IA: salvação ou bicho-papão? #SP500

 



Inteligência Artificial é o assunto da moda. A grande maioria das pessoas, sem saber o que exatamente significa, baixa o aplicativo do ChatGPT e inicia fazendo perguntas simples. Essa atitude ganha espaço em sua vida com questões mais complexas, mas com o passar dos dias retrocede, passando a ser apenas mais um aplicativo dentre os inúmeros hoje existentes.

Mas não é nas mãos do cidadão comum que esse assunto ganha atenção exponencial. As empresas estão mergulhadas nele para entender como podem se beneficiar e se diferenciar de seus concorrentes na busca de inovação e eficiência.

Alberto Dwek, meu parceiro do Mosca, se dispôs a comentar sobre esse assunto complexo e polêmico no artigo que postado a seguir.

Uma ideia antiga

A Lei de Moore tem sido seguida à risca nos últimos 40 anos: um iPhone 14 armazena cem mil vezes mais que o primeiro IBM PC e seu processador é trezentas vezes mais rápido. Com isso, a programação, ou seja, a inteligência humana por trás dos resultados das máquinas, não tardou a aproveitar esse constante acréscimo de capacidade e velocidade para criar uma infinidade de aplicações, que tornaram obsoletos vários objetos anteriormente julgados insubstituíveis: quem ainda usa fax, mapas em papel ou listas telefônicas? E o que dizer de coleções de fitas VHS e discos de áudio e vídeo?

Muito mais que as máquinas, no entanto, as últimas décadas têm mostrado seu maior desenvolvimento na programação. Minha primeira experiência com essa capacidade quase mágica de “ensinar” um objeto eletrônico a fazer o que eu queria aconteceu em 1978, quando conheci a calculadora HP-67, que registrava até 100 instruções sequenciais em fitas magnéticas. É inesquecível a primeira sensação de ver um programa criado no papel transformar-se em resultados imediatos, que antes só eram possíveis com horas e talvez dias de trabalho pessoal. Dali em diante, os softwares evoluíram tanto que uma simples planilha Excel pode conter o equivalente de centenas de milhares de instruções já embutidas em fórmulas prontas, oferecidas como um cardápio de restaurante.

Era inevitável que essa evolução nos levasse ao estágio atual da Inteligência Artificial, na verdade uma ideia já presente nos primeiros robôs da literatura do século 19 e um projeto contínuo desde os primórdios da computação eletrônica. O fundamental Teste de Turing, de 1950, já tentava responder à pergunta: “As máquinas podem pensar?”. A questão continua hoje igualmente premente.

Mas o que é pensar?

Quando o campeão de xadrez Garry Kasparov foi derrotado pelo computador Deep Blue da IBM em 1997, os comentários até que foram comedidos — exceto talvez o choro do perdedor —, provavelmente porque a vitória do computador tinha sido determinada pela simples capacidade de calcular milhões de possibilidades de forma mais rápida, ou seja, basicamente pela força bruta. Mas pensar, criar, aprender? Isso não. À medida que os computadores passaram a ganhar até no extremamente complexo jogo de Go, com suas dezenas de milhares de variantes a partir de um único movimento, ficou claro que não se tratava apenas de simples expansão de processadores, mas de análise profunda.

As redes neurais (neural network), o aprendizado da máquina (machine learning) e o aprendizado profundo (deep learning), baseados na reprodução do funcionamento do cérebro humano, fazem dos computadores máquinas que raciocinam, analisam e aprendem. Para muitos, não há diferença entre essas atividades e uma definição aceitável de “pensamento”.

Parece gente

Mais ainda, os avanços na facilidade de comunicação, vocal ou escrita, já dispensam teclados e especialistas em códigos há um bom tempo. Estamos bem perto de HAL 9000, do filme 2001 de Stanley Kubrick, ou do computador falante da série Star Trek. E chegamos ao ponto de abrir processos de plágio contra produções literárias, musicais e até cinematográficas geradas pelos algoritmos da IA. Sem trocadilho, é um estranho mundo este, em que processadores acabam sendo processados.

Aqui vai uma lista (provisória e não exaustiva) do que a IA faz como nós e melhor que nós: diagnósticos médicos, manejo de máquinas — inclui dirigir automóveis —, pesquisas e comparações de dados, recomendações personalizadas, prevenção de fraudes, tarefas administrativas, filtros de spam, reconhecimento facial, gestão de estoques, tarefas agrícolas, análises e previsões financeiras e econômicas...Estamos falando de áreas especialmente suscetíveis a conclusões baseadas em dados conhecidos, que claramente constituem uma grande parte da atividade humana. E nada indica que vamos parar por aí.

