O final da história - parte II #Bitcoin #IBOVESPA
“Nasce um otário a cada minuto”
P.T. Barnum, entre outros
“É déjà vu tudo de novo.”
Yogi Berra
Como explicamos na primeira parte, publicada ontem, a especulação tornou-se tão generalizada e administrável que só sobraram as bolhas para dar uma má reputação a essa atividade. A seguir, relatamos uma parte da fascinante história desses eventos econômicos.
Bolha das Tulipas
(1630s)
Conhecida como uma das primeiras bolhas especulativas, a
bolha das tulipas ocorreu na Holanda. Durante esse período, os preços dos
bulbos de tulipa atingiram valores exorbitantes. A demanda crescente e a
especulação desenfreada levaram a uma escalada dos preços, alimentando o
otimismo. Em 1637, a bolha estourou, quando os compradores começaram a recuar e
não conseguiram mais sustentar os preços inflacionados. O colapso causou uma
queda abrupta no valor das tulipas, levando muitos investidores à falência e demonstrando
como a especulação pode superar o valor intrínseco de um ativo.
Mares do Sul (1720)
A South Sea Company,
na Grã-Bretanha, prometeu lucros elevados do comércio no hemisfério sul,
especialmente com o comércio de escravos. A ação da companhia valorizou-se
rapidamente devido a especulações e promessas de lucros exorbitantes. A euforia
gerou um ambiente de alta especulação, atraindo muitos investidores. No
entanto, práticas financeiras e promessas não cumpridas levaram a
desconfianças, culminando no colapso da ação em setembro de 1720. O estouro da
bolha resultou em grandes perdas financeiras e um impacto duradouro na
confiança do público em investimentos de alto risco.
Ações nos Anos 20 nos
EUA
Os anos 20 viram uma boom econômico e um aumento explosivo
no mercado de ações nos EUA. A especulação desenfreada e o uso excessivo de
margens de crédito elevaram os preços das ações a níveis insustentáveis. O
pessimismo começou a se instalar quando indicadores econômicos mostraram sinais
de fraqueza. Em outubro de 1929, o mercado de ações desabou em uma queda que
desencadeou a Grande Depressão. A quebra expôs as falhas sistêmicas do mercado,
levando a uma reavaliação das regulamentações e práticas bancárias.
Ativos Japoneses
(1980-1991)
Durante os anos 80, o Japão experimentou uma bolha
econômica, caracterizada por um aumento vertiginoso nos preços imobiliários e
nas ações. A liberalização financeira e as taxas de juros baixas tornaram o
crédito amplamente acessível, alimentando uma especulação desenfreada. Os
preços dos ativos subiram sem relação com os fundamentos econômicos. O estouro
da bolha em 1991 ocorreu quando o Banco do Japão aumentou as taxas de juros
para controlar a inflação, resultando em uma queda acentuada nos preços dos ativos.
As consequências foram devastadoras, levando a uma década de estagnação
econômica.
Empresas Pontocom
(Final dos anos 1990)
A bolha das empresas pontocom foi impulsionada pela rápida
ascensão da internet e pela especulação em empresas tecnológicas. Muitos
investidores buscavam capitalizar o crescimento das empresas de tecnologia,
levando a avaliações inflacionadas sem os ativos correspondentes. A euforia era
alimentada pela crença de que qualquer empresa relacionada à internet se
tornaria extremamente lucrativa. No entanto, em 2000, a bolha estourou quando
investidores começaram a perceber que muitas dessas startups não tinham modelos
de negócios sustentáveis. O colapso resultou em perdas financeiras
significativas e um realinhamento no setor tecnológico.
A origem das bolhas é conhecida: o descompasso crescente
entre demanda e oferta, acrescido do efeito manada, realimentado pela ganância
e medo de perder o bonde, e consolidado pela propaganda de uma narrativa
autorrealizadora. A bolha, aliás, independe da existência de algum ativo
intrinsecamente valioso (caso das tulipas) mas em todos os casos se vale de um
combustível financeiro potente, a alavancagem via crédito bancário ou via
expansão de moeda (que não deixa de ser um crescimento da dívida dos governos).
O crescimento dos preços faz o resto, gerando narrativas periódicas para
“explicar” um suposto valor intrínseco do investimento, num típico caso de rabo
abanando o cachorro.
