A riqueza traz angústia #USDBRL
Durante grande parte da vida profissional, tomar decisões financeiras
nunca exigiu de mim grande esforço. Havia método, rotina e, sobretudo, prática
diária — o que fazia a engrenagem girar de forma quase automática. Com o passar
do tempo, já fora do mercado, percebo que a falta de exposição faz com que
limite minha capacidade de decisão, não estou diante de todas as variáveis.
Reconhecer isso é muito importante, pois evita decisões calcadas em informações
passadas, onde antes tinha domínio. E isso, confesso, me incomoda.
Há alguns anos decidi delegar a gestão dos meus investimentos a
terceiros. Trimestralmente, acompanho os resultados, avalio a performance e
discuto a alocação. Ainda assim, noto com frequência a dificuldade das pessoas
em lidar com o próprio dinheiro. Não passa uma semana sem que alguém da família
me procure pedindo uma “olhadinha” no portfólio, ou que minha filha repita, com
convicção, que odeia tudo o que envolve finanças. Tento ajudar, mas aprendi que
nada substitui o tempo na formação da tolerância ao risco.
Os tais “testes de perfil de investidor”, com perguntas do tipo “você
aceitaria perder 10% agora para talvez ganhar mais depois?”, não me convencem.
Qualquer pessoa, em tese, responde sim. Mas o verdadeiro teste acontece no
momento da perda — quando o medo se impõe e as respostas teóricas se dissolvem.
É nesse instante que se conhece o verdadeiro perfil de risco.
Quando o dinheiro nos engana
O Wall Street Journal publicou recentemente um artigo provocador de
Julia Carpenter: “Quanto mais dinheiro tenho, pior sou em administrá-lo”. O
título, além de irônico, é brutalmente verdadeiro. A autora relata que, quando
jovem e com poucos recursos, controlava cada centavo do orçamento com
disciplina. Bastou a renda aumentar para que o rigor desaparecesse — e, junto
com ele, a clareza sobre para aonde o dinheiro ia. O fenômeno é conhecido:
quanto maior o conforto, menor a vigilância.
Especialistas citados no artigo, como Antoinette Schoar do MIT, explicam
que o aumento de renda gera uma ilusão de competência. As restrições se
afrouxam, e o indivíduo passa a “graduar-se” do orçamento. Surge o lifestyle
creep, a expansão silenciosa do padrão de consumo. O chope barato vira coquetel
de vinte dólares, e o bar da esquina dá lugar ao restaurante estrelado. A nova
rotina parece merecida — e, de certo modo, é —, mas o hábito de controlar
gastos evapora.
Um estudo da Universidade de Chicago reforça a tese: pessoas com menos
recursos tendem a enxergar as decisões financeiras de forma mais nítida do que
os ricos. São obrigadas a ponderar cada gasto, a fazer trocas conscientes para
não sair do orçamento. O rico, ao contrário, compra tempo e conveniência — e
com isso perde a conexão com o custo real das escolhas.
O novo personagem: o “agente financeiro artificial”
Mas o mundo não parou por aí. Outro artigo do Wall Street Journal,
escrito por Jack Pitcher, descreve o próximo capítulo dessa história: a chegada
dos agentes de inteligência artificial capazes de administrar toda a vida
financeira de uma pessoa. Empresas como Vanguard e eToro estão testando
sistemas que cruzam dados de contas bancárias, cartões de crédito e aplicações
para sugerir — e, com autorização, executar — as melhores decisões financeiras.
O sistema da Vanguard, por exemplo, já utiliza IA para redigir
relatórios personalizados e atender clientes fora do horário comercial. A eToro
deu um passo além: criou o Tori, um agente que opera estratégias de
investimento em nome do usuário, semelhante aos algoritmos usados por hedge
funds. Pela primeira vez, o investidor de varejo pode ter um “gestor digital”
tomando decisões automáticas em tempo real.
Não há dúvida de que essa tecnologia será revolucionária. Mas será
confiável?
No papel, parece perfeita: uma máquina sem emoções, programada para agir de
forma racional e consistente, sem medo nem ganância. O problema é que o
investidor humano, aquele que assiste à conta flutuar no vermelho, não é
racional. A confiança, mesmo quando o sistema funciona, demora a se firmar.
