Sempre é preciso achar alguma coisa #EURUSD



Eu dizia que existem cinco fases em um novo trabalho ou emprego, divididas assim:

Inicialmente, é preciso "achar alguma coisa" – você dá palpites que ou são irrelevantes ou errados;

“Não vou entender nunca” – nesse momento, tudo parece muito complicado;

“Descoberta do óbvio” – você chama um colaborador e faz um raciocínio que, para quem conhece, é óbvio. Esse momento é importante porque você começa a entender o funcionamento;

“Fase da criação” – nessa fase, novas ideias surgem;

“Saco cheio” – tudo vira rotina e começa a ficar chato.

Um político que assume um novo cargo também passa por essas fases. Se forem necessárias mudanças drásticas, o processo acima é construtivo; porém, se o sistema já funciona bem, o risco de piorar ao invés de melhorar é real. Esse último ponto parece aplicável ao futuro presidente dos EUA.

Ontem foi divulgado o PIB do terceiro trimestre americano, e apresento um resumo baseado no artigo de Harriet Torry, publicado no Wall Street Journal.

O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,8% ao ano no terceiro trimestre, ajustado para sazonalidade e inflação, indicando uma leve desaceleração em relação aos 3% do segundo trimestre, mas ainda acima das expectativas dos economistas. Esse crescimento contínuo, apesar dos altos custos de empréstimos, destaca a resiliência da economia americana ao longo dos últimos dois anos.

O consumo, que representa a maior parte da atividade econômica dos EUA, cresceu 3,7% no terceiro trimestre, impulsionado por fortes exportações e aumento dos gastos governamentais em defesa. Os investimentos das empresas, embora ligeiramente abaixo do segundo trimestre, permaneceram sólidos, com alta de 3,3%. Mesmo com a política monetária restritiva, o crescimento contínuo do consumo e do investimento reflete ganhos de produtividade, resultado de investimentos em tecnologia durante a pandemia, segundo Julia Pollak, economista-chefe da ZipRecruiter.

A habitação, por outro lado, seguiu fraca devido às altas taxas de juros, com o investimento residencial caindo 5,1%. A inflação também desacelerou, trazendo alívio aos consumidores, com o índice de preços de despesas pessoais diminuindo para uma taxa anualizada de 1,5%, e o núcleo da inflação (excluindo alimentos e energia) reduzindo-se para 2,2%. Este crescimento econômico, apesar de ligeiramente inferior ao trimestre anterior, ainda supera a média histórica e as projeções de longo prazo do Fed, estabelecidas em 1,8%.

Os EUA receberam recentemente uma atualização positiva sobre o estado da economia. No terceiro trimestre, o PIB real cresceu a uma taxa anualizada de 2,8%, enquanto uma medida importante de inflação caiu para próximo da meta do Federal Reserve. Esse é o tipo de expansão sustentável que muitos economistas almejam, pois favorece o aumento dos salários reais e um crescimento que beneficia a todos. Manter esse curso seria o ideal, mas a proximidade das eleições sugere que uma mudança brusca pode estar no horizonte.

O crescimento no terceiro trimestre foi impulsionado pelo consumo, marcando o melhor avanço desde o início de 2023. Além disso, o investimento empresarial, principalmente em inteligência artificial, se destacou. O índice de inflação preferido pelo Fed, o deflator de consumo pessoal, subiu a uma taxa anualizada de 2,2%, indicando uma pressão inflacionária sob controle. As políticas industriais de Biden podem ter ajudado a criar um renascimento na construção manufatureira, mas seu governo também se beneficiou de deixar o mercado operar livremente enquanto o Fed controlava a inflação. Em algumas situações, uma postura governamental mais passiva pode ser a melhor.

Embora Kamala Harris seja a vice-presidente e Trump tenha planos de retornar à Casa Branca, ambos estão propondo mudanças econômicas quando o ideal seria manter o curso, sem alterações. Jonathan Levin comenta na Bloomberg: se a economia está bem, por que arriscar?

Apesar dos resultados promissores, a campanha de Donald Trump inclui propostas que poderiam interromper essa tendência positiva. Trump promete reintroduzir tarifas e deportar milhões de imigrantes indocumentados, o que pode desestabilizar a mão de obra em setores como construção e cuidados infantis, além de aumentar o custo de vida para os consumidores americanos. Ele também sugere que interferiria nas decisões de política monetária do Fed, uma mudança que poderia comprometer a independência do banco central e prejudicar o controle da inflação.

