Powell YOU have a problem #usdbrl

 


A tão difundida frase “Houston, we have a problem”, dita pelo astronauta Jack Swigert durante a viagem da Apollo 13 à Lua em 11/04/1970, pode ser parafraseada em função de observações técnicas que notei nos títulos de 10 anos americanos. Mas antes de entrar nesse assunto, um artigo publicado por Mohamed El Erian no Project Syndicate comenta a mudança de postura do presidente do Fed, Jerome Powell.

Essa caracterização inicial da inflação [como transitória] no início deste ano era compreensível. De março a maio, em particular, fortes efeitos básicos estavam em ação, porque a inflação no período anterior havia sido suprimida pelo bloqueio da economia global em resposta ao COVID-19. Além disso, os formuladores de políticas esperavam que os mercados resolvessem rapidamente o descompasso inicial entre uma demanda robusta e uma oferta atrasada à medida que a economia continuasse a se abrir. ‎

‎ No verão, ficou claro para alguns de nós que tais fatores transitórios estavam sendo acompanhados por ‎‎questões de longo prazo.‎‎ As empresas detalhavam a natureza persistente das interrupções em suas cadeias de suprimentos. A escassez de mão-de-obra estava se multiplicando, aumentando os custos da inflação. Poucas empresas, se é que houve, esperavam que essas duas questões fossem resolvidas tão cedo — e disseram isso em seguidos relatórios de resultados. ‎

‎ Mas, em vez de revisar sua avaliação inicial da inflação à luz dos dados, o Fed dobrou a aposta. Transitório passou de significar alguns meses para alguns trimestres, com alguns comentaristas e funcionários até ‎‎adotando os conceitos‎‎ de "transitório estendido", "transitório persistente" e "transitório rotativo". No processo, perderam de vista as especificidades de um fenômeno transitório. ‎

Mas no final do verão, ficou ‎‎claro‎‎ que o comportamento na vida real estava mudando, especialmente à medida que a inflação continuava sua ascensão constante (para ‎‎6,2%‎‎ no principal índice de preços ao consumidor em outubro e ‎‎4,1%‎‎ para o principal índice de preços das despesas de consumo pessoal, o indicador preferido do Fed). No entanto, condizente com armadilhas comportamentais clássicas, o Fed permaneceu amarrado a seu conceito de transitório, com o presidente Jerome Powell ‎‎insistindo novamente‎‎ na última semana de novembro que "a inflação diminuirá significativamente ao longo do próximo ano".‎

Quanto mais tarde o Fed reagir adequadamente aos desenvolvimentos inflacionários, maior a probabilidade de que — por ter que pisar forte nos freios de sua política — ele acabe sendo a principal causa do padrão transitório de inflação no qual, infelizmente, havia apostado parte de sua credibilidade. Mas ao ser justificado desta forma, o Fed arriscaria uma recessão doméstica prejudicial, volatilidade do mercado e repercussões desestabilizadoras para a economia global. ‎

‎Tal padrão é familiar aos historiadores econômicos. Atrasado em relação à curva da inflação, o Fed se vira para apertar a política monetária abruptamente, atingindo a demanda com força e puxando o tapete de empresas que estão procurando aumentar os preços e mantê-los altos. Muitos trabalhadores perdem seus empregos, roubando o poder de barganha dos trabalhadores. E os mercados passam por crises de iliquidez desestabilizadora, arriscando repercussões adversas para uma economia já em dificuldades. ‎

Esse cenário de risco é particularmente preocupante para segmentos mais vulneráveis da população. Tendo já sido obrigada a lidar com preços mais altos que afetam grandes parcelas de seus orçamentos semanais, eles também enfrentariam o risco de desemprego e a perda de renda que vem com ele. Além de danos desnecessários ao bem-estar econômico, haveria também efeitos sociopolíticos e institucionais negativos. ‎

‎É portanto encorajador que, no último dia de novembro, Powell tenha feito uma súbita reviravolta sobre a inflação e afirmou que era hora de "‎‎abandonar‎‎" a caracterização transitória. O Fed deve agora seguir fazendo duas coisas rapidamente. Em primeiro lugar, como parte de um esforço urgente para recuperar a credibilidade que é essencial para sua orientação política avançada e independência operacional, deve detalhar publicamente porque fez uma avaliação errada da inflação e o que está sendo feito para evitar deslizes semelhantes no futuro. Em segundo lugar, o Fed deve se mover muito mais rápido na redução de suas compras mensais de ativos. Tirar o pé do acelerador na política de estímulo que ainda está essencialmente no modo "pé na tábua" ajudará a mitigar o risco de que o Fed terá que pisar nos freios de sua política de forma desordenada em meados de 2022.

