O que você faria diferente?

 


Eu pretendia não escrever mais durante minhas férias, a não ser, claro, que ocorra algum acontecimento importante. Mas durante meu passeio matinal pelas notícias fez com que eu mudasse de opinião, e aqui estou. O assunto não tem a ver com mercados e sim sobre a finitude. Confesso que esse assunto para mim se torna mais frequente — afinal, como bom matemático que sou, sei que todos nós temos uma data de “vencimento” e, quanto mais passa o tempo, maior a probabilidade da ocorrência.

Esse tipo de matéria quando comentado com os mais jovens da família, gera uma reação de negação, nem quererem falar. Entendo essa atitude, fazemos diferença para eles. Por outro lado, fico feliz por saber que minha vida não passou em vão, minha existência ficará de certa forma marcada em suas memorias.

Quando encontro meus antigos colaboradores, por aí na vida ou através das redes sociais, muitos me agradecem por lhes ter ensinado algumas nuances do trabalho, lembram de momentos da nossa convivência — o que eles não refletem é que aprendemos juntos.

Tudo isso passa a ser história, não que não tenha valor, mas como na matemática diferencial o que vale é na margem, daqui em diante.

O articulista Michael Batnick em seu site Irrelevant Investor fala de uma passagem atual da sua vida.

Os tempos estão difíceis agora, mas temos muito pelo que agradecer.‎

‎Recebi um e-mail há duas semanas que me balançou. No começo, pensei que fosse um golpe. A linha de assunto do e-mail era "Pedido Urgente". Mas ao ler a nota, percebi que minha reação não poderia estar mais errada.‎

Boa tarde,
estou dando sequência a um e-mail que deveria ter enviado meses atrás para tentar encontrar uma pessoa para ajudar na gestão de contas de investimentos. Há dez meses fui diagnosticado com um câncer de bexiga estágio 4 que mudou minha vida e a da minha esposa. Felizmente, tivemos um bom verão, mas meu diagnóstico agora é terminal e provavelmente estarei morto até o ‎‎Natal.

Eu sei que isso é um tiro no escuro, mas tendo ouvido os podcasts e realmente gostei da sua abordagem, espero que você possa ajudar minha esposa a descobrir como renovar meus investimentos de forma que faça sentido para ela.

Um e-mail como esses não tem como não sensibilizar alguém. Ele colocou sua equipe para auxiliar esse casal. Mas essa situação fez com que pensasse na sua vida.

Se soubesse que só tinha dez anos de vida, o que faria diferente com sua vida? Não é uma pergunta divertida. É desconfortável pensar no fim. Passei cinco segundos pensando nisso antes de seguir em frente. Não, obrigado. Mesmo que eu tivesse apenas mais 10 anos, não ia querer saber disso de jeito nenhum.‎

‎Mas ‎vamos‎ morrer, todos nós. O que você escolhe fazer com esse conhecimento depende de você.‎

‎Tento não tomar nada como certo. Eu tento ser uma boa pessoa. Tento ser um bom marido. Um bom pai. E aí a vida continua, e esquecemos o quanto ela é preciosa. E, infelizmente, nada nos lembra da vida como a morte de alguém.‎

‎Os dias são longos, mas os anos são curtos. Estou tentando não os desperdiçar.

Também me vi pensando, como faço as vezes, o que poderia ser diferente.‎ Aqui o pensamento tem que ser em você. O que você mudaria?

Para contestar essa pergunta, tenho que pensar como vivo hoje. Para responder elenco três grandes pilares: família, trabalho e lazer. Costumo no final de ano fazer um “balanço” dessas três áreas, dando notas com pesos (sofisticado!). Isso se dá numa caminhada com um amigo no dia primeiro do ano — detalhe, para ter valor não vale roubar! Hahaha ...

Vejamos cada um deles:

Família – Para quem é separado e tem a sorte de agregar uma família adicional como a minha é um privilégio, mas não foi fácil chegar até aqui, houve muitos conflitos. Mas o que eu mudaria?  Pouca coisa temos a fazer, com os filhos e enteadas já adultos, e como dizia minha terapeuta, você conversa com eles e faz figa para dar certo. Por outro lado, acompanhar os jovens em sua evolução profissional e pessoal é um privilégio, fico muito energizado com essa interação.

Lazer – Sou muito competitivo e é nesse quesito que a idade vai te colocando limites. Sempre quero fazer mais, porém, tenho me machucado com maior frequência e a recuperação nessa fase da vida é bem demorada. No restante levo uma vida bem saudável em termos de alimentação. Aqui só peço a Deus (e meus médicos! Hahaha...) que me dê condições de fazer um soft landing.

Trabalho – Divido meu tempo entre cuidar dos meus investimentos e escrever o Mosca. Em relação a este último, agradeço aos leitores pelo suporte que me tem dado. Depois de 10 anos ininterruptos de publicações o post diário criou uma disciplina que ajudou muito na minha gestão de investimentos. Gosto de estar sempre aprendendo. Adoro assuntos novos que no mundo atual não faltam.

Não tem uma semana que passa onde não arquiteto o que vou fazer quando o número de visualizações atingir ½ milhão (já está próximo), será que chego na marca gloriosa (para mim) de 1 milhão? E depois disso, vou continuar ou me aposentar?

Para responder à pergunta original que me propus, com esses pensamentos expostos acima não parece que eu preciso mudar.

Resumindo: Vivo uma vida feliz e completa. Por que haveria de mudar?

E você leitor, já refletiu sobre esse assunto? Se quiser compartilhar, envie suas ideias nos comentários.

Boas Festas e Feliz 2022!

Comentários

  1. realmente.... tem bastante assunto para refletir mas provavelmente não chegará a grandes conclusões... obviamente não podemos mudar nada do que fizemos no passado... a única coisa que tento fazer e escrever livros de memórias, já fiz 2... um sobre os anos 1970 e outro sobre os 80... não dá pra mudar nada mas pelo menos fica registrado (e ninguém lê nem dá a mínima).... fico feliz de ter a oportunidade e a saúde para jogar tênis, pintar e tocar teclado, além de ir ao cinema de vez em quando.... abraços David!!!!!!!

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