Uma vitória de Trump traria incertezas econômicas que poderiam afetar os investimentos e interromper as tendências de crescimento. Propostas como o aumento de tarifas tornam os insumos e investimentos mais caros e voláteis, o que leva empresas a considerar reduções de investimentos. Essas incertezas poderiam paralisar o crescimento recente, que gerou um aumento de US$ 30 trilhões em riqueza desde 2021, impulsionado pela valorização do mercado de ações e aumento no valor dos imóveis, além de salários nominais que acompanham a inflação, oferecendo alguma estabilidade para os consumidores.

A frustração de muitos americanos que sentem que o crescimento econômico não beneficiou a todos, especialmente os que não possuem ações ou casa própria, torna o cenário político complexo. A alta no S&P 500 e o crescimento dos salários só beneficiaram uma parte da população, enquanto a alta nos juros dificultou a compra de imóveis. Esses fatores contribuem para o desempenho de Trump nas pesquisas, com muitos americanos com saudade de uma economia mais simples. No entanto, o atual momento econômico oferece uma oportunidade de crescimento sustentável que poderia ser lembrada com saudade no futuro, caso seja interrompida.

O “carequinha”, Robin Brooks – nada contra ele, é um excelente economista, mas, como todos os economistas, tem dificuldade em admitir erros – publicou em seu X uma observação crucial sobre o déficit: um amplo déficit fiscal, como o dos EUA, não significa que a política fiscal está impulsionando o crescimento. Para que haja estímulo fiscal, é necessário que o déficit aumente, o que não está ocorrendo. A maior parte do crescimento sólido nos EUA se deve ao consumo privado (azul), que tem se fortalecido.





Embora o artigo não mencione o programa de Kamala Harris, seu plano aumentaria o déficit americano, pois o aumento de impostos para empresas e para os mais ricos não será suficiente para cobrir suas propostas de ações sociais. Isso adiciona combustível ao já elevado déficit americano.

Se está tudo bem, por que os candidatos estão sugerindo tantas mudanças? Como comentei algumas vezes, o americano médio ainda sente o impacto do aumento de preços durante a pandemia. Em um país que historicamente vive com baixos índices de inflação, a comparação de preços se tornou um elemento de insatisfação – algo que, no Brasil, ocorre de maneira mais branda, pois estamos acostumados, e aceitamos, que existe inflação, dificultando comparações diretas entre períodos.

Recentemente, a inflação nos EUA retornou a níveis próximos ao desejado pelo Fed. Se os presidentes desejam ser bem avaliados daqui a quatro anos, é melhor proteger a independência do Fed em vez de expandir o déficit e arriscar uma alta inflacionária. Retomando as fases iniciais que mencionei, quando os presidentes chegarem ao terceiro estágio e perceberem que a solução para a insatisfação popular é fortalecer o Fed, pode ser tarde demais, pois, na busca por “achar alguma coisa”, acabaram por achar a coisa errada!

No post “volatilidade-na-gondola”, comentei o seguinte sobre o euro: “Observado em janelas menores, é possível que a sequência de queda tenha chegado aos níveis atuais: €1,0864. Sendo assim, uma correção deveria levar o euro ao seguinte intervalo: €1,098 / €1,102 / €1,107. O gráfico a seguir é de janela semanal, com o intuito de proporcionar uma visão mais ampla.”




O euro acabou retraindo um pouco mais, atingindo a mínima de €1,076, e a partir daí iniciou uma recuperação. Se a onda (i) vermelha tiver terminado, recomendaríamos uma venda entre €1,093 / €1,098 / €1,103. Ainda não consigo estabelecer um trade com convicção, mas o primeiro nível parece o mais provável, embora sem muita certeza. Acompanhem o Mosca para uma possível entrada.




O SP500 fechou a 5.705, com queda de 1,86%; o USDBRL a R$ 5.7805, com alta de 0,30%; o EURUSD a € 1,0877, com alta de 0,21%; e o ouro a U$ 2.747, com queda de 1,49%.

Fique ligado!

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