Riscos da concentração #usdbrl
A boa prática de um negócio orienta a não depender de um único fornecedor – ou praticamente isso. Esse tipo de situação leva aquele que detém o monopólio a ditar a regra. Num mercado perfeito, se os preços sobem muito, surge nova concorrência, mas essa situação nem sempre é possível se o produto em questão demanda alta tecnologia ou competência na fabricação, e esse é o caso no mercado de chips, onde a empresa taiwanesa TSMC é praticamente a fornecedora mundial, detendo o maior market share do mercado global de semicondutores.
Do ponto de vista da
fabricação, não se tem dúvidas da importância de Taiwan, e em relação aos
clientes a TSMC escolheu os EUA como seu principal. Como relata Tim Culpan na
Bloomberg, agora precisa lidar com a China.
Há três anos, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co.
estava tentando sentar-se na espinhosa
cerca entre os EUA e a China. O primeiro é um comprador muito maior de
chips, a segunda está crescendo mais rápido, e ambos são mercados importantes
para o fabricante mais avançado de semicondutores do mundo.
Qualquer aparência de neutralidade desapareceu esta semana,
quando o presidente Mark Liu e o fundador Morris Chang se reuniram com Nancy
Pelosi, ao lado da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, durante a viagem
geopoliticamente carregada da presidente da Câmara dos EUA a Taipei. Por mais
que a TSMC queira alegar que foi uma mera cortesia ver um dignitário em visita,
o governo comunista do lado de lá do Estreito de Taiwan certamente não vai ver
dessa forma.
Essas duas mulheres estão no topo da crescente lista de
inimigos da China, com Pequim respondendo à visita de Pelosi à ilha
democraticamente governada com o anúncio de seus mais extensos exercícios
militares desde que avisou mísseis sobre Taiwan em 1995.
Tsai representa um partido político que evita a unificação
com a República Popular da China. Pelosi tem sido um aborrecimento há muito
tempo. Em 1991, dois anos após a violenta repressão contra os manifestantes na
Praça Tiananmen, ela desenrolava uma faixa que dizia: "Para aqueles
que morreram pela democracia na China". Esta semana, ela se reuniu com
ativistas pró-democracia em Taipei. Em resposta à sua visita, a China anunciou
sanções econômicas contra Taiwan que inicialmente proibiram a importação de
alimentos de mais de 100 fornecedores, e seguiram com meios-fios de peixes e
frutas. Mais de 2.000 itens agora
estão bloqueados.
Até agora, os semicondutores escaparam às sanções. Se
Pequim realmente quisesse colocar a política antes da economia, proibiria
semicondutores da TSMC e de outros fabricantes como a United Microelectronics
Corp. e a MediaTek Inc. Isso seria imprudente e improvável, porém, porque a
China precisa de Hsinchu — a sede de todas essas empresas de chips — mesmo que
queira punir o governo de Tsai em Taipei. Apesar de todo o dinheiro que Pequim
bombeou para o setor — por algumas contas, mais de US $ 100 bilhões — ainda
está atrás de Taiwan e dos EUA na fabricação de chips.
Washington quer manter essa situação, enquanto também mantém a TSMC do seu lado e próxima. Isso porque a empresa taiwanesa faz os chips de computador mais avançados do mundo, cobiçados para todos os usos, desde iPhones até armamento avançado. Há muito tempo tenta permanecer apolítica e evitar tomar partido — fazendo chips, amigos e muito dinheiro, mas não inimigos. A maior empresa de Taiwan, que conta com o governo como seu maior acionista, tem sido muito boa em parecer a Suíça. "Nós somos a empresa de todos", é sua máxima favorita.
Em seguida, tomou a sua decisão de construir uma nova
fábrica no Arizona, que começará a operar já em 2024 na fabricação do conector
de 5 nanômetros. À primeira vista, isso não parece político. Mas o fato de
começar com 5nm, uma tecnologia de fabricação cerca de uma década à frente de
qualquer coisa que a empresa implanta na China, mostra onde estão suas
prioridades. Para ser justo, as mãos da TSMC estão um pouco atadas. As
restrições do governo de Taiwan e dos EUA significam que não pode usar nada
mais avançado nas fábricas em Nanjing ou Xangai, e não há sentido econômico em
usar conectores mais antigos em uma nova fábrica cara nos EUA.
A aprovação na semana passada do financiamento para a Lei CHIPS
pela Câmara— presidida por Pelosi — ajudou a consolidar a posição da TSMC
com o time dos EUA. O Congresso destinou US$ 39 bilhões para "fortalecer a
capacidade avançada de teste, montagem e embalagem de semicondutores no
ecossistema interno". A empresa taiwanesa deixou claro que seu modelo de
negócios e sua expansão futura nos EUA dependem de subsídios. Isso por si só
não garante sua fidelidade — afinal, as empresas são bastante hábeis em receber
assistência de diferentes governos sem nenhuma promessa de fidelidade.
Mas provisões dentro da
CHIPS, e sua conta de financiamento, impedem que as empresas que recebem
dinheiro dos EUA se envolvam em "qualquer transação significativa
envolvendo a expansão material da capacidade de fabricação de semicondutores na
República Popular da China." Uma exceção é fornecida se tal investimento
for para "semicondutores legados", definidos como sendo a geometria
de 28 nanômetros ou mais antigos, tecnologia que a TSMC estreou em 2010 e agora
representa apenas 10% da receita.
