O termômetro do mercado #SP500

 

Desde 1 de janeiro, o mercado de bolsas se depara com alguns problemas existentes, dos quais destaco dois: O início da queda se deu por conta do elevado nível de inflação observado no globo, com raras exceções; de início era temporária, depois mais persistente. Um a um, os bancos centrais mudaram o tom de seus discursos e avisaram que a farra dos juros baixos e/ou negativos estava chegando ao fim. Rapidamente, os analistas de bolsas começaram a calcular qual seria o novo preço das ações. Mas, em paralelo, as economias estavam com bom desempenho e já se notavam intenções de investimento em máquinas e equipamentos.

A Covid passou a ser um problema secundário, já que as vacinas estavam dando conta do recado, ficando em risco apenas os não vacinados. Foi quando de repente a Rússia, mesmo repetindo que não iria invadir a Ucrânia. Como de costume através de seu presidente Putin, resolveu se aventurar nesse caminho. Os países desenvolvidos com as mãos amarradas em termos de engajamento físico, pois estavam cientes de que poderiam detonar uma guerra mundial, resolveram implementar sanções principalmente financeiras contra a Rússia, bloqueando a movimentação de suas reservas bem como do pessoal amigo do Putin, tomando até aviões e iates que se encontravam no Ocidente – nem sei como isso pode ser legal!

Isso foi suficiente para mandar os preços das commodities para a Lua. Imediatamente, o mercado se voltou aos bancos centrais para tentar saber o que eles iriam fazer: aumentar os juros ainda mais porque a projeção de inflação anterior se tornara obsoleta, ou usar a cartilha que diz não recomendar subir os juros quando existe um choque de oferta. Acontece que, como os juros estão fora do esquadro, não terão alternativa, correndo o risco de levar suas economias à recessão. Um ótimo começo de ano!

Com tanta indefinição, as bolsas caíram com um longo espectro de quedas. Existe um parâmetro que define se a bolsa entrou num mercado de baixa (o Bear Market), e esse nível é 20%. Não me perguntem qual a razão, eu não saberia responder — atingiu 20% de queda, o termômetro acusa Bear Market. No mercado americano, a Nasdaq100 está com febre – e algumas ações estão na UTI, enquanto o SP500 está, diríamos, febril. Será que estão com Covid? Hahaha ...

Todo mundo tenta adivinhar quando um mercado atinge uma mínima, ou seja, quando um mercado de baixa termina. Sou capaz de apostar R$1,00 que ninguém consegue.

- David, então aposta mais!

Não aposto, dá que essa pessoa acerta por sorte!

A renomada casa de pesquisa Gavekal tem uma cartilha, observando o que ocorreu nos últimos mercados de baixa – A crise da Ásia, a derrocada das ponto.com, a crise imobiliária, a crise do euro, a queda vertiginosa da bolsa chinesa em 2015, o massacre do Natal de 2018, e o pânico da Covid em 2020, é possível dizer que um mercado de baixa termina quando ocorre um ou mais dos pontos abaixo:

1) Os bancos centrais, especialmente o Federal Reserve, inundam o sistema com dinheiro. Foi o que ocorreu em 1998 após a quebra do LTCM, em 2001 após 11 de setembro, em 2008, 2018 e, mais recentemente, há dois anos, em março de 2020. Claramente, uma vez que os bancos centrais intervêm e dizem “não se preocupe, a gente te protege”, os mercados de ações estão propensos a se recuperar.

2) Os preços do petróleo caem. O aumento dos preços do petróleo é um grande obstáculo para a liquidez global. O financiamento das necessidades de energia do mundo é extremamente intensivo em capital; quanto maior o custo da energia, maiores os montantes de capital necessários para financiar os estoques mundiais de energia. Da mesma forma, a queda nos preços de energia libera o excesso de capital, que pode ser aplicado a outros usos - talvez mais especulativos. Um grande colapso nos preços da energia, como em 1997-98 durante a crise asiática, ou em 2020 com o pânico do Covid, pode ajudar os mercados globais de ações a se reerguerem.

3) Os rendimentos do Tesouro dos EUA de longo prazo colapsam. Um colapso nos rendimentos de longo prazo é um sinal infalível de que os mercados estão no meio de um pânico. Os rendimentos baixos resultantes (i) encorajam os bancos centrais a facilitar, e (ii) tornam todos os outros ativos mais atrativos em termos relativos. A maioria dos investidores procura um retorno mínimo quando colocam seu capital em risco. Se eles conseguirem esse retorno comprando títulos do governo, por que fazer outra coisa? Mas quando os retornos esperados dos títulos são muito baixos, os investidores devem tomar mais risco, seja em títulos corporativos, ações ou outros ativos de risco.

