Para os amigos tudo #S&P 500

 

Paulo Maluf cunhou frases que, décadas depois, continuam descrevendo a política com uma precisão constrangedora. Entre elas, a mais conhecida — “para os amigos tudo, para os inimigos, justiça” — ressurge com força quando se observa a forma como Donald Trump conduz sua diplomacia. Aos 79 anos, ele atravessa o mundo com a energia de quem ainda disputa a centralidade do poder global, e, como Maluf, sabe recompensar aliados e castigar desafetos. 

Ontem estava na Malásia, firmando acordos de comércio e paz, e hoje desembarcou em Tóquio, para dar as boas-vindas à nova primeira-ministra Sanae Takaichi, discípula de Shinzo Abe e herdeira de seu estilo pragmático — o mesmo que fez do Japão um dos poucos países a compreender a psicologia do magnata americano. Enquanto Lula continua tentando entender se Marco Rubio “não gosta do Brasil”, Trump, mercantilista convicto, já se reposicionou no tabuleiro asiático: “para os amigos, tudo; para os inimigos, justiça tarifas”, melhor adaptado a sua estratégia 

A arte da bajulação

Takaichi aprendeu rápido a lição deixada por Abe: lidar com Trump exige mais do que protocolos diplomáticos — exige teatralidade. Na primeira semana de governo, ela repetiu o roteiro do mentor: elogios públicos, presentes simbólicos e gestos calculados. Recebeu o presidente norte-americano com o imperador Naruhito, ofereceu-lhe uma bola de golfe banhada a ouro e um taco que pertenceu ao próprio Abe, embalados num estojo assinado por Hideki Matsuyama. 

O Wall Street Journal descreveu o encontro com o imperador como um “banho de realeza”, cuidadosamente dosado para não parecer extravagante, mas suficiente para tocar o ego do visitante. Trump, encantado, respondeu no tom que Takaichi esperava: chamou-a de “uma das maiores primeiras-ministras do Japão” e garantiu que ela poderia pedir “qualquer coisa que quisesse”. 

Entre um jantar e uma partida de beisebol — onde ambos assistiram aos dois home runs de Shohei Ohtani —, a nova premiê conquistou o que realmente importa: a promessa de um tratamento preferencial nos contratos militares e comerciais com Washington. 

O Japão se arma

Mas a viagem não se resumiu a gestos simbólicos. Takaichi anunciou que o Japão “antecipará para o próximo ano o aumento dos gastos com defesa para 2% do PIB”, dois anos antes do previsto. O gesto atende diretamente à exigência de Trump, que vem pressionando aliados europeus e asiáticos a elevar o orçamento militar — e posiciona Takaichi como a parceira ideal para a nova fase da política americana. 

O plano japonês vai além do orçamento. Inclui liberação das exportações de armamentos, construção de novas fábricas de armas e acordos de cooperação naval com os Estados Unidos. É uma virada histórica para um país que vive há quase oito décadas sob a sombra de uma Constituição pacifista. O apoio popular, surpreendentemente, acompanha: 71% dos japoneses defendem o fortalecimento das forças de defesa, e o índice de aprovação de Takaichi já chega a 74%, o maior registrado por um novo governo desde a era Abe. 

O pano de fundo geopolítico

Enquanto Tóquio acelera sua rearmamentação, Washington hesita em outro front. O editorial da Bloomberg publicado ontem pede que o Federal Reserve interrompa os cortes de juros, argumentando que a inflação segue em 3% e o desemprego permanece baixo. É exatamente a linha que o Mosca vem defendendo há semanas — talvez a Bloomberg esteja lendo! (Hahaha…). O diagnóstico é o mesmo: quando o cenário é incerto, o erro maior é agir por impulso. A pressa em reduzir juros — num momento em que tarifas e gastos militares voltam a subir — apenas reforça a contradição de um mundo que tenta se proteger dos riscos geopolíticos estimulando os riscos financeiros. A política monetária, assim como a diplomacia, parece hoje guiada mais por conveniências do que por princípios.

