Fiquei horrorizado! #S&P500
Me recordo de uma época em que os Hedge Funds tinham ágio
para investir. Como isso ocorria? Esses fundos estavam fechados, e os
investidores ávidos para colocar seus recursos em alguns dos fundos “badalados”
da época se dispunham a pagar até 35% de sobrepreço. Um desses fundos era
administrado por George Soros, que ganhou fama ao colocar o Banco da Inglaterra
de joelhos ao apostar pesadamente contra a moeda britânica, forçando a
desvalorização da libra. O resultado? Um lucro de US$ 1 bilhão na época – um
montante impressionante.
Mas, como tudo na vida, o tempo passou e surgiram outros
players no mercado, deixando esse fundo apenas como parte da história, já que
sua performance não foi mais estelar.
Fui sócio da Linear, a primeira gestora do Brasil a lançar
um fundo com essas características. Tivemos muito sucesso no início, mas
perdemos o estrelato com a crise da Ásia, que afetou fortemente nosso retorno.
Além de fazer parte do Board, eu era responsável pela área de clientes.
Desenvolvemos sistemas sofisticados para acompanhamento de risco dos
portfólios, ajustados ao perfil de cada investidor – uma inovação para a época.
Mas, por outro lado, realizei alguns estudos sobre a performance dos clientes
que me deixaram cético quanto a esse produto.
O estudo que fiz na FEA, como já comentei algumas vezes
aqui, mostrou que você só consegue retornos acima do CDI se fizer mudanças
trimestrais em uma carteira de Multimercados, o que inviabiliza esse tipo de
produto por princípio. Nem preciso ir longe: quantos fundos que eram estrelas
no passado hoje não são mais? Quantos perderam grande parte de seus recursos?
Posso afirmar sem medo de errar que a história se repete nesse caso.
A cobrança de custos pelos gestores sempre seguiu o
tradicional “2 e 20” – ou seja, 2% de taxa de administração e 20% de taxa de
performance. Esse modelo já dura décadas.
Ontem, enquanto lia a Bloomberg, me deparei com uma matéria
de Hema Parmar e outros jornalistas sobre a atual estrutura de cobrança dos
Hedge Funds. Fiquei horrorizado! Os gestores estão cobrando muito mais do que o
tradicional “2 e 20”.
Em 2023, o principal fundo hedge da empresa do bilionário
Dmitry Balyasny obteve um retorno bruto de 15,2%. No entanto, os investidores
viram apenas um ganho de 2,8%. O restante foi consumido por taxas – mais de US$
768 milhões – a maior parte destinada a compensação, mas também para uma ampla
gama de outros custos, desde serviços de telefonia móvel até aluguel.
Essa redistribuição de custos é uma das vantagens mais
cobiçadas de administrar um fundo hedge multiestratégia. Os investidores estão
tão ansiosos para injetar dinheiro que, na prática, escrevem um cheque em
branco, concordando em cobrir praticamente qualquer despesa que os gestores
considerem razoável, independentemente do cenário econômico.
O termo técnico para isso? Taxas de repasse (passthrough
fees).
O relatório da Bloomberg revelou que, em alguns casos, essas
taxas parecem absurdamente altas. "Essas taxas de repasse são um exagero.
Você está pagando por tudo, até mesmo pelo papel da impressora", disse Joe
Reilly, CEO da Circulus Group.
No entanto, outros investidores enxergam isso como um preço
aceitável pela promessa de desempenho consistente. Eles estão dispostos a
ignorar anos fracos, como o desempenho de Balyasny em 2023 – um "caso
atípico em nossa história de 24 anos", segundo a empresa.
Entre os principais fundos que adotam esse modelo estão
Millennium Management, Citadel, Point72 Asset Management, Balyasny Asset
Management e ExodusPoint Capital Management – que juntos gerenciam mais de US$
200 bilhões.
A Explosão das Taxas de Repasse
A análise da Bloomberg dos registros regulatórios desses
fundos mostra que a lista de despesas passíveis de serem repassadas cresceu de
forma exponencial nos últimos anos. No passado, os custos normalmente incluíam
compensação, aluguel e tecnologia. Agora, algumas firmas adicionaram categorias
como inteligência artificial, conformidade regulatória, pagamentos internos de
referência e até mesmo "despesas extraordinárias ou não recorrentes".
A lista de possíveis despesas aumentou quase 40% desde 2018.
Além disso, algumas gestoras refinaram a descrição de quem
pode receber pagamentos com dinheiro dos investidores. Em 2023, a Citadel
ajustou sua definição para incluir "consultores terceirizados",
justificando essa mudança como uma economia para os investidores.
A Citadel, por exemplo, detalhou em um prospecto de emissão
de títulos que suas taxas cobrem despesas com tecnologia, viagens em todas as
formas – incluindo jatos particulares –, presentes para funcionários, eventos
corporativos e até mesmo lanches e bebidas.
Desde o início de 2022 até setembro do ano passado, os três
maiores fundos da Citadel acumularam quase US$ 12,5 bilhões em taxas de
repasse, sendo mais de US$ 11 bilhões destinados à compensação e benefícios de
funcionários.
Impacto nos Investidores
O relatório da Bloomberg destacou que os investidores de
fundos multiestratégia estão recebendo uma fatia cada vez menor dos retornos
brutos. Em 2023, os fundos ficaram com 59 centavos de cada dólar ganho para os
clientes, um aumento em relação aos 46 centavos de dois anos antes.
