Dúvida cruel



Hoje foi noticiado que o volume de recursos alocados na bolsa por brasileiros suplantou a dos estrangeiros (52% a 48%). Apesar dos estrangeiros terem retirado R$ 40 bilhões, a diversificação efetuada pelos investidores locais suplantou essa cifra, motivado pela queda do juro.

Os investidores locais com pouca ou nenhuma experiência em mercados de risco, estão se aventurando em novos mares. É natural que sintam receio, uma vez que, no passado tiveram diversas frustrações quando decidiram pela mesma alocação.

Mas será que agora é diferente? Olhando de hoje eu acredito que sim. A equipe econômica que está no comando do país tem claro o que deve e o que não deve ser feito, e caminham no bom sentido para colocar o Brasil na direção do desenvolvimento. Não me perguntem o que eu acho do Presidente Bolsonaro, cada vez mais, isso é menos importante, do ponto de vista da economia, que é o que interessa para o Mosca.

Assim como pular numa piscina pela primeira vez dá medo, investir no mercado de risco é igual. Segundo Kahneman, economista que conquistou o prêmio Nobel com sua tese, perder 5% num investimento tem um efeito muito maior que ganhar 5%. O comportamento do investidor é assimétrico, quando está ganhando “canta de galo” para seus amigos, e quando está perdendo normalmente abandona o mercado na pior hora.

Como decidir o melhor momento para entrar? Criou-se a ideia que ao comprar quando o mercado cai – buy on the dips, faria seu investimento ser muito mais rentável que comprar num outro dia qualquer. Porém, um estudo elaborado com os dados da bolsa americana coloca essa estratégia em questão.

Por exemplo, se você escolher aleatoriamente um dia de negociação para a Dow Jones desde 1970, há uma chance de 95% de o mercado fechar mais baixo em outro dia de negociação no futuro. Isso significa que apenas 1 em cada 20 dias de negociação (ou seja, ~ 1 por mês) fecha a um preço que nunca mais será visto. Apenas 1 em 20 dias de negociação oferece uma barganha absoluta.

Para visualizar isso, plotou-se o Dow (em preto) e seu menor preço futuro absoluto (“marca d'água baixa”) desde 1970 (observe que o eixo y é uma escala logarítmica):


A linha vermelha acima (“marca d'água baixa”) representa o menor preço futuro que o índice alcançará a partir desse momento.

Por exemplo, de 15 de abril de 1997 a 9 de março de 2009, a marca d'água baixa é 6.547. Esse número representa o fundo alcançado em 9 de março de 2009 durante a Grande Crise Financeira. Qualquer pessoa que comprasse o Dow após 15 de abril de 1997, mas antes de 9 de março de 2009, tecnicamente poderia obter um preço melhor se tivesse esperado até 9 de março de 2009 (supondo que soubesse o futuro). Aplicando essa lógica a todos os momentos, é possível recriar a linha vermelha acima.

Por fim, sabemos que a linha vermelha é plana 95% das vezes, porque (como mencionado acima) 95% dos pregões terão um preço de fechamento mais baixo no futuro.

Por que essa linha é importante para o timing do mercado? Porque toda vez que a linha vermelha se move verticalmente, ela representa um ponto em que alguém poderia obter o preço mais baixo possível.

Quanto tempo você normalmente tem que esperar antes de atingir o preço mais baixo absoluto para qualquer dia de negociação? O tempo médio antes de atingir uma mínima absoluta é de 184 dias úteis (~ 9 meses), mas a média é de 508 dias úteis (~ 2 anos). Alguns grandes declínios (ou seja, acidente de 1974, GCF de 2008) distorcem essa média significativamente. Mas essa nem é a pergunta mais importante a ser feita.

A pergunta mais importante que você pode fazer é: quanto melhor você ficaria se pudesse comprar nesses fundos absolutos? Se você comprou o Dow apenas pelo menor preço possível e economizou dinheiro entre as compras, quanto isso superaria a compra da mesma quantia todo mês?

Resposta: a compra feita apenas no fundo absoluto de 1970 a 2019 superaria o DCA – dólar cost averaging, em cerca de 22% no total, ou 0,4% (40 pontos base) anualmente.

Para visualizar quando a estratégia "Compra de fundo absoluto" faz compras, pegou-se o gráfico acima e se adicionou um ponto azul toda vez que essa estratégia é comprada no Dow. Entre os pontos azuis (ou seja, as linhas vermelhas planas), a estratégia economiza seu excesso de caixa:


Como se pode ver, essa estratégia só compra quando o mercado está em algum tipo de tendência de alta e acumula dinheiro no meio (uma vez que “sabe” que um preço futuro mais baixo está chegando).

