Razões que nem o diabo sabe



Ontem tivemos uma discussão muito produtiva, mas pouco conclusiva, na reunião semanal da Rosenberg. O assunto foi inflação em nível mundial, porque raios não sobe! Estávamos considerando as dos países desenvolvidos, mas em especial a americana.

Ao se observar os dados de forma puramente acadêmica, qualquer um de nós iria sugerir que estaria em alta. Os dados de emprego, salários, atividade econômica (mesmo considerando os altos e baixos), as chances maiores é para que os preços subam.

Tenho observado que os analistas com uma visão mais consistente com o livro texto de economia, a cada publicação do CPI buscam achar um culpado. Assim como o saudoso ex-ministro da Economia brasileiro, Mario Henrique Simonsen, ficou conhecido mais popularmente, ao justificar num determinado mês uma inflação elevada, a causa foi o aumento do preço do Chuchu, esses analistas hoje buscam argumentos no sentido inverso.

Na opinião de Luis Paulo Rosenberg o principal motivo é a ruptura vivida atualmente, função da tecnologia, cujos efeitos não se consegue medir de forma adequada, porém com impacto importante nos preços de forma geral. Como exemplo, foi citado a Uber, seus impactos no mercado de automóveis, transportes e vários outros de difícil mensuração. O que dizer da revolução Amazon, onde se pode comprar qualquer produto da sua cama, com melhor preço e entrega no próximo dia. É indiscutível que existe um efeito importante.

Caso isso seja verdadeiro, o perfil de presidente do banco central, não deveria ser o economista com um excelente mérito acadêmico, mas sim um profissional com visão sobre o futuro, baseado mais em seu sentimento que em modelos matemáticos. Não sei se tem algum com esta característica. O risco que se corre é levar a economia americana a um tombo mais a frente, caso se aperte em demasia as condições financeiras.

Mas nesse meio tempo, devemos conviver sempre com receio que a inflação vai voltar, é questão de tempo, mas que por enquanto, nem o diabo sabe porque está tão baixa.

Hoje foi dia de publicação de índice de inflação nos EUA e no Brasil, vamos iniciar pelo primeiro. O índice do CPI cheio retrocedeu para meros 1,5% a.a., numa sequência de quedas nos últimos 7 meses.



Vou poupar os leitores sobre os detalhes relatados, pois estaria usando a mesma técnica que critiquei acima. Na verdade, a conclusão é que, com todas as pressões que indicariam uma inflação mais alta, não estão causando efeito. A inflação encontra-se bastante estável.

No Brasil, o IPCA do mês de fevereiro foi de 0,43%, ficando acima das expectativas do mercado de 0,37%. Em bases anuais encontra-se agora em 3,89% posicionado no intervalo inferior do regime de metas estabelecido pelo Banco Central.

Espero não encontrar nenhum comentário sugerindo que a inflação agora está subindo e por causa disso o BC teria que subir os juros!



Como de costume, duas informações da tabela acima têm importância em meu ponto de vista, a inflação dos preços livres em 3,25% a.a., e o índice de difusão ao redor de 57%. Ambos indicadores não oferecem nenhum sinal de alerta, ao contrário, indicam uma inflação estabilizada.

Os leitores são testemunha da minha insistência para os investimentos local em títulos prefixados, naturalmente com um risco mais elevado, porém compensando, ou compensava, há alguns meses. Mas além desses, para os investidores mais conservadores, também indiquei a compra de títulos atrelados ao IPCA, principalmente os isentos de imposto de renda. Mas o que desaconselhei, e desaconselho, é o investimento em títulos indexados ao CDI, mesmo esses últimos sem imposto, do tipo “99% do CDI líquido”.


Para auxiliar meus argumentos elaborei a tabela abaixo. Na primeira linha algumas alternativas da taxa Selic, onde destaquei em cinza o nível atual. Considerando que o nível do juro, dos papeis atrelados à inflação, encontra-se ao redor de 4% a.a., a coluna “inflação de equilíbrio” consiste no nível onde seria indiferente investir em títulos atrelados aos CDI ou ao IPCA.


Considerando que a inflação está ao redor de 4% a.a., somente com uma taxa SELIC de 8% a.a. esses investimentos seriam equivalentes. Ao nível atual, uma inflação de 2,4%, os tronariam iguais. Agora, se a taxa SELIC cair, vejam vocês mesmo qual deveria ser o nível de inflação de equilíbrio. É claro, que neste último cenário, o juro real não estaria mais a 4% a.a.

Que tal vale a pena a barbada que seu consultor lhe oferece a “99% do CDI LIQUIDO”? O argumento de não pagar imposto é ótimo, mas existem títulos indexados ao IPCA que também não pagam. Sendo assim, a inclusão da isenção do imposto de renda na análise, não tem vantagem comparativa.

No post engenharia-financeira, fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ...” No caso verde, o limite mencionado acima seria testado e rompido. Por essa razão tenho observado que caso haja o rompimento, vou sugerir um trade de compra. Já no caso amarelo, o mesmo nível seria testado, mas em seguida haveria uma retração das cotações, que poderia levar o metal a U$ 1.250” ...


Por enquanto, o movimento traçado pelo ouro parece livro texto de análise técnica segundo Elliot Wave. Mas como livro texto está em baixa, resta aguardar nos próximos dias o que vai acontecer. No gráfico a seguir, tracei um cenário que parece o de maior chance observado de hoje.


Depois de atingir uma nova mínima abaixo de U$ 1.280, o ouro teria uma alta, onde pretendemos propor um trade de venda, com todos os níveis a serem melhor definidos. Porém existem outras possibilidades que, só serão postuladas, caso aconteça mais a frente. Seria confuso eu explicitar nesse momento, ficamos então, com a mais provável.

Agora só falta combinar com os chineses, que estão a caça do ouro na substituição dos títulos americanos, aparentemente sem pressa. Agora para prevalecer com a estratégia acima, combine com o grupo certo, tem vários outros com diferentes estratégias! Hahaha ....

O SP500 fechou a 2.791, com alta de 0,30%; o USDBRL a R$ 3,8146, com queda de 0,64%; o EURUSD a 1,1290, com alta de 0,37%; e o ouro a U$ 1.301, com alta de 0,57%.

Fique ligado!

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