Outra enorme vantagem: uma máquina não reclama de salário, não liga para horas extras e trabalha sem precisar dormir nos intervalos. Muito melhor que gente. Não é surpresa que vários movimentos estejam tentando limitar os efeitos da IA no mercado de trabalho. Se máquinas passam a substituir humanos, só uma minoria mais criativa e excepcional vai permanecer com seu prestígio intacto; os outros nem proletários se tornarão, simplesmente serão considerados inúteis.

Calma, ainda não chegamos lá

Pensar, tudo bem. Mas inteligência é algo mais. Embora a IA se destaque na execução de tarefas específicas, ela é incapaz de replicar a intuição humana e muitas vezes tem dificuldade com o raciocínio de bom senso e a compreensão do contexto. Uma situação complexa que exija julgamento, avaliações éticas ou decisões iterativas pode ser impossível de resolver, mesmo para uma IA programada no mais alto nível.

E não adiantam apenas boas intenções: imaginem uma máquina cuja missão seria erradicar as pragas que atacam o ecossistema terrestre; muito antes de incinerar ervas daninhas ou exterminar gafanhotos, sua primeira e principal obrigação seria destruir a espécie humana, sem dúvida a maior criminosa ambiental na história do planeta.

Além da dificuldade em inserir considerações éticas numa lista de instruções ou algoritmos, como evitar conclusões aparentemente obrigatórias baseadas em distorções reais? O simples fato de alimentar o programa com estatísticas prisionais, em que a população não-branca está desigualmente representada, leva ao preconceito do próprio sistema. Como explicar que correlação não indica causalidade?

Mais que a inteligência, o que dizer da consciência, que até agora não conta com uma definição comum nem para os humanos? Os riscos apontados por críticos da IA vêm em sua maioria exatamente da falta de um sistema de valores claramente calcados na percepção consciente do mundo: desinformação e manipulação, recusa do controle humano, perda da privacidade — todos já em curso. A prever também: o aumento da desigualdade pelo acesso à nova tecnologia, uma nova corrida armamentista ou, em caso extremo, a própria desintegração da sociedade. Não é preciso crer na Lei de Murphy para temer a possibilidade de qualquer um desses riscos. Mas seriam inevitáveis?

Salvos pela incompletude

Pense na seguinte frase: “Esta afirmação que você está lendo é falsa.” É o clássico Paradoxo do Mentiroso, uma declaração que encerra sua própria contradição. É também um caso de autorreferência, já que a frase fala de si. Inúmeros paradoxos, desse ou de outros tipos, podem ser construídos e analisados pela mente humana, mas, assim como o senso de humor, estão absolutamente fora do alcance de qualquer computador, por mais inteligente que um dia possa se tornar.

Toda dúvida a respeito já foi dirimida por Kurt Gödel e seus Teoremas da Incompletude, que provam a impossibilidade de um sistema conter todas as afirmações necessárias a sua própria coerência. Em outras palavras, qualquer construção teórica (um programa de computador, por exemplo) sempre dependerá de um elemento exterior aceito como verdade. Um computador pode, portanto, demonstrar teoremas de incrível complexidade, mas só o fará se for devidamente alimentado por algum axioma — que por definição é uma afirmação verdadeira e indemonstrável.

Então está provado: a mente humana é superior à da máquina, ainda que seja porque sempre seremos nós a alimentá-la com dados, axiomas, e códigos de programação. É exatamente neste ponto que reside nossa capacidade de evitar o pior: a definição de regras fundamentais para o desenvolvimento, o funcionamento e o uso da Inteligência Artificial.

Não bastam as Leis da Robótica elaboradas por Isaac Asimov, que em tese proibiriam qualquer prejuízo à espécie humana (e já se provaram insuficientes): precisamos de um acordo global que impeça a criação de sistemas baseados em postulados antiéticos ou simplesmente voltados ao maior bem possível para o menor número de pessoas. Usar a IA apenas para o lucro de alguns ou a dominação de um grupo por outro deveria ser considerado atividade predatória.

