Acostumado a perder #TB 10 years
Hoje
início o período do ano em que faço minhas previsões com uma visão de mais
longo prazo, contemplando as projeções para o ano de 2022. Neste momento, busco
observar a evolução dos ativos que acompanho em janelas de tempo maiores de 1
mês ou 3 meses.
Decidi
começar com os juros de 10 anos americanos, que no passado nos davam alguma luz
do que se poderia esperar no ambiente econômico. Essa classe de ativo não foi
muito promissora em 2021, registrando retornos negativos para quem deteve esses
papeis. Também não foi muito lucrativa para quem decidiu operar no sentido
inverso, esperando a alta de juros, com exceção do primeiro trimestre, quando
as taxas saíram do patamar de 1% e atingiram em março 1,70%. Daí em diante, um
movimento de queda as levou novamente para a casa de 1% ao final de julho, para
só então voltar a subir novamente situando-se hoje ao redor de 1,4%.
Durante o ano, a inflação foi paulatinamente ganhando destaque, apresentando altas consecutivas e atingindo níveis somente vistos décadas atras. Agora estão rondando o patamar de 7% a.a. O Fed, por sua vez, abandou sua retórica do início da pandemia de que a inflação é temporária e recentemente preparou o mercado para iniciar no próximo ano um ciclo de alta de juros.
Os analistas, de uma maneira geral, acreditam que a economia terá um desempenho positivo no próximo ano e, considerando as ínfimas taxas de juros dos instrumentos de renda fixa, estão indicando a seus clientes a alocação nos mercados de risco.
Em
termos de perspectivas inflacionárias, percebo uma certa dose de torcida por
parte dos economistas que projetam uma queda desse indicador. Por outro lado,
também não esperam que se normalize no nível mágico de 2% a.a., objetivo da
grande maioria dos bancos centrais de países desenvolvidos. De onde surgiu esse
número mágico, não vi até hoje uma explicação mais convincente. Talvez 0% de
jeito nenhum, e 1% ficaria perigosamente próximo de um cenário de deflação. Mas
muito acima de 2% mereceria uma atuação mais ativa das autoridades monetárias.
Acredito
que o assunto inflação vai dominar os noticiários econômicos de 2022, razão
pela qual o Mosca decidiu renovar esse tema para o ano que entra. Sei
que o assunto se torna maçante para os leitores, mas peço um pouco de paciência,
pois acredito que ao findar 2022, ou ela ganha uma certa estabilidade ou mostra
mais resiliência e coloca em xeque a postura acomodativa adotada pelos bancos
centrais. Em relação ao Fed, e levando-se em consideração as últimas
declarações, não parece que terá uma atitude passiva caso a inflação não
demostre desaceleração. Mas uma coisa é falar e outra é agir.
Enquanto isso, os detentores de títulos de renda fixa deverão renovar suas perdas em termos reais. Nesse caso, os americanos se juntaram aos europeus e aos japoneses, esses últimos com larga experiencia nesse campo pois essa situação perdura por algumas décadas. Mas o ano de 2021 se mostrou mais severo nesse sentido, pois enquanto a inflação era baixa, o prejuízo anual se resumia a pequenas perdas; neste último ano, porém, as percentagens negativas situaram-se ao redor de 5% a.a.
Quem está na renda fixa já está se acostumando a perder. Até agora, com juros baixos ou até negativos, a sensação de perda era mais visível. Daqui em diante, a percepção pode sugerir ser mais aliviante em função de remunerações positivas, mesmo assim insuficientes para cobrir as perdas geradas pela inflação. Esse cenário lembra a famosa frase “me engana que eu gosto”.
Alguns
desses investidores resolveram se aventurar em mercados de risco, e observamos
recordes nos volumes investidos nas bolsas de valores.