Nada disso acontece no vácuo. O Livro Branco de Defesa de 2025 alerta para o avanço militar chinês, o rearmamento da Coreia do Norte e as provocações russas no Pacífico. Enquanto isso, a confiança na proteção americana despenca: apenas 22% dos japoneses dizem confiar que os EUA defenderiam o Japão em caso de conflito. 

Trump percebeu essa fragilidade e a transformou em oportunidade. Ofereceu “segurança” e, em troca, pediu dinheiro, acordos e aplausos. O resultado é uma reedição moderna da velha dependência: os Estados Unidos terceirizam a vigilância regional para seus aliados — desde que estes comprem os equipamentos americanos. 

Takaichi sabe disso. Mas também sabe que, para um país carente de recursos naturais e cercado por potências hostis, a autonomia militar é o único caminho possível. Por trás do sorriso e das flores de cerejeira enviadas a Washington, há um cálculo frio: quanto mais o Japão se arma, mais se protege da oscilação política americana. 

A herança de Abe e o novo teatro asiático

O jogo que se desenrola hoje é, em muitos aspectos, a continuação da estratégia de Abe — o “método japonês” de lidar com Trump. Abe foi o primeiro líder mundial a compreender que, com ele, a diplomacia se faz no campo da vaidade. Presentes, banquetes e deferência pessoal funcionam melhor do que tratados multilaterais. Foi assim que o Japão se manteve próximo da Casa Branca mesmo durante as disputas tarifárias de 2018 e 2019. 

Takaichi apenas aperfeiçoou a técnica. E o faz com um toque adicional: o carisma feminino, que suaviza sua agenda agressiva de rearmamento. Quando oferece a Trump um taco de golfe dourado, não está apenas presenteando — está garantindo a continuidade de uma aliança estratégica num momento em que o mundo se reorganiza entre populismos e autocracias. 

Conclusão: a lição de Maluf

“Para os amigos tudo, para os inimigos, justiça.” A frase que nasceu nos bastidores da política brasileira virou um resumo perfeito da geopolítica contemporânea. Trump a aplica com maestria: recompensa Milei e Takaichi com abraços e promessas, enquanto trata Lula e Xi Jinping com o mesmo desdém reservado a adversários domésticos. 

O Mosca vê nessa cena uma metáfora precisa do mundo atual: a política externa transformada em espetáculo, a diplomacia reduzida a selfies e a lealdade negociada a cada jantar. Trump sabe jogar nesse palco melhor do que ninguém, e os líderes que o compreendem — como Takaichi — acabam colhendo dividendos. 

No fim, o episódio mostra que o poder global continua sendo um jogo de afinidades, e não de princípios. A nova primeira-ministra japonesa percebeu isso antes de muitos. No tabuleiro de Trump, ela entendeu a máxima de Maluf e a transformou em estratégia nacional.


Análise Técnica

No post “o-blefe”, fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500:“Existem evidências que aumentam as chances de se tratar de uma correção pequena. A principal delas é que a queda no dia do anúncio da tarifa de 100% se formou em três ondas.” 

No curto prazo: o índice não pode cair abaixo de 6.498 e precisa ultrapassar 6.674 para confirmar o movimento de alta.


O S&P 500 fez toda a lição de casa e ultrapassou a máxima anterior, como eu havia suspeitado. Segundo essa contagem, o final do movimento deveria estar contido dentro do retângulo — algo entre 7.000 e 7.200 pontos. Depois disso, uma correção de grau maior — onda 4 amarela — deveria ocorrer.


— David, não ficou superperigoso ficar comprado?

É verdade. Na melhor das hipóteses, restaria cerca de +4% de alta. Porém, num mercado de alta (bull market), a contagem pode ser mais dinâmica, impondo uma reclassificação das ondas. É difícil explicar para quem não conhece a Teoria de Elliott Wave como isso se desenrola.

Eu mesmo tenho outra contagem que levaria o S&P 500 a níveis impensáveis vistos de hoje.

— Fala aí qual é esse nível!

Prefiro esperar mais um pouco — você iria me infernizar a vida! Hahaha...

O S&P 500 fechou a 6.800, com alta de 0,23%; o USDBRL a R$ 5,3604, com queda de 0,25%; o EURUSD a € 1,1651, sem variação; e o ouro a U$ 3.963, com queda de 0,70%.

Fique ligado!

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