Mas o mais importante é entender o que motivou a reviravolta
da demanda nessas bolhas para tentar prever o inexorável estouro da bolha das
criptomoedas. Em alguns casos, houve um questionamento da narrativa motivado
por aspectos da realidade que se tornaram visíveis e derrubaram as
expectativas. Em outros, houve uma interrupção no fluxo de combustível
financeiro que não somente impediu o crescimento da demanda mas forçou um
aumento de oferta. Em todos eles, a tomada de consciência em relação a um
mercado artificial e saturado ocorreu muito tempo depois de observadores e
analistas apontarem a existência da bolha.
E, assim como os troianos ignoraram os avisos de Cassandra
em relação ao cavalo de madeira presenteado pelos gregos, os criptoiluminados
são imunes a qualquer tentativa de questionamento quanto à qualidade e perpétua
valorização do Bitcoin.
É impossível prever quando uma bolha irá estourar. A
experiência ensina que investidores racionais não superam uma manada
gananciosa, e bolhas duram anos. Mas podemos identificar alguns possíveis
motivos para uma reversão no descompasso entre a demanda e a oferta:
- Descrédito – Assim como
Donald Trump e sua mulher criaram suas criptomoedas do nada e expuseram o
artificialismo na criação de valores fictícios, as criptomoedas podem
sofrer outros abalos em sua credibilidade como no passado, com as quebras
da Mt Gox e da FTX. Narrativas são úteis mas precisam de um mínimo de
respeito. Não é por nada que os criptomoedeiros ficaram irritados com o
lançamento dos Trumps.
- Sucesso excessivo – Assim
como uma pirâmide financeira começa a ruir quando todos os possíveis
compradores foram atingidos, haverá um momento em que o acréscimo marginal
da demanda por criptomoedas será insuficiente para sustentar seu preço. A
aceleração da demanda através de alavancagem e outros instrumentos para
aumentar a procura torna esse momento da verdade cada vez mais próximo.
- Evolução tecnológica –
Esta, convenhamos, é impiedosa e fatalmente forçará uma destruição
criativa. Por outro lado, depende de produtos ainda longínquos, como o
computador quântico ou uma descoberta genial da IA. Mas é questão de tempo
até quebrarem a barreira criptográfica atual.
- Economia – Qualquer alteração na liquidez
do sistema que force uma desalavancagem terá um efeito multiplicador
devastador. Não é só a euforia, o pânico também se auto-alimenta.
- Ação de governos – Se o
Bitcoin é símbolo de uma visão libertária, independente e anárquica, ele é
inimigo natural de qualquer governo que tenha o controle como prioridade.
O mesmo raciocínio vale para o custo energético excessivo que já está
preocupando vários países. Ou seja, a não ser que um estado dispense a
necessidade de administrar sua economia (ou resolva especular, como El
Salvador), qualquer tentativa de dominância de um instrumento
incontrolável como o Bitcoin será ferozmente combatida, seja com proibição
pura e simples, seja com mecanismos que na prática eliminarão os próprios
atrativos das criptomoedas. É mais um ponto onde o sucesso acaba gerando o
evento que o fará fracassar.
Quando o preço de um ativo é baseado na Teoria do Tolo
Maior, a máxima atribuída a P.T. Barnum
pode explicar a aparentemente infindável demanda pelo Bitcoin, assim como são intermináveis as narrativas
sucessivas para dizer “desta vez é diferente”, mas a observação de Yogi Berra
quanto à repetição dos eventos vale também. Não é questão de “se” mas de”
quando”. O final da história é sempre o mesmo.
Não é incomum encontrar na mídia projeções para o bitcoin na
casa de milhões de dólares baseadas unicamente em “desejo” ou torcida para
atingir essa marca. Por outro lado, surgem novas emissões de criptomoedas, como
a mais recente do atual presidente dos EUA e, mais surpreendente, de sua esposa
Melania. Por sinal, durante a última década, não ouvi nenhuma palavra pública
de sua boca — uma raridade. Só posso imaginar que essa empreitada foi planejada
por seu marido, talvez para cativar uma nova fatia de mercado: o público
feminino. Afinal, sem novos compradores, esse mercado não anda.
