A IA pode salvar os EUA #S&P500
A inflação americana tem todos os elementos para subir. Um pensamento lógico e baseado na teoria econômica leva a essa conclusão. Não parece fazer sentido acreditar que aumentos generalizados de tarifas, acrescidos das deportações em massa em um mercado de trabalho apertado, levem à conclusão de aumentos de salários.
A Gavekal vem errando na maioria de seus calls, mas
nem por isso podemos descartar seu trabalho. Conheço bem a categoria dos economistas
e, em algumas situações, eles teimam com suas ideias. Anatole Kaletsky produziu
um relatório onde destaquei seus principais pontos.
Os mercados estão brincando com fogo e fingindo que não
sentem o calor. O otimismo cego com os dados de inflação e a resiliência das
bolsas escondem um problema estrutural: Trump promete um crescimento robusto e
não inflacionário enquanto implementa tarifas protecionistas, cortes de
impostos e gastos astronômicos. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, sonha
com um PIB crescendo 3%, mas a realidade não perdoa – tarifas elevam custos, o
déficit dispara e o mercado de trabalho já aquecido só adiciona lenha à
fogueira da inflação.
O déjà vu dos anos 1970 está escancarado. Nixon
tentou manipular a economia com protecionismo e intervenção estatal e acabou
criando inflação galopante e uma década perdida. Agora, Trump repete o erro,
mirando na China, México e Canadá, além de ameaçar a Europa. O resultado?
Produtos mais caros, menos eficiência produtiva e um cenário perfeito para um
novo ciclo inflacionário. Mas os mercados seguem anestesiados, ignorando que a
política atual é um convite para um choque econômico inevitável.
O Fed já não tem o controle que gostaria. A meta de 2% de inflação virou um sonho distante, enquanto os números reais rodam entre 3% e 3,5%. O mercado aposta que o banco central pode equilibrar tudo sem dor, mas os dados sugerem que qualquer tentativa de domar a inflação será um processo longo e sofrido. O problema se agrava com a política migratória de Trump, que enxuga ainda mais a oferta de mão de obra e impulsiona os salários, reforçando a espiral inflacionária.
Enquanto isso, o consumidor já sente os impactos na
gasolina, no supermercado e na casa própria. Os investidores, por sua vez,
continuam comprando a ilusão de que os EUA podem desafiar as leis da economia e
crescer sem inflação. Mas quando a realidade bater – e ela sempre bate –, a
decepção será proporcional ao exagero da euforia. A questão não é se haverá um
ajuste, mas quando ele virá e quão doloroso será.
O mercado pode continuar acreditando em milagres, mas a
história econômica é implacável. Se as taxas de juros não caírem e a inflação
se mantiver alta, a bolha da complacência pode estourar com um estrondo. E
quando isso acontecer, os mesmos que hoje ignoram os alertas estarão correndo
para a saída, alegando que “ninguém poderia prever”. Pois bem, considerem-se
avisados.
Um trabalho elaborado pela Vanguard analisa o efeito que a
IA pode ter em contrapartida à elevação do déficit americano, oriundo de mais
gastos com redução de impostos e juros mais elevados.
A economia dos EUA está prestes a entrar em uma batalha
épica: de um lado, a promessa de um futuro brilhante impulsionado pela
Inteligência Artificial (IA); do outro, um buraco fiscal que ameaça engolir
tudo. O que vai prevalecer? O sonho tecnológico ou o peso esmagador da
realidade demográfica e do endividamento? Se a IA for a salvação que muitos
esperam, veremos um boom de produtividade e um mercado de trabalho reformulado.
Mas se não passar de um hype inflado, o que vem por aí é um tombo feio – e sem
rede de segurança.
Ao longo da história, sempre que uma nova tecnologia
apareceu, os economistas se dividiram entre os que achavam que o mundo seria
salvo e os que viam um desastre iminente. A IA não é exceção. Se entregar tudo
o que promete, pode fazer a produtividade explodir e transformar empresas,
mercados e governos. O estudo da Vanguard aponta que a IA pode elevar o
crescimento da produtividade a 2,4% ao ano, uma virada espetacular comparada ao
mísero 1,1% da última década. Mas, se tudo não passar de uma grande empolgação
de mercado, podemos ver um colapso no crescimento para 1,1% ao ano – e, nesse
caso, adeus “revolução tecnológica”.
O mercado de trabalho será o campo de batalha dessa disputa. A IA pode automatizar até 20% das tarefas em 70% das ocupações. Bancários, contadores, operadores de telemarketing – a fila dos que podem ser substituídos cresce a cada dia. Mas e aí? Será que essa revolução vai criar novos empregos como no passado ou só vai jogar milhões na marginalização? O histórico diz que novas tecnologias geram novas funções, mas nunca houve uma máquina tão boa em substituir o fator humano quanto a IA.
