores têm o direito de tomar decisões sobre o pagamento de dividendos e a realização de outros pagamentos em títulos e transferi-los para o sistema contábil", disse o banco central em uma resposta por e-mail às perguntas. "No entanto, os pagamentos em si não serão feitos por depósitos e registradores para clientes estrangeiros. Isso também se aplica ao OFZ."‎

‎A decisão do banco central foi tomada para "evitar as vendas em massa de títulos russos e a retirada de fundos do mercado financeiro russo, além de apoiar a estabilidade financeira", disse.‎

‎Com cerca de metade de suas reservas estrangeiras congeladas no exterior por sanções destinadas a punir o Kremlin por invadir a Ucrânia, o Banco da Rússia disse na segunda-feira que endureceria os controles de capital com a proibição de transferir moeda estrangeira para o exterior. Embora inicialmente esclarecesse que o passo não visava impedir o atendimento da dívida, alguns investidores e economistas disseram que a formulação do decreto poderia equivaler a um calote.‎

‎"Game Over? Acho que eles subestimaram até onde as sanções irão e agora não têm muito o que fazer", ‎‎disse Viktor Szabo, gerente de fundos da Aberdeen Asset Management, em Londres, à Bloomberg. ‎‎"Todos os mercados russos desmoronaram."‎

‎"Isso provavelmente será um default técnico, veremos quanto tempo vai continuar‎‎", disse Nick Eisinger, co-chefe de renda fixa ativa de mercados emergentes na Vanguard Asset Management, em Londres. "‎‎Também vemos forte probabilidade de inadimplência técnica em Eurobonds de nível soberano."‎

‎O Banco Central não especificou quanto tempo durará a proibição. Na segunda-feira, o serviço de notícias Interfax informou que a suspensão temporária entrará em vigor por meio ano, a menos que o regulador a levante antes do tempo. A decisão ressaltou a rapidez com que as credenciais de livre mercado da Rússia se desintegraram desde a invasão da Ucrânia.‎

‎A notícia veio pouco depois de sabermos que os maiores sistemas de liquidação do mundo, a Euroclear e a Clearsteam, não estão mais lidando com ativos russos, revertendo a tão anunciada abertura do mercado de dívida local para investidores internacionais há nove anos.‎

‎Os títulos soberanos russos entraram em colapso na semana passada, fazendo com que o rendimento do benchmark de 10 anos subisse 240 pontos-base para 12,28%. A queda do rublo de mais de 55%, até agora, este ano é a pior queda global, mostram os preços compilados pela Bloomberg.‎

‎"Uma disposição potencialmente mais fraca por parte do governo russo de pagar sua dívida a tempo e na íntegra, aumenta a probabilidade de resultados de crédito mais severos para os detentores estrangeiros de títulos da dívida russa", disse o Moody's Investors Service em um comunicado.‎

‎E enquanto a Rússia está prestes a dar novo calote - algo com o qual certamente tem experiência -, com sua economia devastada, mas rica em recursos naturais, a questão é como os EUA lidarão com a brutal e nova realidade onde o petróleo está praticamente certo de atingir US $ 150, se não US $ 200 em um momento em que a principal produção dos EUA é a hiperfinancialização, com o valor dos ativos financeiros cerca de 6,3x vezes maior que o PIB.


O mais incrível ocorreu com o valor das empresas russas listadas na Inglaterra cujo valor equivale a fração de percentagem em relação aos preços de janeiro, literalmente virou pó. Nunca vi situação como essa em toda minha vida profissional – e olha que não é pequena. Se algumas semanas atrás alguém quisesse apostar que algo semelhante ocorreria apostaria minhas calças. Ainda bem que não apostei!


Ontem havia comentado que a Rússia era um país rico em commodities e esses produtos era a pauta majoritária de suas exportações, mas não imaginaria que é o país mais rico em recursos minerais ficando à frente de longe do Brasil, o que a torna uma reserva mundial que não se pode substituir no momento crítico atual, em função de uma demanda acelerada pela pandemia.


Mas esse congelamento de recursos da Rússia por parte da grande maioria dos países ocidentais poderá ter alguma repercussão em outros países? Um artigo publicado pela Gavekal acredita que pode ter mudanças importantes.