4) As avaliações tornam-se irresistivelmente atraentes. Talvez a mais saudável maneira de um mercado em baixa terminar é simplesmente quando as avaliações das ações se tornam tão atraentes que atraem ondas de capital fresco, seja doméstico ou estrangeiro. Foi o que aconteceu na Ásia após a crise asiática, e na Europa após a crise do euro. Em essência, o prêmio de risco sobre ações fica tão alto que qualquer coisa menos do que o Apocalipse quase que garante retornos compostos atraentes de longo prazo.

Então, de volta às perguntas originais: estamos em um mercado de baixa? E poderia

estar acabando? Se estamos em um mercado de baixa, não parece que qualquer uma das quatro condições para um piso estejam perto de serem atendidas.

• Com inflação de 7,5% nos EUA e 5,8% na zona do euro, parece improvável que os bancos centrais ocidentais inundem o sistema com nova liquidez em breve. Se o fizerem, correm o risco de serem acusados de ​​favorecer investidores ricos em detrimento da renda real das famílias comuns. O único grande banco central flexibilizando hoje, e no futuro previsível, é o Banco Popular da China.

• A guerra na Ucrânia e as sanções resultantes contra a Rússia significam que mercados de energia permanecerão apertados no futuro próximo, ou pelo menos até que os altos preços do petróleo quebrem o ciclo econômico global - o que dificilmente seria uma ótima notícia para os preços dos ativos.

• Apesar (ou talvez por causa) da ameaça da Terceira Guerra Mundial e mercados de ações em queda rápida, os rendimentos dos títulos de longo prazo dos EUA mal recuaram.

• As avaliações na maioria dos mercados de ações ainda estão longe de níveis reduzidos.

Em suma, os mercados hoje exibem muitas das características típicas de um mercado de baixa - incluindo o tipo de alta súbita que vimos na quarta-feira. Mas eles não mostram nenhuma das condições normalmente necessárias para que um mercado de baixa termine. Por enquanto, quaisquer investidores esperando para mergulhar na parte funda da piscina de novo provavelmente fariam melhor ficando na parte rasa com uma boia em cada braço: ouro em um braço, títulos do governo chinês no outro.

A Gavekal acredita que é melhor ficar risk off, notem que a recomendação é pelo ouro e títulos chineses. Corajosos de indicar esse último com porto seguro, por enquanto a bolsa na China está em queda expressiva, e o yuan nos últimos dias caiu levemente.

Antes que meu amigo pergunte, e o Mosca? Já estou acompanhando com bastante proximidade e assim que mostrar 5 ondas para cima, vamos entrar, desde que o cenário principal não se modifique, o que significa quedas a níveis inferiores aos atuais.

- David, você está se afastando de seu princípio! É para comprar ou vender?

Não me lembro de ter dito isso, o que falo é o compromisso com o bolso, sendo assim, as vezes (muitas!) é melhor ficar observando, como é o caso.

No post macro-choque-de-oferta, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “O SP500 se encontra num nível muito importante para que haja uma definição, a opção 1 está em seu limite de retração aceitável para que haja a continuidade do movimento de alta. Essa definição poderá ocorrer em breve, e caso ocorra, o Mosca vai buscar alternativas de trade. Até o momento me sinto aliviado por não ter posições nos mercados, com a volatilidade nos níveis atuais, não é recomendado trades oportunísticos” ...

” Opção 1: Nesse caso... ... após atingir a mínima de 4.114, pode ser o início da alta que estamos tanto esperando. Para que essa opção se concretize é importante que a área entre 4.992/4.590 seja ultrapassada.

Opção 2: Caso a bolsa reverta... ... caia abaixo de 4.114, o novo nível de reversão calculado passa a ser de 4.019” ...

Cada vez mais o mercado se aproxima da opção 2, que conforme está traçado no gráfico a seguir levaria o SP500 ao nível de 4.080/4.060, uma queda de 3% dos níveis atuais. Supondo que isso ocorra e da forma imaginada abaixo, depois dessa queda um movimento de alta deveria se suceder. Para essa opção ser iniciada é imperativo que o nível de 4.114 seja ultrapassado. Desta forma, a opção 1 ainda tem chance de prevalecer, baixa é verdade.

Acredito que existem dois elementos importantes no curto prazo: a decisão do Fed amanhã onde é esperada a elevação da taxa em 25 pontos, mais as entrelinhas do comunicado, projeções dos principais indicadores econômicos, e a sessão de perguntas e respostas; uma especulada decisão de cessar fogo, que poderá ocorrer ao que indica o recuo dos preços do petróleo (saiu de U$ 135 e está agora a U$ 94), bem como do ouro.

O SP500 fechou a 4.262, com alta de 2,14%; o USDBRL a R$ 5,1631, com alta de 0,86%; o euro a 1,0932, sem variação; e o ouro a U$ 1.921, com queda de 1,54%.

Fique ligado!

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