Ah, esses economistas #usdbrl
Eu convivi minha vida inteira com economistas de diferentes
perfis. Dado sua diversidade não dá para traçar um contorno padrão. Mas a
experiência mostrou que eles acertam em alguns momentos e erram em outros — afinal
a economia não é uma ciência exata. Alguns ficam famosos por suas previsões
mais catastróficas, como Nouriel Roubin, que previu a crise de 2008 e desde
então continua com o mesmo discurso ou semelhante 15 anos depois. Mais
recentemente, Bill Dudley, que serviu como Presidente do Federal Reserve de
Nova York de 2009 até 2018, — teve uma visão, que se mostrou correta, do que
ocorreria com a economia americana depois da pandemia.
Dudley acredita que o Fed irá manter os juros mais altos e
por mais tempo do que o mercado está prevendo, como comenta na Bloomberg.
Como o Federal Reserve dos EUA travará sua batalha contra a
inflação – mantendo as taxas de juros elevadas por mais tempo ou elevando-as
ainda mais? Os investidores estão fixados nessa questão, que tem vastas
implicações para títulos, ações e toda a economia.
Mais tempo seria melhor. Mas se os mercados financeiros não
cooperarem, o Fed pode ter que subir mais também.
Ao apertar a política monetária, o presidente Jerome Powell
quer restringir a demanda por mão de obra apenas o suficiente – mas não muito –
para reduzir o crescimento salarial para o nível de 3% a 4%, consistente com a
meta de inflação de 2% do banco central. Para esse efeito, a melhor abordagem
seria manter as taxas de juro num patamar moderadamente restritivo durante um
período de tempo significativo. Dado que os aumentos das taxas afetam a
economia com defasagens longas e variáveis, isso reduz o risco de ir longe
demais e aumenta as chances de um pouso suave. O Fed pode usar o tempo que
quiser contanto que as expectativas de inflação permaneçam bem ancoradas.
Mas aqui está o pepino: é difícil saber o que seria uma taxa
moderadamente restritiva. Os economistas não conseguem sequer concordar com o
limite – a taxa "neutra" que não aquece nem arrefece a economia.
Antes da crise financeira de 2008, eles supunham que era de cerca de 2%,
ajustado pela inflação (ou cerca de 4% em termos não ajustados). Agora, a
estimativa mediana entre os formuladores de políticas do Fed é de 0,5% (ou 2,5%
nominal, assumindo uma inflação de 2%) – mas há amplas razões para pensar que
deveria ser maior à medida que o governo toma mais empréstimos, a transição de
energia verde aumenta a demanda de investimento e os baby boomers aposentados
economizam menos. E com a inflação excedendo a meta de 2% do Fed, a taxa neutra
nominal deve ser ainda maior.
Além disso, o impacto da política monetária depende, em
parte, de como ela influencia as condições financeiras mais amplas, que não são
particularmente apertadas. Os mercados de ações e títulos permaneceram
flutuantes à medida que os investidores, encorajados pela queda do Fed para
aumentos de juros de 25 pontos-base, olham além do presente para o que esperam
que seja um regime mais acomodatício em 2024 e 2025. Quanto mais otimistas eles
forem, maior será a taxa neutra dos fundos federais.
Além disso, os investidores não estão particularmente
preocupados com um resultado ruim. Deixando de lado o colapso das criptomoedas,
eles veem o sistema financeiro como resiliente e o Fed também equipado para
mitigar qualquer desaceleração econômica - um sentimento que Powell endossou
dizendo que, se o Fed sentir que foi longe demais, "temos ferramentas que mexeriam
nisso".
Então, o que o Fed fará? A maioria das autoridades espera
que uma taxa de fundos federais de 5% a 5,25%, mantida em 2024, seja suficiente
para controlar a inflação, e o relatório de empregos da semana passada reforçou
essa visão. Assim, eles provavelmente optarão por mais dois aumentos de 25
pontos-base em suas reuniões de formulação de políticas em março e maio.
Depois disso, eles vão esperar e ver o que acontece, uma
avaliação que levará vários meses (no mínimo), dadas as longas defasagens da
política monetária. Para evitar que as condições financeiras diminuam ainda
mais, eles manterão suas mensagens hawkish, dizendo que a política monetária
permanecerá apertada por algum tempo. E se uma taxa de mais de 5% não der conta
do serviço, eles acabarão sendo forçados a subir.
Se o presidente da república fosse o Trump ele diria que Dudley
é maluco é deveria ser internado. Para um empresário como ele que viveu a vida
endividado, sua retorica nesse tema é a mesma, repete sempre a ladainha “a
inflação que se dane”. O Lula, com visão política diametralmente oposta,
concorda nesse quesito com o ex-presidente americano, e com argumentos contrários
eles acabam tendo uma visão rala de como funciona a política monetária.
Amanhã será publicado o dado de inflação nos EUA e a
expectativa é de manutenção no nível de 6,0% a.a., que é elevado — qualquer
número maior vai colocar gasolina na fogueira. Dudley tem uma visão bastante
restritiva em relação a esse assunto e suas previsões sobre recessão são
elevadas, superiores a 50%.
Minha regra para escutar os economistas é ouvir os que estão
acertando até que comecem a errar. Por enquanto Dudley está nessa situação.
Outro economista que teve uma visão correta, Mohamed El
Erian publicou no Project Syndicate quais as possibilidades em termos de
inflação.
