"In Gold we Trust" #S&P 500 #Ouro # Bitcoin
O ouro entrou em um ritmo de alta que não passa despercebido. Não é preciso ser um seguidor assíduo do mercado para notar: basta abrir qualquer noticiário econômico. Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve, costumava dizer que acompanhava o preço do ouro diariamente e que cada movimento de alta era motivo de preocupação. Imagino que Powell, seu sucessor em tempos mais conturbados, faça o mesmo. Afinal, o ouro não paga juros nem dividendos, e quando se valoriza de forma tão acelerada é porque há uma desconfiança crescente em relação à moeda dominante.
Esse movimento se
intensifica justamente quando as incertezas se acumulam. E há um detalhe
revelador: enquanto o ouro dispara, o bitcoin permanece silencioso. O
comportamento dos investidores mostra que, quando a situação é realmente séria,
a preferência é pelo que resiste há milênios como porto seguro. A escolha entre
os dois, nesse momento, não deixa dúvidas.
Em um desses dias, ao
ouvir um podcast sobre tecnologia, deparei-me com um argumento curioso: as
stablecoins fariam sentido como substitutas dos dólares físicos que circulam
fora dos Estados Unidos — algo estimado em cerca de US$ 90 bilhões. O
raciocínio parece lógico, já que os detentores de papel-moeda não recebem
juros, mas quem não vai gostar é o Tesouro americano, que deixaria de se
beneficiar de algo que lhe custava zero. É o que em economia se chama
senhoriagem. Ainda assim, entre nós, é difícil imaginar alguém pagando o almoço
com stablecoin. Para o dinheiro escuso, talvez funcione; no cotidiano, não.
Mas será que o ouro é
realmente um céu sem nuvens? Allison Schrager, colunista da Bloomberg, faz um
alerta oportuno: não existe nada de intrinsecamente seguro no metal. Seu preço
é extremamente volátil e, como qualquer outra commodity, pode cair justamente
quando se espera proteção. Basta lembrar que em 2008, no auge da crise
financeira, o ouro também recuou. Os números falam por si: a volatilidade do
ouro se equipara à de outros ativos de risco e, em determinados momentos, pode
até superá-los. A Goldman Sachs atualizou o retorno comparativo entre o S&P
500, ouro, o índice de commodities elaborado pelo GS e o óleo.
Ainda assim, a demanda
persiste. Em setembro, o ouro alcançou US$ 3.703 a onça, um recorde histórico.
Bancos centrais reforçam suas reservas como não se via desde Bretton Woods, e
os dados mostram que a participação do dólar nas reservas globais caiu de 60%
em 2000 para 43% em 2024. Esse enfraquecimento estrutural do papel da moeda
americana ajuda a explicar por que o ouro voltou ao centro do palco.
Paralelamente, o bitcoin também atingiu máximas acima de US$ 120 mil,
consolidando-se como candidato a ativo de reserva. Mas, a meu ver, a comparação
ainda soa exagerada: o ouro tem séculos de legitimidade, enquanto o bitcoin
ainda precisa atravessar mais de uma tempestade para conquistar esse status.
O fenômeno atual ganhou
até nome: “debasement trade”. À medida que cresce a pilha de dívidas nos
Estados Unidos, Japão e Europa, investidores buscam alternativas. O iene
desmorona diante da promessa de estímulos no Japão, a França mergulha em crise
política e os EUA enfrentam um impasse fiscal que enfraquece ainda mais o
dólar. Nesses momentos, ouro e bitcoin sobem juntos, mas a lógica é clara: é a
fuga de moedas fiduciárias para ativos que simbolizam escassez.
Mas a euforia também
pede cautela. A estrategista Nicky Shiels lembrou que o ouro subiu mais de US$
500 em apenas 25 dias, chegando a ser negociado 25% acima da média móvel de 200
dias — um patamar raramente sustentável. Na história recente, esse tipo de
movimento foi seguido por correções médias de -15% em poucas semanas. A lição é
clara: mesmo em meio ao frenesi comprador, não existe linha reta para o
infinito. Quando alguém insiste que “desta vez é diferente”, normalmente é
porque não aprendeu com os ciclos anteriores.
Essa combinação — a
legitimidade secular do ouro, o surgimento do bitcoin como alternativa e o
comportamento errático das moedas fiduciárias — mostra que vivemos um momento
de redefinição do que significa “reserva de valor”. O relatório do Deutsche
Bank reforça que, apesar da euforia atual, tanto o ouro quanto o bitcoin
carregam volatilidade e riscos de liquidez. Em outras palavras: a busca por
refúgio nunca vem sem custo.
A ironia é inevitável:
na nota de cem dólares lê-se “In God we Trust”. Diante do cenário atual, a
frase poderia ser adaptada para “In Gold we Trust”. Ao menos até que os
investidores recuperem a confiança de que o dólar não corre risco de extinção.
E para quem estiver incomodado com suas reservas em verde, mantenho em aberto a
brincadeira que lancei certa vez: o serviço “0800-Mosca”, disponível 24 horas
por dia, em qualquer lugar do mundo, para retirar os dólares de quem já não os
suporta.
Análise Técnica
No post “permanecendo-nas-cavernas” fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: “A correção
aconteceu, mas foi mínima, uma queda de 1,9%. Será que vale a pena entrar? Não
me parece um bom risco-retorno. Seria necessário associar um stop loss em torno
de 1,5% para tentar buscar 2,5%.” “Não sei se a onda (4) vermelha
terminou e já ruma para completar a onda (5) vermelha. Se não terminou,
talvez seja possível entrar em uma retração.”
A bolsa consinto subindo sem dar a menor chance para entrar. Agora, segundo minha contagem, estamos próximos de completar a onda (v) vermelha e iii laranja. Vamos ter que ficar chupando o dedo até que uma correção aconteça. Minha viagem não custou caro, custou muitooooo caro!
Nesses momentos penso como é salutar não operar contra um mercado em alta (ou baixa), só porque emocionalmente você ficou p$to por ter enxergado a alta (ou baixa) e não ter se aproveitado. Aí vai querer acertar na queda eventual para justificar sua inação. Pode estar certo de que, nestes casos, muito pior do que ter perdido a oportunidade é ter prejuízo com a posição vendida (ou comprada). Aceite o erro e não lute contra o mercado.
O S&P 500 fechou a 6.714,
com queda de 0,38%; o USDBRL a R$ 5,3505, com alta de 0,71%: o EURUSD a € 1,1650,
com queda de 0,53%; e o ouro a U$ 3.981, com alta de 0,52%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário