Decisão em mão errada



Passamos nossas vidas tomando decisões diariamente em todos os campos. No cotidiano, qual roupa vestir, o que comer, quando acordar, todas têm consequências mínimas, qualquer erro é negligenciável, em outras áreas não é bem assim. No extremo estaria um procedimento medicinal sobre algum sintoma, que na maioria das vezes, é necessário um especialista. Na área financeira também é o caso, se a pessoas não tem conhecimento podem tomar decisões erradas com graves consequências futuras.

Em junho de 2016 o povo britânico votou se a Inglaterra deveria ou não permanecer na União Europeia. Com um resultado apertado de 51,9%, os ingleses optaram em sair. Embora esse refendo não era obrigatório, o governo naquela ocasião decidiu seguir em frente, impondo uma data limite de meia noite do dia 29 de março de 2019.

O primeiro ministro britânico a época, David Cameron, depois de sofrer várias derrotas no Parlamento, decidiu convocar o povo britânico sobre essa questão. Fez campanha para que seu país permanecesse na União Europeia, e após fracassar, anunciou que renunciaria ao cargo.

Nesses 3 anos, acredito que não se passou nenhum dia sem que a palavra Brexit estivesse no noticiário. Creio que quase ninguém consegue entender o que se está negociando, inclusive o Mosca. Esse assunto encheu a paciência! Mas a data final está chegando e até o momento é incerto o que deverá ocorrer, não se descartando um prolongamento do processo e quem sabe um novo referendo.

De forma superficial, consigo concluir que, não existe o menor consenso entre os políticos ingleses do que deve ser feito. Normalmente, quando não se consegue um consenso, é porque a maioria não quer mudanças. Na verdade, parece sem sentido minha afirmação, porém, quando nenhuma das partes cede é porque não confia tanto na sua posição.

Um artigo publicado pelo Wall Street Journal mede as consequências de uma eventual mudança que já está acontecendo desde 2016.

A política do Brexit continua sendo um grande desconhecido, com pouco mais de duas semanas até o prazo final, para o Reino Unido deixar a União Europeia. Os mercados financeiros, enquanto isso, têm precificado a incerteza em lugares inesperados, incluindo custos de financiamento mais altos para seguradoras e bancos, avaliações mais baixas para ações, e taxas de juros mais altas para emissores de títulos de risco. Aqui é onde o preço do Brexit está aparecendo em diferentes cantos do sistema financeiro.

Os devedores com classificações de crédito mais baixas (High Yield) têm sido vulneráveis à incerteza do Brexit. Obrigações corporativas de alto rendimento pagam cerca de 5,6 pontos percentuais a mais em rendimento do que a dívida do governo no Reino Unido, em comparação com uma diferença de 4,2 pontos nos EUA e uma diferença de 4,1 pontos na zona do euro. Um sinal de que os investidores estão cautelosos com empréstimos a empresas endividadas do Reino Unido: como os mercados de crédito se recuperaram em todo o mundo neste ano, os spreads de títulos de alta rentabilidade não caíram tanto quanto os títulos de dólar e euro de alto rendimento.


É mais caro para empresas como seguradoras emprestar em libras do que em euros. Por exemplo, o spread sobre o título de € 650 milhões de 30 anos emitido pela seguradora britânica Aviva em 2013 é agora significativamente mais alto do que o spread sobre o título de £ 30 milhões em 30 anos emitido em 2011.


Os investidores estrangeiros são um fator na menor demanda por ativos do Reino Unido. "Houve uma mudança na forma como os investidores de outros países veem o risco no mercado de libras esterlinas", disse Jonathan Pitkanen, diretor de pesquisa de renda fixa em nível de investimento da Columbia Threadneedle Investments.

Desconsiderando o efeito da libra mais fraca, as ações do Reino Unido mostram o peso do Brexit. Em termos de dólares, o modo como a maioria dos investidores internacionais opera, o FTSE 350 está quase exatamente onde começou em 2016, enquanto o SP 500 subiu 34% e o Euro Stoxx 8%.


