Sempre a mesma ladainha #IBOVESPA

 

Nota: Amanhã por conta do feriado de Yom Kippur não haverá publicação do Mosca, retornando normalmente na sexta-feira.

O ouro voltou a ser a estrela da vez. Não por méritos estruturais, mas pelo velho e conhecido combo de pânico político, pressão inflacionária e expectativa de queda nos juros. O metal, que dormia há anos, agora brilha com cotações recordes quase diárias. Alguns, deslumbrados com o brilho dourado, chegam a tratá-lo como proteção infalível, reserva de valor definitiva ou âncora de estabilidade. Será?

No início do Mosca, afirmei com todas as letras que o dólar não perderia seu protagonismo como moeda global. De lá para cá, vimos muitos sepultarem a moeda americana prematuramente, enquanto ativos “alternativos”, como o ouro e as criptomoedas, oscilavam ao sabor da histeria coletiva. Não há milagre: ativos que não produzem renda precisam de novos compradores todos os dias. O ouro se encaixa nesse perfil, ao lado do bitcoin. Ambos alimentam narrativas mais do que fundamentos.

Mas, como oportunista convicto e pragmático, não tenho preconceitos. O Mosca já propôs operações de compra em ouro em diferentes momentos. A diferença? Entramos com base em análise técnica e saímos quando ela perde validade. Estamos, por ora, posicionados — mas cientes de que é uma aposta especulativa e temporária.

As razões do rali atual estão escancaradas. O ouro ultrapassou US$ 3.890 por onça, impulsionado por uma tempestade perfeita: shutdown nos EUA, expectativa de cortes adicionais pelo Fed e um dólar enfraquecido. Não por acaso, o metal retomou a dianteira frente ao bitcoin, cuja performance recente é até positiva, mas claramente ofuscada pela escalada do ouro.

Para muitos investidores, o ouro se tornou porto seguro diante da deterioração das alternativas tradicionais. A confiança no dólar e nos títulos do Tesouro foi corroída por déficits recordes e a crescente pressão política sobre o Fed. Esse ambiente tem favorecido o ouro — que, embora estéril em termos de geração de fluxo de caixa, ganha apelo quando o retorno dos ativos de renda fixa encolhe. Como destaca a Bloomberg, a taxa de 10 anos dos Treasuries caiu para 4,11%, e o mercado de bonds vem se recuperando justamente pela expectativa de corte nos juros.

O relatório da D.E. Shaw adiciona uma camada interessante ao debate. A gestora destaca que o ouro, apesar de sua baixa correlação com ciclos econômicos de curto prazo, pode sim contribuir para a robustez de um portfólio em períodos de estresse, sobretudo quando combinado a ativos de renda variável. Mas há ressalvas: sua volatilidade é alta, sua performance no longo prazo perde para ações, e sua utilidade está muito mais ligada à função de diversificador do que de gerador de riqueza.

A Goldman Sachs reforça esse ponto. Em sua análise, o ouro perde feio para a bolsa no longo prazo, como mostra o gráfico abaixo — mesmo após a recente disparada. Ele não é proteção infalível contra inflação, nem escudo garantido contra crises. É, quando muito, um ativo cíclico, que performa bem em determinados ambientes, mas que exige vigilância constante.

Não há dúvidas de que parte da alta recente se deve também ao comportamento dos bancos centrais. Desde a invasão da Ucrânia, muitos deles, especialmente nos países emergentes, têm comprado ouro em ritmo acelerado para reduzir a dependência do dólar. Essa demanda institucional ajuda a sustentar o preço, mas não garante retorno futuro para o investidor individual.

Por isso, é sempre bom repetir: quem compra ouro precisa saber por que está comprando. Se for por medo, talvez esteja comprando tarde. Se for por técnica, é bom ficar atento aos sinais de reversão. Se for por convicção ideológica, que se prepare para períodos longos de frustração.

O mais irônico de tudo é que essa narrativa dourada ressurge sempre nos mesmos momentos: quando o mundo parece desabar. É sempre a mesma ladainha. E, como já testemunhei inúmeras vezes ao longo da minha trajetória no mercado, a ladainha pode durar mais do que se imagina... mas jamais para sempre.

 

Análise Técnica

No post “ia-o-camaleão” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “a bolsa brasileira está chegando em extremos que inspiram cautela. Como o gráfico abaixo mostra o nível de 145,4 mil deveria ocorrer a reversão. Em outra janela não mostrada aqui poderia se esperar algo entre 148 mil / 149,4 mil, ou ainda mais otimista 154 mil”

Nada de muito interessante aconteceu com a bolsa brasileira na última semana fazendo com que mantenha as observações citadas acima. Uma análise numa janela menor de 4 horas deixa a hipótese de término ao redor de 149 mil mais factível. Como podem notar, o IBOVESPA está seguindo ordenadamente sobre as linhas pontilhadas e por enquanto não apresentou elementos de reversão. Para quem está comprado fique atento.


- Hahaha. Enquanto você estava não fazendo nada resolvi entrar na bolsa, afinal, pelo menos nesse período não tinha um chato me enchendo a paciência que não gosta da bolsa brasileira. Me diz onde coloco o stop loss?

Mesmo com suas malcriações não tenho como me desvencilhar de você, nunca! Hahaha. O “by the books” colocaria em 138 mil mas como está distante, eu não ficaria posicionado abaixo de 142 mil.

O S&P 500 fechou a 6.711, com alta de 0,34%; o USDBRL a R$ 5,3280, com alta de 0,11%; o EURUSD a € 1,1729, sem variação; e o ouro a U$ 3.864, com alta de 0,17%.

Fique ligado!

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