Nem a IA consegue #IBOVESPA
Se existe uma certeza no mercado financeiro, é que um fundo
– qualquer que seja – perde para o seu benchmark no longo prazo. Pode demorar
mais ou menos tempo, mas perde. Como posso fazer uma afirmação que parece até
leviana? A estatística é a prova dessa afirmação.
A razão para isso se dá por dois motivos: taxas cobradas e
eventuais erros cometidos no caminho.
Sobre o primeiro motivo, e até mais importante, veja a tabela a seguir de quanto a mais esse fundo precisa performar para empatar com o índice, considerando que o fundo não cobre performance fee, o que tornaria isso ainda mais impossível. Por mais competente que seja o gestor e mesmo que cobre barato para a gestão do fundo, é muito difícil (impossível) ganhar de seu benchmark.
Não é por acaso que os fundos de ETF estão cada dia mais dominando a preferência do investidor americano, representando hoje 56% do total dos fundos de ações. Sempre me questiono qual a razão de esses fundos indexados ainda não predominarem por aqui. Talvez a principal motivo seja que o investidor prefere a renda fixa, o que é bastante lógico – ou leem o Mosca! Hahaha...
Mas será que um fundo gerido pela IA poderia quebrar esse dogma? Nir Kaissar comenta na Bloomberg que a chance é que também não consigam.
Conheça os novos selecionadores de ações. Eles vão te
lembrar dos antigos.
Um tema a ser observado este ano são os produtos de
investimento impulsionados por inteligência artificial (IA). Há muita agitação
em Wall Street sobre a IA assumir o lugar dos gestores de fundos humanos,
presumivelmente porque a IA seria melhor em escolher ações.
Ela não pode fazer pior. Duas vezes por ano, o Spiva
Scorecard da S&P Global Inc. mostra que a maioria dos gestores ativos
invariavelmente perde para um índice amplo do mercado de ações em quase todos
os períodos. O relatório da S&P não abrange fundos hedge, mas esses também
não têm se saído melhor.
IA: uma esperança ou uma ilusão?
A IA surge com a promessa de fazer o que gestores mortais
não conseguem. Para começar, no agregado, os selecionadores de ações acabam com
o retorno do mercado menos as taxas, como o falecido fundador do Vanguard Group
Inc., John Bogle, frequentemente lembrava aos investidores. Isso se aplica
tanto a humanos quanto a bots. Portanto, como grupo, os bots
estão destinados a perder.
Certamente, alguns irão superar o mercado, mas muitos não
terão ganhos suficientes para superar suas taxas. A experiência dos gestores
humanos de ações é instrutiva. Analisei mais de 7.000 fundos mútuos de ações
geridos ativamente, cujos retornos ajustados ao risco foram calculados pela
Morningstar em relação ao mercado nos últimos 10 anos. Cerca de 45% deles
venceram antes das taxas, mas apenas 27% venceram após contabilizar os custos.
Outro desafio para a IA é a competição de outros bots.
A verdade é que os selecionadores humanos de ações já são obsoletos. Existem
inúmeros fundos negociados em bolsa (ETFs) de baixo custo que replicam
estratégias tradicionais de seleção de ações, como valor, qualidade e momento,
muitas vezes seguindo uma abordagem quantitativa baseada em regras e
principalmente operada por computadores. Como os gestores humanos, eles nem
sempre superam o mercado, mas os de baixo custo têm uma chance muito melhor.
A relevância da IA no mercado
Para ser relevante, a IA precisará ir além da seleção
tradicional de ações — terá que inventar novas formas de superar o mercado.
Talvez consiga, mas isso não necessariamente ajudará os investidores. Para
lucrar com a IA, os investidores precisarão jogar o mesmo jogo de baixas
probabilidades que sempre jogaram com os gestores de fundos: ou seja, escolher
os vencedores com antecedência.
Isso é mais fácil de dizer do que fazer. É quase impossível
prever qual selecionador de ações superará o mercado. Novos gestores não têm um
histórico para se basear, e a maioria dos que têm um histórico vencedor não
continua ganhando. Mesmo que a IA se prove uma vencedora mais persistente, os
investidores rapidamente se amontoarão nos melhores fundos, restringindo sua
capacidade e forçando-os a recusar novos investidores. A única alternativa é
adivinhar qual IA será o melhor selecionador de ações – e, para a maioria dos
investidores, isso será apenas um palpite, dado o caráter opaco da IA. Isso não
é uma forma de investir.
