Futurologia



A Gavekal publicou um relatório contendo algumas observações sobre os mercados que fugiram a logica num momento como esse. É de se esperar que num movimento de aversão ao risco, o dólar tende a se valorizar em detrimento das outras moedas, além de uma queda dos juros em virtude desse movimento de compra da moeda americana.

Vejamos quais os pontos dessa análise:

Nos EUA, o rendimento dos títulos de 10 anos diminuiu, mas não na Europa, China ou Japão. Na Europa, os títulos italianos subiram (destacando que para vender ativos italianos permanece uma reação instintiva em caso de dúvida), enquanto o rendimento alemão caiu -5 pontos.

Nos EUA, os rendimentos caíram muito mais. A princípio, isso pode parecer contra intuitivo. A economia alemã é mais cíclica e mais globalmente integrada que os EUA. Se o Covid-19 estiver definido para atrapalhar o crescimento global, é possível que os bunds (codinome dos títulos alemães) devam cair pelo menos tanto quanto, se não mais, do que os rendimentos do tesouro. Mas isso não aconteceu.

Outra explicação poderia ser que o mercado está começando a precificar mais cortes de juros pelo Federal Reserve, enquanto o Banco do Japão e o Banco Central Europeu dificilmente reduzirá as taxas de juros em território negativo. Enquanto isso, o Banco Popular da China continua em duvida sobre essa ação. Em suma, se o Covid-19 deve ser combatido pela impressão de dinheiro, o Fed terá que liderar a batalha.

O dólar não estourou, apesar da corrida para a segurança. A moeda expressa pelo índice DXY testou o limite de sua faixa de negociação de cinco anos, mas até agora não rompeu decisivamente, e até recuou aproximadamente 2%. Isso pode ser surpreendente, dado que o EUA foi visto como o porto seguro em todas as tempestades recentes - a guerra comercial, a zona do euro com fraco crescimento, tensões no Irã etc. - que o capital estrangeiro despejou em ações e títulos americanos.

O dólar ainda pode subir decisivamente. Por outro lado, a falta de uma fuga poderia refletir (i) a deterioração do saldo fiscal dos EUA, (ii) a polarização da política americana, (iii) a ascensão de Bernie Sanders, cujas posições sobre tudo, desde uma taxa sobre patrimônio, impostos corporativos, a impostos sobre ganhos de capital, podem causar tanto aos estrangeiros como os investidores locais, a reconsiderar seus investimentos nos EUA.

O renminbi tem estado firme diante de notícias desafiadoras. Nos últimos anos, Pequim enfrentou a guerra comercial, protestos em Hong Kong, peste suína africana e agora Covid-19. Por tudo isso, o renminbi negociou em torno de 7,00 CNY. Isso pode significar que (i) o renminbi está próximo a entrar em colapso uma vez que, a extensão do dano ao comércio da China se torne clara, ou que (ii) o governo chinês e o banco central estão gerenciando ativamente o câmbio – ou para evitar pânico; ou para evitar aumentos de preços importados, pressionando a inflação acima da taxa atual de 5,4%; ou para evitar irritar os mercantilistas na administração de Donald Trump. Seja qual for o motivo, a estabilidade do renminbi em face da calamidade econômica é uma mensagem importante.

Juntando  tudo isso sugere três cenários possíveis:

1) Como na China, e agora na Itália, os governos tentam conter o Covid-19 através da quarentena em massa, mesmo à custa de grandes deslocamentos econômicos. Diante desses deslocamentos, o Fed reduz ainda mais as taxas de juros - até zero, mesmo que apenas para garantir que os mercados acionários dos EUA não caiam em um ano eleitoral. Isso desencadeia uma recuperação adicional nas cotações do ouro, queda no dólar americano, rendimentos mais baixos de títulos no EUA, e a continuidade da alta nas ações de tecnologia nos EUA. Este é o cenário em que o mercado ultimamente tem precificado.