O argumento de que a Rússia “merecia” é forte. Mas isso não é o importante debate aqui. Em vez disso, a pergunta que os investidores devem ponderar é: Como a China vai responder ao congelamento das reservas da Rússia? Ou Cazaquistão? Ou Turquia? Ou Índia e Paquistão? (Mais uma guerra indo-paquistanesa dificilmente inconcebível.) E a Arábia Saudita?

Será que todos esses países se sentirão tão à vontade para acumular os títulos dos EUA amanhã como fizeram ontem? Não é como se os títulos do Tesouro dos EUA, atualmente oferecendo rendimentos reais de -5%, são exatamente uma proposta de investimento atraente no momento. A única razão que os bancos centrais e os fundos soberanos têm para mantê-los é sua garantia de segurança. Você detém títulos do Tesouro dos EUA porque assume que em crise pode monetizá-los e usar os lucros para comprar alimentos, energia ou armas. Mas e se essa suposição for falsa?

OK, então a China não pode exatamente ligar para a mesa de operações do J.P. Morgan e perguntar “o que está acontecendo? Qual a cotação para US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro?” Mas na margem, o apetite para títulos do tesouro americano e títulos do governo da zona do euro provavelmente serão atingidos. As pessoas do Banco da China e outros bancos centrais de mercados emergentes provavelmente seguirão A Rússia na busca de diversificar suas reservas em ouro.

Essa é uma questão de fundamental importância agora para os EUA e Europa que deverão diminuir as posições de títulos estacionados em seus bancos centrais e adquiridas ao longo da última década, mas principalmente na pandemia. Por outro lado, não é fácil substituir esses títulos por ouro ou qualquer outro ativo, a liquidez e o volume são muito diferentes, mas uma diversificação na margem deverá ter impacto em ambos mercados. Talvez essa seja as consequências marginais pelas ações dos países ocidentais contra a Rússia.

O Putin está quieto desde a invasão da Ucrânia, será que tem ideia do estrago que está causando a Rússia e sua população ou seu narcisismo só enxerga o campo de batalha!

No post eventos-imprevisíveis, fiz os seguintes comentários sobre o euro: ...” A moeda única voltou a acompanhar as retas paralelas em branco abaixo e o próximo possível ponto de inflexão está ao redor de € 1,0931. Quero enfatizar que por enquanto o euro não conseguiu romper o movimento de queda, e conforme recua se aproxima do ponto máximo aceitável de retração a € 1,0635 nem um centavo abaixo” ...


Quanto mais os investidores se conscientizam dos efeitos da guerra mais acreditam que a Europa terá fortes consequências. Os resultados da inflação nessa região têm vindo muito piores que o esperado, e se considerar as altas nos preços do petróleo e principalmente do gás não parece que tenha alguma possibilidade de queda. Os economistas acreditam que o ECB estará com as mãos amarradas o que vai tornar os investimentos em euros um horror. Como poderia o euro subir num cenário desses?

No final de semana fiquei debruçado no gráfico da moeda única imaginado que minha tese de alta estaria errada. Não cheguei a grandes conclusões, mas parece que essa tese vai perder valor, sendo assim um cenário alternativo deve ser estudado. Ainda não vou jogar a toalha, pois não tenho uma opção com boa probabilidade para oferecer.  




No gráfico acima com janela mensal, ou seja, de longo prazo, minha hipótese inicial era de que ainda haveria uma alta da moeda única até o nível de € 1,2914 – dentro do retângulo. Mas a queda está muito estendida é caso ultrapasse € 1,0635 vou ter que assumir que as ondas b (verde) e C (laranja) terminaram no ponto apontado pela seta, abrindo novas quedas que rumariam abaixo da paridade. Essa é uma correção bastante complexa tornando as previsões sempre questionáveis.

O SP500 fechou a 4.369, com queda de 0,52%; o USDBRL a R$ 5,0320, com queda de 1,32%; o EURUSD a 1,1063, com queda de 0,52%; e o ouro a U$ 1.936.

Fique ligado!

Comentários

  1. Porque não pode ser um triângulo ABCDE para a onda b?

    ResponderExcluir
  2. Eu suponho que esteja se referindo ao A e B em laranja. A resposta é sim pode acontecer, como eu sempre digo correções podem assumir diversas configurações.
    No caso especifico do euro acabou ocorrendo o que apontei com o sinal verde.

    ResponderExcluir

Postar um comentário