Não aposte contra o dólar #S&P500

 


Há muitos países que estão ansiosos para ver o dólar desvalorizar. Poderia listar uma dezena deles, começando pela China e muitos outros. Se esses países pudessem se afastar do dólar investindo em outra moeda, já o teriam feito; mas não é tão simples assim. O BRICS, através da Rússia, espera que seus parceiros endossem sua estratégia para contornar as sanções. A proposta é avançar com um sistema de pagamentos apoiado por moedas digitais emitidas pelos bancos centrais e respaldadas por moedas fiduciárias.

A ideia, em teoria, pode fazer sentido, mas na prática esbarra na utilidade limitada dessa moeda para além de um sistema de pagamentos. Uma moeda precisa de mais: deve ser fungível, confiável e estável. Não vejo como isso pode funcionar, por mais que Putin e seus apoiadores, como Lula, desejem. O gráfico a seguir mostra que, desde o início do conflito com a Ucrânia, quando a Rússia foi excluída do sistema SWIFT – utilizado para transações em dólar – a Rússia passou a liquidar parte de suas exportações para a China em yuan. Esse movimento, ao invés de reduzir o uso do dólar, acabou impactando o euro.

 



Contudo, esse não é o único motivo, como aponta Tyler Cowen na Bloomberg: Não aposte contra o dólar.

Sempre fui otimista em relação ao dólar americano, mesmo enquanto outros aguardam sua desvalorização ou se preocupam com o impacto de sua força sobre os mercados dos EUA. Considero-me aberto a diferentes opiniões, por isso decidi atualizar minha visão: estou ainda mais otimista agora, por uma combinação de razões antigas e novas.

Um fator de curto prazo é que a economia dos EUA parece estar caminhando para um "pouso suave". Esse julgamento é sempre provisório, mas é melhor do que enfrentar uma recessão. O crescimento econômico robusto e contínuo dos EUA é motivo para revisar para cima as expectativas para o dólar. Recentemente, o Federal Reserve de Atlanta previu uma taxa de crescimento do PIB de 3,4% para 2024. Novamente, a realidade pode ser diferente, mas, em termos de valor esperado, os EUA estão se saindo melhor do que seria razoável esperar em 2023.




Em relação a outras moedas, o dólar manteve seu valor na maior parte dos últimos dois anos e apresentou ganhos no último mês.

Outro fator é a demanda robusta por capital nos EUA, que continua forte. Há grande demanda para expandir a infraestrutura energética, além de iniciar ou reiniciar usinas nucleares – e isso não sai barato. Outras fontes de energia renovável, como solar e eólica, também exigem altos investimentos. O financiamento desses projetos tende a elevar as taxas de juros reais, o que, por sua vez, fortalece o valor do dólar. Com o progresso contínuo da inteligência artificial, a demanda por energia provavelmente não diminuirá tão cedo.

A própria IA pode, de fato, fortalecer o dólar. Por um lado, os serviços de IA podem se tornar uma grande linha de exportação dos EUA. Por outro, o governo americano pode usar esses serviços para estreitar relações com governos estrangeiros, assim como já utiliza inteligência de segurança.

Um dos benefícios da IA é que ela aumenta as vantagens de estar em acordos comerciais com os EUA ou simplesmente manter boas relações com o país. Países que seguem as regras dos EUA podem receber serviços de IA e leads de inteligência como forma de troca internacional, o que também favorece o dólar.

A revolução das criptomoedas também parece tomar rumos favoráveis ao dólar. Grande parte do crescimento recente no setor cripto ocorreu no campo das stablecoins, como evidenciado pela aquisição da Bridge pela Stripe na última semana. A maioria das stablecoins é denominada em dólares e geralmente são lastreadas por títulos denominados em dólar, para evitar o risco cambial. Se as “moedas programáveis” têm futuro – o que parece provável – isso favorecerá a moeda dominante, ou seja, o dólar americano.

É possível que outras moedas também se tornem programáveis. No entanto, como as stablecoins geralmente são mais convenientes para transações internacionais e conectadas à internet, o cenário mais provável é que elas concentrem o interesse no dólar. Os EUA têm, de longe, a maior influência sobre o funcionamento da internet.

Por fim, o melhor argumento para o dólar é uma questão que não é nova: onde mais investir seu dinheiro? Se você deseja títulos de dívida de baixo risco, os Treasuries dos EUA, com todas as suas falhas, representam o maior e mais líquido mercado do mundo.