Desde que Powell indicou que pretende acelerar o enxugamento e consequentemente antecipar a alta de juros, os economistas refizeram suas estimativas. Acontece que algo estranho ocorreu nos mercados de juros longos, as taxas ao invés de subir caíram — fato que já tinha comentado antes. Vamos agora à análise técnica sobre esse ativo.

Este final de semana estava analisando os juros de 10 anos. Eu esperava uma alta que levaria as taxas ao redor de 2% a.a. Acontece que no meu cenário preferido, a queda recente não pode ultrapassar 1,28%, conforme destacado no gráfico a seguir. Outra alteração que tive que fazer foi aceitar um truncamento na onda (3) em azul. Tudo isso me fez ficar desconfiado desse cenário.



Eu tenho um cenário alternativo que considerava pouco provável, o motivo é que nesse cenário os juros não subiriam agora. Quando se usa análise técnica, a pior coisa que um analista pode fazer é tentar julgar uma opção comparando com suas ideias — isso vai criar um viés que pode afastar o analista do recado apontado. Nesse cenário alternativo, que está virando preferencial, os juros estariam caminhando para o nível ao redor de 1% a.a., que se não for contido pode chegar até 0,60% a.a.



Como comentei acima, não vou ficar especulando o que teria que ocorrer para que os juros atingissem níveis tão baixos. Mas certamente não parece conjugar com a ideia da “pressa” em subir as taxas vislumbrada por Powell e mesmo Mohamed El Erian que vem advogando estar o Fed atrasado nesse quesito – Behind the Curve.

O cenário preferencial ainda não se pode jogar no lixo, pois os juros podem mudar de direção e voltarem a subir, mas ficou menos provável. Vamos ficar de olho no patamar de 1,28% a.a. que não pode nem ser tocados. Caso isso aconteça: Powell YOU have a problem!

No post convivendo-com-o-medo, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” Eu tinha dois cenários há poucas semanas em que um deles contemplava a possibilidade de o dólar estar num movimento de queda. Este cenário não está descartado, mas cada vez parece mais difícil. Do ponto de vista técnico, somente após a cotação ultrapassar R$ 5,8785 poderia ser totalmente descartado” ...



O dólar vem ganhando espaço na alta de forma bastante tortuosa nos últimos dias, se aproximando do limite marcado como CONFIRMAÇÃO. Esse limite se ultrapassado vai eliminar a hipótese descrita no post mencionado acima.

No post também discorri os cuidados que se deve ter em ondas 5, ainda mais quando ganha a configuração de ending diagonal.



Fico pensando qual seria o impacto no dólar caso ocorra a queda dos juros americanos aventados nesse post. Imagino que haveria uma queda da moeda americana contra todas as moedas do G7 e mesmo que o Bolsonaro invente novas trapalhadas — está quieto ultimamente, será que está jogando a toalha do segundo mandato? — acredito que o real se valorizaria nessas condições.

A China tem se metido em diversas confusões principalmente nas empresas de tecnologia. Sem dó dessas empresas, suas ações têm derretido seu valor de mercado de inúmeras delas. Parece que a razão é por questões de segurança, mas não sei não, acho que tudo começou com a guerra entre o Trump e Xi Jinping que mesmo com a mudança de presidente americano, o mesmo está aproveitando para não ter que depender dos estrangeiros em temas de importância para China. Seria de se esperar que os investimentos direcionados para esse país na melhor das hipóteses estariam zerados, mas não é o que está ocorrendo, o fluxo para os emergentes como um todo poderia se resumir em China, sobrando alguns poucos para o restante da Ásia e uns tostões para a América Latina. Bons tempos da década passada!



O SP500 fechou a 4.591, com alta de 1,17%; o USDBRL a R$ 5,6891, com alta de 0,63%; o EURUSD a 1,1282, com queda de 0,28%; e o ouro a U$ 1.778, com queda de 0,29%.

Fique ligado!

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