Armadilha da Alta #SP500

 


Estamos assistindo uma recuperação das bolsas desde a semana passada. Sempre que ocorre uma queda mais significativa existe o risco da alta subsequente ser o que é chamado de Bear Trap – ou que eu denominei de Armadilha da Alta. O conceito aqui se resume a crença que a bolsa atingiu a mínima e os investidores/especuladores entram para se aproveitar desses preços mais baixos. Pode acontecer que depois de uma recuperação parcial do movimento de queda (entre 50% e 61,8%) a bolsa volta a cair atingindo novas mínimas.

Os leitores podem se perguntar por que o Mosca não se envolveu nas bolsas, haja visto que, tem uma visão de alta. O motivo é exatamente o assunto de hoje e mais bem explicado na secção da análise técnica.

Jonathan Levin escreveu na Bloomberg artigo sobre essa armadilha enfatizando que altas de curto prazo são comuns no início de um mercado de baixa persistente.

Há muitas maneiras de perder dinheiro nos mercados de baixa, e uma delas, a de comprar recuperações fugazes está entre elas. O Índice Nasdaq subiu 10% na semana passada em relação à sua baixa de 14 de março, o ouro como trade de segurança registrou sua pior semana desde junho de 2021 e uma parte do dinheiro fluiu para fundos especulativos negociados em bolsa, incluindo o ETF ARK Innovation da Cathie Wood.‎

‎É fácil cair na ideia de que o pior já ficou para traz. Mas com a guerra na Ucrânia e a inflação subindo, o mar está longe de ser tranquilo. Então, na semana passada foi o início de outra armadilha? A história sugere que os investidores devem ficar cautelosos.‎

‎Recuperações de curto prazo são comuns no início de um mercado de queda. Nos primeiros dois anos da bolha ponto-com, eu contabilizava pelo menos oito altas significativas nesse mercado de queda, com três nos primeiros cinco meses.‎

Da mesma forma, a Grande Recessão teve pelo menos meia dúzia de altas significativas no mercado de queda, metade antes e metade depois que o Lehman Brothers pediu falência em setembro de 2008. Em ambos os momentos, os saltos foram insidiosos porque eram variados em tamanho e duração - de uma semana a vários meses de duração - tornando impossível saber na época a diferença entre um pulo de gato morto ou o início de um novo mercado de alta.‎

‎Então, é igual, tudo de novo, como o ano 2000, ou há alguma razão fundamental para acreditar que o mercado está pronto para retomar sua tendência de alta a longo prazo?‎

‎Vamos rever o que aconteceu. Primeiro, a sangrenta guerra na Ucrânia se encaminhava para a marca de um mês, com a Ucrânia rejeitando a exigência da Rússia de que desistisse do porto sul de Mariupol. As negociações diplomáticas mostraram o que o mercado tem interpretado periodicamente como progresso provisório, mas é difícil acreditar que o Kremlin está negociando de boa fé. Enquanto isso, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy continuou a ganhar promessas de ajuda militar dos governos ocidentais, a não exclusão de uma zona aérea sobre seu país, e a ‎‎Rússia pagou‎‎ investidores de títulos internacionais, aliviando os temores de um default por enquanto. ‎

‎Em última análise, os desenvolvimentos mistos renderam um preço de petróleo west de US $ 112 por barril na segunda-feira, à medida que as perguntas giravam sobre se a União Europeia iria finalmente proibir as importações russas de petróleo como parte de uma nova rodada de sanções. Apesar do aumento de segunda-feira, os riscos relacionados à energia começaram a se sentir moderadamente mais contidos do que no início deste mês, quando os preços pareciam apenas subir e ninguém sabia onde a onda furiosa terminaria. O mercado já passou quase duas semanas sem uma nova alta, e isso tirou um pouco da vantagem.‎

‎Em segundo lugar, o Federal Reserve apresentou seu primeiro aumento de taxa desde 2018, quando o presidente Jerome Powell tirou o desempenho de uma vida. Falando na quarta-feira, Powell conseguiu convencer o mercado não só de que estava preparado para combater o aumento dos preços ao consumidor, mas que a economia e o mercado de trabalho dos EUA eram suficientemente fortes para lidar com taxas de juros mais altas e a retirada de estímulos que acompanhariam a luta pela inflação. As ações têm performado mais ou menos positivas desde então, embora tenha recuado alguns pontos na segunda-feira, quando Powell fez um discurso afirmando sua disposição de elevar a taxa de fundos federais em mais de 25 pontos-base nas próximas reuniões "se concluirmos ser apropriado". (Nada de novo, mas a repetição deve ter finalmente convencido alguns investidores de que ele realmente quer dizer isso.)‎

‎Mas este tem sido uma alta motivada pelo sentimento. A conversa de Powell e a relativa estabilidade do petróleo, embora a preços elevados, fizeram com que todos se sentissem melhor, mas não somam muito. Vladimir Putin ainda pode chocar o mercado a qualquer momento, e os investidores ainda não entenderam completamente o que será necessário para controlar a pior inflação em 40 anos. Como o estrategista-chefe de ações do Morgan Stanley, Michael Wilson, disse em uma nota aos clientes, a semana passada foi "nada mais do que um violento rali do mercado de queda". Ele acrescentou: "Embora não esteja completamente terminado, é uma alta para vender ações."‎

‎O Nasdaq não está mais tecnicamente em um mercado de queda após sua recente recuperação. Na maioria das vezes, não há nada de errado em comprar um portfólio diversificado de ações quando elas vão à venda, especialmente se você estiver investindo a longo prazo para enviar seu bebê recém-nascido para a faculdade em 18 anos. Mas algo me diz que os compradores da semana passada têm uma estratégia mais agressiva em mente, e a história nos diz que eles devem ter cuidado.‎

Levin está totalmente certo nos argumentos que colocou, tanto a guerra da Rússia quanto a inflação são riscos para a bolsa de valores. O que faltou dizer foi o outro lado da equação. O sentimento já vinha negativo desde antes da guerra e se intensificou logo após, levando as bolsas a atingirem a mínima. Nesse período as apostas de queda (da bolsa) se intensificou, através dos investidores qualificados, bem como os hedge funds se desfizerem das ações.