O segundo maior mercado seria o Japão, que está em declínio demográfico e que (pelo menos por enquanto) depende dos EUA para sua segurança. É difícil imaginar algo dando errado para os EUA sem que isso também afete gravemente o Japão.

Quanto à China, o terceiro maior mercado de dívida, ela mostra poucos sinais de se mover em direção a uma economia mais livre com fluxos de capital abertos. Isso adia o dia em que a segunda maior economia mundial poderá oferecer uma alternativa ao dólar. Na verdade, o governo chinês parece estar se tornando mais autocrático e menos previsível.

Na recente reunião do BRICS, falou-se muito em alternativas ao dólar. A Rússia promoveu a ideia de um “Brics Bridge” para limitar o impacto das sanções internacionais ligadas ao dólar, mas isso não parece estar decolando, em grande parte porque traz poucos benefícios práticos. Outros países podem criticar os EUA, mas continuam utilizando sua moeda.

A maioria desses fatores é de longo prazo e não implica necessariamente onde o dólar estará na próxima semana. Mas se as próximas eleições te preocupam sobre o futuro dos EUA, fique tranquilo, pois existem fatores fundamentais em favor da moeda americana, senão da própria América.

Muito ingênuo é aquele governante que acredita poder enfrentar uma mudança desse porte – como o nosso presidente, que sabe falar muito e fazer pouco. O Mosca já publicou inúmeros posts com argumentos indicando as remotas chances de substituição da moeda universal e, mesmo que isso ocorra, levará décadas – quando ele já estará aposentado, se muito. A realidade é esta: Não aposte contra o dólar!

No post “quando-o-ganho-depende-de-sorte”, comentei sobre o S&P500: “Não houve muita evolução na última semana; a bolsa empacou num intervalo entre 5.800 e 5.870”.




A bolsa está contida, aguardando o desenrolar dos próximos dias. Nos próximos 10 dias, teremos diversos eventos: amanhã, a publicação do PIB; na quinta-feira, o PCE – índice de inflação acompanhado pelo Fed; na sexta-feira, dados de emprego; na próxima terça-feira, eleições americanasa, embora sem certeza de resultado imediato; e, na quarta-feira, a decisão do Fed.

O mercado aposta em Trump, mas isso pode não ser suficiente, pois a composição da Câmara e do Senado também está em jogo. Qual partido terá maioria? Diferente do Brasil, onde o governo não possui maioria garantida, mas conta com o Centrão para apoio mediante cargos e recursos, nos EUA, se Trump vencer e os democratas mantiverem maioria em uma das casas, seus projetos serão limitados, o mesmo se aplica caso Kamala Harris vença.

Nosso compromisso é com o bolso, e os gráficos ainda estão indefinidos. Quero destacar uma área onde o modelo pode se confirmar. Observem o retângulo e quantas idas e vindas ocorrerão. Não será fácil navegar.




O S&P500 fechou a 5.832, com alta de 0,16%; o USDBRL a R$ 5,7614, com alta de 0,91%; o EURUSD a € 1,0817, sem variação; e o ouro a U$ 2.773, com alta de 1,15%.

Fique ligado!

Comentários

  1. E esta dívida americana? E o pagamento de juros? Será que só o ouro salvará?

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    1. Só acredito num problema mais sério caso exista uma barbeiragem do Fed na condução da política monetária que se for ameaçado por riscos de inflação ou aumento de gastos descontrolado do governo não reagir. Quanto ao tamanho da dívida nade melhor que observar a japonesa com 250% do PIB e sua moeda é considerada como refúgio

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  2. O fundamento americano não é bom. EUA perderem o dólar com vantagem vai ficar difícil continuar imprimindo grana assim para manter o crescimento da economia e do mercado acionário. Eles precisam abrir os olhos. O BRICs é uma ameaça real.

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    1. O dólar poderá em algum momento perder o brilho - acho muito distante, agora achar que o Brics possa ser uma ameaça é uma aposta de baixíssima probabilidade de ocorrer, como uma opção que vale centavos. Os países que estão dentro desse acordo tem economias na sua maioria obsoletas e culturas distintas. Os únicos que se sobressaem são a China e India o resto não paga place. O primeiro está muito interessado em qualquer coisa para abandonar o dólar, mas não consegue e o segundo é pragmático e não tem nada contra a moeda americana.

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