3 = 4
Quando estava na escola, sempre vinha um colega com uma
pegadinha desafiando a lógica. A que mais ficou marcada, usei como título do
blog de hoje. Se vocês não se lembram ou não conheçam, começava assim:
(1 -1) = (1-1)
Em seguida, multiplicava um lado por 3 e o outro lado por 4,
uma vez que o resultado se mantinha em zero.
3* (1-1) = 4*(1-1)
Corta-se em ambos os lados da equação (1-1),
resultando em
3 = 4 CQD!
- David, qual a
pegadinha?
Puxa, faz um bom tempo que você não se manifesta, até pensei
que estava envolvido na lava jato! Hahaha...
A respeitada empresa de Consultoria Econômica, Gavekal,
publicou um relatório onde faz uma afirmação completamente contra a lógica dos
analistas, inclusive a minha. Muitos investidores acreditam que as condições
monetárias extremamente frouxas foram necessárias para manter a economia
mundial expandindo, e as doses ainda maiores de injeções monetárias foram
responsáveis pelas bolhas de ativos criadas pelos bancos centrais a partir de
2009.
Embora essas crenças são compartilhadas entre os analistas,
elas são certamente erradas (na sua visão) – essa seria a razão das bolsas não
terem caído, a cada vez que o estimulo foi retirado.
Desde o termino do QE em outubro de 2014, a economia
americana continuou a crescer firmemente, gerando uma média de 190 mil vagas de
trabalho a cada mês. A continuidade de mercados de alta na bolsa, bonds e
imobiliário, também dependeram menos em cada expansão dos balanços dos bancos
centrais.
QE e a apreciação de ativos foi baseada não muito em
economia ou análise financeira, mas sim pela elevada correlação observada na
primeira metade desta década, como ilustrado no gráfico a seguir.
Entretanto, correlação não é indicativo de causação, pois
uma alta correlação parecia estar existindo entre QE e os preços das commodities
nos primeiros anos pós-crise.
Essa correlação terminou totalmente em 2012, assim como a
dependência do FED entre as ações americanas e os bonds, a partir da metade de
2015, como se pode ver a seguir.
A experiência internacional também contradiz a teoria que os
valores dos ativos são determinados pelos bancos centrais. Se o balanço do FED
era a força principal na alta dos ativos americanos, o balanço do ECB deveria
ter um efeito similar nos ativos europeus. Agora, veja a seguir que não existe
nenhuma conexão entre as ações europeias e as compras efetuadas pelo ECB.
A experiência do Japão também mostra ainda mais claro que
não existe correlação entre os balanços dos bancos centrais e a performance das
ações. Da mesma forma com os preços de commodities, que normalmente são
determinadas pelas condições de oferta, e não pelas mudanças nas condições
econômicas ou monetárias, a não ser que sejam extremas, como em 2008-2009.
Assim, qual a conclusão que os mercados podem tirar depois
que a QE começou em março de 2009? A mais importante é que não existe causação
entre os balanços dos bancos centrais e os preços dos ativos. A causa
verdadeira liga a política monetária com e as condições macroeconômicas e vai das
condições macroeconômicas para as ações em bolsa e os outros ativos.
O efeito maior do QE é provavelmente para reforçar a força
real do instrumento monetário; conhecido como o uso de operações convencionais
de mercado aberto para derrubar as taxas de juros e mantê-las nesse nível. A compra maciça de bonds reprimiu as taxas de
longo prazo, induzindo os tomadores e investidores que o custo baixo do crédito
não era uma aberração temporária, mas sim, um fato permanente da vida.
O relatório continua explicando o porquê o mercado de ações
na Europa deveria se valorizar, como aconteceu no mercado americano, e em
contrapartida as ações americanas não são atrativas daqui em diante.
Confesso que à primeira vista não parece crível esse ponto
de vista, porém as evidencias mostradas são convincentes. Caso essa visão
esteja correta, o temor do mercado com a retirada dos recursos pelo FED,
conforme confirmação expressa na ata da última reunião de maio publicada ontem,
não teria um impacto devastador nas ações. Seu maior impacto seria na
normalização dos níveis de juros que ainda se encontram muito deprimidos.
Em relação aos mercados emergentes, valeriam o mesmo
princípio, razão pela qual a Gavekal recomenda a compra desses ativos;
inclusive os brasileiros.
No post confusão-no-meio-campo, fiz os seguintes comentários
sobre o ouro:
...” Como vocês podem observar o ouro está indeciso. Calculo que tanto acima de
US$ 1.300 como abaixo de US$ 1.200, caso rompido, poderá desencadear um
movimento direcional mais intenso. Enquanto continuar nesse intervalo, nada
pode ser dito” ...
Desde essa última publicação, onde no dia o metal teve uma
oscilação forte, ocasionado por fatores exógenos e extravagantes – Trump,
voltou a normalidade diminuindo a volatilidade, padrão observado nos ativos
nesses últimos tempos.
Até parece que o ouro se refugiou no lugar mais seguro, com
a cotação ao redor de U$ 1.250. Indica ao mercado que não sabe para onde ir,
pois está no meio do intervalo. Para os que acreditam na alta, resta o marasmo
observado no mercado de juros americanos de 10 anos, que mesmo com os avisos do
FED que subirá os juros, permanece num letárgico 2,25% a.a.; para os que
acreditam na baixa, dizem que é só uma questão de tempo, pois com a economia
ganhando tração, não tem como essa taxa não subir. Para esse último grupo fui
verificar como estava o GDP projetado pelo FED de Atlanta, 4,1%! Not bad at
all!
E nós do Mosca,
que não temos nada a ver com esses argumentos, esperamos pacientemente o
mercado se decidir.
Queria comentar uma dúvida que surgiu, durante o Comitê de
Investimentos da Rosenberg, quando estava discutindo a queda da bolsa na semana
passada. No post de ontem fiz os seguintes comentários: ...” é absolutamente necessário que alguns pontos sejam
respeitados na justificativa de uma tendência. Em fevereiro o Ibovespa atingiu
uma máxima de 69.400, e na semana passada 68.700. Tudo fazia crer que o
primeiro seria ultrapassado. Mas repentinamente mudou de direção” ....
Algumas colocaram que isso só aconteceu porque jamais se poderia saber que a
JBS estava fazendo uma delação premiada com impacto nos preços. Em análise
técnica não tem esse tipo de argumento, ou lamentação, trabalha-se com um
cenário mais provável que pode não acontecer e, nesse caso, era essencial que
houvesse o rompimento para se certificar que a alta ganharia tração.
Em seguida fui interpelado com outro comentário: “ mas, e se
o ocorrido acontecesse depois do mercado ter cruzado os 70.000? ” Não mudaria
nada, provavelmente seria classificado como um false break.
O que quero enfatizar é que sempre acontece alguma coisa
para repentinamente o mercado mudar de direção, pode ser por um fator externo
ou interno (como posições muito elevadas). Independente do motivo, nós, como
investidores, temos que reagir a essa nova situação, que tinha uma
probabilidade baixa. Mas aconteceu. Bendito stoploss!
O SP500 fechou a 2.415, novo recorde histórico, com alta de 0,44%. Com esse resultado, o trade que tinha sugerido no post fora-jbs, fica cancelado; o USDBRL a R$ 3,2729, com queda de 0,25%; o EURUSD a 1,1209, sem variação; e o ouro a U$ 1.255, com queda de 0,22%.
Fique ligado!
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