As elites das moedas virtuais, que viam Donald Trump como um
salvador das criptos, agora estão indignadas com sua recente venda de memes
coins no valor de bilhões de dólares. O investidor Ari Paul chamou isso de
"extorsão de bilhões"; o ex-associado de Trump, Anthony Scaramucci,
classificou como corrupção "ao nível de ditadores"; e o ex-executivo
da Coinbase, Balaji Srinivasan, disse que é uma "loteria" sem criação
de riqueza. Na verdade, todos esses adeptos estão preocupados com a
concorrência. Afinal, se não existirem novos compradores, os atuais terão que
vender parte de seu estoque para comprar essa nova meme.
Pode ser que eu esteja sendo teimoso e não queira entender
os argumentos dessa nova... nova o quê? Tecnologia, moeda, ativo? Não consigo
classificar. Para mim, não se encaixa em nenhuma dessas categorias. Não deixo
de pensar que é apenas um byte sem valor intrínseco.
Análise Técnica
Mas, mesmo com toda essa minha desconfiança, ainda faço
avaliações técnicas de tempos em tempos. Então, vamos lá: no post bitcoin-reserva-de-valor-especulação fiz os seguintes comentários sobre o bitcoin: “Fiz algumas
alterações na contagem anterior. Nessa nova configuração, o bitcoin ainda teria
espaço para subir até U$ 99,2 mil (~10%) / U$ 104,8 mil (~13%), terminando a onda
III azul. Em seguida, uma queda prolongada que duraria entre 1 e 2 anos,
levando o bitcoin de volta ao nível de U$ 45 mil na onda IV azul.”
Em relação à última postagem feita em novembro, a onda (5) vermelha acabou se alongando um pouco mais, o que projeta um objetivo de 117,7 mil, conforme gráfico abaixo. O que não muda é que o bitcoin se encontra em estágio avançado, e a contagem de mais longo prazo visiona uma queda mínima a U$ 50,8 mil. Como destaquei com um retângulo, e segundo minha contagem, a cripto está prestes a terminar um monte de ondas 5. Todo cuidado é pouco!
No post nem-ia-consegue fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “Nada ocorreu de significativo na última semana, tudo aparentando um processo de correção. Anotei no gráfico a seguir o nível de 122 mil como uma possível reversão. Agora, mesmo que atinja esse nível, não vejo compra; é necessário verificar de que forma chegou lá.”
Vou começar com uma visão de longo prazo: desde junho de 2021, a bolsa brasileira só mostrou movimentos “feios”, ou seja, nada animador. No gráfico a seguir com janela mensal, destaquei no retângulo esse período. Os leitores do Mosca são testemunhas dessa minha desmotivação. Mas eu sei que em algum momento surge um movimento direcional “bonito”. Será que chegou o momento?
O que quero dizer é: será que a onda (2) laranja terminou? Depois de atingir a mínima de 118,4 mil no primeiro dia de janeiro de 2025, iniciou uma recuperação que até estava indo bem, mas deu uma murchada nos últimos dias (destacado com retângulo esse período).
Vamos desistir? Vamos apostar? Não para ambos. A principal
razão — e como venho repetindo ad nauseam — é que, sem mostrar 5 ondas
de alta, fico observando. Por que essa pseudo teimosia se todo mundo está
dizendo que está barata? Meu X está repleto de chamadas nesse sentido.
Primeiro, porque não vou contra minha ferramenta básica de análise. Segundo, porque
ainda pode cair até 114,1 mil, destacado com o símbolo verde.
Sobre os calls do meu X, podem ocorrer duas situações: a postagem pega o bum bum da mosca (não a minha! Hahaha...) ou cai no esquecimento. Minha forma de atuar nesse caso implica que vou comprar mais caro se ocorrer a reversão nesse ponto. Mas e daí, o que muda? Muito pouco. A única diferença entre essas duas posturas é que vou comprar com mais confiança e com um stop loss muito menor do que eu teria que assumir na “torcida!
O S&P500 fechou a 6.086, com alta de 0,61%; o USDBRL a
R$ 5,9410, com queda de 1,34%; o EURUSD a € 1,0410, com queda de 0,18%; e o
ouro a U$ 2.755, com alta de 0,41%.
Fique ligado!
David, tenho aprendido muito com sua paciência! Abraços!
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