Mas, apesar de ter informações sobre preços futuros, a estratégia de compra "Absolute-Bottom" supera apenas 22% (ou 0,4% ao ano) de 1970 a 2019 (Nota: Ambas as estratégias investem os mesmos US $ 12.623 (ou US $ 1 por dia de negociação) durante o período mostrado):


Por que isso é tão inexpressivo? Porque se esperaria que uma estratégia que literalmente conheça o futuro supere em mais de 40 pontos base (0,4%) por ano! O fato de não mostrar apenas o quão tola a busca pelo timing do mercado pode ser.

O que isso significa para você? Isso significa que você não deve se preocupar em obter o preço mais baixo absoluto ao fazer compras de ações. De fato, você provavelmente (95% das vezes) não obterá o melhor preço ao comprar no mercado.

Mas a boa notícia é que isso não importará muito a longo prazo. Por quê? Porque, para mercados com uma tendência positiva de longo prazo, as decisões de tempo que você toma com seu excesso de caixa não serão tão importantes.

Para ilustrar isso, precisamos apenas considerar os preços médios de compra da estratégia de compra de fundo absoluto versus DCA ao longo do tempo:


Como você pode ver, o DCA compra a preços médios mais altos em comparação com a estratégia Absolute-Bottom. Mais importante, porém, as divergências entre os preços médios são maiores durante os mercados em baixa (ou seja, 1974, 2008), mas começam a convergir durante os mercados em alta.

Isso nos diz que as decisões de sincronização têm um impacto significativo de vez em quando (ou seja, durante grandes mercados em baixa), portanto, não devemos gastar tempo se preocupando com elas. Porque você provavelmente perderá mais ao esperar com o dinheiro em caixa do que ganharia se cronometrasse com sucesso o mercado.
Esse artigo tem mais um caráter informativo que uma forma de se investir, afinal, é impossível alocar recursos para a bolsa diariamente. O que mais impressiona é o fato de que ao se investir na bolsa de forma aleatória, somente 1 dia por mês o preço “barato”, os outros, em algum momento no futuro serão mais baixos.

O leitor poderá se questionar por que então seguir o Mosca? É uma dúvida pertinente. Para responder gostaria de enfatizar o objetivo das recomendações como sendo mais tático que estratégico. O que eu quero dizer é que ninguém, ninguém mesmo, merece 100% de confiança. Como todo ser humano, o Mosca pode e vai errar. Sendo assim, sua carteira de bolsa deveria ter 2 componentes uma estratégica e outra tática, a estratégica deve ter o seu objetivo de longo prazo, e a tática te auxilia a calibrar seu portfólio.

Como o assunto é bolsa vou comentar sobre o Ibovespa. No post contagio-não-contabilizado, fiz os seguintes comentários: ... “ Correção pequena – É possível, mas não muito provável que a bolsa brasileira esteja no final desse movimento que deveria ser contido em 112.500, conforme gráfico a seguir” ... ... “Se o Ibovespa ficar contido no intervalo entre 112.500 – 117.100, é bem possível que se trata de uma correção pequena. Se ultrapassar o limite superior aumentam as chances de novas máximas mais adiante, em contrapartida, se o limite de 112.500 for rompido é provável que se trate de uma correção média descrita a seguir” ...


Por que eu coloquei as palavras é bem possível grifadas acima? Porque ex-anti é o que se poderia esperar. Como comentado no post acima, é muito importante o acompanhamento em janelas menores – 1 hora no caso, para buscar mais informações do mercado. O perigo é não se deixar levar por essas evidencias se esquecendo do quadro de mais longo prazo.

A teoria de Elliot Wave assume que os mercados se comportam pela natureza social do homem, e por essa razão, sua expressão gera formas. Essas formas são repetitivas, sendo assim, tem um valor preditivo. As ondas obedecem a formas fractal – estrutura geométrica complexa cujas periodicidades em geral, repetem-se em qualquer escala. Essa é a razão do acompanhamento em várias janelas, pois permite verificar se não existe alguma violação que não é observável numa escala maior.

No gráfico a seguir, com janela de 1 hora, não se observa nenhuma onda de queda com características impulsivas, mas por outro lado, não se pode afirmar que a correção está prestes a terminar, pois parece que estamos numa onda B, a terrível destruidora de lucros.


Não quis poluir o gráfico acima para não confundir os leitores com os possíveis formatos que essa correção pode tomar, pois mesmo tendo um formato que induz a uma modelo poderá ser bem diferente nos próximos dias.

Pensei seriamente em liquidar nossa posição, pois nos níveis atuais, a queda poderia “machucar” nosso retorno. O único motivo atualmente para tal ação seria o desenrolar do coronavírus. As previsões sobre o desenvolvimento desse surto são incertas por um lado, porém os especialistas não acreditam que possa sair de controle. Espero não me arrepender!

O SP500 fechou a 3.297, com alta de 1,5%; o USDBRL a R$ 4,2536, com alta de 0,14%; o EURUSD a 1,1045, com queda de 0,13%; e o ouro a U$ 1.554, com queda de 1,39%.

Fique ligado!

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