Mas
existe a possibilidade de normalização das taxas de juros a níveis mais
razoáveis? Acredito que por enquanto não: os volumes de recursos alocados em
títulos, que os bancos centrais ao redor do mundo detêm em seus estoques,
distorcem as taxas de juros, como relatei em diversas ocasiões. Somente uma
aceleração dos agregados monetários M1, M2, M3, ou sei lá que outro M, indicando
um maior apetite pelas empresas e indivíduos em assumir créditos, poderia fazer
as autoridades monetárias diminuir seus estoques, algo ainda distante
vislumbrado de hoje.
O
juro de 10 anos sempre foi um instrumento balizador da tendência de longo prazo
esperada pelo mercado. O seu nível, em conjunto com a curva de juros, dava boas
pistas do que os agentes econômicos enxergavam da política monetária
implementada pelo banco central. Tanto era verdade que os traders desse mercado
eram denominados de “vigilantes”. Agora não mais, as distorções são observadas nas
diversas regiões, deixando os analistas sem um parâmetro sobre as expectativas
futuras — ou melhor, os parâmetros se encontram distorcidos.
Do
ponto de vista técnico, o que se poderia esperar?
Incialmente, vamos avaliar os prognósticos elaborados no final do ano passado, expressados no post quando-o-juro-não-faz-diferença: ...” acredito que o nível ao redor de 1% será testado em algum momento, depois um movimento de baixa ganhará força, levando o juro de 10 anos muito perto de 0,20% a.a., ainda no campo positivo. Se não for contido nesse patamar, porém, irá abaixo de 0%” ... ... “No sentido inverso, se ultrapassar 1%, e principalmente acima de 1,4%, aumenta muito a chance de término do movimento de queda e início de um novo ciclo de alta” ...
O cenário de queda acabou não acontecendo e prevaleceu a opção levantada acima, quando a taxa ultrapassou os dois níveis apontados. Esse ciclo de alta prevalece até o momento, no qual projeto que os juros poderão atingir 2,21%, conforme apresentado no gráfico a seguir. Notem que esse patamar corresponde a 61,8% de retração, percentual clássico dentro da teoria de Elliot Wave, ocorrido entre a máxima de 3,26% atingida ao final de 2018 e a mínima de 0,32% ocorrida em março de 2020.
Depois
de terminar esse ciclo de alta que se iniciou em março de 2020, uma correção
deverá se suceder levando as taxas para um intervalo entre 1,5% e 1%, que
naturalmente depende de onde terminar o ciclo apontado acima.
Existem outras hipóteses que as do cenário considerado preferido. Sugiro o acompanhamento do Mosca, que enfoca esse mercado de forma esporádica. Cabe ressaltar que o gráfico do juro de 10 anos não apresenta uma configuração clara de formação, deixando a análise sujeita a algumas interpretações.
O software que utilizo permite que a apreciação seja feita pelo sistema. Resolvi usar essa ferramenta e ver o que ele surge. Com esse intuito, usei uma janela quadrimestral a fim de obter um quadro amplo. Segundo esses parâmetros, o software apresentou uma possibilidade intrigante, como poderão verificar a seguir: o movimento de queda iniciado no início de 1980 ainda estaria em curso.
Notem que a queda está contida dentro de retas paralelas, onde o rompimento foi testado no final de 2018 — seta laranja —, porém em seguida retornou à descendente. Na teoria clássica de análise gráfica, todos esses indicadores apontam para um mercado em queda que culminaria com uma taxa negativa de – 2% a.a.
Esse
caso pode ser mais um daqueles em que o automatismo oferece opções não condizentes
com a realidade, sendo apenas um modelo. Porém, a razão da minha publicação se
deve ao fato de os juros ainda não terem conseguido romper essas linhas
paralelas de longo prazo. A conferir!
O
SP500 fechou a 4.568, com queda de 1,14%; o USDBRL a R$ 5,7355, com alta de
0,70%; o EURUSD a € 1,1275, com alta de 0,32%; e o ouro
a U$ 1.788, com queda de 0,50%.
Fique
ligado!
Comentários
Postar um comentário