Onde está o desinvestimento #IBOVESPA

 


A narrativa dominante dos últimos anos tem sido o boom de investimentos em inteligência artificial, um movimento de escala raramente visto na história econômica recente. A cada semana surgem anúncios bilionários: OpenAI, Nvidia, AMD, Oracle, todas costurando acordos que movimentam centenas de bilhões de dólares e sustentam a ideia de que estamos no meio de uma corrida inevitável para erguer a infraestrutura do futuro.

Mas como todo ciclo de euforia, há também a outra face: a do desinvestimento, menos comentada e muitas vezes invisível até que os efeitos se tornem evidentes. É justamente aí que está a minha inquietação.

A lógica do investimento circular

O artigo da Bloomberg descreveu bem a lógica quase mágica desses novos arranjos financeiros: Nvidia injeta capital na OpenAI, que por sua vez compra chips da própria Nvidia; em paralelo, a startup de Sam Altman fecha contratos semelhantes com a AMD, recebendo participação acionária em troca de compromissos de compra de semicondutores. Esse movimento, batizado de “investimento circular”, cria uma sensação de alavancagem permanente, como se todos ganhassem ao mesmo tempo — até que alguém descubra que parte da engrenagem se apoia mais em expectativas do que em lucros tangíveis.

Não é a primeira vez que a economia assiste a esse fenômeno. Justin Fox, também na Bloomberg, lembrou que booms semelhantes ocorreram no final do século XIX com as ferrovias e no final dos anos 1990 com a bolha das telecomunicações. A diferença é que, naquela época, os ativos construídos tinham vida útil longa. A fibra ótica lançada nos anos 2000 ainda serve hoje, mas quem acredita que os chips de 2025 terão a mesma relevância daqui a dez anos?


Schumpeter e a destruição criadora

Esse processo lembra a famosa destruição criadora de Schumpeter: o capitalismo se reinventa eliminando setores obsoletos para abrir espaço a novas tecnologias. A diferença é que, agora, a velocidade é exponencial. E com isso surge a pergunta: quem está sendo destruído para que a IA floresça?

Os primeiros sinais aparecem no mercado de trabalho. Inteligência artificial é, em essência, um serviço. Isso significa que sua competição direta ocorre em áreas intensivas em mão de obra: atendimento ao cliente, análise de dados, suporte administrativo, produção de conteúdo. Milhares de tarefas já começam a migrar para algoritmos, e a consequência imediata é a pressão sobre empregos de entrada, onde jovens são os mais vulneráveis.

A crise dos NEETs

O texto de Kathryn Edwards na Bloomberg é contundente: a taxa de desemprego entre os americanos de 16 a 24 anos chegou a 10,5% em agosto, o maior nível em uma década fora da pandemia. Uma parcela cada vez maior de jovens se encaixa na categoria dos NEETs — Not in Employment, Education or Training. Em 2024 eram 12% dessa faixa etária. É um dado preocupante porque mostra um grupo inteiro desconectado do mercado e da educação, sem perspectivas de retorno fácil.

As causas variam: desânimo diante da falta de oportunidades, limitações físicas, responsabilidades de cuidado com familiares. Mas a relação com a ascensão da IA já está sendo apontada. Cada vez mais, setores que antes absorviam jovens — desde call centers até escritórios de apoio — estão substituindo mão de obra humana por soluções automatizadas.

O Fed e a armadilha da política monetária

Essa realidade chega, inevitavelmente, ao radar da política monetária. O Federal Reserve já expressa preocupação com a perda de dinamismo no mercado de trabalho. Se a automação levar a um aumento estrutural do desemprego juvenil, a autoridade pode ser pressionada a cortar juros para estimular a economia. Mas ao mesmo tempo, o aumento de produtividade proporcionado pela IA tende a reduzir pressões inflacionárias no setor de serviços, justamente o calcanhar de Aquiles da inflação americana.

Teríamos então um paradoxo: um banco central tentando compensar, com juros mais baixos, uma queda de emprego que é ao mesmo tempo fruto de um ganho de eficiência. A história mostra que, quando tecnologia e política monetária entram em choque, o resultado é quase sempre instabilidade.

O papel da AMD e a competição no setor

Enquanto isso, as empresas que fornecem o combustível dessa revolução seguem em sua própria batalha. A reportagem do Wall Street Journal mostrou como a AMD, antes coadjuvante na disputa dos semicondutores, conseguiu reinventar-se. Sob a liderança de Lisa Su, saiu de um valor de mercado de menos de US$ 3 bilhões para mais de US$ 330 bilhões em pouco mais de uma década.