Sem dúvida, as primeiras posições a serem zeradas foram dos investidores que estavam apostando contra, depois pode ter entrado novos participantes. Os motivos para tanto foram dois: sobre a guerra acreditam que o estrago é mais localizado na Europa e que Putin vai ter que em breve chegar a um acordo; segundo que o mercado resolveu dar um voto de confiança ao Fed e acreditar que consegue domar a inflação nos próximos 12 a 24 meses, levando-a para um nível mais palatável, sendo assim, os juros estariam subindo pelo bom motivo, uma economia com crescimento e pleno emprego.

São essas duas forças que predominam no momento, uma que acredita em novas quedas e outras que o momento é de aproveitar para entrar. Quem está certo?

Antes de entrar na análise técnica queria complementar com um gráfico. O assunto de ontem conundrum-ao-quadrado, que versa sobre a diferença de juros viralizou nos meios de comunicação - leram o Mosca ontem? Hahaha ... O Presidente do Fed Jay Powell comentou que, para efeito de indicar se a economia estaria prestes a entrar em recessão como aponta diversas métricas entre os bonds, prefere olhar de outra forma: o spread 18 meses à frente dos juros de 3 meses, contra o 3 meses atuais. Como podem ver a seguir, sob essa métrica, é o mais íngreme desde 2016. O gráfico elaborado pelo Deutsche Bank compara essa medida contra o tradicional 10-2, sendo esse último a preferência desse banco pelo seu extenso histórico.


No post o-termometro-do-mercado, fiz os seguintes comentários sobre o SP500:

 ” Opção 1: Nesse caso... ... após atingir a mínima de 4.114, pode ser o início da alta que estamos tanto esperando. Para que essa opção se concretize é importante que a área entre 4.992/4.590 seja ultrapassada.

Opção 2: Caso a bolsa reverta... ... caia abaixo de 4.114, o novo nível de reversão calculado passa a ser de 4.019” ... ...” Cada vez mais o mercado se aproxima da opção 2, que conforme está traçado no gráfico a seguir levaria o SP500 ao nível de 4.080/4.060” ...


 Estou pagando pela boca! Me explico, eu tenho usado com frequência uma frase apimentada para olhar os economistas a de que eles trocam de opinião como eu troco de camisa. Parece que o mesmo pode se aplicar ao Mosca nesses últimos meses pois não passa uma semana em que não tenho que reformular minhas hipótese de curto prazo sobre o SP500. Não querendo ser muito exigente comigo mesmo, a diferença no meu caso é que são as premissas de curto prazo, pois a de longo estão mantidas faz tempo.

Como prometido vou postar os dois cenários compatível com a discussão apresentada no início do post:

Cenário: Alta em Curso – Vocês são testemunhas que enquanto o limite de qualquer mercado não é ultrapassado não mudo minha análise, o que sim muda, é que fica menos provável. Agindo assim evita que se entre com trades no sentido inverso de forma prematura. Essa situação ocorreu no SP500, o cenário 1 acima ganha mais credibilidade agora embora tenha que ultrapassar os limites considerados acima de 4.492/4.590.

Não vou me estender nas projeções mais longas nessa situação pois muitos obstáculos terão que ser vencidos. Como o gráfico a seguir mostra, o término da onda 1 em verde seria ao redor de 4.809. Se isso ocorrer, fica quase eliminado qualquer cenário de baixa.


Cenário: “Armadilha” – Esse seria o cenário observado por Levin no início do post, a de que essa alta que está ocorrendo iria falhar levando o SP500 a níveis abaixo de 4.114 atingido em 24 de fevereiro. Como o gráfico abaixo aponta, estamos entrando na “região de perigo” citada no post anterior. Se a bolsa reverter dentro dessa região (ainda só para complementar poderia ir até 4.668 no extremo) e começar a cair de forma mais consistente, essa opção ganha mais força. Nesse caso, se esperaria uma queda até 3.940.


Colocada essas duas hipóteses, sentimos mais confortáveis, pois ao invés de se engajar em uma dessas hipóteses, que diga se de passagem, ninguém sabe o que vai acontecer, você só precisa observar o mercado e esperar ele escolher qual caminho vai traçar, ou que força está em curso. Observado de agora, o primeiro tem uma chance superior de 65% enquanto o segundo de 35%. Mas não se esqueça que essas probabilidades podem se alterar com constância.

O SP500 fechou a 4.511, com alta de 1,13%; o USDBRL a R$ 4,9065, com queda de 0,57%; o EURUSD a 1,1030, com alta de 0,14%; e o ouro a U$ 1.921, com queda de 0,76%.

Fique ligado!

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