O Fed vai apertar o botão de Pausa #S&P500

 


Amanhã, o Federal Reserve (Fed) soltará sua decisão sobre política monetária e, como manda o figurino das reuniões iniciais do trimestre, vai publicar suas projeções para o futuro: crescimento econômico, inflação, juros e taxa de desemprego. Mas vamos combinar: imagine você sentado naquela sala, tentando traçar um mapa do que vem pela frente, enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, joga granadas tarifárias e promessas de "detox econômico" sem nem olhar o manual de instruções. É como dar um giz de cera a uma criança teimosa e esperar que ela desenhe a Mona Lisa. Boa sorte aos economistas do Fed, que devem estar virando noites, cafeína na veia, tentando decifrar esse quebra-cabeça onde as peças mudam de forma a cada tweet.

Não é exagero dizer que o Fed está em um dilema histórico. Os dados mostram um cenário econômico que já foi mais previsível. Segundo o Bloomberg, o foco de Wall Street não está mais nos juros do Fed, mas nos tremores causados pelas tarifas de Trump e no crescimento que começa a patinar. O S&P 500, que já caiu mais de 7% em um mês, reflete essa ansiedade. Enquanto isso, a pesquisa da Universidade de Michigan, citada por Jim Reid da Deutsche Bank, aponta que as expectativas de renda real dos consumidores estão no fundo do poço em 47 anos, corroídas por temores de inflação galopante. O Fed, que antes era o maestro da orquestra financeira, agora parece um coadjuvante tentando não tropeçar no palco enquanto o protagonista – Trump e suas políticas – rouba a cena com improvisos arriscados.




E aqui entra um ponto crucial: “a incerteza, esse monstro que nos tira o sono”. Como bem disse Joe Wiggins no *Behavioural Investment*, nós, humanos, odiamos não saber o que vem pela frente. Quando o terreno fica nebuloso, nossa reação é tentar controlar o incontrolável – no caso dos investidores, isso significa fazer previsões cada vez mais ousadas. Só que, em um mercado financeiro caótico como o de hoje, essas previsões são mapas desenhados na areia durante a maré alta. Wiggins usa o exemplo de um voo atrasado: saber que o atraso é de 70 minutos é mil vezes melhor do que um simples “atrasado” sem mais detalhes. O problema é que, na economia atual, não temos nem isso. Trump ameaça dobrar tarifas sobre aço e alumínio do Canadá para 50%, recua se Ontario ceder na energia, e ainda acena com impostos sobre vinhos europeus. É um jogo de roleta em que ninguém sabe onde a bola vai parar.

O Fed no Fio da Navalha

Os economistas do Fed estão em uma sinuca de bico. Conforme Reid destaca, cortar juros para animar a confiança do consumidor – que está despencando junto com a dos pequenos empresários e a atividade fabril – pode ser um tiro no pé se a inflação, alimentada por tarifas e expectativas polarizadas, sair do controle. A pesquisa da Universidade de Michigan mostra que a percepção de inflação futura está dividida por linhas partidárias: metade do eleitorado acha que os preços vão explodir, a outra metade confia no “detox” de Trump. Alguém vai estar errado, mas enquanto isso, essas expectativas podem virar profecias autorrealizáveis, influenciando gastos e investimentos.

A Bloomberg reforça essa guinada de foco. Antes, cada palavra de Jerome Powell, cada ponto no “dot plot”, era dissecada por traders famintos por pistas. Hoje, o que Wall Street quer é um termômetro da economia real: como o Fed vai reagir a um crescimento que desacelera e a tarifas que sacodem cadeias de suprimento globais? A Tesla, por exemplo, já alertou que retaliações às tarifas americanas podem encarecer seus carros e minar sua competitividade. O mercado de opções precifica uma oscilação de 1,2% no S&P 500 após o anúncio de amanhã – não por expectativa de corte de juros (quase descartado), mas pelo que Powell dirá sobre esses riscos.

Princípios, Não Previsões

Diante desse caos, uma coisa fica clara: apostar em previsões é como jogar dados em um cassino com as luzes apagadas. Wiggins acerta em cheio ao dizer que o segredo do sucesso nos investimentos está em princípios sólidos, não em bolas de cristal fajutas. Diversificação, horizontes longos e o poder dos juros compostos são bússolas confiáveis em meio à tempestade. Mohamed A. El-Erian, em sua coluna no Bloomberg Opinion, vai na mesma linha: o curto prazo está uma bagunça, com revisões para baixo nas projeções de crescimento (o FMI já recuou de 2,7% para algo mais perto de 2% ou menos para 2025). Mas o longo prazo? Aí as opiniões se dividem. Uns veem um EUA mais forte, com governo enxuto e produção repatriada; outros temem um país preso em incerteza crônica, com dívidas crescentes e influência global minguando.

