O BCE jogou a luva!



Ontem o BCE surpreendeu os mercados ao anunciar um retrocesso em suas intenções colocadas na última reunião de dezembro passado, ao descontinuar um programa de compra de títulos de 2,6 trilhões, e manter as taxas de juros em seus níveis atuais pelo menos até o final deste ano - meses a mais do que havia sinalizado anteriormente. Também emitirá um novo lote de empréstimos baratos, de longo prazo para bancos, a partir de setembro.

Os investidores rapidamente reagiram, à resposta do BCE em relação a desaceleração do crescimento global, que foi mais agressivo do que o esperado.

Taxas de juros negativas na Europa e no Japão, juntamente com taxas nominais historicamente baixas em outras nações ricas, deixam os bancos centrais com pouco espaço para cortar os custos dos empréstimos para fornecer estímulo, se suas economias entrarem em recessão. Os rendimentos dos bônus alemães de 10 anos caíram, um sinal das contínuas condições de empréstimo extraordinariamente frouxas na zona do euro.

Como resultado, os banqueiros centrais globais parecem estar se movendo preventivamente para sustentar o crescimento antes que qualquer desaceleração se aprofunde.

O presidente do BCE, Mario Draghi, disse na quinta-feira que a probabilidade de uma recessão é muito baixa, mas os riscos para a economia continuam prevalentes. A decisão do BCE foi unânime, disse ele. "Nunca pensamos que estivéssemos atrás da curva e de qualquer forma hoje não estamos na curva, com certeza".

A previsões econômicas foram fortemente reduzidas. A seguir as novas projeções para o PIB europeu bem como para a inflação. Mesmo com as projeções elaboradas pela autoridade monetária tendem a ser mais positivas, não são nada animadoras.


O que surpreende é que, uma elevação nos salários da ordem de 2% a.a. nos últimos anos, não trouxe nenhum impacto na inflação, o que de certa forma espanta do ponto de vista econômico.



O impacto nos mercados foi previsível, o euro apresentou uma queda superior a 1%, enquanto o título alemão de 10 anos está praticamente em 0%.

Agora imagine um Portfólio de fundos de pensão alemães, totalmente investido em títulos alemães. Além disso, imagine que 10% da carteira vence a cada ano. Finalmente, imagine que este fundo de pensão precisa pagar 3% do seu valor todos os anos em benefícios previdenciários.

Entre 2007 e 2011, o rendimento desses títulos oscilou em torno de 3%, sendo assim, esse fundo de pensão não enfrentou problemas. O rendimento foi aproximadamente igual a taxa de distribuição, garantindo que o fundo de pensão poderia pagar seus pensionistas com o recebimento de seus cupons.

No entanto, desde 2012 com Mario Draghi, os juros adentraram no campo negativo, os rendimentos entraram em colapso e agora pairam em torno de 0,3%. Para esse hipotético fundo de pensão alemão, sua renda de cupons dos títulos em 0,3%, agora já não é suficiente para cobrir o pagamento anual aos seus pensionistas (3%). Isso significa que precisa vender títulos. Logicamente, os primeiros títulos serão os com cupom mais alto, comprados há muito tempo, porque esses são os títulos sobre os quais o fundo fez as maiores mais-valias.

Isso significa que o fundo receberá cupons médios menores no futuro. E naturalmente, o produto de títulos em maturação e quaisquer novas entradas serão investidos com rendimentos menores. 

Eventualmente, o fundo de pensão ficará sem títulos mais antigos para vender, e a única solução será: a) começar a pagar pensões do seu capital, ou b) reduzir seus pagamentos de pensão em massa, correndo o risco de chicotear um cavalo morto.

Quando a taxa de juro chega a zero, depois de um tempo, os ganhos de capital desaparecem, e a única forma de manter o consumo é começar a esgotar o estoque de poupança. Nesse momento, os pensionistas param de receber o retorno do seu capital para receber parcelas do seu capital.

Mesmo com todos os efeitos negativos que uma política de juros negativos ocasionam sobre uma economia, o BCE preferiu dobrar a sua aposta a fim de evitar o risco maior de uma deflação – mesmo sem garantias que não irá ocorrer. Como diz o provérbio, e para enfatizar a gravidade da situação, o BCE ao invés de jogar a toalha, jogou logo as luvas do boxeador!

No post e-se-os-juros-subir, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ...” vou propor um trade para vender juros a 2,80% com stoploss localizado a 2,92%. O objetivo seria ao redor de 2,5%/2,55%, a ser melhor definido a frente” ...


Por bem pouco nosso trade não foi executado, porém acredito que uma nova oportunidade poderá ocorrer, evitando que se entre no mercado a qualquer preço. Em correções é comum mudanças de plano, os movimentos podem ser bem diferentes do imaginado. São mais de uma dezena de possíveis desenhos, e passa a ser mais uma adivinhação do que uma análise. Desta forma, o que se deve fazer é usar os contornos mais prováveis de contenção e objetivos.


O gráfico acima aponta o que o Mosca vislumbra para os juros nas próximas semanas. Uma pequena alta que nos permitiria entrar com um trade de venda, para em seguida uma queda dos juros dentro do intervalo apontado.

Na teoria de Elliot Wave, a retração do primeiro intervalo se dá ao redor de 2,55%/2,5%, e caso não se detenha nesse nível, o próximo seria ao redor de 2,3%.

Mas muita teoria e pouca prática, sendo assim, fica mantido os mesmos parâmetros estabelecidos antes para o trade. Let’s The Market speak!


O SP500 fechou a 2.743, com queda de 0,21%; o USDBRL a R$ 3,866, sem variação; o EURUSD a 1,1231, com alta de 0,36%; e o ouro a U$ 1.298, com alta de 1,03%.

Fique ligado!

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