Imagine um aplicativo lhe dizendo para vender o ativo que você adora ou comprar
o que você teme. A reação instintiva será duvidar. E talvez essa dúvida seja
saudável.
O paradoxo do controle
Eu mesmo não sei o que aconselhar aos que não gostam de lidar com o
próprio dinheiro. Talvez a única certeza seja que, à medida que se acumula
patrimônio, o tema se torna inescapável. Delegar pode aliviar a ansiedade, mas
não elimina a responsabilidade. A riqueza não compra serenidade; ao contrário,
muitas vezes traz angústia, como escrevi no início.
Há um paradoxo curioso: quanto mais poder de decisão alguém tem — seja
por dinheiro, informação ou tecnologia —, mais frágil se torna diante das
próprias escolhas. É o que o professor Eldar Shafir, de Princeton, descreveu
como a “mala orçamentária” que se expande até o ponto de se encher de coisas
inúteis. Quando tudo cabe, perde-se o senso do essencial. E talvez a
inteligência artificial venha justamente para devolver algum limite, ainda que
digital.
Mas, como costumo dizer aqui no Mosca, o que não se mede, não se
controla. Seja com um caderninho, uma planilha ou um agente de IA, o primeiro
passo é sempre encarar os números. Só assim se separa o que é conforto legítimo
do que é desperdício disfarçado de merecimento.
Epílogo
O dinheiro é, antes de tudo, uma relação emocional. Ele amplifica
virtudes e defeitos, mas raramente corrige. A IA pode até organizar melhor as
contas, mas jamais eliminará o medo da perda — sentimento que acompanha o ser
humano desde que o primeiro comerciante errou no troco. No fim das contas,
continuamos os mesmos: inseguros diante da incerteza, ávidos por segurança, mas
incapazes de conviver com a própria tranquilidade.
Talvez a verdadeira competência financeira não esteja em multiplicar o
patrimônio, e sim em conviver com ele sem perder o sono.
Análise Técnica
No post “Eerrando-na-mosca” fiz os seguintes comentários sobre o dólar: “Agora
temos uma situação que pode se esclarecer nos próximos dias. Como podem ver no
gráfico abaixo, existem três ondas claras para cima. A correção que está
acontecendo hoje pela manhã não deveria violar R$ 5,3721, pois neste caso teria
que abortar a ideia de alta. Caso R$ 5,5925 seja ultrapassado, teremos a
formação de cinco ondas. Na correção dessas ondas vou sugerir um trade de
compra. Vamos acompanhar.”
O limite imposto na parte inferior está se aproximando, o que pode indicar que a alta recente era uma onda b dentro de uma correção mais complexa. Com a violação observada hoje pela manhã, refiz a estrutura da correção em andamento. Segundo essa nova hipótese, a área onde pode ocorrer a reversão situa-se dentro do retângulo destacado entre R$ 5,09 e R$ 4,95 — o que, se confirmado, implica em mais 6% de queda.
- Opa David, vale uma venda.
Tome cuidado: estamos dentro de uma onda diagonal, o que significa
movimentos em sub ondas corretivas. Se isso for verdade, por que coloquei essa
nova opção? Primeiro, porque quanto mais o movimento destacado com o símbolo em
verde se aproxima da onda a amarela, maior a probabilidade dessa nova
contagem. Por outro lado, o que pode estar ocorrendo é a primeira parte de uma
onda de alta. Para que entenda, tracei ao lado o que poderia estar acontecendo
(A – B – C, em azul).
- Assim você me deixa tonto! Seja objetivo.
Para não haver dúvida, estabeleci os níveis:
OPÇÃO NOVA: Abaixo de R$ 5,26
OPÇÃO ANTIGA: Acima de R$ 5,56
E nada adianta reclamar, pois não tenho o que fazer a não ser esperar.
O S&P 500 fechou a 6.735, com alta de 1,07%; o USDBRL a R$ 5,3700,
com queda de 0,72%; o EURUSD a € 1,1641, com queda de 0,10%; e o ouro a U$
4.378, com alta de 3,04%.
Fique ligado!
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