Caminho incerto



Os mercados internacionais estavam abertos durante o período de Carnaval. Nessa pequena interrupção não aconteceu nada de muito relevante, porém se observou uma deterioração das moedas de países emergentes, o que acabou impactando ontem e hoje o real (assunto técnico abaixo).

As manchetes justificaram essa piora do real, como consequência da confusão ocasionada pelo Presidente Bolsonaro com seu Twitter, porém a principal razão não foi essa, na opinião do Mosca, e sim a alta do dólar frente as moedas dos países emergentes. Por exemplo, o peso argentino está em sua baixa histórica.


Aproveitando o assunto, nosso presidente tente se desgastado em assuntos pequenos, desnecessários. Fico na dúvida se é inexperiência ou falta de discernimento, espero que seja o primeiro motivo.

Amanhã será publicado os dados de emprego nos EUA, e como sempre, esse indicador desperta a atenção do mercado. Com níveis muito baixos, levam a um temor inflacionário. O gráfico a seguir compilou dados desde 1955. O mesmo aponta uma elevação da inflação caso a taxa de desemprego avance para níveis ao redor de 3%.




Em relação ao ADP publicado ontem, o mesmo relatou a criação de 183 mil vagas. Não se deve esperar um resultado oficial muito diferente do esperado em 180 mil. Como o gráfico abaixo denota, a criação de empregos está se mantendo estável desde 2010, situação bastante diferente quando comparada com a Europa, cuja a única exceção é a Alemanha, que caminha no mesmo sentido dos EUA.




Os mercados esperam que o Fed não vai alterar o juro este ano. Em sua visão – do mercado, eles poderiam tirar um longo período de férias, evitando mudanças como a que ocorreu nos últimos 90 dias. A probabilidade de um misero aumento é de zero (o gráfico aponta a relação inversa, o qual seja, a probabilidade de manutenção nos níveis atuais).




Já os economistas estão prevendo uma alta gradual da inflação para os próximos dois anos, conforme gráfico a seguir. Caso estejam corretos, será muito difícil que o Fed não suba o juro em algum momento. Não se pode esquecer que, vários membros do Comitê têm essa opinião, e ganhariam força em seus argumentos.




Como friso no título de hoje, sugiro aos leitores que não se posicionem de maneira rígida. É muito importante a manutenção da flexibilidade, pois o caminho é incerto.

A seguir, encontra-se a taxa de juro real implícita nos títulos de 10 anos de diversos países emergentes. O Brasil, ainda se mantem como o campeão, com taxa superior a 5% a.a. Na verdade, os títulos usados nessa análise são os prefixados, onde existe uma boa parcela de prêmio de risco, o mesmo não acontecendo nos títulos indexados à inflação (NTNB). Mesmo nesses, ainda são superiores a 4% a.a. Sendo assim, não existe espação para mais quedas de juros?




A figura a seguir apresenta algumas informações interessantes. No gráfico acima, o que chama atenção é o elevado endividamento do Japão. Não fosse esse o país, o mesmo já tinha quebrado a muito tempo. Esse endividamento é oriundo de uma política adotada há várias décadas, cujo objetivo foi evitar uma deflação no final dos anos 80. Desde então, a dívida só cresceu, não conseguiu retornar à normalidade.

No gráfico inferior compara o nível da dívida em relação ao PIB per capta. Notem que os emergentes se encontram na base inferior do eixo y, enquanto os desenvolvidos encontram-se na parte intermediaria e superior. Até aí nenhuma grande novidade. Acontece que existem duas moedas consideradas porto seguro, quando existe desconfiança do dólar, são elas o franco suíço e o yen japonês. A primeira com todo mérito, baixa dívida e elevado PIB per capta, agora a segunda não mereceria este status.



No post tirando-o-bode-da-sala, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” No gráfico a seguir, se nota que o dólar desde o início de 2019, está contido no intervalo entre R$ 3,65 a R$ 3,80. Obediente como um bom soldado (capito? Hahaha ...). Mas em algum momento, esse soldado vai se rebelar e as cotações se movimentarão para cima ou para baixo” ...


Ontem as cotações ultrapassaram o nível estabelecido dentro do retângulo, ocasionando uma reavaliação. Ainda continuo com a hipótese que estamos numa correção e que cotações mais baixas, ao redor de R$ 3,50/R$ 3,55, serão atingidas. Porém permanecem alguns limites que estão estabelecidos no gráfico abaixo.


Como podem notar, imagino duas hipóteses onde poderia ocorrer a reversão, e o início da queda.

1.       Triângulo (marrom) – Nesse caso não se supõe uma alta acima de R$ 3,92, ficando contido nas linhas marrons até que o rompimento ocorra mais adiante.

2.       Zig – Zag (vermelho) – Enquanto as cotações não ultrapassem R$ 4,22, o dólar subiria até um nível preferencialmente ao redor de R$ 4,02, para em seguida iniciar o movimento de queda.

Não tenho nenhuma anteposição entre ambos, vai depender das besteiras do Bolsonaro, ou quem sabe do Trump. Agora o que não pode acontecer é exceder a barreira dos R$ 4,22. Nesse caso, meu cenário de longo prazo para alta do dólar seria antecipado.

Não vou em calcular quais seriam os objetivos caso esse último cenário ocorra, afinal, minha preferência ainda é pela queda. Vamos acompanhar. Pode ser que, em algum momento, proponha um trade de venda de dólar. Em todo caso, a liquidação da posição que detínhamos vendida no dólar se mostrou acertada.

O SP500 fechou a 2.748, com queda de 0,81%; o USDBRL a R$ 3,8741, com alta de 0,90%; o EURUSD a 1,1180, com queda de 1,10%; o ouro a U$ 1.285, sem variação.

Fique ligado!

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