O Blefe #S&P 500

 

O que acontece na China é sempre envolto em mistério. Faz parte da sua estratégia esconder o jogo e deixar o adversário se perder nas próprias suposições. Agora, com o prazo se aproximando para a aplicação da tarifa de 100% sobre as importações chinesas pelos Estados Unidos, a tensão aumenta. Trump pode recuar, como já sugeriu, afirmando que “um nível desses seria insano”. Mas o simples anúncio do imposto já cumpriu sua função política: pressionar Pequim e testar até onde o país está disposto a resistir.

A chamada “carta das terras raras”, usada por Pequim como ameaça de retaliação, pode ter impacto de curto prazo. No entanto, seu efeito estrutural tende a ser limitado — os EUA já firmaram acordos com a Austrália e estudam cooperação com o Brasil para desenvolver cadeias alternativas de extração e processamento desses minerais.

Trump, que flerta com a retórica da guerra comercial, sabe que essa disputa é menos sobre tarifas e mais sobre hegemonia tecnológica. Washington tenta conter a ascensão chinesa no setor de semicondutores, enquanto Pequim busca retaliar com o controle sobre os insumos críticos. O problema é que, na prática, a China também depende de chips avançados, máquinas de litografia e software ocidental — o blefe, portanto, é mútuo.

O teatro da força

Segundo John Authers, os mercados voltaram aos recordes impulsionados pela percepção de que Trump e Xi poderão, mais uma vez, “resolver” o conflito comercial. Em poucas semanas, o S&P 500 subiu quase 3%, e os Treasuries longos se valorizaram 1,8%. Tudo isso baseado em declarações vagas de um presidente que já mostrou ser capaz de mover trilhões com uma simples frase.

Mas enquanto o mercado celebra promessas, a realidade industrial continua se deteriorando. A economia chinesa, que durante décadas surfou o boom imobiliário e a urbanização, agora enfrenta um colapso silencioso no setor de propriedades. O artigo da Bloomberg mostra que investidores estrangeiros — entre eles BlackRock, Carlyle e Oaktree Capital — estão amargando perdas severas em ativos de escritórios e resorts.

O capital que, durante quinze anos, acreditou no “milagre chinês” agora tenta sair, vendendo a qualquer preço. O resultado é uma sequência de vendas forçadas, com descontos superiores a 40% sobre o valor de aquisição. Escritórios antes disputados em Xangai e Pequim estão vazios, e os aluguéis despencaram quase 7% em um ano. No caso da Evergrande, o símbolo máximo da bolha imobiliária, o que restou foram ruínas de um projeto de 1.500 acres batizado de Veneza à beira-mar — hoje um monumento à especulação e ao excesso.

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O blefe de Pequim

Enquanto tenta mostrar força, Pequim joga no limite entre o controle e o desespero. A estratégia de restringir exportações de terras raras, descrita por Karishma Vaswani, é um movimento tático para testar até onde Washington está disposto a ir. O governo chinês sabe que não pode vencer uma guerra de tecnologia, mas pode prolongar o jogo o suficiente para desgastar o oponente.

Essa disputa é também um teste de nervos. Xi Jinping pensa em décadas, não em ciclos eleitorais. O Partido Comunista vê o conflito como uma prova de resistência política e ideológica. Ao tensionar os limites, Pequim observa como Washington reagirá — especialmente em temas sensíveis como Taiwan. O comércio virou o laboratório para um embate muito maior: o da supremacia global.

Os Estados Unidos, por sua vez, tentam reunir aliados. O Departamento do Tesouro mencionou a criação de uma coalizão envolvendo Europa, Austrália, Canadá, Índia e outras democracias asiáticas. É o início de uma estratégia de contenção, semelhante à que marcou o período da Guerra Fria, mas agora voltada a cadeias produtivas de tecnologia e energia crítica.

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O império das aparências

A força econômica chinesa, sustentada por um Estado onipresente e pela disciplina social, não mascara a fraqueza estrutural do país. Mais da metade da riqueza das famílias está concentrada em imóveis — o mesmo ativo que agora desaba. Ao contrário dos Estados Unidos, onde o patrimônio é diversificado em ações e fundos, o cidadão chinês tem na moradia seu principal investimento. A destruição desse valor não é apenas financeira, é cultural e política.

O Partido não pode admitir o fracasso da narrativa de prosperidade. Por isso, estimula exportações, manipula o câmbio e injeta crédito em setores saturados. O crescimento oficial de 5% é mais uma meta fabricada do que um reflexo da atividade real. É o velho truque da economia dirigida: quando o consumo não reage, produz-se para exportar; quando as exportações caem, investe-se em infraestrutura que ninguém usará.

O blefe de Pequim é duplo — para fora e para dentro. Mostra ao mundo que pode desafiar os EUA, enquanto tenta convencer sua população de que ainda há uma direção clara. Mas a verdade é que a China está presa no labirinto que construiu: uma economia baseada em alavancagem e controle, dependente de crédito e cercada de desconfiança.

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A vez de Trump

Trump, por sua vez, parece ter reencontrado seu papel preferido: o de protagonista de uma disputa global. Suas ameaças cumprem função política interna e mobilizam o eleitorado com a velha narrativa de “América enganada pela China”. Mas ao mesmo tempo, ele sabe que os EUA não podem prescindir das commodities raras que sustentam a revolução digital — do chip ao carro elétrico.

O jogo é de blefes recíprocos, onde o tempo trabalha a favor dos dois: para a China, que precisa de estabilidade social; e para os EUA, que buscam preservar a liderança tecnológica até a próxima eleição.

No fim, o que vemos é uma dança de aparências, onde cada lado tenta parecer mais forte do que é. E como sempre, o mercado acredita no que quer acreditar — até que o próximo tweet, ou decreto, lembre a todos que as narrativas também colapsam.

O mercado de ações, que é um bom termômetro, e depois do susto de alguns dias com queda de 2,7% num dia, se recuperou e está beirando as máximas históricas, como se vai ver na seção abaixo.

 

Análise Técnica

No post “o-problema-é-sempre-do-estoque” fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: “Do ponto de vista técnico estamos no ponto de saber se a correção foi pequena e o mercado vai recuperar, ou tem mais quedas à frente.” ... “No gráfico abaixo, se a correção ficar contida e não ultrapassar 6.480, é possível que nas próximas semanas o índice atinja 6.984 (~5,5%) ou 7.197 (~11%)”


Existem evidências que aumentam as chances de se tratar de uma correção pequena. A principal delas é que a queda no dia do anúncio da tarifa de 100% se formou em três ondas — sinal clássico de correção dentro de uma tendência maior. Assim, a probabilidade de novas altas parece superior à de uma nova queda.

O que ainda não está claro é se a onda iv amarela já terminou, mas saberemos em breve, pois o índice está “beliscando” a máxima.

— David, como o post hoje é de apostas, vamos all in!

Espera um pouco — a aposta é entre Trump e Xi Jinping. O Mosca não tem nada a ver com isso. Posso ter certeza de que os objetivos acima serão testados? Certeza, nunca! Mais provável, sim. Vou acompanhar e informo se fizer uma entrada.

No curto prazo: o índice não pode cair abaixo de 6.498, e precisa ultrapassar 6.674 para confirmar o movimento de alta.


O S&P 500 fechou a 6.742, com alta de 0,11%; o USDBRL a R$ 5,3894, com alta de 0,28%; o EURUSD a € 1,1602, com queda de 0,34%; e o ouro a U$ 4.105, com queda expressiva de 5,77%.

Fique ligado!

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