O que ninguém contesta é que o caminho será turbulento. Os “soft data” – como o humor dos consumidores – e os “hard data” – como vendas no varejo e produção industrial – mostram rachaduras. A confiança dos pequenos negócios afunda, o sentimento do consumidor despenca, e as fábricas estão a um passo da estagnação. Some isso ao vaivém das tarifas (aço a 25%, ameaça de 50%, vinho europeu na mira) e temos um coquetel de volatilidade que nem o mais otimista gestor de fundos consegue engolir sem engasgar.

O Mercado em Modo Sobrevivência

Os investidores estão em polvorosa, e com razão. A Bloomberg relata que a volatilidade implícita do S&P 500 para os próximos 30 dias supera a de dois meses adiante – sinal de que o mercado espera chacoalhadas iminentes, provavelmente até o prazo de 2 de abril, quando Trump pode sacramentar tarifas amplas. Enquanto isso, Trump diz que o estado do mercado “não o preocupa” e chama a queda recente de “transição necessária”. Para Wall Street, que esperava um governo pró-crescimento, é um balde de água fria.




Mas nem tudo é desespero. Há quem veja oportunidades no caos. Jeff Blazek, da Neuberger Berman, mantém uma postura neutra nas ações, mas fuça por barganhas fora das sete gigantes do S&P 500. Michael Rosner, da Raymond James, está mais posicionado em saúde, indústrias e dividendos – setores que podem resistir à tormenta. Já o Deutsche Bank prevê que o S&P 500 pode cair a 5.250 se o desenrolar das posições azedar, um tombo de mais de 10% desde segunda-feira.

A Saída: Aceitar o Inevitável

No fim das contas, a lição é simples, mas dura de engolir: incerteza é o nome do jogo. Tentar eliminá-la com previsões mirabolantes ou checar o mercado a cada cinco minutos só amplifica a ansiedade. Como Wiggins argumenta, o melhor é abraçar princípios robustos e focar no que importa: economias crescem no longo prazo, lucros corporativos acompanham, e o mercado, mesmo capenga, tende a refletir isso. El-Erian alerta que o Fed pode ficar de mãos atadas se a inflação subir enquanto o crescimento patina – um risco real com tarifas inflando custos.

Amanhã, quando Powell subir ao púlpito, o mundo vai ouvir. Mas não espere milagres. O Fed não tem varinha mágica para domar o furacão Trump. O que ele pode fazer é manter a cabeça fria, oferecer um norte razoável e torcer para que a criança teimosa da Casa Branca não quebre o brinquedo de todo mundo. Para nós, investidores, resta ajustar as velas, segurar firme e lembrar que, no meio do caos, as melhores decisões vêm de quem aceita a incerteza – e não de quem finge que ela não existe. O Fed vai apertar o botão de Pausa.

 

Análise Técnica

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No post "o-Japão-pode-entrar-na-turbulencia", fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: "O índice estaria na onda 4 azul – essas ondas denotam uma personalidade que questiona o movimento de alta – onde o nível de 5.500/5.420 (uma queda adicional de 2%) poderia ser o ponto de reversão, ou, mais abaixo, ao redor de 5.100 (uma queda adicional de 8%)." 




A bolsa sofreu uma reversão quando atingiu 5.504, exatamente dentro da faixa apontada acima. Coincidência? Não para quem acredita na Teoria das Ondas de Elliott. Depois disso, a bolsa registrou dois dias de alta. Podemos declarar que a baixa terminou? Infelizmente, não. Como vocês bem sabem, sem cinco ondas completas, nada está definido.




Como estamos: em uma janela de 1 hora, pode-se argumentar que há um padrão de cinco ondas menores, mas isso, por si só, não é definitivo. Em termos de níveis, destaquei duas regiões: o retângulo vermelho indica um ponto até onde o índice pode chegar e voltar a cair – ou seja, precisa superar essa região para confirmar uma mudança; já o retângulo verde pode oferecer suporte para novas altas; por fim, se o índice cair abaixo de 5.504, terei que revisar minha análise.

O S&P 500 fechou a 5.641, com queda de 1,06%; o USDBRL a R$ 5,6720, com queda de 0,21%; o EURUSD a € 1,0943, com alta de 0,20%; e o ouro a US$ 3.034, com alta de 1,11%.

Fique ligado!

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