Olhando para o resto do ano e início de 2024, três
possibilidades se destacam para mim. A primeira é a desinflação ordenada,
também conhecida pelos críticos como "desinflação imaculada". Nesse cenário, a inflação
continua a cair de forma constante em direção à meta de 2% do Fed sem
prejudicar o crescimento econômico e os empregos dos EUA. A dinâmica envolve
principalmente um mercado de trabalho que evita aumentos salariais excessivos,
continuando a ancorar uma forte atividade econômica. Dado o que mais está
acontecendo na economia, eu colocaria a probabilidade desse cenário em 25%.
O segundo cenário é aquele em que a inflação se torna pegajosa.
A taxa de inflação continua a diminuir, mas depois fica presa em 3-4% ao longo
do segundo semestre deste ano, à medida que os preços dos bens param de cair e
a inflação dos serviços persiste. Isso forçaria o Fed a escolher entre esmagar
a economia para reduzir a inflação à sua meta de 2%, ajustar a taxa da meta
para torná-la mais consistente com as mudanças nas condições de oferta, ou
esperar para ver se os EUA podem viver com uma inflação estável de 3-4%. Eu não
sei o que o Fed escolheria em tal caso, mas eu colocaria a probabilidade de uma
inflação tão pegajosa em 50%, então espero que tenha pensado um pouco nesse
cenário.
Por fim, há a possibilidade do que podemos chamar de
"inflação U": os preços voltam a subir no final deste ano e em 2024,
à medida que uma economia chinesa totalmente recuperada e o forte mercado de
trabalho dos EUA impulsionam simultaneamente a inflação persistente dos
serviços e os preços mais altos dos bens. Eu colocaria a probabilidade desse
resultado em 25%.
Esse cenário é contemplado por alguns analistas, que fazem
uma analogia com o que ocorreu nos anos 70, quando a inflação perdurou por um
bom período. A atitude complacente do Fed naquela época, depois do primeiro
movimento de queda em 74-76, levou a taxas enormes na casa dos 20% no final da
década, a era conhecida por seu presidente Paul Volcker, que subiu o juro sem
dó!
Não se trata apenas de vários cenários sem que nenhum único domine. Também se trata de probabilidades que devem ser vistas com cautela. O ex-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence H. Summers, capturou bem o humor predominante entre muitos economistas: "É uma economia tão difícil de ler quanto me lembro", disse ele recentemente.
Esse sentimento de incerteza é evidente nas perspectivas de
curto prazo para a atividade econômica, os preços e a política monetária, bem
como nas mudanças estruturais de longo prazo, como a transição para a energia
limpa, a religação das cadeias de suprimentos globais e a natureza mutável da
globalização. Tensões geopolíticas elevadas também desempenham um papel.
Aconteça o que acontecer, a pior coisa que podemos fazer é
cair de volta na complacência. Powell, depois de defender a "inflação
transitória" por muito tempo, agora está alertando contra ela. "Houve
uma expectativa de que [a inflação] vai embora rapidamente e sem dor e eu não
acho que isso seja garantido", disse ele recentemente. "O caso base, para mim, é que
vai levar algum tempo. E teremos que fazer mais aumentos de alíquotas..."
Narrativas econômicas simplistas, especialmente as
reconfortantes que seduzem aqueles que procuram atalhos, muitas vezes enganam
muito mais do que esclarecem. Foi o caso da narrativa transitória da inflação
que, embora desacreditada em 2021-22, agora está ressurgindo. É também o caso
daqueles que estão prevendo com um alto grau de confiança uma recessão nos EUA
(eu não estou nesse campo), apenas para descartá-la como "curta e superficial", a fim de recuperar sua zona de
conforto econômico.
No post o-guru fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “ Num prazo curto é possível de se observar 5 ondas. Caso isso se confirme, e quando ocorrer uma retração, vou estudar um trade de compra de dólar” ... ...” Como podem notar, o primeiro objetivo apontado com o sinal em rosa é R$ 5,9482. Embora a aparência de uma alta de forma direta, deverá seguir o caminho indicado em verde por A, B, C.” ...
No post mudou-o-termômetro iniciei um trade de compra de dólar, embora acima do nível de retração que estava aguardando: ... “Iniciamos uma tarde de compra de dólar USDBRL a R$ 5,1980 com stoploss a R$ 5,17. Ainda embrionário e especulativo, mas pode ser que a retração que eu estava esperando não aconteça.” ... Depois da compra o dólar chegou a atingir R$ 5,3082 na sexta-feira e recuou desde então situando-se ao redor do nosso preço de entrada. Estou liquidando a operação por dois motivos: Esperava que alta continuasse e essa queda abre a possibilidade de uma outra contagem no curto prazo; como comentei, a alta esperada até o nível acima de R$ 5,9482 deve ser tortuosa. No gráfico abaixo, a linha em azul a, b, c, pode prevalecer.
Não tenho confiança nem que irá ocorrer o descrito acima, nem que o dólar siga em alta daqui em frente obedecendo o stop loss anterior de R$ 5,17. Não estou aqui para adivinhar muito menos ficar torcendo. Adoto como política em movimentos mais complexos a de entrar somente com a probabilidade a meu favor. Nesse caso, na semana passada, acreditava que a alta poderia ser mais explosiva (acabou sendo por pouco tempo, porém não tão explosiva assim), não foi. Voltamos para a defensiva.
O SP500 fechou a 4.137, com alta de 1,14%; o USDBRL a R$ 5,1602,
com queda de 1,04%; o EURUSD a € 1,0720, com alta de 0,42%; e o ouro a U$
1.853, com queda de 0,58%.
Fique ligado!
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