Prejuízo Certo #nasdaq100 #NVDA
Eu costumo dividir os empresários em dois tipos principais:
os Guerrilheiros, que brilham em ambientes caóticos como startups e
pequenas empresas, e os Comandantes, que orquestram batalhões em
corporações médias e grandes. Mas há um terceiro grupo que deixei de lado: os Politicáveis,
mestres em navegar o terreno pantanoso das empresas públicas – geralmente
estatais, onde a eficiência é trocada por interesses classistas e clientelismo
político. Tentar encaixar um perfil no habitat do outro é garantia de fracasso.
E o erro fatal? Colocar um empresário no governo. O resultado é duplo: o
negócio privado desmorona, e a máquina pública permanece intocada. Para mim, só
há uma saída para estatais: privatizá-las.
O caso de Elon Musk no governo Trump é um estudo de caso
perfeito – e trágico – dessa tese. Nomeado para liderar o Departamento de
Eficiência Governamental (DOGE), Musk chegou com a promessa de cortes radicais,
inspirado por sua fama de Comandante na Tesla e Guerrilheiro na SpaceX. Seu
plano? Eliminar funções em massa nos órgãos federais, reduzindo o tamanho do
governo a golpes de machado. Mas, como era de se esperar, a realidade bateu à
porta. O *Wall Street Journal* (1º de janeiro de 2025) relatou que dois juízes
federais, William Alsup e James Bredar, bloquearam as demissões de milhares de
funcionários probatórios em agências como Agricultura, Energia e Educação.
Alsup chamou o processo de "farsa" e "ilegal", apontando
que o governo justificou os cortes como "desempenho ruim", mesmo
diante de avaliações estelares de muitos demitidos. Bredar, por sua vez,
destacou a violação de regras federais para reduções em massa. Resultado?
Reinstatement imediato e um DOGE humilhado.
Musk, um dos maiores empreendedores da nossa era, apostou
que sua lógica de corte implacável funcionaria no governo como na iniciativa
privada. Errou feio. Justin Fox, em *Bloomberg Opinion* (14 de março de 2025),
mostra que os gastos federais desde a posse de Trump em 21 de janeiro de 2025
superam os de 2023 e 2024 no mesmo período.
Apesar das manchetes sobre layoffs e contratos cancelados, o DOGE não entregou as economias prometidas – cortes que Musk comparou aos de Margaret Thatcher nos anos 1980. Por quê? Fox explica: a folha de pagamento civil é só 4% do gasto federal; contratos não militares, 5%. O gasto discricionário não militar, alvo principal do DOGE, é apenas 14,9% do total (2023). O verdadeiro elefante na sala – gastos obrigatórios como Previdência Social e Medicare, mais de 60% do orçamento – é um tabu político que nem Trump, nem Musk, ousam tocar.
O prejuízo, porém, vai além do fracasso governamental. A
aventura de Musk no DOGE está destruindo suas empresas privadas, especialmente
a Tesla. Dave Lee (*Bloomberg*, 12 de março de 2025) aponta que sua aliança com
Trump transformou os Teslas em "MAGA hats sobre rodas", afastando o
público urbano e progressista que sustentava a marca. Protestos como o
"#TeslaTakedown" explodiram, com swastikas pintadas em Cybertrucks e
vendas despencando 76% na Alemanha em fevereiro – isso enquanto o mercado de
EVs cresceu 31%. Em Austin, onde 69% votaram em Kamala Harris, o robotaxi de
Musk estreia em junho sob ameaça de boicote. Liam Denning (14 de março de 2025)
complementa: as ações da Tesla caíram 40% em 2025, reduzindo a fortuna de Musk
de US$ 500 bilhões (dezembro) para US$ 314 bilhões. A Tesla, que Musk usa como
garantia para empréstimos e liquidez, tornou-se um "veredicto em tempo
real" do mercado sobre sua incursão política.
