E se o juro subir



Nos últimos 60 dias o mercado internacional ficou impressionado com a mudança de tom pelo Fed sobre a política de juros. Antes disso, na última reunião de dezembro, Jerome Powell, tinha deixado claro que o ciclo de alta continuaria 2019 adentro. Naquele momento, já se observava dentro do Fed, algumas vozes contrarias.

Depois de pressionado por Trump, quando disse ter se arrependido de o ter escolhido para presidir o banco central americano, além de diversos indicadores fora dos EUA muito fracos, e principalmente o mergulho da bolsa americana, tomou uma posição mais cautelosa, e já na reunião de final de janeiro mudou o tom.

Para o pessoal da velha guarda, onde eu me incluo, fico chocado ao ouvir os economistas afirmarem que os juros estão elevados. Dizem que, caso o Fed mantenha o ritmo, levará a economia à recessão, como sempre ocorreu no passado.

Eu discordo, primeiro que a taxa não está elevada. Com uma inflação ao redor de 2%, o juro real é de 0,5% a.a. Além do mais, os juros longos de 10 anos, também estão extremamente baixos, ao redor de 2,7%. Não é possível que um investimento não seja rentável com esse nível de juros. Se esse é o caso, o investimento é ruim, e não o juro que é alto!

Ao comparar com o passado é fundamental que se analise o nível de juro nominal, pois uma mesma taxa de juro real, aplicada a níveis de inflação de 2% ou 4%, fazem muita diferença. A razão é que o nível de inflação é uma medida geral, e o que vale para uma empresa é a evolução de seus preços. Sendo assim, por exemplo, com uma inflação de 4%, mas um aumento de 0% em seus preços, o juro real para essa empresa é de 4,5%.

Ontem foi publicado o PIB americano em 2,6% para último trimestre de 2018, comparado ao trimestre anterior. Com esse resultado, a economia americana cresceu 3,1% no ano, quase o triplo da brasileira, que foi de 1,1% (muitoooo baixo!). O gráfico a seguir mostra que pelo menos em relação ao PIB, a economia americana não está nada fraca, ao contrário bem aquecida.




Na opinião dos economistas, os estoques das empresas cresceram fortemente no terceiro e quarto trimestres, potencialmente colocando as em posição de reduzir a produção nos próximos meses para reduzir esses estoques. A paralisação parcial do governo, que durou de dezembro a janeiro, provavelmente atrofiou o crescimento no início do ano.

Neste momento, os consumidores estão ajudando a impulsionar o crescimento. Os gastos dos consumidores cresceram a uma taxa anual de 2,8% no quarto trimestre, melhor do que a média de crescimento de 2,4% na expansão até agora. Isso foi impulsionado por gastos com itens caros, como carros e veículos recreativos, além de roupas.

A força dos gastos do consumidor foi um tanto surpreendente, porque o governo havia informado anteriormente que sua contagem mensal de vendas no varejo - um relatório volátil - caiu em dezembro.

"Não temos uma bola de cristal, mas há muitas razões para continuar se sentindo bem em 2019", disse Greg Trojan, diretor executivo da operadora de restaurantes BJ's Restaurants.

"Todas as indicações são, com este nível de pleno emprego e crescimento real da renda, que o consumidor está fundamentalmente em uma posição muito boa, e esse é o pano de fundo mais importante para a dinâmica de vendas".

O outro aspecto positivo do relatório do PIB de quinta-feira foi uma recuperação no investimento das empresas. O investimento fixo não residencial - que reflete gastos com software, pesquisa e desenvolvimento, equipamentos e estruturas - avançou a uma taxa de 6,2%, ante um aumento de 2,5% no terceiro trimestre. O investimento em produtos de propriedade intelectual, como software, aumentou a uma taxa anualizada de 13,1% no quarto trimestre, um potencial precursor para um maior crescimento de produtividade à frente.




Olhando mais para o futuro, o Fed tem uma trajetória declinante, com crescimento da produção econômica de 2,3% em 2019, 2,0% em 2020 e 1,8% em 2021.



A consideração do Fed sobre os juros estava densamente impactada pelos últimos relatórios econômicos mundiais, e nesse período, houveram alguns fatores exógenos, como os descritos acima: China X EUA, paralisação do governo, Brexit. Mas e se esses efeitos cessarem e o resto do mundo começar um movimento de recuperação? Isso é impossível? De jeito nenhum, tudo estava tão deprimido que só o alivio de um acordo comercial poderá dar ânimo de novo.

Não estou advogando que os juros subirão este ano, afinal é tão duvidoso para o Fed, imagina para o Mosca! Mas só quero lembrar que, do mesmo jeito que o Fed recuou sobre esse tema na paralisação dos aumentos de juros, pode voltar atrás. Caso aconteça, vai desencadear um bom estrago nos mercados. 

Só quero relembrar o tema do Mosca esse ano: Quem dá mais. Não está morto!

Um analista político que respeito, Luciano Dias, enfatiza com muita propriedade a qualidade do governo Temer. Com uma popularidade recorde no limite de baixa, usando os termos de mercado, conseguiu colocar as contas públicas, no mínimo sob controle. Talvez seu maior deslize foi a ingenuidade com o Joesley. Se Temer fosse filho do meu pai, isso não teria acontecido, pois na época dos militares era proibido na minha casa qualquer comentário. Se quisesse fazer um, teria que ir a um local público.

Mas mesmo com tudo isso, Temer consegui levar seu mandato até o final. Vejam a seguir, como a dívida pública comparada ao PIB (que foi um desastre), ficou relativamente estável. Volta Temer! Hahahaha ...



No post bolhas-discretas, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ...” um triangulo descendente está se formando – linhas cinza. Nestes casos, o mercado tende a romper para baixo” ... ...” mantenho a minha ideia que uma alta até o nível de 2,80% ainda deve acontecer.


Vejam como o mercado prega surpresas. Como se pode notar no gráfico abaixo, um triângulo descendente estava se formando. Tecnicamente, em 2/3 das ocasiões, o rompimento se daria para baixo, porém neste caso foi para cima. É verdade que somente em 1/3 dos casos isso ocorre, porém como não se repete esse evento inúmeras vezes, permitindo que a estatística prevaleça, deu coroa!



Eu acabei não me envolvendo nesse trade por considerar que o risco x retorno não compensava. Ainda bem!

Ontem com a publicação do PIB americano, o mercado se animou acreditando que nem tudo está perdido. Nesta situação, os juros subiram rompendo a parte superior do retângulo. 

Vou propor um trade para vender juros a 2,80% com stoploss localizado a 2,92%. O objetivo seria ao redor de 2,5%/2,55%, a ser melhor definido a frente ...” sendo assim, vislumbro no curto prazo uma queda dos juros até o nível de 2,5%, ou até 2,3%. Mas o crucial é se for abaixo de 2,0%, ficaria bem preocupado. Nessa situação, as chances de novas quedas se elevam” ...

Quero enfatizar mais uma vez que, não estou trabalhando com uma mudança na postura do Fed em relação aos juros, talvez esse post pode dar essa impressão. Só quis colocar a possibilidade de um outro cenário acontecer. Até não seria lógico sugerir o trade acima, se fosse esse o caso (mudança do Fed).

A vantagem da análise técnica é que eu não preciso me amarrar em nenhuma premissa, só observo o que o mercado quer nos indicar. A única regra imutável é o compromisso com o bolso!



O SP500 fechou a 2.803, com alta de 0,69%; o USDBRL a R$ 3,772, com alta de 0,70%; o EURUSD a 1,1362, sem variação; e o ouro a U$ 1.291, com queda de 1,63%.

Fique ligado!

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