IA: uma bênção para Wall Street
A IA pode não ser melhor para os investidores, mas é uma
dádiva para Wall Street. Os lucros dos grandes bancos e empresas de fundos
foram pressionados por comissões zero, fundos indexados de baixo custo e
consultores-robô. Em resposta, muitos depositaram as esperanças dos
investidores em retornos extraordinários em “alternativas” de alto custo,
principalmente fundos hedge, private equity e capital de risco. Mas essas
alternativas agora estão sobrecarregadas por trilhões de dólares perseguindo
poucas oportunidades de investimento, e o desempenho está sofrendo como
resultado. A IA oferece novas promessas e novas receitas.
Um mercado que morde a isca
Muitos investidores morderão a isca com entusiasmo. Se você
tem alguma dúvida, observe a evolução da indústria de ETFs. Ela começou há três
décadas com um fundo que acompanha o índice S&P 500. Agora, é um cassino em
expansão com milhares de fundos que provavelmente são apostas alavancadas ou de
curto prazo em algum canto obscuro do mercado, em vez de rastreadores de
mercado de baixo custo. O ETF original do S&P 500 tem uma taxa de despesas
de 0,09%. A média dos ETFs cobra mais de seis vezes isso, e poucos deles
superarão o poderoso S&P 500 ao longo do tempo.
Não é apenas a indústria de ETFs. Quando se trata de
dinheiro, a tecnologia tem permitido mais vícios do que virtudes. Jovens
investidores estão apostando em criptomoedas, política e ações de memes, e as
plataformas de negociação estão lucrando muito com eles. É muito menos
lucrativo incentivar as pessoas a poupar regularmente e investir em fundos
indexados de baixo custo. Qual caminho você acha que a IA seguirá?
Um possível benefício para investidores de índice
A IA pode ter um benefício para investidores de índices:
talvez eles não precisem mais ouvir os selecionadores de ações reclamarem que
os fundos indexados estão tornando os mercados menos eficientes e causando o
preço incorreto das ações. Em breve, a IA fornecerá uma ampla oferta de bots
que podem examinar demonstrações financeiras e determinar preços para ações,
provavelmente mais rapidamente e com mais precisão do que os analistas. Isso
deve permitir que investidores sensatos mantenham seus fundos indexados em paz.
Conclusão
Nada disso é uma crítica à IA em geral. Não tenho dúvidas de
que ela será imensamente impactante em muitos campos. Estou igualmente
confiante de que os gestores de fundos que utilizarem IA ganharão dinheiro,
independentemente de superarem o mercado ou não. Mas suspeito que a maioria dos
investidores que pagam altos custos por essa tentativa não será tão afortunada.
Análise Técnica
No post o-escravo-digital, fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA:
“A bolsa brasileira ameaçou uma melhora nesse início de ano, mas nada que empolgue,
pois foi através de 3 ondas e não de 5 ondas. Segundo outro parâmetro — a
extensão de queda da onda (2) vermelha —, o objetivo de 118,6 mil foi atingido.
Um novo teste dessa mínima leva o próximo objetivo para 114,1 mil e, se mesmo
assim não reagir, serei obrigado a usar uma outra contagem cujo objetivo é ao
redor de 100 mil.”
Nada ocorreu de significativo na última semana, tudo aparentando um processo de correção. Anotei no gráfico a seguir o nível de 122 mil como uma possível reversão. Agora, mesmo que atinja esse nível, não vejo compra; é necessário verificar de que forma chegou lá.
O S&P500 fechou a 5.949, com alta de 1,83%; o USDBRL a R$ 6,0120, com queda de 0,74%; o EURUSD a € 1,0295, com queda de 0,12%; e o ouro a U$ 2.696, com alta de 0,73%.
Fique ligado!
Tenho sido fã de aplicações em ETF surfando nessa onda de sua popularidade, pelas razões apontadas por você. E tenho usado muito aqueles com fees baixas e comprando em sites sem taxas como os de auto-gestão da Merrill Lynch na tentativa de acompanhar o benchmark. Porém, como pago IR nos Estados Unidos comecei a perceber que estou bem carregado em unrealized capital gains pois fundos consolidados de ETFs como o SPY ou QQQ não permitem o harvesting (vender ações com perdas e comprar similares para gerar realized capital loss). Para contornar esse “problema “ comecei a comprar fundos que montam uma carteira que tem aprox 30% dó S&P, que acompanham o índice mas qie por manterem ações individuais no meu nome, permitem o harvesting através da constante venda e compra de ações sendo mais efetivas do ponto de vista de tax, custando ainda um fee por sua administração ainda razoável. Ainda preciso de um tempo maior para comparar a performance vs o benchmark, porém estou bastante esparançoso além de ajudar a reduzir o montante de unrealized capital gains dando-me mais flexibilidade para troca de posições sem ficar antecipando IR. O que você acha disso? Abraço, Roberto
ResponderExcluirRoberto eu vejo alguns analistas comentando sobre a forma de administrar ações nos USA em função do IR pago nesse país. Não sei te dizer pois não conheço a legislação americana.
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