2) Os governos respondem ao Covid-19 como acima, mas o Fed, como o PBoC, ficam estáticos, julgando que o dinheiro mais fácil fará pouco para amortecer a economia contra o choque exógeno de uma pandemia. Neste cenário, é provável que o dólar comece a subir, mesmo que também o ouro continue a subir . As ações continuam caindo e os rendimentos dos títulos provavelmente são lineares, já que os investidores continuarão a esperar cortes de taxas de juros mais a frente.

3) Covid-19 é menos contagioso ou menos mortal do que agora temido, e o mundo aprende a viver com ele, assim como aprendeu a viver com ele H1N1 em 2009. Com o tempo, o Covid-19 passa a ser visto como a primeiro pandemia da mídia ”- uma doença assustadora, mais assustadora pelas mídias sociais, notícias e a reação exagerada dos governos obrigados a serem vistos como fazendo alguma coisa. Nesse cenário, é provável que as curvas de rendimento se acentuem novamente, que o ouro caia, e que as ações globais se recuperem.

Este rally provavelmente será liderado pelo cíclicos - energia, industriais, materiais - que sofreram desproporcionalmente devido ao medo de um colapso no crescimento global. Os dados recentes da China, com o número diário de novos casos continuando a cair, parece apontar para esse cenário. Mas agora, a confiança nos dados chineses é
mínima.

O mercado está apostando na ideia de que o impacto econômico do Covid-19 será profundo e duradouro, e que o Fed reagirá adequadamente. Essas são duas grandes suposições. Se um deles estiver errado, o retrocesso para várias classes de ativos – incluindo os títulos - poderia ser vicioso.

A queda das bolsas em magnitude nem são tão elevadas assim, mas o que assustou os investidores foi a velocidade. Essa reação é típica de momentos de incerteza alavancado pela sua propagação na mídia.



Em todo caso, os panoramas traçados pelo Mosca no final do ano passado apontavam para dois cenários possíveis. No início do ano, um deles tinha sido abandonado haja visto que, as cotações atingiam altas diárias. Agora, com essas quedas, é bem provável que a opção alternativa ganha tração novamente. Acompanhem na próxima semana minhas ideias sobre os principais mercados.

No post diferença-entre-investir-e-especular, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ... “quanto o juro pode ainda cair:

1)      No nível aproximado de 1,4%, existe dos fatores fortes para que seja contido: é o mínimo atingido no “caixote” em diversos anos, além de atender um parâmetro técnico segundo Elliot Wave.

2)      Se 1,4% for ultrapassado o próximo nível é de 1,25.


3)      E por último, o intervalo entre 0,95% e 0.85%” ...

... “Se alguém me perguntar qual a chance de que existam quedas abaixo dessa última vou classificar com muito pouco provável, pelo menos com as evidências existentes hoje”...


O juro foi direto para o segundo nível apontado acima, ao redor de 1,25%. Parece que a queda ainda teria mais alguns recuos a atingir. Apontei a seguir uma área, ainda bastante grande, onde poderia haver uma reversão.


O próximo intervalo deveria se situar ao redor de 1,0% que se rompido levariam os juros para 0,85%. Como frisei acima, acredito que a chance de retenção nesse último nível é elevada.

Mas com a volatilidade desses últimos dias está muito alta, podemos esperar qualquer resultado, sendo assim, estou subindo o stoploss de nossa posição para 1,3%.

A título de curiosidade vejam como os bonds americanos reagiram nos diversos surtos que ocorreram no passado. Esse gráfico é de ontem, mas os dados do coronavírus já estão desatualizados!



O SP500 fechou a 2.954, com queda de 0,82%; o USDBRL a R$ 4,47936, com queda de 0,15%; o EURUSD a 1,1025, com alta de 0,25%; e o ouro a U$ 1.579, com queda de 3,79%! (o pessoal que comprou não deve estar entendo bem a reversão do ouro, mas existe razões, acompanhem o Mosca na próxima semana sobre o assunto.



Fique ligado!

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