O Dilema à frente #IBOVESPA
O Mosca vem insistindo há meses que estamos vivendo um tempo no mínimo contraditório. De um lado, as empresas ligadas à inteligência artificial — ou como gosto de chamar, as detentoras da Carteirinha PJ — surfam uma onda de valorização que parece não ter fim. Do outro, companhias tradicionais, que ainda não provaram serem “à prova de bala” nessa nova era tecnológica, seguem do lado de fora da festa. À primeira vista, o investidor atento deveria apenas reconhecer o fenômeno e aproveitar o embalo. Mas o que parece euforia pode esconder algo mais profundo.
A recente onda de demissões nas grandes corporações americanas sugere que a revolução da IA começa a cobrar seu preço. Segundo The Kobeissi Letter, mais de 150 mil funcionários foram dispensados nos últimos meses — o equivalente a três meses de criação líquida de empregos nos níveis atuais. A lista de empresas é extensa: Amazon, UPS, Target, General Motors, Booz Allen, Rivian... e a tendência é clara. Por trás dessa movimentação, há um raciocínio simples e cruel: a substituição de boa parte do trabalho intelectual por algoritmos que produzem mais, custam menos e não pedem aumento.
Schumpeter chamaria isso de destruição criativa. Eu chamaria de deflação
criativa. Porque, se o diagnóstico do Mosca estiver certo, o efeito
predominante desse processo será deflacionário, e não inflacionário. O ciclo
que se abre é de eficiência forçada, não de consumo aquecido. E quando Trump,
em seu estilo habitual, restringiu a entrada de estrangeiros qualificados no
mercado americano, atirou no que viu — a imigração — e acertou no que não viu:
a substituição tecnológica dos próprios trabalhadores que queria proteger.
A bolha que não é bolha
Enquanto isso, os índices acionários renovam recordes diários. O S&P 500
acumula uma alta de 38% desde abril, com o valor de mercado somando mais de US$
17 trilhões. Foram 125 sessões consecutivas acima da média móvel de 50 dias — o
maior período desde 2011 — e alguns analistas começam a se perguntar se não é
hora de “realizar lucros”. Outros, como John Authers, argumentam que o
investidor deveria apenas redirecionar capital para mercados mais baratos. Pode
ser, mas eu tenho reservas: será que os mercados estrangeiros têm empresas
realmente preparadas para essa nova economia digital? Quantas delas têm, de
fato, a Carteirinha PJ?
A alta não é aleatória. O Wall Street Journal lembra que os balanços de
Microsoft, Alphabet, Meta e Amazon são sustentados por investimentos
gigantescos em inteligência artificial — cerca de US$ 420 bilhões em capital
nos próximos 12 meses. Esse gasto monumental alimenta não apenas a corrida
tecnológica, mas também a expectativa de que esses lucros — hoje reais —
justifiquem os múltiplos altíssimos do mercado.
Authers, em sua análise, chama a atenção para o CAPE ratio acima de 40 — o
maior desde a bolha da internet em 2000. Mesmo ajustado para margens
corporativas recordes, o mercado americano continua caro. A Vanguard, segundo
ele, estima que as ações dos EUA estão bem acima do seu “valor justo”, enquanto
outros mercados — como o japonês — ainda apresentam espaço para valorização. O
problema é que o investidor, encantado com as promessas da IA, parece disposto
a pagar qualquer preço pelo futuro.
A fronteira do entusiasmo
Há um dado simbólico que merece atenção. Segundo a Bloomberg, o gasto das
gigantes da tecnologia com IA — só este ano — equivale ao PIB do Egito. A
escala da transformação é inédita. Mas há um ponto sensível: parte desses
investimentos é circular, com as próprias empresas comprando umas das outras. O
risco é o mesmo de sempre: quando todos acreditam que “desta vez é diferente”,
o mercado costuma ensinar humildade.
É tentador enxergar esse momento como o prelúdio de uma nova era dourada.
Afinal, diferentemente da bolha de 2000, agora há lucros verdadeiros. Mas isso
não elimina o risco de saturação. O próprio Authers cita dados do Deutsche Bank
mostrando que, historicamente, mercados que partem de valuations elevados
rendem muito menos nos 25 anos seguintes. É a velha força da gravidade: quanto
mais alto o múltiplo, menor o retorno esperado.