Sem Descartes, obrigado

Deixada simplesmente a sua infinita capacidade de processamento racional — seu pensamento, por assim dizer —, a máquina chegará sempre à solução mais eficiente, mas isso poderá significar, como já mencionamos no caso da proteção ambiental, a pura e simples erradicação da humanidade. Mesmo sem ir tão longe, a simples decisão sobre a distribuição de recursos baseada em meros algoritmos de eficiência pode condenar vastas populações à miséria ou à fome.

Em O Erro de Descartes, o neurocientista Antonio Damasio demonstra que as melhores decisões vêm do melhor encontro entre razão e emoção. A história humana está repleta de exemplos de ações aparentemente contrárias à lógica: salvar minorias de desastres, mesmo à custa de recursos escassos; combater forças militares superiores, apenas para defender princípios; dedicar vidas inteiras à procura de soluções sem proveito próprio, apenas para gerações futuras — e a lista é infindável. Assim como a extrema racionalidade pode ser destrutiva, há algo de puramente emocional na evolução humana.

Não somos superiores às máquinas na maioria dos aspectos, apenas no fundamental que garantiu nossa sobrevivência como espécie: sabemos que nossas decisões mais cruciais não são demonstráveis, apenas verdadeiras.

Se a IA deve servir ao bem comum dos humanos, ela nunca deverá ditar nossos caminhos, mas segui-los.

Incialmente, Dwek ficou receoso sobre esse artigo por acreditar que eu rejeitaria essa ideia, em função do meu ponto de vista sobre o assunto. Mas o Mosca é liberal — quantas não foram as matérias publicadas das quais eu discordava; além do mais, não sou contra suas ideias aqui expostas. Mas acredito que o enfoque não deva questionar a “concorrência” como os seres humanos no quesito capacidade de julgamento na forma abrangente, isso certamente os computadores não têm, pois são desprovidos da inteligência emocional – pelo menos por enquanto!

Onde eu acredito que possa ser o diferencial? Na capacidade quase infinita de acessar os dados relativos a um determinado assunto —o que não é possível hoje, mas posso vislumbrar decisões melhores no futuro. Não se pode esquecer o viés que costumamos ter ao buscar dados que justifiquem nossos pensamentos.

Em relação aos trabalhos mecânicos, sem dúvida haverá uma grande substituição, mas isso é ruim? Será que algumas pessoas devem realizar trabalhos rotineiros chatos como se fossem robôs? Uma questão que surge imediatamente é o que fazer com essas pessoas com baixa qualificação. Aí sim, um auxílio tipo bolsa família seria adequado, além de oferecer treinamento de recolocação. Mas não é esse um subproduto do que Joseph Schumpeter classifica como destruição criativa?

Talvez meu espírito empreendedor me leve a ficar entusiasmado com inovações aceitando os prejuízos sociais que elas acarretam. Confesso que não tenho aptidão por políticas públicas, mas cada macaco no seu galho. Acredito que estamos alongando a Revolução Digital que se iniciou na década passada, como frisa Dwek em suas comparações históricas. É excitante o que poderemos vivenciar nos próximos anos.

No post a-china-está-sem-munição fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “decidi liquidar a posição no SP500 ficando agora sem posição em nenhum dos mercados” ... ...”  A onda (iii) parece que terminou antes do que o projetado, o que implicaria numa retração aos níveis entre 4.346/4.312. Caso minha hipótese esteja correta, deveríamos reentrar nesse intervalo” ... Meu alerta acabou acontecendo e uma nova posição foi iniciada no dia seguinte anotada no post ameaça-da-dívida: ... “iniciamos um trade de compra a 4.470 com stop loss a 4.385” ...




O que aconteceu para mudar de opinião tão rápido? Eu fiz alguns ajustes na contagem das ondas que indicavam uma continuidade da alta o que acabou ocorrendo. Segundo esse critério, a onda (3) deveria terminar em breve 4.585 que se sucederia uma correção na onda (4) entre 4.385/4.268. Não pretendo ficar posicionado quando isso ocorrer.




Como vou agir numa situação como essa? Poderia ter 2 formas: ficar de olho e liquidar quando e se chegar no objetivo; ou ir subindo o stop loss conforme a bolsa vai ganhando mais terreno. Não decide ainda qual usar, fiquem de olho. Em todo caso, elevei o stop loss para 4.440

O SP500 fechou a 4.555, com alta de 0,71%; o USDBRL a R$ 4,8080, sem variação; o EURUSD a 1,1229, sem variação; e o ouro a U$ 1.977, com alta de 1,16%.

Fique ligado!

Comentários