Como resultado, essas taxas superam a estrutura tradicional
de "2 e 20" (2% de taxa de administração + 20% de taxa de
performance). Alguns clientes calculam que o custo real pode chegar a “7 e 20”
ou até “15 e 20”.
Por exemplo, em 2023, o fundo ExodusPoint obteve um ganho de
11%, mas, após aplicar 8,4 pontos percentuais em taxas de repasse, os clientes
ficaram com cerca de 57% do retorno total.
Desde 1969, os gestores de fundos hedge ao redor do mundo já embolsaram aproximadamente US$ 1,8 trilhão em taxas – quase metade dos ganhos da indústria, segundo dados da LCH Investments.
O Argumento das Gestoras
As grandes gestoras de fundos hedge defendem que essas taxas
são necessárias para atrair os melhores talentos, investir em tecnologia de
ponta e manter a agilidade operacional.
A Citadel, por exemplo, afirmou que utiliza essas taxas para
investir em "pessoas, tecnologia e infraestrutura para criar uma franquia
vencedora que já dura mais de três décadas".
A Balyasny declarou que, embora o ano de 2023 tenha sido
atípico, "tivemos um forte 2024, com desempenho e margem líquida
retornando ao nosso alvo".
Aposta Arriscada?
Para os investidores, concordar com essas taxas de repasse é
uma aposta de que a gestora produzirá retornos brutos excepcionais para que os
custos não afetem o resultado final.
Na verdade, alguns estudos indicam que, quanto maior a taxa
de repasse, melhor o retorno final para os clientes. Por exemplo, a Citadel
obteve um retorno bruto de 60% em 2022. Embora as taxas tenham consumido mais
de um terço desse valor, os clientes ainda obtiveram um lucro líquido de 38% –
um resultado invejável para qualquer fundo hedge.
Em geral, os clientes esperam que esses fundos entreguem
retornos consistentes de pelo menos 12% ao ano, com baixa volatilidade.
Conclusão: Vale a Pena?
Os investidores continuam dispostos a bloquear seu dinheiro
nesses fundos, mesmo com títulos do Tesouro rendendo mais de 4% e os fundos
indexados ao S&P 500 apresentando desempenhos robustos.
A estrutura das taxas permite que essas gestoras criem
exércitos de traders altamente qualificados que fazem apostas em milhares de
ativos, reduzindo os riscos e otimizando o retorno.
Porém, há preocupações. Alguns especialistas alertam que
fundos menores podem ter dificuldades para gerar retornos suficientes para
cobrir esses custos, o que pode levá-los a assumir riscos excessivos – como um
apostador desesperado dobrando sua aposta para tentar recuperar perdas.
Além disso, para grandes instituições como fundos de pensão
e entidades filantrópicas, há um risco reputacional: ser exposto pagando por
escritórios luxuosos e despesas extravagantes de gestores de fundos hedge
bilionários pode gerar repercussões negativas.
O fato de muitos desses custos não serem totalmente
transparentes levanta suspeitas sobre o que os investidores realmente estão
pagando.
Eu fortemente desaconselho o investimento nesse tipo de
veículo. No começo, você pode até se sentir satisfeito, mas um dia o fundo não
vai performar, e o retorno pode comprometer toda a sua série histórica. Se for
um fundo de fundos, como os citados na matéria, é menos ruim, pois o gestor
pode monitorar as carteiras, retirando os perdedores e inserindo novos fundos.
Pelo menos isso está de acordo com meu estudo da FEA.
Mas não se engane: se o track record é muito bom e as taxas
cobradas são elevadas, ele está correndo risco acima do normal para poder
justificar essas cobranças e entregar o resultado. Em outras palavras, o risco
é muito maior do que aparenta!
Análise Técnica
No post "ressureição-digital", fiz os seguintes
comentários sobre o S&P 500:"Minha observação nos três cenários que
venho acompanhando continua intacta. A retração que ocorreu ontem atingiu a
mínima de 5.923, e o leitor pode notar que qualquer um dos cenários pode se
encaixar. Vou usar a opção que denominei de ADOTADO, mas as outras permanecem
no radar e posso me relacionar a alguma delas no futuro."
A bolsa tem ficado contida num intervalo pequeno, sem grandes flutuações, o que mantém as mesmas considerações feitas no post acima. Como se diz no legalês: Nada a Declarar.
As perspectivas para a inflação americana estão se tornando cada vez mais desafiadoras. Tenho notado que os economistas buscam calcular o impacto do aumento das tarifas nos preços. Relatórios sobre esse tema não param de surgir, visto que Trump continua anunciando novas imposições, e, como acontece na conta de um restaurante, os valores vão se somando. A situação já está se tornando preocupante – amanhã comento mais sobre isso.
Mas há uma esperança no horizonte: tecnologia e,
principalmente, a IA, que pode aumentar a produtividade de maneira
significativa. Estamos todos na torcida. Esse é o grande diferencial da
economia americana, que, ao longo do tempo, tem apresentado dados muito
superiores aos de outros países, como mostra este gráfico evolutivo.
Trump nem precisa do MAGA – pode simplesmente usar AIG:
America Is Great!
O S&P500 fechou a 6.068, sem variação; o USDBRL a R$ 5.7656, com queda de 0,38%; o EURUSD a € 1,0362, com alta de 0,54%; e o ouro a U$ 2.987, com queda de 0,35%.
Fique ligado!
ETF’s tendem a abocanhar uma grande parte desse mercado né?
ResponderExcluirsem dúvida, já estão
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