Estagflação (zinha) #EURUSD #OURO #GOLD
O Fed foi bem honesto ao deixar claro que não sabe o que vai acontecer, pois teria sido muito pior se assumisse alguma posição. Porém, refez suas projeções, onde se destaca a diminuição do crescimento e o aumento na inflação, seguramente por conta das tarifas por todo lado – verdade que ainda tímidas essas variações, razão do título de hoje. Em todo caso, deixou um recado ao mercado que no meu ver, não foi corretamente interpretado, ou melhor, assumiu a posição da desaceleração e, como consequência, o Fed teria que cortar os juros. Nos *dots* publicados, a autoridade espera um corte de 50 pontos este ano, enquanto o mercado aposta em 66 pontos, conforme o gráfico a seguir.
Outro reforço dado durante a seção de perguntas e respostas
foi de que o aumento de tarifas é temporário, ou seja, um aumento da inflação
instantâneo que tende a se normalizar depois de adotado – no meu ver, não é tão
simples assim. Ed Yardeni comenta em seu relatório que é bem provável que isso
ocorra, tendo em vista que, sendo a economia americana de serviços, o custo
unitário do trabalho – “unit labor cost” – pode ficar contido em 2%, se o
aumento de produtividade se mantiver forte.
A seguir, um resumo dos principais pontos do comitê de
ontem, na visão de John Authers, comentado na Bloomberg.
Jerome Powell, o maestro da política monetária americana,
subiu ao palco e confessou algo que já suspeitávamos: o Federal Reserve está
tão perdido quanto nós diante do furacão de tarifas prometido por Trump. Em vez
de entrar em pânico, os mercados aplaudiram a humildade estratégica do chefão
do FOMC, que manteve a taxa de juros intacta e jogou um balde de água fria nas
expectativas de aperto. Mas não se engane: essa aparente serenidade esconde um
tabuleiro de xadrez econômico onde ninguém sabe qual será o próximo lance.
O comunicado do Fed trouxe uma frase que diz tudo: "A
incerteza em torno das perspectivas econômicas aumentou". Tradução? Trump
e suas ameaças tarifárias transformaram o jogo em uma roleta russa. Powell,
esperto, admitiu que não tem bola de cristal para prever o impacto
inflacionário dessas medidas. E, pasmem, o mercado adorou! As ações dispararam
e os rendimentos dos títulos caíram, como se o Fed tivesse prometido um corte
de juros iminente. Mas será que foi isso mesmo? Ou estamos diante de uma ilusão
coletiva?
A jogada mais audaciosa veio na sutil mexida no quantitative tightening (QT). Reduzir o ritmo de venda de títulos é um aceno
a uma política mais frouxa, mas Powell vendeu isso como mera "manobra
técnica" para evitar sugar liquidez demais. O mercado, sedento por sinais dovish, engoliu a narrativa e já precifica dois ou três cortes de juros em
2025.
Porém, nem tudo é festa. O dot plot do FOMC, atualizado em março, revela um Fed menos confiante em cortes. Comparado a dezembro, as projeções para o fim do ano estão mais dispersas, com inflação subindo e crescimento patinando – um cheiro de estagflação no ar. Powell, com sua lábia, descartou a alta nas expectativas de inflação dos consumidores como ”fora da curva”. Seria isso negação deliberada ou apenas um blefe para acalmar os ânimos?
A cereja do bolo foi Powell ressuscitar o termo
"transitório" para descrever o impacto das tarifas de Trump 1.0 sobre
máquinas de lavar em 2018. Ele tem razão: os preços subiram e depois caíram.
Mas escalar essa lógica para um cenário de tarifas generalizadas é uma aposta
arriscada. Se a história se repetir, o Fed pode se dar ao luxo de ficar parado.
Caso contrário, prepare-se para um choque inflacionário que vai testar os
nervos de Wall Street.
No fim, Powell pilota o Fed como um aviador em turbulência:
sem visibilidade, mas com os controles firmes. A incerteza é a nova
normalidade, e o mercado, por ora, compra essa narrativa. Resta saber se essa
confiança é genialidade ou apenas um castelo de cartas prestes a desabar. Fique
de olho: o próximo capítulo dessa saga promete ser eletrizante.
