O emprego mico #USDBRL
Tirania,
presidencialismo ou parlamentarismo: eis a tríade que define como os povos ao
redor do globo é governado. Se a primeira é a caricatura mais sombria do poder
concentrado, os outros dois modelos revelam nuances interessantes de como
sociedades buscam equilíbrio entre autoridade e legitimidade. Pessoalmente,
nunca escondi minha simpatia pelo parlamentarismo. O governante, nesse sistema,
não tem carta branca para agir de forma discricionária; depende do Parlamento
para avançar qualquer agenda. Isso gera uma instabilidade crônica? Sim. Mas
também permite que a população corrija rumos com muito mais rapidez do que em
regimes presidencialistas.
Nos últimos dias, dois
episódios marcaram bem esse contraste. Na França, o recém-nomeado
primeiro-ministro Sébastien Lecornu não resistiu sequer a um mês no cargo. Caiu
sob a pressão de um Parlamento fragmentado e de um presidente que insiste em
montar gabinetes centralizadores. A reação do mercado foi imediata: bolsa em
queda acentuada e aumento do prêmio de risco sobre os títulos franceses. Já no
Japão, a escolha da conservadora Sanae Takaichi como líder do Partido Liberal
Democrata — e, portanto, provável primeira-ministra — gerou euforia. A bolsa de
Tóquio abriu com alta de 3,7%, enquanto o iene desabou. Dois países, dois
primeiros-ministros, dois destinos políticos diametralmente opostos.
A lógica do curto
prazo
A sucessão acelerada
de chefes de governo em sistemas parlamentares pode parecer, à primeira vista,
um sintoma de fraqueza. Mas, ao contrário, expõe uma virtude: a possibilidade
de ajuste rápido. Na França, Macron apostou em um gabinete de leais ao centro.
O Parlamento, em sua diversidade de forças, rejeitou a imposição. Resultado:
queda imediata do premiê. O investidor olha e diz: instabilidade. Mas é também
uma forma de purgação política. Melhor resolver cedo, ainda que com dor, do que
prolongar um impasse até a paralisia completa.
Já no
presidencialismo, o filme é outro. No Brasil, por exemplo, quando metade da
população rejeita o presidente, não há muito o que fazer senão esperar o
término do mandato. A outra metade, que depende direta ou indiretamente do
Estado, segue apoiando a continuidade. Esse impasse prolonga a divisão e
dificulta qualquer virada de rota. A Argentina já viveu essa fábula: a negação
prolongada da realidade até o inevitável colapso.
O caso japonês:
Thatcher com kanji
A ascensão de Sanae
Takaichi no Japão lembra muito o início de Margaret Thatcher no Reino Unido.
Apelidada de “Dama de Ferro” nipônica, Takaichi surge como herdeira política do
falecido Shinzo Abe, prometendo uma nova rodada de Abenomics. O mercado financeiro
comprou a ideia de imediato: queda das apostas em alta de juros e um rali
acionário que colocou o Nikkei novamente à frente do S&P 500 em termos de
desempenho.
Mas os riscos estão à
espreita. A dívida pública japonesa é a maior do mundo desenvolvido, e o país
vive hoje com inflação em patamares incomuns para sua história recente. Um iene
ainda mais fraco pode comprometer o poder de compra da população, mesmo que a
indústria exportadora comemore. A questão central é se Takaichi conseguirá
acertar a terceira flecha de Abe: a reforma estrutural do setor corporativo
japonês. É uma promessa que, até agora, ficou pelo caminho.
França: a implosão de
Macron
Enquanto isso, a
França parece afundar em seu próprio labirinto institucional. Três
primeiros-ministros caíram em menos de um ano, sempre pelo mesmo motivo: a
dificuldade em aprovar orçamentos com cortes de gastos e aumento de impostos. A
dívida francesa já provoca sinais de alerta nos mercados, com o spread em
relação aos títulos alemães alcançando os maiores níveis desde 2024.
O que está em jogo é
mais do que a sobrevivência de um gabinete: é a percepção de que o modelo de
Macron perdeu fôlego. Ele prometeu ser o centrista capaz de unir extremos, mas
sua estratégia de ignorar a oposição e impor continuidade está isolando-o cada
vez mais. Resta-lhe escolher entre nomear outro premiê, dissolver o Parlamento
ou, no limite, renunciar — algo que já descartou publicamente. O problema é que
o relógio corre: em poucos dias o orçamento deve ser apresentado, e não há
maioria para sustentá-lo.