O dilema adiante
O dilema está colocado. A exuberância das bolsas contrasta com o enxugamento
das corporações. Enquanto CEOs anunciam lucros recordes e planos de
investimento em IA, os departamentos de recursos humanos cortam gente em escala
industrial. E o investidor, dividido entre o medo de perder o bonde e o receio
de entrar no topo, se pergunta: o que fazer?
A tentação de vender tudo e esperar uma correção é compreensível. Mas o Mosca
vê nuances. A diferença desta vez é que os lucros acompanham o movimento —
ainda que concentrados em poucas empresas. O perigo não está na bolha dos
preços, mas na bolha dos lucros: se o crescimento parar, a correção será
inevitável.
Além disso, a redução da mão de obra, apesar de socialmente dolorosa, tende a elevar a produtividade, um fator que sustenta margens e pode prolongar a alta dos resultados corporativos. Em um mundo em que a eficiência é o novo dogma, menos pessoas podem, paradoxalmente, gerar mais lucros — ao menos por um tempo.
O que o investidor deve observar
Três sinais devem ser acompanhados com lupa:
1. O custo do capital – A manutenção dos juros em patamares elevados muda a matemática de retorno dos projetos de IA. Quando o dinheiro não é grátis, eficiência volta a importar.
2. A lucratividade marginal da IA – O mercado precifica uma revolução produtiva. Mas se a IA apenas redistribuir lucros dentro do mesmo grupo de empresas, a festa termina rápido.
3. O emprego – A substituição de mão de obra qualificada por algoritmos gera um alívio de custos no curto prazo, mas mina a base de consumo no médio. É a contradição estrutural da revolução digital.
O investidor prudente deve lembrar que a história dos mercados é feita de ciclos. A cada nova tecnologia, repete-se o entusiasmo. Mas no final, os fundamentos — lucro, custo, produtividade — sempre se impõem.
Epílogo
Há momentos em que o mercado parece exigir uma decisão binária: ou realiza, ou vai junto. Mas talvez o segredo esteja em reconhecer que vivemos uma transição de regime. A inteligência artificial está transformando tudo — da economia à psicologia dos investidores. O problema é que a transição não será linear.
Como escrevi em outras ocasiões, o Mosca prefere observar com frieza. A destruição criativa está em curso, os lucros são reais, mas a exuberância é palpável. O dilema à frente não é entre otimismo e pessimismo — é entre lucidez e ilusão.
Análise Técnica
No post “o-céu-não-e-o-limite” fiz os seguintes comentários sobre o IBOVESPA: “ A bolsa
recuou até o último limite apontado acima, atingindo 145,2 mil, e logo depois
ensaiou leve recuperação — o que pode ter criado um bom ponto de risco-retorno.
Para se envolver em uma venda, o stop loss adequado seria 147,5 mil (+2,5%),
embora fosse possível utilizar o limite de 146 mil. Essa recente recuperação
tem, portanto, o aspecto de mera correção.”
A bolsa brasileira acabou assumindo um novo rumo o que se mostrou estar errado minha análise. Não vou colocar a culpa no sistema novamente, mas que ele é ruim não resta dúvida. O que pode ter acontecido é que a onda 5 azul vai terminar mais acima em 149,6 mil ou 156,1 mil conforme destaquei com os símbolos.
Observei um horizonte de longo prazo para ver se enxerga algo mais direcional. O gráfico abaixo tem janela trimestral e nele só consigo enxergar uma enorme correção gravada com A – B – C em azul. Buscando as métricas observo dois limites: 147, 1 mil (onde está gora) e 155 mil. Esses dois parâmetros por estar próximo dos números apontados acima fornece um grau maior de convicção.
Se eu estiver certo depois de completado essa alta um período longo de queda deve se suceder – PT perpetuando? Sem fazer elucubrações e não querendo deixar os leitores preocupados, por enquanto a bolsa procura um nível para o topo.
O S&P 500 fechou a
6.890, sem variação; o USDBRL a R$ 5,3601, sem variação; o EURUSD a € 1,1599,
com queda de 0,45%; e o ouro a U$ 3.943, com queda de 0,25%.
Fique ligado!
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