Um tema levantado por Yardeni acima, produtividade, é uma
informação difícil de ser medida nos dias de hoje. No passado, era
relativamente fácil, contando o número de peças produzidas por unidade de
tempo; como fazer isso na era da IA? Veja a seguir um resumo na visão de Diane
Coyle.
"Time is money", dizem os clichês corporativos,
mas quando o assunto é medir o impacto da inteligência artificial na
produtividade, o relógio parece girar em falso. Diane Coyle, em artigo para a Bloomberg Businessweek, joga luz sobre um paradoxo incômodo:
enquanto a IA promete revolucionar processos e elevar o padrão de vida, os
números teimam em não mostrar ganhos claros. Economistas adoram falar em
"produtividade total dos fatores", mas como quantificar algo que escapa
às réguas tradicionais? O desafio é monumental, e os dados, por enquanto, são
um deserto de incertezas.
O problema começa na própria natureza do que medimos. Se no
passado contávamos máquinas de lavar ou peças de carro, hoje lidamos com
consultorias gerenciais e serviços digitais – outputs intangíveis que
desafiam qualquer estatístico. Quanto vale uma busca grátis no Google,
sustentada por anúncios bilionários? E como pesar a contribuição de provedores
de internet ou data centers nesse bolo? A qualidade importa, mas ninguém sabe
como traduzi-la em números. O resultado é uma dança de sombras: a produtividade
da IA existe, mas não se deixa capturar pelas velhas fórmulas.
Historicamente, tecnologias disruptivas demoram a revelar
seus frutos – a eletrificação levou 50 anos para explodir nos dados, graças à
necessidade de reinventar fábricas. A IA segue essa "curva J" de
produtividade, caindo antes de subir, mas o tempo é só parte do drama.
Pesquisas mostram que 20% a 40% dos trabalhadores americanos já testam a IA, e
na Europa a adoção empresarial chega a 13,5%. Só que esses números são apenas
promessas – sem dados sobre o tempo economizado (ou perdido), ficamos no
escuro. Self-checkouts, por exemplo, cortam custos de lojas, mas jogam o
trabalho nas costas dos clientes. Ganho real ou ilusão contábil?
Coyle propõe uma saída radical: medir o tempo, essa moeda
esquecida da economia. A IA pode automatizar tarefas como resumir
jurisprudência ou escrever código, mas também cobra um "imposto
temporal" com chatbots inúteis e menus online labirínticos. Só que os
dados sobre como usamos nossas 24 horas são escassos – pesquisas de uso de
tempo online são raras e insuficientes.
O recado é claro: sem reinventar como rastreamos o tempo –
talvez com rastreamento de celulares ou computadores –, a produtividade da IA
seguirá um mistério. Economistas e empresas precisam parar de contar moedas e
começar a cronometrar horas. Caso contrário, continuaremos reféns de uma
revolução que promete muito, mas prova pouco.
Eu normalmente comentaria hoje o euro, pois a última
atualização aconteceu há duas semanas. No post “mawoga-que-raios-e-isso”,
comentei uma possível mudança de rumo que era de queda para alta. No curto
prazo, parece que a moeda única está completando uma correção a – b – c
amarela, que pode ser visto abaixo. Se for isso, ela não tem muita margem
de manobra acima de € 1,09928.
Em relação ao ouro, onde temos posição, meus comentários no
post “cpi-classificado-para-as-finais” foram: “agora é o teste de força: ou
ultrapassa e vai rumo aos objetivos demarcados no retângulo abaixo ou recua
para completar a onda 4 azul conforme o símbolo em azul; também não gostaria
que um ‘false break’ ocorra”.
O ouro passou por todos os testes acima e se encontra se
“deliciando” na conquista da marca de US$ 3.000. Eu fiz uma análise em janela
de 4 horas – para FX, essa é a mais adequada – e poderia apertar um pouco mais
o stop loss, mas decidi manter o atual. Todo cuidado é pouco daqui em
diante, pois notem a quantidade de 5 que está destacado no retângulo. Tradução:
final, final de festa!
O S&P500 fechou a 5.662, com queda de 0,22%; o USDBRL a 5,6797, com alta de 0,57%; o EURUSD a € 1,0855, com queda de 0,41%; e o ouro a US$ 3.044, sem variação.
Fique ligado!
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