Reflexões de quem já
viu o filme
Na minha trajetória
profissional, testemunhei inúmeras vezes como o mercado reage a crises
políticas. Lembro bem de 1999, quando o Brasil desvalorizou o real sob a
pressão do FMI: bastaram 48 horas para ver empresas evaporarem na bolsa e o
risco país disparar. O investidor, seja em Paris ou Tóquio, não tem paciência
com hesitações. Quer clareza, quer governabilidade. Não importa se isso virá
pela mão firme de uma “Dama de Ferro” ou pela renúncia forçada de um premiê
fragilizado.
É por isso que a
alternância rápida de líderes, embora custosa, pode ter valor. É um mecanismo
de autorregulação que impede que o populismo ou a inércia se prolonguem
indefinidamente. No Brasil, ao contrário, ficamos muitas vezes reféns de um
ciclo de quatro anos, em que a má gestão só é corrigida tardiamente, às custas
de recessões prolongadas e crises fiscais.
O risco da bolha
protetora
Diante de tudo isso,
não posso deixar de fazer uma observação mais pessoal. Vejo o Brasil correndo o
risco de se encastelar numa bolha de proteção estatal, onde metade da população
se conforma com o sustento garantido pelo governo, enquanto a outra metade
assiste, impotente, ao retrocesso. Não é difícil imaginar um cenário em que
Lula consiga a reeleição, estendendo esse arranjo por mais quatro anos. O
paralelo com a Argentina é inevitável: a lentidão em reconhecer a
insustentabilidade de um modelo até que a realidade se imponha com
brutalidade.
Enquanto isso, o resto do mundo se move: Tóquio celebra um novo ícone político, Paris dissolve mais um gabinete e os investidores buscam refúgios cada vez mais escassos. Para nós, resta a vigilância. E a consciência de que, se não for possível mudar o sistema, ao menos precisamos aprender a ler os sinais que o mercado envia com tanta clareza.
Hoje pela manhã mais uma empresa conquistou espaço na minha “Carteirinha”: a AMD. Por anos vista como coadjuvante diante da supremacia da Nvidia, a fabricante de chips parecia destinada à irrelevância na corrida da inteligência artificial. Mas a realidade mudou de forma súbita: a companhia fechou um acordo com a OpenAI para fornecer 6 gigawatts de GPUs, em um contrato avaliado em dezenas de bilhões de dólares. O impacto foi imediato — as ações dispararam mais de 35% no pré-mercado, no que pode ser a maior valorização intradiária em quase uma década.
O que essa virada
ensina? Que a Carteirinha não é apenas um portfólio de nomes consolidados, mas
um radar para captar mudanças estruturais no jogo de poder corporativo. Se até
ontem a AMD era tratada como figurante, hoje assume o protagonismo em uma das maiores
apostas tecnológicas do nosso tempo. É exatamente esse o espírito da
Carteirinha: antecipar quem pode se transformar de “mico” em protagonista
global, separando oportunidade real de mera euforia passageira.
Análise Técnica
No post “bull-market”
fiz os seguintes comentários sobre o dólar: “Observei com os olhos de uma
analista técnico e, embora pareça que a queda do dólar a partir de fevereiro
quando atingiu R$ 6,50 tenha características de uma onda direcional, houve muitas
violações que não me permitem embarcar nessa tese. Ao contrário, ocorreram
muitos overlaps que indicam uma onda de correção (existe a possibilidade de uma
onda “Ending Diagonal”, mas mesmo essa não encaixa bem).
Nas últimas três semanas, o dólar ficou contido numa área entre R$ 5,38 – R$ 5,28 sem mostrar uma trajetória clara. Posso afirmar com bastante convicção que em algum momento essa indefinição tende a romper para cima ou para baixo. Como num cara ou coroa, a aposta não é boa, embora nesse caso a chance de cara (para baixo) seja ligeiramente superior. Se quiserem, podem escolher uma lado — o Mosca vai aguardar.
O S&P 500 fechou a 6.740, com alta de 0,36%; O USDBRL a R$ 5,3100 com queda de 0,47%; o EURUSD a € 1,1708, com queda de 0,29%; e o ouro a U$ 3.959, com alta de 1,87%.
Fique ligado!
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