Os investidores pagam menos pelas ações no Reino Unido do que há três anos. Em relação aos ganhos previstos, as ações caíram na corrida para o referendo e negociaram a múltiplos mais baixos do que as ações dos EUA desde então. Notem que antes do anuncio do referendo, o P/L era muito próximo ao da bolsa americana, e agora um pouco abaixo da bolsa europeia.


A libra esterlina caiu depois que o Reino Unido votou pela saída em 23 de junho de 2016. Desde então, ela subiu quando a opção de um 'Brexit suave' que mantém laços estreitos com o bloco surgiu, e caiu quando negociações tensas com a linha de esquerda de Londres apontaram para um corte mais abrupto de laços. A pressão dos membros do Parlamento para tirar o Brexit de fora da mesa - o que poderia culminar nesta quarta-feira numa votação para descartar esta opção - fez da libra esterlina uma das moedas do G-10 com melhor desempenho neste ano.


Nesta semana haverá uma decisão importante a ser votada com dois possíveis cenários: a saída na “marra”, ou a extensão do prazo. Acredito que está última será a escolhida, mas quem sou para dizer. O impacto entre essas opções parece bastante claro: na primeira a libra deve cair, as empresas internacionais realocarão seus escritórios fora do Reino Unido, além da piora dos indicadores acima; no segundo caso, um rally da moeda, bolsa e etc ... é esperado.

Não tenho condições de avaliar o que seria melhor para o povo inglês, mas posso dizer com certeza que, para o mundo dos negócios, será péssimo a saída da União Europeia. Se é assim, não pode ser bom para os ingleses de maneira geral. Quando as casas perderem valor, pois inúmeros funcionários serão transferidos, além do aumento do desemprego, talvez quem é contra não vai gostar muito.

Assim como num tratamento de saúde se deve consultar um médico, uma decisão dessas, não se deve consultar a população. A grande maioria da população não tem condições para avaliar todas as consequências. Suas decisões normalmente são baseadas em pequenos fatos que poderiam justificar a separação. O grande erro neste caso, foi colocar em votação um assunto tão complexo cujo down side do voto pela saída era enorme. Na minha opinião, David Cameron foi o responsável por esse erro, ao querer tirar da reta por conta das suas derrotas, sabia que pediria demissão num caso negativo, como acabou acontecendo. Não ficou com o abacaxi!

No post nem-tudo-vira-moda, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” ao nível entre 2.800 e 2.830 existe uma alta probabilidade de acontecer uma queda, que levaria o SP500 entre 2.660 e 2.500” ... ...” essa retração não necessariamente indica que a bolsa reverteu, por enquanto, pelo fechamento de hoje, a retração é um mísero 1%. O mercado pode subir tranquilamente” ...


Inicialmente vejam como o mercado pode enganar, quando se fica atento ao movimento de poucos dias. Como havia mencionado no post acima, a queda ocorrida durante a primeira semana de março, poderia levar algumas pessoas a imaginar que, a correção que eu havia sugerido, estava em curso. Ora, se a bolsa tinha a possibilidade de queda entre 4% a 10%, porque não dar uma faturada. Acontece que, como macaco velho, sempre me atento ao movimento mais amplo, que nesse caso era de alta.

Em situações semelhantes, já me coloquei diversas vezes com esse raciocino, na maioria perdi dobrado, pois além do prejuízo da operação em si, deixei de entrar no mercado na outra direção.

Em relação ao SP500, antevejo duas possibilidades: ou o movimento traçado em verde (1), onde a bolsa buscaria novas altas, podendo até suplantar a máxima histórica de 2.940; ou a região de 2.800/2.830, será novamente rejeitada, o que desencadearia uma correção até o nível aproximado de 2.700, indicada no gráfico com a linha marrom (2).

Sendo assim, e acreditando que a opção (1) possa acontecer no curto espaço de tempo, vou propor um trade de compra, caso o fechamento seja superior a 2.830, com um stoploss bastante curto de 2.770.

O SP500 fechou a 2.810, com alta de 0,69%; o USDBRL a R$ 3,1831, sem alteração; o EURUSD a 1,1334, com alta de 0,43%; e o ouro a U$ 1.310, com alta de 0,65%.

Fique ligado!

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