Não é a primeira vez que um titã empresarial naufraga no
governo. Rex Tillerson, ex-CEO da Exxon Mobil, durou pouco mais de um ano como
Secretário de Estado de Trump em 2017, saindo após choques com o presidente e
rumores de tê-lo chamado de "idiota". Gary Cohn, ex-Goldman Sachs,
abandonou o Conselho Econômico Nacional em 2018, frustrado com tarifas e a
resposta de Trump a Charlottesville. Musk segue o mesmo roteiro, mas com um
agravante: sua exposição pública e o controle de empresas como Tesla, SpaceX e
X amplificam o dano. Denning relata tensões no gabinete de Trump, com Marco
Rubio e outros secretários resistindo aos cortes indiscriminados de Musk, que
perdeu autonomia no DOGE – agora apenas "aconselha". Trump, por sua
vez, já dá sinais de esfriar a relação, mantendo Musk por conveniência
política, mas pronto para descartá-lo se o vento mudar.
Por que privatizar seria melhor? Estatais, livres da
burocracia e dos interesses políticos, podem adotar a lógica de eficiência dos
Comandantes e Guerrilheiros. Veja o caso das telecomunicações no Brasil: após a
privatização da Telebrás em 1998, o setor explodiu em inovação e cobertura. No
governo, Musk enfrenta um sistema onde cortes reais exigiriam enfrentar
eleitores – algo que nem seu gênio, nem sua teimosia, podem vencer. Enquanto
insiste, destrói valor na Tesla e gera caos no DOGE. É o peixe fora d’água:
sufoca, e o lago segue turvo. Privatizar é o caminho; teimar no oposto é
prejuízo certo.
Análise Técnica
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No post “Só sobraram os salteadores”, fiz os seguintes comentários sobre a Nasdaq 100: “A Nasdaq 100 está testando os níveis apontados a seguir de 20.2 mil / 20.0 mil; depois, mais abaixo, se encontra a marca de 19.6 mil ou ainda 19.0 mil, o que não seria nada dramático não fosse o fato de já ter caído 10% da máxima.”
Como no caso do S&P 500, eu fiz algumas modificações na
contagem da Nasdaq 100. Sobre essa nova versão, a bolsa estaria dentro da
primeira região de suporte entre 19.039 / 18.981, uma queda de 13% da máxima,
ou, caso não se sustente, a nova área seria a 17.346, uma queda adicional de
~10%, indicada com o símbolo em vermelho.
Em relação à Nvidia, meus comentários foram: “Tudo indica
que a NVDA caminha para os níveis apontados no retângulo. Mesmo com resultados
fantásticos e perspectivas muito boas para o futuro, se chegar nesses níveis –
US$ 106 / US$ 104 – US$ 98.”
A “Machucada” (novo apelido! Hahaha ...) chegou a atingir a
mínima de US$ 104,77 dentro do primeiro intervalo acima e depois disso ensaia
uma recuperação que, observada numa janela de 1 hora, parece ter completado 5
ondas 🤞. Se esse for o caso, não deveria negociar
abaixo da mínima apontada acima. Também não recomendo a compra agora, esperaria
uma retração – qualquer novidade aviso por aqui.
Quando Trump foi apontado como novo presidente, o mercado imediatamente raciocinou: basta um paste copy do que aconteceu em 2016 para se posicionar. Veja o que aconteceu na comparação abaixo.
Ex post, fica claro que não tem nada a ver esse raciocínio,
por razão até simples: em 2016, os EUA e o mundo estavam muito diferentes do
que estão hoje, tanto em termos de crescimento, inflação, taxa de juros,
ambiente geopolítico, valuation da bolsa. Como poderia, então, ser igual? O
leitor do Mosca sabe sobre minha aversão a esse tipo de comparação. Para esses
que se iludiram, deu ruim!
O S&P 500 fechou a 5.638, com alta de 2,13%; o USDBRL a R$ 5,7422, com queda de 0,98%; o EURUSD a € 1,0881, com alta de 0,28%; e o ouro a US$ 2.981, com queda de 0,18%.
Fique ligado!
Charlie Munger achava Elon talentoso, mas que claramente se superestimava. Não investiria com ele. Em tempos de Internet, é muito provável que a Tesla não recupere sua imagem nunca mais. Governos também vão fugir de contratações da Starlink...
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