Agora vem a grande ironia: os EUA estão se afogando em dívidas e precisam desesperadamente de crescimento para evitar um desastre fiscal. A IA pode ser a tábua de salvação que impede que os juros fiquem presos acima de 4%, mas, se essa aposta der errado, a bomba do endividamento vai explodir no colo do governo. O déficit fiscal já é um monstro difícil de domar, impulsionado pelos custos crescentes da seguridade social e da saúde. Sem um crescimento econômico decente, a matemática simplesmente não fecha.
E o que dizer da inflação? No curto prazo, a IA pode ajudar a reduzir custos, manter preços controlados e até dar uma folga para o Fed. Mas e depois? Se o boom de produtividade não vier, a conta da gastança pública vai aparecer – e a inflação pode voltar com tudo. O Fed, que já perdeu o sono com os últimos números, pode se ver obrigado a apertar o cinto ainda mais.
Enquanto isso, o mercado financeiro já escolheu seu lado. As
gigantes da tecnologia – Nvidia, Microsoft, Alphabet – estão rindo à toa,
surfando na onda da IA. Investidores apostam pesado na promessa de que a
automação vai reescrever as regras do jogo. Enquanto isso, setores
tradicionais, como manufatura e infraestrutura, tentam desesperadamente
encontrar seu lugar nesse novo mundo, sob o risco de ficarem obsoletos.
Tenho certeza de que Trump nem pensou nessa possibilidade
para compensar as medidas que está implantando. Talvez algum assessor tenha
mencionado, mas ele não deve ter levado em consideração. Como posso ter essa
certeza? Ele nunca mencionou essa hipótese em suas conversas. O anúncio que fez
sobre o investimento de U$ 500 bilhões na Stargate é mais para sair bem na
foto, mostrar para China que “USA is great”, do que pensando em ser em sua
salvação. Também acredito que seria muito arriscado ele se basear nessa
hipótese, pois até o mercado tem desconfiança sobre o sucesso da IA.
O Mosca se mantém otimista sobre a Revolução Digital e
enfatizo que, caso não seja bem-sucedida ou não atinja um grau satisfatório de
elevação da produtividade, os argumentos de Kaletsky são muito válidos. Pelo
sim, pelo não, não recomendo a compra de títulos de renda fixa com prazo longo.
Somente num cenário recessivo poderiam ter algum valor, o que não parece ser o
mais provável visto de hoje. A IA passa a ser o único salvador da pátria!
Análise Técnica
No post “fiquei-horrorizado”, fiz os seguintes comentários
sobre o S&P500: “A bolsa tem ficado contida num intervalo pequeno, sem
grandes flutuações, o que mantém as mesmas considerações feitas no post acima.
Como se diz no legalês: Nada a Declarar.”
A bolsa americana está a milímetros de ultrapassar a máxima histórica – ATH – de 6.128. Na última sexta-feira, beliscou essa marca. Tudo indica que isso ocorrerá muito em breve. No post “ressureição-digital”, elenquei três possibilidades para a bolsa e, pela forma como vem se comportando – especialmente ao ultrapassar essa marca –, vou permanecer com duas delas: ADOTADO ou AMBICIOSO.
E aí vem a questão de posicionamento: no primeiro caso, a alta projetada seria de meros 1%, levando o índice a 6.182, enquanto, no segundo, o mínimo esperado é 6.288 (~3%), sendo mais provável 6.524 (~7%) – e pior, com muito mais altas à frente.
O que fazer? Não vou me arriscar agora, pois o cenário com o
qual estou trabalhando tem pouco ganho à frente. Por outro lado, também não vou
ficar na torcida esperando “eu estar certo”. Uma coisa posso assumir: se o
cenário AMBICIOSO estiver prestes a acontecer, a alta será expressiva, pois se
trata de uma onda 3 intermediária. Nada mais sábio agora do que dizer: Let
The Market Speak!
O SP&500 fechou a 6.129, com alta de 0,24%; o USDBRL a
R$ 5,6873, com queda de 0,42%; o EURUSD a € 1,0446, com queda de 0,35%; e o
ouro a U$ 2.933, com alta de 1,24%.
Nao descarto um cenário de inflação e recessão, a fatídica estagflação causado por juros altos para combater a inflação alta. Nesse caso, as ações despencam e os títulos de longo prazo ainda que empatem com a inflação, se levados até a maturidade não perderiam tanto quanto as ações
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