Uma vez que é quase certo que a TSMC vai receber dinheiro
alocado pela Lei CHIPS, ela será limitado por essas restrições. Isso significa
que uma expansão na China seria para tecnologia extremamente antiga, que rivais
locais, incluindo a Semiconductor Manufacturing International Corp. já conseguem
fornecer. Tal investimento dificilmente alteraria os planos de Pequim de
alcançar o resto do mundo, e provavelmente não seria muito lucrativo para a
TSMC, dado que há muita concorrência no mercado para a capacidade de chips
legados.
Isso não significa que a China vai desistir. Se não puder convencer
a TSMC a expandir-se no país através de subsídios e da promessa de encomendas
lucrativas, pode recorrer a outros meios. Pequim é conhecida por conseguir o
que quer usando sanções, multas e processos com acusações como evasão fiscal e
violações antitruste. Em 2015, a Qualcomm Inc. foi atingida por uma multa de US$ 1 bilhão por violações das leis
antimonopólio da China. A TSMC está certamente muito familiarizada com esse
caso e precisará lidar com os próximos anos usando luvas de pelica.
O resultado final de toda essa ruptura geopolítica é um
ambiente onde a TSMC e a China podem oferecer pouco uma à outra. Com certeza, Pequim
adoraria capturar algumas das tecnologias da empresa taiwanesa — roubar
talentos e propriedade
intelectual fazem parte do arsenal — mas tirando isso a porta está se fechando.
O tamanho e a habilidade da TSMC garantirão que continue sendo a fábrica de
todos. Exceto a da China.
Este emaranhado político em torno da TSCM, cuja disputa
final coloca os EUA contra a China na obtenção da tecnologia muita avançada
pela empresa que domina esse campo, torna as consequências imprevisíveis. Me
parece que a regra básica de uma disputa pode se aplicar nesse caso. Enquanto a
China tiver o que perder, uma queda de braço entre esses países através dessa
empresa deve continuar. Porém, se em algum momento a China não tiver nada a
perder por não ter como fabricar chips de vanguarda como a TSCM, a chance de
invasão de Taiwan aumenta significativamente — uma forma rápida de resolver seu
problema e criar um enorme aos EUA.
Não sou estrategista em geopolítica, mas a compreensão
desses dados me leva a imaginar que a fabricação de chips é um dos fatores
importantes na retorica chinesa ao considerar que Taiwan é um território
“rebelde” chinês.
Por outro lado, os EUA não poderiam abrir mão do consumo de
chips através da TSMC, e a China sabe disso. Em outras palavras, a invasão da
China em Taiwan não deixaria outra solução aos EUA que não seja combater esse
avanço.
Essa situação extremamente embaraçosa ocorre pelo risco de concentração
por parte da TSMC, que nesse caso tem um peso estratégico muito mais importante
que o econômico.
No post armadilha, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “O dólar violou o nível de R$ 5,2095, deixando agora duas opções daqui em diante, uma contemplando ainda novas altas e outra que voltaria ao cenário de novas quedas. Com isso em mente, ficou muito difícil optar por uma delas, embora no curto prazo, ambas são de quedas” ... ...” pequena preferência para a opção A); caso o dólar caia abaixo de R$ 4,6849 a opção B) fica eliminada” ...
- David, não entendo por que você não vende agora, uma
vez que, acredita que o dólar vai cair até R$ 4,38?
Não entro agora por dois motivos, primeiro por que o dólar
está dentro de uma correção, o que eu estou imaginando pode muito bem se
mostrar errado — esse é um argumento com uma visão mais ampla; segundo, no
curto prazo, existe uma outra possibilidade que levaria a moeda até a R$ 5,30,
ou seja, a onda (ii) em azul não terminou, embora seja pouco provável. Essa
possibilidade seria eliminada com a queda até R$ 5,02. Resumindo, por enquanto operar
agora seria entrar num campo minado sem o mapa de onde estão as minas.
Em termo de taxas de juros, estamos disparados na frente de qualquer país da América Latina, tanto a taxa nominal quanto a taxa real. Esse retrato mostra o prêmio de risco que o governo e as empresas têm que pagar.
O leitor poderia se perguntar por que ocorre tamanha discrepância. Vou usar um trabalho publicado pelo Estadão nesse final de semana Estagflação na America Latina cujo título “Com Estagflação no radar, lua de mel da esquerda na América Latina deve durar pouco”; é bom para nossos vizinhos e ruim para nós, considerando as próximas eleições.
Vou apresentar somente os gráficos publicados nessa matéria. No primeiro a seguir, notem que a região se tornou “avermelhada” quando o quesito é ideologia e parece que o artigo quis enfatizar que esses países já estão sofrendo as consequências desse regime político, embora existam alguns newcomers como o Chile e Colômbia que recentemente mudaram de cor, sendo que nós já estamos na iminência disso ocorrer. Sendo assim, o título ainda não se aplica a nós. Notem que o Brasil representa aproximadamente 1/3 do PIB dessa região.
O SP500 fechou a 4.140, com queda de 0,12%; o USDBRL a R$ 5,1068,
com queda de 1,12%; o EURUSD a € 1,0192, com alta de 0,12%; e o ouro a
U$ 1.788, com alta de 0,83%.
Fique ligado!
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