O acordo com a OpenAI para fornecer chips capazes de sustentar 6 gigawatts de capacidade computacional foi o estopim de uma alta de 24% nas ações em apenas um dia. Para além do número, o movimento sinaliza que a disputa com a Nvidia ganhou novo fôlego — e que o destino de empresas inteiras pode depender de quem conseguir dominar o filão da inferência em IA, mais rentável do que o treinamento de modelos.

Onde está o desinvestimento?

A pergunta que me inquieta permanece: onde está o desinvestimento? Enquanto bilhões são canalizados para erguer data centers e turbinar semicondutores, setores tradicionais perdem recursos e atenção. O capital é finito, e sempre que há concentração em um ponto da economia, outro sofre.

O primeiro efeito visível está no emprego, especialmente entre os jovens. Mas não será o único. Podemos ver menos capital fluindo para indústrias convencionais, infraestrutura física ou mesmo para políticas sociais que poderiam mitigar o impacto da exclusão digital.

A destruição criadora de Schumpeter pode até justificar a lógica de que é preciso derrubar para construir. O problema é que, na velocidade atual, a transição deixa milhões para trás sem que se construa uma ponte.

Conclusão

A história econômica mostra que todo boom de investimento traz ganhos e perdas. O que diferencia a fase atual é a magnitude dos valores e a concentração em poucos atores. OpenAI, Nvidia e AMD praticamente ditam o ritmo de uma corrida que não tem freio visível. Mas enquanto celebramos a inovação, precisamos olhar para o outro lado: quem está pagando a conta?

O desinvestimento silencioso no mercado de trabalho juvenil pode ser apenas o primeiro sinal de que a festa da IA terá consequências sociais mais profundas do que imaginamos.


Análise Técnica

No post “Sempre a mesma ladainha” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “Uma análise numa janela menor de 4 horas deixa a hipótese de término ao redor de 149 mil mais factível. Como podem notar, o IBOVESPA está seguindo ordenadamente sobre as linhas pontilhadas e por enquanto não apresentou elementos de reversão. Para quem está comprado fique atento”


Que boca! A bolsa foi quase no limite que mencionei acima atingindo a máxima em 147,5 mil, em seguida o mau humor predominou no Brasil e sem um motivo claro, mas o técnico já seria suficiente. E agora? Sempre que cinco ondas terminam se inicia a dúvida de qual grau será a correção.

Vamos iniciar com a qual seria de menor grau. Nesse caso está destacado no gráfico abaixo os parâmetros.  A retração deveria atingir no máximo entre 141.8 mil (já atingiu) – 139,3 mil. O que não pode acontecer é superar 138,4 mil o que levaria para o segundo caso


Na opção seguinte o processo seria mais demorado e levaria a bolsa a níveis de 135,9 mil / 132,5 mil, não podendo passar de 129, 5 mil. Se passar fica abortado a opção de alta de mais longo prazo.

- David, você secou minha posição só porque eu estava comprado!!!

Não tenho esse poder. O que aconteceu é mais do mesmo, a bolsa brasileira se encontra dentro de uma macro correção e nesses casos, surpresas acontecessem. Não gosto deste ativo e ponto!

Resolvi arriscar na bolsa americana. Os leitores sabem que estou buscando o momento de entrar e hoje na abertura comprei o S&P 500 a 6.718, o stop loss é curto a 6.700. Essa é a melhor compra que fiz? Olhado de hoje, com certeza não, no futuro que sabe?

O S&P 500 fechou a 6.753, com alta de 0,55%; o USDBRL a R$ 5,3443, com queda de 0,13%; o EURUSD a € 1,1630, com queda de 0,23%; e o ouro a U$ 4046, com alta de 1,54%.

Fique ligado!


Comentários

  1. Nunca aconteceu de ocorrer ouro em recorde histórico e SP500 tambem...ouro em preços recordes sempre foi marca de fundo de mercado...porém bolsa americana está na maxima histórica....poderia comentar? Estou pensando se nao está por vir um super crash por ai

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  2. li um artigo hoje sobre essa potencial anomalia, a explicação dada pelo Morgan Stanley e que ambos seriam uma proteção contra a inflação. Em todo caso é estranho mesmo, não sei se compro essa ideia. Talvez a melhor é que a bolsa está movida pela IA e lucros e o ouro pelo "debasment" que comentei na terça feira. Leia o post de hoje onde comento sobre o dólar e porque a alta do ouro deve perder força.

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